Sarjeta do Terror #22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

Um dos grandes monstros dos quadrinhos de terror nacional, Eugenio Colonnese é o tema do último Sarjeta do Terror de 2105.

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No passado, HQs de terror eram mais comuns. Embora atualmente elas tenham voltado aos holofotes (especialmente agora que o cinema e os quadrinhos estão cada vez mais próximos), houve uma época em que eles eram de fato a estrela da vez. Este tempo foi há décadas atrás, antes do Comics Code Authority instituir a infantilização das histórias em quadrinhos e sepultar o que havia de mais interessante nos comics americanos em meados dos anos 50: As histórias policiais, de ficção e terror.

Por muito tempo, os amantes do gênero ficaram órfãos de histórias do tipo, sendo que só em anos recentes pudemos ter acesso a novos materiais do gênero, como 30 Dias de Noite, Lock and Key, The Walking Dead, e personagens como John Constantine, que começaram com tentativas isoladas nos anos 80 (das quais podemos citar, como exemplo, Asilo Arkham de Grant Morrison e Dave Mckean e as HQs do Monstro do Pântano).

No Brasil, a história das HQs de terror seguiu um caminho um pouco diferente (mais detalhes sobre isso em matérias futuras). Foi inclusive durante o período do regime militar (que teve muita repressão ao conteúdo impresso) que os quadrinhos do gênero tiveram sua fase áurea, que seguiu-se com a redemocratização nos anos 80. Embora no começo as histórias eram predominantemente material advindo da EC Comics ainda não publicado por aqui – posteriormente também das revistas da Warren, entre outros, a popularidade do terror incentivou os editores a apostarem com cada vez mais frequência em material nacional, o que permitiu que grandes autores brilhassem nesse gênero. Foi o caso do autor desta matéria, que ajudou a consolidar os quadrinhos de terror brasileiros: Eugenio Colonnese.

Colonnese, filho de mãe Brasileira e pai italiano, era quase um cidadão do mundo. Começou nos quadrinhos na Argentina no fim da década de 40, e anos depois estabeleceu morada em São Paulo. Na época em que chegou aqui, os quadrinhos de terror eram “moda”, uma vez que, nos EUA, as histórias haviam encerrado suas atividades por conta do Comics Code, mas ainda havia muito material não publicado por aqui, que começou a aparecer em grande quantidade, criando uma legião de fãs e leitores.

O primeiro personagem de Colonnese foi Mirza, a Mulher Vampiro, em 67, seguida pouco tempo depois pelo Morto do Pântano (sim, o nome está correto). Após este período fértil de histórias de terror, Colonnese deixou de lado os quadrinhos (que já não eram mais tão populares) e passou a ilustrar livros didáticos. Só nos anos 80, quando houve uma espécie de “revival” das histórias de terror é que Colonnese voltou para o meio que tanto gostava e que lhe deu fama, passando a escrever histórias diversas para revistas como Spektro, Calafrio e Mestres do Terror. Também desenvolveu diversos livros sobre desenho e quadrinhos.

Em meados de 2008, Colonnese veio a falecer. Fumante inveterado, sofreu um Acidente Vascular Cerebral e, cerca de dois meses depois, morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Foi-se um grande artista, mas seu legado continua vivo.

Nota: Se você quiser saber mais sobre HQs de terror no Brasil, visite o Nostalgia do Terror, provavelmente o site mais completo sobre o assunto. Futuramente devo fazer matérias mais específicas sobre o tema por aqui também.

Curiosidades:
– Eugênio Colonnese não se limitava a trabalhar apenas com histórias de terror, tendo ido para os quadrinhos eróticos (o que na época, não se distinguia muito do terror), de guerra e também super-heróis. Foi ele o criador dos super-heróis brasileiros Mylar, Superago e Escorpião;
– Colonnese também é conhecido por “antecipar” algumas tendências em termos de personagens, ao menos nas Américas: Mirza, a Mulher Vampiro, surgiu dois anos antes de sua “prima” americana Vampirella e o Morto do Pântano surgiu 5 anos antes do Monstro do Pântano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

P.S.: Este é o último Sarjeta do Terror do ano. Em 2016 tem mais.
Péssimas Festas! (no bom sentido)!

Edições anteriores:

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Autor: Amanda Paiva

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