Sarjeta do Terror #42 – Vampirella

No primeiro Sarjeta do Terror de 2018, conheça a história e trajetória de uma das personagens mais clássicas dos quadrinhos de terror: Vampirella.

Os anos 60 foram bastante… movimentados. Os movimentos negros tomaram força com Malcolm X, Martin Luther King e o partido dos Panteras Negras; a chamada segunda onda feminista tomou os EUA com Betty Friedan e Gloria Steinem (entre outras) e a revolução sexual decidia que você era livre para fara ficar pelado com quem e para quem você quisesse, independente de etnia ou gênero. Todos esses movimentos possuem ecos (e lutas) até hoje, mas é a revolução sexual que permitiu a gênese do tópico de hoje.

Para quem não conhece essa parte da história ou nunca ouviu/leu esse termo, a revolução sexual, ou libertação sexual, foi um movimento social que desafiou a cultura ocidental tradicional ao contestar a forma como a sexualidade e os relacionamentos interpessoais eram impostos. Isso incluía aceitar coisas que, na época, eram consideradas erradas, como sexo fora do casamento e o casamento tradicional (heterossexuais e monogâmicos). Isso, é claro, se ligava aos outros movimentos, especialmente ao feminista, uma vez que a dinâmica das relações entre homens e mulheres na sociedade (americana) da época excluía o poder feminino de decisão sobre seu próprio corpo e suas próprias necessidades (e em muitos casos o faz até hoje).

Desnecessário dizer que a arte estava alinhada a essa mentalidade e ajudou (como sempre faz) a disseminar as novas e revolucionárias ideias de igualdade racial, de gênero e libertação sexual. E, dentro desse contexto, diversas personagens independentes e sexualmente livres surgiram nas mais diversas mídias narrativas, como Barbarella (1962) e o tema da postagem de hoje, Vampirella.

 

Histórico

Vampirella é uma alienígena vinda de Drakulon, um planeta de dois sóis onde sangue é a água do local (ou seja, rios e oceanos são feitos de sangue). Lá, o raça de Vampirella morre lentamente por conta da secagem dos rios e oceanos. Ao se ver tendo que lutar contra um astronauta terrestre que caiu no planeta, Vampirella descobre que nas veias dele corre o mesmo líquido que é a fonte de vida de sua raça. Ela acaba então viajando para nosso planeta, onde descobre que há seres muito semelhantes a ela, chamados vampiros, que possuem uma “má reputação” por aqui. Por conta disso, ela decide trilhar o “caminho do bem”, evitando matar indiscriminadamente.

Vampirella surgiu como parte da “tríade” de horror hosts da Warren Publishing, que incluía também o Titio Creepy e o Primo Eerie. Cada horror host tinha sua própria revista, onde contavam histórias assustadoras. Diferente de seus “irmãos”, no entanto, Vampirella tinha uma característica particular: além de ser a contadora de histórias de sua revista, era também protagonista de suas próprias histórias.

Criada por Forrest J Ackerman e Trina Robbins, Vampirella apareceu pela primeira vez em 1969, na antologia que levava seu nome, mas que também contava com histórias da heroína. As primeiras histórias carregavam as marcas da ficção científica camp-erótica que era popular nos anos 60 (do qual Barbarella também fazia parte, não só nos quadrinhos, mas com um filme em 68, que se tornaria um clássico cult).

Tom Sutton foi o primeiro desenhista de Vampirella, depois seguido por José Gonzalez (o mais conhecido), mas a personagem também contou com artistas como Gonzalo Mayo, Leopold Sanchez, Esteban Maroto, José Ortiz, Escolano, Rudy Nebres, Ramon Torrents, Pablo Marcos, Jim Janes, John Lakey, Val Lakey e Louis Small, Jr.

Com a chegada de Archie Goodwin ao título (como editor e roteirista) a partir do número 7, Vampirella começou a ter histórias mais regulares e sua mitologia começou a ser estabelecida. Além de ter que se integrar a uma nova sociedade (a nossa), Vampirella acabou se aliando a dois caçadores de vampiros, Adan Van Helsing (também seu interesse romântico) e seu pai, Conrad Van Helsing, um médium cego, além de um antigo mágico chamado Mordecai Pendragon, de quem foi assistente por um tempo.

