Filme: Animais Fantásticos – Os Crimes de Grindelwald [Review]

Franquias de sucesso nunca terminam de verdade, prolongando-se através de novos filmes sem sentido ou spin-offs variados. Animais Fantásticos – Os Crimes de Grindelwald dá sequência ao prequel do mundo mágico criado por J.K. Rowling, que agora adentra numa fase um pouco mais sombria e complexa.

Após a fuga do poderoso Grindelwald (Johnny Depp) das mãos da MACUSA, congresso mágico americano, o pesquisador de criaturas mágicas Newt Scamander (Eddie Redmayne) vai até Paris a pedido de seu ex-professor em Hogwarts, Alvo Dumbledore (Jude Law). Por não poder enfrentar diretamente o bruxo das trevas, Dumbledore pede que Scamander impeça os planos do mesmo, pois este vem ganhando mais seguidores a cada momento. Em meio a uma polaridade entre os bruxos devido aos ideais de Grindelwald, Scamander vai reencontrar seus amigos e ter que lidar com problemas pessoais. No elenco Ezra Miller, Zoë Kravitz, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol e Claudia Kim.

Ao contrário do antecessor (ao qual já comentei AQUI) que dava um foco maior nas criaturas que Newt perdeu e tinha o como pano de fundo a trama de Grindelwald, este coloca o bruxo na frente de tudo, estabelecendo bem seus propósitos, seus laços e colocando Newt mais como um agente que precisa escolher um lado nesta batalha iminente que se aproxima. David Yates, diretor que também estava à frente do longa anterior, estabelece uma atmosfera pesada e sombria à bela Paris dos anos 20. Muita coisa me lembrou um “segundo filme de trilogia”, onde a história muda as peças do jogo de lugar e faz a preparação para um evento épico no terceiro filme. O diretor também soube explorar a nostalgia, trazendo novamente o cenário de Hogwarts e até mostrando o passado de Newt quando aluno, remetendo muito ao clima dos primeiros filmes da franquia.

Redmayne tem a possibilidade de explorar ainda mais seu personagem, através de conflitos e dilemas que atravessa ligados a sua família e pessoas próximas. É possível ver um crescimento do personagem durante o filme, ver como os conflitos acabam impactando em uma mudança e evolução interessantes na sua personalidade. Uma coisa que me chamou a atenção no primeiro filme foi a postura de Newt, que é um protagonista mais racional e com comportamento introvertido e astuto comparado ao herói clássico, que resolve tudo na porrada e de peito aberto – é bom ver um personagem com esta abordagem sendo trabalhado numa franquia tão famosa. Houveram muitas polêmicas na escolha de Johnny Depp devido a problemas pessoais do mesmo, mas ele está muito bem no papel, com sua aparência meio David Bowie e uma postura fria, confiante, atacando o coração e mente dos mais fracos para ganhar mais poder. Destaco também a atuação de Jude Law, que convence ao apresentar um Dumbledore mais jovem, trabalhando muito bem a personalidade do bruxo com seus trejeitos, maneira de falar e olhares. A forma como exploram a relação de Dumbledore e Grindelwald é sutil, mas ainda assim presente e importante para o desenvolvimento da trama.

Nem preciso comentar sobre os efeitos especiais que, mesmo com um enfoque menor das criaturas mágicas, apresenta visuais e cenas interessantes com novos animais fantásticos. O próprio ambiente da Paris mágica é cheio de particularidades interessantes, como a estátua que abre caminho para os bruxos atravessarem para o plano místico ou mesmo a cena do circo mágico, recheada de personagens com características particulares. Mas em alguns momentos o filme se perde no ritmo, tentando trabalhar a construção da figura de um vilão, aumentar o escopo sobre novas faces do mundo mágico e ao mesmo tempo encher a tela com referências a coisas já estabelecidas ou que vieram dos livros. Certas horas a coisa fica um pouco maçante e arrastada, como se você estivesse vendo uma versão estendida feita para os fãs. Nada que comprometa o filme em si, mas é uma gordurinha extra que pode gerar desconforto.

Apesar do nome “Animais Fantásticos” já não possuir o mesmo sentido do filme anterior, Os Crimes de Grindelwald mostra que ainda há muito o que se explorar no universo mágico de Harry Potter e, que várias coisas citadas no passado, podem ser apresentadas e enriquecidas daqui por diante. Mesmo com um pouco de confusão em alguns momentos ao colocar informações variadas entrelaçadas, através de um elenco renomado e personagens cativantes, este filme certamente vai manter o franquia . Agora é ficar de olho já que indícios apontam que a sequência se passará no Brasil, ou seja, poderemos ter a chance de ver uns animais fantásticos nacionais saltitando na telona.

Autor: Róger

Criador da serie de quadrinhos Dragão Escarlate, trabalhou com sketch cards da Marvel e da DC Comics, ilustrações para a revista Dragon Slayer ligadas a RPG, além de arte-final para Smallville Season 11 (DC Comics). Atualmente produz a série de webcomics Offline e escreve reviews de cinema para o site do Dínamo Estúdio.