Sarjeta do Terror #35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

Na segunda e última parte da matéria sobre o Monstro do Pântano, conheça um pouco da fase do personagem após a saída de Alan Moore, além dos seus caminhos por outras mídias.

A Era pós Moore

Após a saída de Alan Moore da revista Swamp Thing, o cargo foi dado para Rick Veitch, que manteve o título por dois anos, com a complicada responsabilidade de manter o nível definido pelo autor britânico pelos quatro anos posteriores. Apesar de não serem histórias geniais, Veitch conseguiu segurar muito bem o título enquanto esteve à frente dele, inclusive trazendo suas próprias contribuições para o personagem. Durante a fase escrita por Veitch, o Parlamento das Árvores, acreditando que o Monstro havia morrido, cria o Broto, uma espécie de “Monstro do Pântano 2.0”.

Mas ao descobrir que ele estava vivo, o Parlamento deu ao Monstro as opções de matar o broto ou abandonar a Terra, uma vez que não era possível a convivência dos dois sem graves conseqüências para o planeta. Enganando o destino, o broto acabou se tornando o filho do Monstro com Abby Cable. Em meio a essa fase, a DC passou pelo evento Invasão, e os acontecimentos dessa saga acabaram por jogar o Monstro do Pântano no passado, fazendo com que ele tivesse que literalmente atravessa o tempo para voltar ao presente. Durante esse período, encerra-se a fase de Veitch à frente do título, e o personagem passa a ser escrito por alguns autores temporariamente (inclusive Neil Gaiman), até a chegada do próximo escritor regular.

Então a DC Comics trouxe o roteirista Doug Wheeler, que teve uma responsabilidade ainda pior do que a de Veitch: além da sombra de Moore nas suas costas, havia também a de Veitch e de outros autores, com Neil Gaiman, antes dele. Apesar da qualidade nitidamente inferior, o autor conseguiu se manter relativamente bem no cargo. As histórias nessa fase giraram basicamente em torno do nascimento do Broto, que o Monstro e Abby batizaram de Tefé Holland.

 

No selo Vertigo

Depois de Wheeler a DC Comics escalou a romancista de terror Nancy Collins para cuidar do título após a saída de Veitch. A autora trouxe de volta diversos elementos pré Moore, como Anton Arcane e a corporação Sunderland, além do tom adotado por Len Wein no início do título. O título voltou a interessar os leitores, e a revista Swamp Thing finalmente passa a ser, oficialmente, do selo Vertigo.

Após Nancy Collins, um na época desconhecido Mark Millar assume o título, inicialmente em parceria com Grant Morrison (no primeiro arco apenas), e aumenta consideravelmente o interesse dos leitores. A principal contribuição de Millar para a mitologia do Monstro do Pântano foi a descoberta de que existiam outras espécies de elementais no planeta. O Monstro do Pântano, à essa altura, já era algo tão além da humanidade e acaba se tornando o elemental da própria Terra, juntando-se ao Parlamento dos Mundos. Com isso, a segunda série da revista do Monstro do Pântano (iniciada com Martin Pasko) chegava ao fim.

 

Terceira série

A DC ainda tentou uma terceira série, escrita por Brian K. Vaughan (que anos depois escreveria Ex-Machina) que tinha como foco a filha do Monstro, Tefé Holland, mas o resultado foi decepcionante. As histórias foram tão ruins que não alcançaram o público desejado. Mesmo assim, definiu alguns conceitos próprios. O principal deles dizia respeito ao fato de que, devido ás circunstâncias que geraram Tefé, ela tinha poder sobre as plantas e também sobre a carne. A série durou apenas 20 edições e foi cancelada.

Em 2004, uma nova série foi lançada, que começou escrita por Andy Diggle, mas não havia muito o que se pudesse fazer para manter o interesse no personagem. A série vendeu pouco e foi cancelada após pouco mais de dois anos, tendo posteriormente Will Pfeifer e Joshua Dysart nos roteiros. No entanto, ela trouxe o Monstro do Pântano de volta às suas raízes como Elemental e tornou Tefé numa simples mortal e sem poderes.

 

Retorno ao Universo DC

Monstro do Pântano retorna ao universo DC regular durante os eventos da megassaga A Noite Mais Escura e sua série consequente, O Dia Mais Claro, onde o personagem foi corrompido por Nekron, o vilão da saga e passa a acreditar que é o próprio vilão, semelhante ao que aconteceu com ele quanto pensava que era Alec Holland. Com a ajuda de diversos heróis, Aquaman e Desafiador construíram um novo corpo para o monstro, baseado no corpo de Alec Holland, o que fez com que esta versão, ao invés de apenas pensar ser Alec Holland, podia ser ele (!). O Monstro do Pântano corrompido foi derrotado pelo novo Monstro do Pântano e tudo voltou ao normal.