A maior parte das histórias envolvia Vampirella ajudando os Van Helsing contra os seguidores de Caos, especialistas nas artes negras da magia, além de sua sede de sangue, que ela tinha que controlar, já que havia decidido ser “boa”. Um soro foi produzido mais tarde e garantiu que ela não tivesse mais essa sede de sangue, mas com o efeito colateral de, se ela não tomasse, se transformava numa ameaça a todos ao seu redor, incluindo conhecidos. A fase de Vampirella na Warren durou até 1983, com o número 112 da revista, quando James Warren decretou falência e a Warren Publishing foi extinta.

 

A reformulação pela Harris Publications

Apesar de ter surgido como parte do espírito da época dos anos 60, Vampirella se encaixou perfeitamente no espírito dos anos 90, quando o “grim ’n gritty” emergiu de obras seminais dos anos 80 como Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Neste contexto, as “bad girls”, mulheres poderosíssimas de corpos esculturais e uniformes nada práticos com pouquíssimo tecido dominaram os quadrinhos com o apelo necessário para o público masculino (o erotismo implícito) e, com sorte, para o feminino (com boas histórias e personagens bem desenvolvidas).

Com a falência da Warren, a Harris  adquiriu os direitos sobre a personagem no início dos anos 90 e não demorou para retomá-la, já que ela se encaixava perfeitamente no nicho do qual fizeram parte personagens populares como Elektra, Mulher-Gato, Lady Death, Glory e Witchblade, entre outras.

Um dos gêneros bastante populares entre essas “bad girls” era o sobrenatural, por isso a origem de Vampirella foi alterada a fim de ignorar os elementos de ficção científica e deixá-la mais próxima das criaturas no qual ela era inspirada – os vampiros.

Na nova origem (que retconizou o histórico da personagem, mas não eliminou suas histórias pregressas), Drakulon não era um outro planeta, e sim um dos círculos do inferno. Vampirella era, na verdade uma das filhas de Lillith, primeira mulher de Adão que foi condenada ao inferno. Lá, ela acasala com demônios para enfurecer a deus, dando a luz aos vampiros. Mas, ao perceber o mal que as criaturas faziam na Terra, Lilith se arrepende e decide dar a luz a dois filhos, esperando que uma delas a redima.

No entanto seus filhos, Madek and Magdalene, acabam seguindo o caminho do mal. Vampirella foi a última tentativa de Lilith de se redimir através das filhas. Só que Vampirella não era poderosa o suficiente para enfrentar seus irmãos e acabou sendo capturada, tendo suas memórias manipuladas. Foi assim que ela passou a achar que vinha de outro planeta.

A fase de Vampirella na Harris teve diversas revisões (algo que se tornaria uma constante no histórico da personagem, não só nessa editora). Numa delas, foi Litith quem faz lavagem cerebral na filha e não teve ela para se redimir, e sim para se apossar do Coração das Trevas, que só podia ser feito por uma boa pessoa. Mais adiante, outra revisão estabeleceu que na verdade Lilith enfraquecia pela presença de tantos vampiros na Terra e teve Vampirella para se livrar de todos eles e recuperar seus poderes. Vampirella “morre” algumas vezes durante seu período na Harris.

 

Dynamite Entertainment reformula a personagem de novo (e de novo…e de novo…e de novo…)

Em 2010, a Dynamite Entertainment assume a personagem e a reformula (mais de uma vez). O primeiro volume, escrito por Eric Trautmann, matou Adam Van Helsing, par romântico e aliado de Vampirella e a colocou trabalhando contra a sua vontade para Drácula. A editora trouxe de volta diversos elementos e personagens da época da Warren, como Pendragon e também tentou atualizar seu uniforme, dando à personagens calças e uma jaqueta. Não funcionou. Esse primeiro volume termina da forma mais “covarde” possível: assumindo que esta versão de Vampirella é de um universo alternativo – fazendo com que a história da Vampirella “original” permanecesse inalterada.

