Filme: Mulher-Maravilha [Review]

A Warner e DC Comics erram a mão nas suas últimas adaptações, e isso só aumentava a responsabilidade do próximo lançamento, afinal ele teria que ser o salvador de todo o universo cinematográfico – aparentemente foi preciso uma guerreira amazona para desempenhar este papel. O primeiro filme da Mulher-Maravilha é um novo respiro para a DC nos cinemas, trazendo uma história de origem bem trabalhada e com o simbolismo que a personagem merecia.

Crescida na ilha de Temiscira, a impetuosa princesa Diana (Gal Gadot) acaba tendo contato com o espião Steve Trevor (Chris Pine) tomando conhecimento de uma grande guerra que assola o mundo além de sua paradisíaca ilha. Por acreditar que este terror é oriundo de Ares, o deus da guerra, ela foge da ilha junto a Steve até o coração da batalha, acreditando que matando seu inimigo dará fim a todo o conflito – Mas a jornada pela humanidade trará muitas provas e desafios. No elenco Robin Wright, Danny Huston, David Thewlis, Connie Nielsen e Elena Anaya.

Pela segunda vez uma diretora comanda um filme de super-herói (a primeira foi Lexi Alexander em O Justiceiro: Zona de Guerra) e aqui Patty Jenkis trabalha conceitos feministas de maneira harmônica, sem ser panfletária, apresentando uma personagem forte sem precisar ser masculinizada, e mulheres que apesar de lindas não são sexualizadas. Basicamente é um filme de origem, um desenvolvimento da personagem até o ponto onde a vimos em Batman vs Superman – A Origem da Justiça. O tom dark e falta de cores nos filmes da DC são uma reclamação constante (o famoso filtro “Snyder”), mas aqui ele é usado a favor da narrativa. Enquanto a ilha das amazonas apresenta cores vivas e fortes, quando Diana vai para o mundo dos homens encontra uma Inglaterra sombria no fim da primeira guerra, e isso causa um contraste com as cores de seu uniforme e o brilho de suas armas, colaborando com uma imagem divina da personagem, uma postura comum aos heróis da DC.

Apesar da descrença de muitos fãs, Gal Gadot cumpre bem seu papel e encarna a amazona guerreira com maestria. Aqui temos uma Diana que desde a infância é impetuosa, não se conformando diante de alguma injustiça, com uma postura nobre, doce e uma certa inocência em meio as surpresas de um mundo novo. O cenário possibilita uma postura machista da sociedade, e a forma como ela lida com esta e outras coisas absurdas que ainda hoje existem são muito bem construídas. Apresentam a personagem de uma forma clara para quem não conhece nada sobre ela, e ao mesmo tempo usando conceitos vistos nos quadrinhos e reconhecidos pelos fãs. O elenco inteiro está bem, mas meu destaque vai para Chris Pine cumprindo bem o papel de personagem heroico sem roubar o protagonismo de Gadot, e também Robin Wright e Danny Huston como amazonas veteranas de guerra que brilham em cena. Não falarei muito sobre os vilões para não dar spoilers, mas estão bem trabalhados mesmo não sendo memoráveis.

A trama opta por mostrar os poderes da Mulher-Maravilha ao invés de explicá-los didaticamente, o que possibilita acompanharmos ela enquanto vai descobrindo seus limites e o que é capaz de fazer. As cenas de ação são muito bem feitas, com narrativas que parecem ter saltado das páginas, mostrando Diana e as amazonas lutando com fúria, graça e acrobacias slow motion para mostrar bem os movimentos no melhor estilo Legolas de Senhor dos Anéis, porém sofrem o mesmo problema que nosso arqueiro de orelhas pontudas – em alguns momentos fica gritante o efeito digital e você só enxerga os bonecos na tela (principalmente nas cenas mais iluminadas). Outra coisa que me incomodou um pouco foi o ritmo truncado no primeiro ato, mas nada que comprometa.

Mulher-Maravilha é sem dúvida o melhor filme do atual universo cinematográfico da DC, pois reúne todas as coisas boas que vieram nos antecessores e acerta em muitos pontos onde os mesmos falharam, principalmente no desenvolvimento de personagens. Como “haters gonna hate”, já li comentários machistas de quem nem viu o filme e já defecou pelos dedos, porém acredito que a bilheteria seria boa independente disso. Não é um filme perfeito, mas os deslizes não tiram seu brilhantismo, e espero que abra espaço para vermos mais super-heroínas como protagonistas no cinema.

(obs.: Já adianto que não tem cena pós-créditos, então assim que acabar pode ir embora.)

Autor: Róger

Criador da serie de quadrinhos Dragão Escarlate, trabalhou com sketch cards da Marvel e da DC Comics, ilustrações para a revista Dragon Slayer ligadas a RPG, além de arte-final para Smallville Season 11 (DC Comics). Atualmente produz a série de webcomics Offline e escreve reviews de cinema para o site do Dínamo Estúdio.