Sarjeta do Terror #51 – Editoras da era de ouro do horror (parte 2, final)

Os anos 50 não são considerados a “era de ouro” das hqs de terror à toa. Havia muitas editoras e muitas publicações dedicadas ao gênero, por isso foi necessário dividir a matéria em duas partes. A partir daqui, vamos conhecer, não só editoras que fizeram sucesso nos anos 50, mas também aquelas que seguiram nos anos 60 e além, mesmo com as imposições do Comics Code Authority.

 

Quality Comics (1937-1956)

Uma das mais conhecidas editoras de quadrinhos da Era de Ouro, a Quality foi fundada nos anos 30, mas só assumiu esse nome nos seus produtos a partir de 1940. Inicialmente, o material da editora era feito quase que só pelo estúdio Eisner & Iger – incluindo a reedição das histórias do Spirit.

A Quality só teve uma revista regular de terror que merece destaque, Web of Evil (1952-1954), que durou 21 edições, além de uma edição única chamada Intrigue (1955), mas merece ser mencionada por ter sido a casa de diversos artistas clássicos (muitos que fariam nome nas hqs de horror) como Jack Cole, Reed Crandall, Will Eisner, Lou Fine, Gill Fox, Paul Gustavson, Bob Powell e Wally Wood.

A editora encerrou as atividades em 1956, depois de suas vendas caírem gradualmente na competição com a ascensão da televisão. A maior parte das propriedades intelectuais da Quality acabou sendo comprada pela National (atual DC Comics).

 

Harvey Comics (1941-1994)

A editora Harvey começou suas atividades em 1941, mas só se tornou realmente popular a partir dos anos 50, quando passou a licenciar adaptações de desenhos animados como Gasparzinho, Tininha e Herman e Katnip – além da sua criação original mais famosa, Riquinho.

É claro que a Harvey também não ficou de fora da explosão das hqs de horror. Entre as publicações, podemos destacar Black Cat/ Black Cat Mystery/Black Cat Western (1946-1963) que, apesar da constante mudança de nome e publicação infrequente, durou 65 edições; Chamber of Chills (1951-1954), que continuou a partir de Chamber of Clues e durou 26 edições; Witches’ Tales (1951-1954), que durou 28 edições antes de se tornar Witches’ Western Tales; Tomb of Terror (1952-1954), que durou 16 edições até se tornar Thrills Of Tomorrow (1954-1955), que, em suas 4 edições, gradualmente se tornou uma hq de super-herói, publicando o personagem “Stuntman” de Jack kirby e Joe Simon; e Man in Black (1957-1958), que também publicava histórias de ficção científica, durou apenas 4 edições.

A partir dos anos 80, as vendas dos títulos da Harvey começaram a declinar e, em 1986, já havia sido reformulada para trabalhar apenas com alguns títulos-chave. Depois de 1989, as propriedades intelectuais da Harvey foram vendidas para empresas diversas (incluindo a Universal Studios) e, em 1994, a empresa cessou as atividades de vez.

 

Charlton Comics (1945-1986)

Provavelmente a mais conhecida das editoras dessa matéria, a Charlton começou como T.W.O. Charles Company em 1944. Passou a ser conhecida como Charlton Publications a partir de 1945, publicando revistas de letras de músicas, passatempos e, por um breve período, livros. Sua divisão de quadrinhos publicou diversos super-heróis que se tornariam populares. Mas uma das características da Charlton era sua versatilidade. Eles publicaram quadrinhos de tudo quanto era gênero: ficção científica, crime, suspense, humor, animais engraçados, infantil, super-herói, faroeste, guerra, romance e, é claro, terror.

Das editoras citadas nessa matéria e na anterior, a Charlton é a que mais teve títulos voltados para o horror, além dos mais longevos (é claro, ajuda o fato de que também foi uma das que mais durou no mercado). Entre os títulos pré-comics Code destacam-se The Thing (1952-1954), que durou 17 edições; a ficção científica esquisita Out of this World (1956-1959), com 16 edições; This Magazine is Haunted (1954-1958), título que veio da Fawcett e seguiu sua numeração original por 7 edições – a Charlton até tentou manter a qualidade da revista original, mas o Comics Code obrigou as histórias a mudarem consideravelmente o tom; Strange Suspense Stories (1955-1965), que durou 51 edições mas, no meio do caminho, se tornou temporariamente This is Suspense (1955), com 4 edições.

Diferente de outras editoras, a Charlton continuou publicando hqs de horror após o Comics Code. Essas histórias, no entanto, tinham muito pouco de “terror” por conta das limitações do código, mas algumas fizeram bastante sucesso e duraram por muitas edições. Entre as hqs desse período, destacam-se Unusual Tales (1955-1965); que durou 49 edições; Tales of the Mysterious Traveler (1956-1959), com 13 edições; Ghostly Tales (1966-1984), a mais duradoura, com 115 edições; The Many Ghosts of Doctor Graves (1967-1982), 72 edições; Ghost Manor (1968-1964), que teve duas fases, uma com 19 edições, outra com 77; e Haunted (1971-1984), com 75 edições.