O segundo volume, mais recente, tenta fazer Vampirella voltar às suas raízes. Para isso, a editora recrutou Nancy Collins (que já havia escrito Monstro do Pântano no passado), que colocou a personagem como uma agente do Vaticano. Mal essa nova versão estreou e um novo reboot chegou nas mãos da autora Kate Leth, que dá um novo uniforme à personagem e a restabelece como uma alien recém chegada à terra que acaba atuando como “scream queen” (atriz conhecida por participar de filmes de terror).

E, se você achava que havia acabado, está enganado: pouco mais de um ano depois da nova versão, uma versão ainda mais nova ainda é lançada. Nessa relançamento, Vampirella acorda mil anos no futuro e descobre que absorveu as memórias e experiências das Vampirellas de outros universos paralelos. E essa é a versão mais atual da personagem (por enquanto).

 

No Brasil

A história de publicação da Vampirella no Brasil é semelhante ao de Dylan Dog, com seus altos e baixos (mais altos do que baixos) e nunca se manteve por muito tempo. A personagem foi publicada pela primeira vez pela editora Kultus, seguida logo depois pela Noblet, mas foram poucas edições e com numeração diferente, fora de ordem, sem uma grande preocupação com a cronologia da personagem.

Foi também publicada pela Metal pesado nos anos 90, em um álbum comemorando os 25 anos da personagem, e pela Abril, num crossover com a Mulher Gato. Em 2001, a Devir publicou o especial “Vampirella vive”. Atualmente, a Mythos começou a publicar Vampirella – Grandes Clássicos, que compila as primeiras histórias da Warren da parceria entre Archie Goodwin e José Gonzalez.

Vampirella é uma das personagens clássicas dos quadrinhos de horror americanos e certamente continuará aí por muito tempo. Infelizmente, para os fãs brasileiros, não há muito material nacional com a personagem e as histórias mais atuais, só comprando importado.

É uma pena também que Vampirella tenha se afastado tanto das raízes que a criaram em primeiro lugar, pois hoje, mais do que nunca, é o momento de celebrar personagens femininas fortes nas hqs de horror em histórias cujo erotismo é parte do que torna a personagem interessante.

 

Curiosidades:
– Vampirella ainda tem duas versões “alternativas”: Vampi, uma versão manga futurista onde a personagem busca uma cura para seu vampirismo; e Lil Vampi, introduzida em uma hq one-shot pela Dynamite que é a versão criança da personagem;
– Vampirella teve uma adaptação cinematográfica em um filme direto para vídeo em 1996, onde a personagem título foi interpretada pela atriz Talisa Soto e o vilão, Vlad, foi interpretado por ninguém menos que Roger Daltrey (vocalista da banda The Who).

 

 

Edições anteriores:

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

Um dos grandes monstros dos quadrinhos de terror nacional, Eugenio Colonnese é o tema do último Sarjeta do Terror de 2105.

capapost22

No passado, HQs de terror eram mais comuns. Embora atualmente elas tenham voltado aos holofotes (especialmente agora que o cinema e os quadrinhos estão cada vez mais próximos), houve uma época em que eles eram de fato a estrela da vez. Este tempo foi há décadas atrás, antes do Comics Code Authority instituir a infantilização das histórias em quadrinhos e sepultar o que havia de mais interessante nos comics americanos em meados dos anos 50: As histórias policiais, de ficção e terror.

Por muito tempo, os amantes do gênero ficaram órfãos de histórias do tipo, sendo que só em anos recentes pudemos ter acesso a novos materiais do gênero, como 30 Dias de Noite, Lock and Key, The Walking Dead, e personagens como John Constantine, que começaram com tentativas isoladas nos anos 80 (das quais podemos citar, como exemplo, Asilo Arkham de Grant Morrison e Dave Mckean e as HQs do Monstro do Pântano).