A essa série de eventos se seguiu uma minissérie chamada “The Search for the Swamp Thing”, onde John Constantine, com a ajuda de Zatanna, Batman e Superman, buscam descobrir o que mudou no Monstro após O Dia Mais Claro.

 

Os Novos 52

Na mais recente revisão dos seu universo, a DC cria uma nova mitologia para o Monstro do Pântano, não muito diferente do que foi feito anos antes com os lanterna verdes. Não só o Monstro do Pântano passa a ser parte do “Verde”, como o Homem Animal passa a ser parte do “Vermelho” e ambos precisam enfrenta “O podre”. Como deixei de acompanhar a DC a partir dos Novos 52, ficarei devendo mais detalhes – mas se alguém puder me explicar porque diabos o Monstro do Pântano agora tem asas, eu agradeço.

Atualmente, Monstro do Pântano é personagem recorrente dentro do universo DC, tendo participado direta ou indiretamente dos principais eventos do universo atual da editora.

 

Monstro do Pântano em outras mídias

Monstro do Pântano também ganhou outras mídias. O primeira adaptação do personagem foi um filme de 1982, Swamp Thing. Dirigido por um dos mais reconhecidos diretores de terror da época, Wes Craven (A Hora do Pesadelo, Quadrilha de Sádicos, Pânico), a história segue a premissa original do cientista Alec Holland que sofre um acidente em seu laboratório e acaba se tornando uma criatura vegetal humanoide. Apesar de não ser um sucesso, o filme conseguiu a façanha de ganhar uma sequência, chamada “The Return of the Swamp Thing”, em 1989, dirigido por Jim Wynorski.

O fiasco que foi The Return of the Swamp Thing não impediu que outros tentassem emplacar o personagem. Nos anos 90, Swamp Thing – The Series tentou trazer de volta o personagem em um tom mais sério do que o do último filme, utilizando-se de alguns personagens das películas, mas ignorando algumas outras coisas. A série teve um total de 3 temporadas com relativo sucesso, por assim dizer.

Monstro do Pântano também se aventurou pelo mundo da animação. Em 1991 estreava um desenho animado para a TV do personagem, que durou apenas 5 episódios. A animação visava pegar carona na onda ambientalista dos desenhos da época, junto com Capitão Planeta e As Tartarugas Ninja. Um game (muito ruim) com o personagem foi lançado em 1992 para Nes e Gameboy, que teve péssima recepção.

O personagem também fez rápidas aparições em episódios do desenho Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites e teve uma participação mais sólida na animação Liga da Justiça Dark. Um filme live action da Liga da Justiça Dark está nos planos da Warner Bros e tinha Doug Liman (Sr. e Sra. Smith, No Limite do Amanhã) na direção até recentemente, quando o diretor se afastou do projeto. Além disso, Monstro do Pântano é personagem jogável no game Injustice 2, lançado recentemente.

Curiosidades:
– O principal motivo da saída de Rick Veitch do título foi uma história censurada pela DC e proibida de ser publicada. Nela, O Monstro do Pântano encontrava Jesus;
– A mudança que Mark Millar impôs ao personagem, de torná-lo um Elemental da própria Terra e praticamente um Deus, foi a mudança mais importante para o personagem desde a fase escrita por Alan Moore.
– Se você está pensando como o Monstro do Pântano engravidou Abby sendo, bem, uma planta, vale informar que, na verdade, ele tomou o corpo de John Constantine, que fez o “trabalho sujo”, por assim dizer (mas não imagino ele reclamando);
– As adaptações (filmes, série e animação) tem uma coisa em comum: Todas ignoraram a fase escrita por Alan Moore, e se detiveram na mitologia do personagem desenvolvida originalmente por Len Wein;
– O orçamento do primeiro Swamp Thing foi de apenas 3 milhões de dólares (Em nível de comparação, um filme considerado de baixo orçamento atualmente fica em torno de 30 milhões);
– Jim Wynorski também foi o diretor de Vampirella (1996);
– The Return of the Swamp Thing é estrelado por Heater Locklear (Abby Arcane);
– O Monstro do Pântano sempre foi interpretado pelo mesmo ator, tanto nos dois filmes quanto na série de TV.

 

Dica: O podcast Uaréva 167, parte da Iniciativa Vertigo do site Quadrimcast, recebeu este que voz escreve e Delfin (Terra Zero) para falar sobre o Monstro do Pântano (Ouça aqui). O Arg!Cast também participou desta iniciativa, falando sobre WE3 (ouça aqui).

 

Edições anteriores:

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Autor: Amanda Paiva

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