Filme: Um Lugar Silencioso [Review]

Em tempos onde alguns gêneros ficam saturados de premissas similares, sempre é interessante quando algo sai da curva. Fugindo das franquias de possessões demoníacas, exorcismos e outras coisas que estavam saturando o suspense e o terror, Um Lugar Silencioso entrega uma atmosfera cheia de mistério e tensão onde o menor barulho pode ser mortal.

Num futuro não muito distante, a humanidade é devastada por criaturas extremamente mortais, que apesar de cegas possuem uma audição bastante acurada, sendo guiadas por qualquer barulho mais alto que um sussurro. Neste mundo acompanhamos o casal Evelyn (Emily Blunt) e Lee Abbott (John Krasinski), que juntos criaram maneiras de sobreviver de um modo silencioso para evitar os monstros, mas em um cenário tão perigoso até coisas simples podem acabar em desastres. No elenco Noah Jupe e Millicent Simmonds.

Eu só conhecia o trabalho de Krasinski como ator, mas me surpreendi com a qualidade de sua direção. Ele entrega um filme com clima de terror que foca na situação, introduzindo os conceitos do mundo logo de cara, apresentando apenas os detalhes que serão relevantes para o desenvolvimento da história. O modo como as criaturas são apresentadas ajuda a criar a sensação de medo e perigo, pois começam como vultos rápidos e mortais altamente sensíveis a qualquer tipo de barulho, e só mais pra frente temos uma visão de como ela é por inteiro. Acho que o filme poderia ficar interessante apenas mostrando partes da criatura, sua visão desfocada ao longe, coisas que poderiam poupar efeitos e deixá-las ainda mais misteriosas, porém o fato dela aparecer não chega a estragar a experiência. Outro detalhe interessante é que o filme é produzido por Michael Bay, mas pode ficar tranquilo que não há explosões e câmeras giratórias. Mesmo com uma premissa simples de sobrevivência as situações apresentadas se desenrolam de forma inusitada, e quando você pensa que está ruim ele mostra que pode ficar pior. O filme é extremamente imersivo, usando muito bem o som e a ausência dele para te colocar no mundinho, te deixando em estado de alerta mesmo alguns minutos após sair da sessão.

Filmes com um número reduzido de personagens exigem mais dos atores, afinal todo o desenvolvimento da trama será sobre eles, e neste quesito o filme está muito bem. Krasinski e Blunt são casados na vida real, talvez isso tenha ajudado na concepção de um casal convincente em tela ao qual ele faz um pai focado na sobrevivência e ela uma mãe que zela ao máximo pelos filhos. Blunt realmente brilha no papel, passando toda aflição de sua personagem, principalmente em uma cena específica onde ela está sob várias condições adversas. Meu destaque também vai para as crianças, com atenção especial para Millicent Simmonds que realmente tem problemas auditivos como sua personagem. Quase não há diálogos pois na maior parte do tempo eles se comunicam através de sinais, devido a isso a trilha sonora acaba sendo pontual em muitos momentos, sem falar na edição de som que valoriza a natureza e simplicidade do som ao redor.

Este é um filme que ganha muito ao ser visto no cinema,  principalmente se o público colaborar em manter a atmosfera de tensão e silêncio que Um Lugar Silencioso constrói. Acho que desde Corra! eu não ficava tão surpreso com um filme de terror, e espero que venham mais franquias originais como essa daqui pra frente, mostrando que se pode causar medo e aflição reinventando o gênero, usando bem as ferramentas e recursos que a sétima arte dispõe aos produtores.

Autor: Róger

Criador da serie de quadrinhos Dragão Escarlate, trabalhou com sketch cards da Marvel e da DC Comics, ilustrações para a revista Dragon Slayer ligadas a RPG, além de arte-final para Smallville Season 11 (DC Comics). Atualmente produz a série de webcomics Offline e escreve reviews de cinema para o site do Dínamo Estúdio.