No Brasil, a história das HQs de terror seguiu um caminho um pouco diferente (mais detalhes sobre isso em matérias futuras). Foi inclusive durante o período do regime militar (que teve muita repressão ao conteúdo impresso) que os quadrinhos do gênero tiveram sua fase áurea, que seguiu-se com a redemocratização nos anos 80. Embora no começo as histórias eram predominantemente material advindo da EC Comics ainda não publicado por aqui – posteriormente também das revistas da Warren, entre outros, a popularidade do terror incentivou os editores a apostarem com cada vez mais frequência em material nacional, o que permitiu que grandes autores brilhassem nesse gênero. Foi o caso do autor desta matéria, que ajudou a consolidar os quadrinhos de terror brasileiros: Eugenio Colonnese.

Colonnese, filho de mãe Brasileira e pai italiano, era quase um cidadão do mundo. Começou nos quadrinhos na Argentina no fim da década de 40, e anos depois estabeleceu morada em São Paulo. Na época em que chegou aqui, os quadrinhos de terror eram “moda”, uma vez que, nos EUA, as histórias haviam encerrado suas atividades por conta do Comics Code, mas ainda havia muito material não publicado por aqui, que começou a aparecer em grande quantidade, criando uma legião de fãs e leitores.

O primeiro personagem de Colonnese foi Mirza, a Mulher Vampiro, em 67, seguida pouco tempo depois pelo Morto do Pântano (sim, o nome está correto). Após este período fértil de histórias de terror, Colonnese deixou de lado os quadrinhos (que já não eram mais tão populares) e passou a ilustrar livros didáticos. Só nos anos 80, quando houve uma espécie de “revival” das histórias de terror é que Colonnese voltou para o meio que tanto gostava e que lhe deu fama, passando a escrever histórias diversas para revistas como Spektro, Calafrio e Mestres do Terror. Também desenvolveu diversos livros sobre desenho e quadrinhos.

Em meados de 2008, Colonnese veio a falecer. Fumante inveterado, sofreu um Acidente Vascular Cerebral e, cerca de dois meses depois, morreu em decorrência de falência múltipla dos órgãos. Foi-se um grande artista, mas seu legado continua vivo.

Nota: Se você quiser saber mais sobre HQs de terror no Brasil, visite o Nostalgia do Terror, provavelmente o site mais completo sobre o assunto. Futuramente devo fazer matérias mais específicas sobre o tema por aqui também.

Curiosidades:
– Eugênio Colonnese não se limitava a trabalhar apenas com histórias de terror, tendo ido para os quadrinhos eróticos (o que na época, não se distinguia muito do terror), de guerra e também super-heróis. Foi ele o criador dos super-heróis brasileiros Mylar, Superago e Escorpião;
– Colonnese também é conhecido por “antecipar” algumas tendências em termos de personagens, ao menos nas Américas: Mirza, a Mulher Vampiro, surgiu dois anos antes de sua “prima” americana Vampirella e o Morto do Pântano surgiu 5 anos antes do Monstro do Pântano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

P.S.: Este é o último Sarjeta do Terror do ano. Em 2016 tem mais.
Péssimas Festas! (no bom sentido)!

Edições anteriores:

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #21 – Terror nas grandes editoras, parte final

Na última parte sobre o Terror nas grandes editoras, conheça um pouco da história do selo Vertigo.

capapost21

Embora DC e Marvel sejam muito mais lembradas por seus super-heróis do que por seus personagens mais voltados para o terror, não dá para negar que o gênero influenciou muitas das histórias contadas por ambas as editoras (inclusive entre os super-heróis). Mas as revisões do Comics Code permitiram que estas editoras pudessem alçar vôos mais altos com histórias especificamente voltadas para o terror, e até histórias mais adultas. Com isso, os leitores puderam apreciar obras como O Cavaleiro das Trevas, a Piada Mortal, Asilo Arkham – Uma séria casa num sério mundo, A Última Caçada de Kraven, Sandman, Monstro do Pântano, entre outros.

Nem todas essas histórias se encaixariam no gênero “terror”, é claro, mas o importante aqui é ter em mente que certos elementos (especialmente o terror psicológico) que dão uma tônica mais madura às histórias só foram possíveis a partir dos anos 80 e da flexibilização do Comics Code. Essas mudanças também abriram caminho para a criação de um selo “à parte” da DC que acabaria fazendo história. Na última parte sobre terror nas grandes editoras, uma visão (bem reusmida) da história do selo Vertigo.

