Filme: Robin Hood – A Origem [Review]

Personagens clássicos sempre estão ganhando adaptações para o cinema, mas a cada nova versão os produtores tentam emplacar uma nova visão, procurando marcar uma identidade nova. Robin Hood – A Origem conta a história do famoso arqueiro através de metáforas a revoltas e protestos contemporâneas e muita ação.

Ao retornar da guerra onde lutou como templário, o jovem aristocrata Robin (Taron Egerton) descobre que foi dado como morto, que seus bens foram confiscados pelo Xerife de Nottingham (Ben Mendelsohn) e que sua esposa Marian (Eve Hewson) foi levada para trabalhar nas minas com boa parte da população. Auxiliado por Little John (Jamie Foxx), um hábil arqueiro ao qual tentou salvar o filho durante a guerra, Robin vai iniciar um confronto contra os poderosos de Nottingham, inspirando o povo a começar uma revolução. No elenco Jamie Dornan, Paul Anderson (XVIII), Tim Minchin e F. Murray Abraham.

Uma das formas de deixar interessante uma história popular é agregando conceitos e elementos diferentes, dando uma personalidade nova sem sair do conceito, e é isso que o diretor Otto Bathurst busca fazer. Aqui ele constrói a mitologia de Robin Hood fazendo analogia a protestos na Europa, trabalhando elementos visuais, seja na população com panos na cara, no uso de bestas como rifles e armas de fogo ou nos guardas com escudos e bastões idênticos a uma tropa de choque. Tudo isso traz um ar anacrônico a obra, uma tendência que tem ganhado força em adaptações modernas (vide o último Rei Arthur). Fica evidente também uma crítica aos governos autoritários, a ganância por poder acima do bem da população, as guerras modernas e manipulação de notícias. Trabalhar estes conceitos é interessante, mas não garante um filme bom se o resto não colaborar.

A narrativa é corrida, em alguns pontos saltando momentos que serviriam para criar um vínculo dos personagens com o público. Os atores até se puxam, Taron tem carisma para bancar o protagonista herói e líder, porém o roteiro não deixa você comprar de verdade suas motivações e afins. O personagem de Jammie Foxx segue a linha do mentor que quer passar o bastão, mas também não tem tempo pra desenvolver melhor suas características. Não é trabalhado o elemento de unidade característico do bando de Robin Hood, com os personagens o ajudando aqui e ali em momentos esporádicos. Os vilões, incluindo Ben Mendelsohn (que sempre cai bem num antagonista afetado) seguem uma linha bem canastrona, tirando Jamie Dornan, o Sr. Grey de Cinquenta Tons de Cinza, que fica completamente apagado e insosso em cena. O que o filme não foca em narrativa tenta compensar em “massaveísmo”. Os efeitos são bons, as lutas e cenas de ação bem coreografadas e empolgantes. Muito parkour e slow motion com arco e flecha para valorizar cada tomada. A trilha sonora de Joseph Trapanese embala bem a história, valorizando o clima de revolta e rebelião que a película pede.

Não sei se este filme fará sucesso ao ponto de ter uma sequência, mas estou curioso pra ver a reação que as críticas políticas causarão nas pessoas. O universo criado remete a outros filmes do gênero, mas caso uma sequencia venha, será uma chance de trabalhar melhor os personagens e suas interações. Robin Hood – A Origem não é memorável, mas é competente em divertir, resgatando um personagem com muito potencial e capaz de fazer uma crítica relevante aos nosso tempo.

Autor: Róger

Criador da serie de quadrinhos Dragão Escarlate, trabalhou com sketch cards da Marvel e da DC Comics, ilustrações para a revista Dragon Slayer ligadas a RPG, além de arte-final para Smallville Season 11 (DC Comics). Atualmente produz a série de webcomics Offline e escreve reviews de cinema para o site do Dínamo Estúdio.