Apesar de ter sido mais afortunada que outras, a Charlton também acabou sendo vítima das mudanças do mercado e das quedas nas vendas. Encerrou as atividades em 1986, vendendo suas propriedades intelectuais para – uma chance de adivinhar – a DC Comics.

 

St. John Publications (1947-1958)

Empresa com vida curta, mas que deixou sua marca nas histórias em quadrinhos norteamericanas por ter sido a pioneira em uma porção de coisas. Lançou a primeira história em quadrinhos em 3-D Three Dimension Comics (1953), a primeira hq “tie-in” de um filme de comédia, com Abbott and Costello Comics e contratou o primeiro artista afroamericano nos quadrinhos mainstream, Matt Baker. Além disso, foi pioneira na publicação do que chamou de “Picture Novel”, revistas em formato mais sofisticado e com orientação adulta – precursora das Graphic Novels.

A St. John contou com algumas hqs de terror, todas com pouca duração, como Strange Terrors (1952-1953), apenas 7 edições; Weird Horrors (1952-1953), com 9 edições; Amazing Ghost Stories (1954-1955), com apenas 3 edições; e Do you Believe in Nightmares (1957-1958), com apenas 2 edições; além da edição única House of Terror (1953), lançada em 3-D. Entre os artistas que passaram por essas publicações, destacam-se Dick Ayers, Bernard Baily e Joe Kubert.

A editora encerrou suas atividades com histórias em quadrinhos em 1958, continuando a publicar outros tipos de revista até 1967.

 

Star Publications (1949-1954)

A Star também foi uma editora que não durou muito, mas que teve alguns grandes talentos entre seus artistas, como Joe Kubert, Wally Wood e Frank Frazetta. Assim como boa parte das editoras nos anos 50, a Star também aproveitou a popularidade do gênero de terror no período para lançar seus próprios títulos (a maioria seguindo a partir de outras hqs de gêneros variados e mantendo a mesma numeração).

Os títulos de terror da Star foram Blue Bolt Weird Tales of Terror (1951-1953), que continuou a numeração da hq de aventura “Blue Bolt”, durando 9 edições e dando lugar a Ghostly Weird Stories (1953-1954), que durou apenas 5 edições; Shocking Mystery Cases (1952-1954), que se seguiu a partir de Thrilling Crime Cases e durou 11 edições; Startling Terror Tales (1952-1954), 8 edições; e The Horrors of Mystery (1953-1954), 5 edições.

Infelizmente, a Star foi uma das editoras que foi obrigada a encerrar suas atividades em consequência direta do advento do Comics Code Authority, em particular pelos títulos de algumas de suas revistas (termos como “terror” e “horror” haviam sido banidos pelo código).

 

Youthful Magazines (1949-1954)

Diferente da maioria das editoras do período, que publicavam super-heróis, um dos gêneros mais populares, a Youthful se especializou em hqs fora desse gênero, focando-se em faroeste, romance, humor, ficção científica e terror.

No gênero de horror, destaca-se Captain Science (1950-1951), uma hq de ficção cientifica e horror, que durou 7 edições, dando lugar a Fantastic (1952), que durou apenas 2 edições antes de dar lugar a Beware (1952), com 5 edições antes de se transformar em Chilling Tales (1952-1953), que finalizou a sequência com 5 edições. Apesar das renumerações constantes, a publicação seguiu sempre mantendo a numeração original. A Youthful encerrou as atividades em 1954.

 

Trojan Magazines (1950-1955)

Não há muita informação disponível sobre essa editora. Sabe-se que ela adquiriu alguns títulos da Youthful, entre elas Beware (1953-1955), que durou 15 edições na Trojan.

 

Key Publications (1951-1956)

Como era comum na época, a Key publicou quadrinhos sob diversos selos, entre eles Aragon Magazines, Gillmor Magazines, Medal Comics, Media Publications, S. P. M. Publications, Stanmor Publications e Timor Publications.

Nos anos 50, entrou na onda de hqs de terror, mas a maioria dos títulos não durou muito. Entre os artistas que passaram pela editora estavam Ross Andru e Bernard Baily. Mister Mystery (1951-1954) é provavelmente o título de terror mais duradouro da Key, com 19 edições. Outros títulos foram Weird Mysteries (1952-1954), com 12 edições; Weird Tales Of The Future (1952-1953), com 8 edições; Weird Chills (1954), com 3 edições; e Climax (1955), com apenas 2 edições.

 

Story Comics (1951-1955)

Outra editora do qual não consegui muitas informações, mas que publicou pelo menos 3 títulos de horror: Dark Mysteries (1951-1955), que durou 24 edições; Mysterious Adventures (1951-1955), que durou 25 edições; e Secret Mysteries (1955), que durou apenas 3 edições.