O selo Vertigo

Falar sobre terror na DC Comics seria impossível sem falar do selo Vertigo. Não porque o selo seja exclusivamente voltado para o gênero (longe disso), mas porque podemos dizer que o terror foi um dos pontos de partida para o seu surgimento.

Oficialmente, a Vertigo surgiu no início dos anos 90, sob a gerência e graças à visão de Karen Berger. Mas sua história começa um pouco antes. No final dos anos 70, Berger era assistente do editor Paul Levitz e já tinha certa bagagem no terror, tendo começado a trabalhar em linhas como House of Mistery. Já nos anos 80, como editora de títulos como Mulher Maravilha e Ametista, Berger começou a trazer escritores da Inglaterra para a DC, incluindo gente como Neil Gaiman, Peter MIlligam e Grant Morrison. O motivo principal é que ela via nesses autores um visão mais renovada dos quadrinhos, na forma roteiros mais interessantes e maduros – em comparação com o mundo polarizado dos comics de super-herói.

Estes escritores começaram a trabalhar em personagens-chave que naturalmente passaram a se tornar algo diferente do que a DC tinha até então com seus super-heróis. Estampando na capa a mensagem “sugerida para leitores maduros”, 7 títulos deram o pontapé inicial para o surgimento do selo Vertigo: Homem Animal, Patrulha do Destino, Shade, Orquídea Negra, Sandman e Monstro do Pântano, todos estes sob a tutela de Karen Berger e escritos por autores britânicos.

Em 1993, durante uma reunião de editores, Berger ganhou a tarefa de colocar seus títulos mais maduros sob um selo próprio, para que fosse capaz de fazer coisas diferentes e fazer a mídia quadrinhos amadurecer mais. Entra em cena a Vertigo.

Enquanto muitos títulos do selo se situavam dentro da continuidade do Universo DC, outros que existiram em continuidade própria, separados não só do UDC, mas também de outros títulos Vertigo. Foi o caso, por exemplo, de Preacher, de Garth Ennis, que apenas compartilhava continuidade com suas séries spin-off.

O monstro e o encapotado

Monstro do Pântano, série sobre o cientista que se transforma em um hiíbrido planta-animal, criado originalmente por Len Wein, foi revitalizado pelas mãos de Alan Moore, que pavimentou o caminho para outros roteiristas quando a HQ foi colocada sob a batuta da Vertigo. Alan Moore também foi responsável pela criação de John Constantine, que passou para a Vertigo com o tílulo Hellblazer, um dos mais populares do selo.

Maluquices lisérgicas

Outro que despontou nesta época foi Grant Morrison. O autor revitalizou o Homem Animal e a Patrulha do Destino, criando, com estas HQs, duas das séries mais inusitadas e estranhas que os quadrinhos norteamericanos já produziram. Na primeira, o Homem Animal vira vegetariano, toma alucinógenos e encontra seu próprio criador; na segunda, a “equipe mais estranha do universo DC” faz jus ao seu nome com personagens bizarros e histórias pra lá de surreais.

50 Shades do Milligan

Shade, o homem mutável, foi um personagem criado por Steve Ditko nos anos 70. Nos anos 80, foi trazido de volta, tendo sido revitalizado nas páginas do Esquadrão Suicida, ganhando título próprio 6 meses depois de sua última aparição na revista, sob a tutela de Peter Milligan. Entre as características curiosas da revitalização feita por Milligan estão alterações em sua origem (mostradas em Esquadrão Suicida) e as várias mortes do personagem. Milligan matou o personagem diversas vezes, sempre trazendo-o em uma forma diferente, seja em etnia ou gênero biológico. Shade trouxe diversos assuntos que não eram abordados em nenhuma história de super-heróis mainstream (como transgeneridade, por exemplo).

Os sonhos de Neil Gaiman

Sandman, a revitalização do personagem da era de ouro feita por Neil Gaiman, deu muitos frutos para a Vertigo em todos os sentidos. Além do título principal, a série explodiu em diversos spin-off de personagens de seu universo, como Lúcifer e Morte, criando quase um universo próprio dentro do Universo DC. Além disso, Gaiman trouxe também Tim Hunter e a HQ Livros da Magia, que tinha a participação de diversos seres do lado místico/sobrenatural da DC. Curiosamente, Wesley Dodds, o Sandman da Era de Ouro (e membro da Sociedade da Justica) teve um retorno pela Vertigo com Sandman: Teatro do Mistério, por Matt Wagner.

Curiosidades

– Diversos títulos publicados pela DC anteriormente, pré fundação da Vertigo, foram reimpressos sob o selo (lá nos EUA), entre eles V de Vingança;
– Duas adaptações cinematográficas foram feitas baseadas em personagens da vertigo: Constantine, com Keanu Reeves, baseado em Hellblazer (considerada a primeira adaptação), e Marcas da Violência (quer dizer, 3, se você considerar também V de Vingança). Essa contagem oficial ignora, é claro, filmes de personagens feitos antes do surgimento do selo, como os dois Monstro do Pântano;
– Títulos da Vertigo também tiveram adaptações para séries de TV, como Human Target e Constantine;
– Karen Berger pode ser vista como personagem da DC na última edição de House of Mystery (323), onde ela mesmo expulsa Caim da casa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

Na segunda parte sobre o terror nas grandes editoras, conheça um pouco mais da relação da Marvel com as histórias de terror.

capapost20

Das duas grandes editoras, a Marvel Comics talvez seja a com mais “pé” no terror. E não é muito difícil reparar nisso ainda hoje. Pensem em alguns dos personagens: Um feiticeiro que ultrapassa dimensões; um deus nórdico que enfrenta criaturas místicas; um cientista que se transforma num grande monstro verde; um jovem que tem as habilidades de uma aranha; um quarteto formado por um monstro de pedra, um cara que pega fogo, uma mulher que fica invisível e um cara que se estica. E assim por diante. Como veremos nesta matéria, a relação da Marvel com o terror vem de longe, antes mesmo de sua própria existência.

O Terror na Marvel Comics

Apesar de normalmente ser lembrada como uma editora que iniciou seus trabalhos nos anos 60, a história da Marvel começa ainda na Era de Ouro dos quadrinhos, mais precisamente em 1939, quando Martin Goodman funda a Timely Publications, uma editora voltada para títulos pulp. A Timely era apenas uma das empresas da Red Circle Publishing, nome “guarda-chuva” de um grupo de empresas de publicação de livros e pulps liderada por Goodman. Com a criação da revista Marvel Mystery Comics, a Timely se aventurava pelo suspense/terror e pelo que logo se consolidava como o gênero dos super-heróis. Personagens como o Tocha Humana original e Namor estavam entre os carros-chefe da revista. Nos anos 40, a Timely Comics já estava consolidada no mercado.

Nos anos 50, o pós guerra trouxe uma queda acentuada na popularidade dos super-heróis, gênero no qual Tocha Humana, Namor e Capitão América – os carros-chefe da editora – se encontravam. Com a baixa popularidade desses personagens e consequente cancelamento de seus títulos, Martin Goodman colocou seus comics sob a asa de outra de suas companhias, a Atlas Inc, e passou a publicar quadrinhos de gêneros variados, como Western, Romance, animais engraçados e, é claro, terror.

Olhando para os sucessos de outras mídias (como os dramas de guerra e western na TV e cinema, além dos filmes de monstros), Martin Goodman expandiu seus títulos nessas áreas, mantendo, em particular, diversos títulos ligados ao terror/sci-fi/fantasia, como Adventure into Mystery, Adventures into Terror, Adventures into Weird Worlds, Amazing Adventures, Amazing Mysteries, Astonishing, Chamber os Chills, Journey into Unknown Worlds, Menace, Mistery Tales, Supernatural Thrillers, Uncanny Tales, World of Mystery, World of Suspense, entre muitos outros. Alguns destes títulos, como Marvel Tales, já existiam na época da Timely e outros se “transformaram”, como Sub-Mariner (do Namor), que continuou como Amazing Mysteries.