 

Comic Media (1952-1954)

Uma editora de vida curta, mas que também publicou hqs de horror no auge do gênero nos quadrinhos. Os títulos que merecem destaque são Horrific (1952-1954), que durou 13 edições e continuou por apenas uma edição como Terrific (1954) e Weird Terror (1952-1954), que também durou 13 edições.

O principal artista dos títulos da editora foi Don Heck, que após o fim da Comic Media seria contratado por Stan Lee para a Atlas Comics e que, mais tarde, ajudaria a criar a “Era Marvel”, junto com Lee, Kirby, Ditko e Dick Ayers. A Comic Media encerrou suas atividades apenas dois anos depois da sua fundação, vendendo seus títulos e personagens para a Charlton Comics.

 

I. W. Publishing/Super Comics (1958-1964)

Mais uma editora de vida curta, começou a publicar quadrinhos no fim dos anos 50. Era parte das Empresas I.W, cujo nome vinha do seu dono, Israel Waldman. Nos seus últimos anos de existência, publicou hqs sob o nome de Super Comics.

A editora é mais conhecida por ter publicado republicações não autorizadas de editoras falidas, especialmente da Quality. O que acontece é que Israel Waldman adquiriu uma gráfica que continha diversos materiais de produção de editoras variada. A maioria delas não existia mais, e alguns materiais nunca havia sido lançado. Waldman achou que ter comprado a empresa significava ter os direitos sobre todo esse material e saiu publicando material que, na prática, era não autorizado.

A I.W. também publicou hqs de terror, das quais pode-se destacar Eerie (1958), com apenas 3 edições; Strange Mysteries (1958-1964), com 8 edições; Eerie Tales (1963-1964), com 4 edições; Daring Adventures (1963-1964), com 8 edições; Fantastic Adventures (1963), com 7 edições; e Mystery Tales (1964), com apenas 3 edições.

A editora encerrou as atividades como “Super Comics” em 1964. Depois disso, Waldman juntou-se à Sal Brodsky para fundar a Skywald Publications.

 

Ziff Davis Publications (1927-)

Uma das mais antigas empresas citadas aqui, a Ziff Davis começou como uma editora que publicava revista dedicadas a hobbys diversos, como carros, fotografias e eletrônicos. A partir de 1938, a editora adquiriu as revistas Radio News e Amazing Stories e começou a publicar ficção. Mas foi nos anos 50 que a empresa se dedicou a publicar quadrinhos, tanto com seu próprio nome quanto com o selo Approved Comics.

As revistas, de diversos gêneros, não duraram muito, mas tiveram como diretor de arte Jerry Siegel. Entre os artistas notáveis que passaram pela Ziff Davis, podemos citar John Buscema, Bob Haney e Mort Leav.

No campo do terror, a editora publicou as edições únicas Eerie Adventures e Weird Adventures (1951); além das revistas Nightmare (1952), que durou apenas 2 edições; e Weird Thrillers (1951-1952), que durou 5 edições.

A Ziff Davis existe até hoje e atualmente também é dona de estações de televisão, além de produzir conteúdo para internet.

 

Existem ainda diversas outras publicações e editoras que publicaram material avulso ou com poucos números, como Journey into Fear (1951-1954, Superior Publishers Limited); Tales of Horror (1952-1954, Toby/Minoan); Tormented (1954, Sterling); Tense Suspense (1958-1959, Fago Magazines); Ghost Stories (1962-1963, Dell Comics / Western Publishing). Infelizmente, não dá para dar conta de todos os títulos e editoras, mas espero que estas duas matérias tenham conseguido ao menos ajudar na contextualização do mercado no período, especialmente em relação ao gênero de terror.

 

Nota: Por motivos de força maior, esta coluna vai dar uma pousa por tempo indeterminado. Mas não se preocupe: assim como a maior parte dos monstros das histórias de terror, a coluna retornará em algum momento.

 

Curiosidades:

– Os personagens da Quality comprados pela DC divididos em duas terras: uma semelhante à terra-1, com personagens como Homem Borracha, Kid Eternidade e Os Falcões Negros, e outra chamada Terra-X, radicalmente diferente, onde Hitler ganhou a Segunda Guerra e os Combatentes da Liberdade são a única linha de defesa contra os nazistas. Uma versão dessa terra foi vista no crossover de 2017 das séries da DC no CW (não por acaso chamada de “Crise na Terra-X”);
– Quando adquiriu a revista This Magazine is Haunted, da Fawcett, a Charlton tentou seguir o estilo da revista, mantendo inclusive seu anfitrião, Doctor Death. Infelizmente, os censores do Comics Code achavam o anfitrião macabro demais, então a editora teve que substituí-lo por uma versão amenizada, chamada de Doctor Haunt – que era visualmente humano, diferente da versão original, mais macabra;
– O primeiro trabalho publicado de Steve Ditko (embora tenha sido o segundo produzido por ele) foi para a Gilmor Magazines, da Key.

 

Edições anteriores:

50 – Editoras da era de ouro do horror (parte 1)

49 – The Heap, o pai dos monstros do Pântano

48 – Criadores de Terror: Steve Ditko

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Autor: Amanda Paiva

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