Com o sucesso desses títulos, diversos outros surgiriam, tornando-se a “ponte” entre os monstros da Atlas e os super-heróis da futura Marvel Comics. Entre os títulos estavam Journey Into Mistery (que continuou na Marvel e introduziu heróis como Thor), Strange Tales (que na Marvel introduziu Doutor Estranho, Nick Fury – Agente da SHIELD, Irmão Voodoo e Manto & Adaga, entre outros), Tales of Suspense (que introduziu Homem de Ferro), Tales to Astonish (que introduziu o Homem-Formiga), e por aí vai.

Os monstros dos anos 70

Como para a Marvel o gênero de terror não era nem um pouco estranho, não é de surpreender que a revisão do Comics Code (que permitiu uma certa flexibilização nas restrições do que se poderia abordar nas Hqs) abriu caminho para a editora começar a produzir novos personagens mais voltados para o gênero.

Numa destas iniciativas, criou a revista Marvel Spotlight, que servia como um “laboratório”, onde novos personagens eram testados e, caso fossem populares o bastante, poderiam ganhar um título próprio. Entre eles estava Werewolf by Night, sobre um homem vítima de uma maldição ancestral de família que o transforma em um lobisomem e usa essas habilidades para o bem; Motoqueiro Fantasma, adaptado de um personagem de Western da era de ouro, contava a história de um motoqueiro que fez um pacto com um demônio; Hellstrom, visto pela primeira vez na HQ do Motoqueiro Fantasma, mas que depois pulou para Marvel Spotlight. Todos estes personagens citados ganharam títulos próprios.

Com títulos sobrenaturais como Werewolf by Night e Motoqueiro Fantasma tendo grande aceitação do público, a Marvel continuou lançando outras Hqs. Revitalizou Drácula em A Tumba do Drácula, uma espécie de sequência da obra original, onde um descendente do vampiro se alia à descendente de Van Helsing para caçar um Drácula recém-ressuscitado.

Outro personagem que surgiu durante esse período foi Blade, o caçador de vampiros. O herói, filho de uma mulher humana com um vampiro, podia caminhar durante o dia e surgiu apropriadamente na revista A Tumba do Drácula. Apesar de sempre pintar aqui e ali em diversas revistas da Marvel Comics, Blade nunca teve grande destaque nos quadrinhos, até que o filme baseado no personagem e estrelado por Wesley Snipes popularizou o personagem para o grande público. Houve tentativas de dar um título próprio ao personagem, todas de curta duração.

O Homem Coisa

Savage Tales, tentativa da Marvel de fazer uma HQ mais ao estilo “Magazine” para rivalizar com editoras como a Warren (que publicava Creepy, Eerie e Vampirella) e a Skywald, trouxe outro dos personagens sobrenaturais recorrentes da editora: O Homem Coisa. Na história, Ted Sallis é um bioquímico, que foi contratado pelo governo para desenvolver um soro que tornasse humanos resistentes à doenças, mas o resultado final transformava as pessoas em monstros. Durante um ataque terrorista, ele injeta-se com o soro para que não caísse em mãos erradas e se torna o Homem Coisa.

De todos os personagens da Marvel mais voltados para o terror, Homem Coisa é um dos mais consistentes e duradouros, tendo aparecido em uma série de revistas das mais diversas, além de ter tido histórias próprias. Teve uma adaptação cinematográfica de baixo orçamento levemente baseada nas suas histórias e foi mencionado em um episódio da primeira temporada de Marvel’s Agents of SHIELD.

 

Tradicionalmente, os quadrinhos norteamericanos de super-herói sempre tiveram uma estreita história com o terror – uma vez que ambos derivam, de certa forma, dos pulps. Por isso, não é de surpreender que frequentemente estes gêneros se cruzem, seja na DC ou na Marvel. Mas tendo a Marvel sido forjada essencialmente a partir de comics de terror, se torna compreensível que o universo de super-heróis da editora seja povoado por monstros, pessoas atormentadas, alienígenas estranhos e todo tipo de maluquice com um pé no gênero de terror.

Curiosidades
– Não foram apenas Hqs de terror e fantasia da Atlas que migraram para a Marvel e se tornaram títulos de Super-herói. Patsy Walker, protagonista de uma série de Hqs de romance/humor da Atlas, acabou se tornando posteriormente a super-heroína Hellcat no Universo Marvel. A personagem poderá ser vista inclusive na vindoura série Jessica Jones, do Netflix. Se sua persona super-heróica irá aparecer na série ou não, ainda é incerto;
– A Marvel começou a ensaiar seu retorno ao terror com o vilão Morbius. Criado nas páginas de Homem Aranha, sua origem mais sci-fi garantia que a editora pudesse ter seu próprio vampiro sem que tivesse problemas com o Comics Code;
– Apesar da semelhança óbvia com o Monstro do Pântano, Homem-Coisa foi lançado um ano e meio antes do monstro da DC. Coincidentemente, Gerry Conway, criador do Homem Coisa, e Len Wein, criador do Monstro do Pântano, dividiam um quarto juntos pouco tempo antes. Mesmo assim, ninguém na Marvel ou na DC (incluindo os autores) acha que se trata de fato de um plágio, e que isso seria apenas uma coincidência. Plágio ou não, os dois personagens lembram muito a criatura do pântano criada no conto It, de Theodore Sturgeon, que foi adaptado para quadrinhos lá pelos anos 50 em Supernatural Thrillers, da Marvel.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #19 – Uzumaki

Uma cidade assombrada por… Espirais. Essa é a história de Uzumaki, de Junji Ito, um dos mais comentados mangas de terror, presente em virtualmente qualquer lista das grandes obras em quadrinhos do gênero.

capapost19

Os japoneses parecem ser bastante atraídos pelo bizarro, pelo estranho e pelo surreal. Pode ser que isso constitua um estereótipo criado por nós, ocidentais, mas o fato é que, no que se refere a histórias em quadrinhos, em particular de terror, é quando o estranho, o bizarro e o surreal dão a tônica dos mangas do gênero que os resultados são realmente de alto nível.

Um dos autores japoneses que mais se destacou no ocidente foi Junji Ito.Com suas histórias no melhor estilo “Além da Imaginação”, pessoas comuns se vêem às voltas com realidades lovecraftianas onde tudo parece absurdo demais para ser real – só que, não só é real, como é mortal. Entre estas histórias fantásticas está talvez a obra mais conhecida dele, Uzumaki.

Uzumaki (“espiral”, em japonês), é uma história que apareceu primeiramente de forma seriada na revista Big Comic Spirits e depois foi compilada em 3 volumes, que também foram publicados no ocidente. A história acompanha o dia a dia da cidade de Kurôzu-cho, onde o conceito de espiral assume características sobrenaturais e muitas vezes impossíveis. A protagonista da história é Kirie Goshima, uma estudantes colegial como outra qualquer que tem um namorado chamado Suichi. Com o tempo, coisas estranhas começam a acontecer na cidade e somos levados pelo ponto de vista de Kirie para aos poucos desvendarmos o que está acontecendo. Algo estranho ocorre na cidade, num primeiro momento como casos aparentemente isolados, mas que com o tempo começa a ficar claro que eles possuem algum tipo de relação. Apenas Suichi parece estar ciente de que alguma coisa está terrivelmente errada com a cidade.

Entre as circunstâncias que ocorrem na cidade estão a obsessão do pai de Suichi por espirais, o que o leva a se torcer dentro da máquina de lavar roupas; a fobia da mãe de Suichi por espirais, consequência do que ocorreu com o marido; o estranho fenômeno que transformou algumas pessoas em caramujos gigantes; uma garota da escola fica popular por atrair pessoas para si com seus cabelos espiralados, que começam a ficar cada vez maiores; entre outros. Cada novo incidente estranho leva a cidade a problemas cada vez maiores, parecendo que alguma coisa está interessada em destruir a cidade inteira e todos que a habitam. Caberá a Kirie e Suichi chegar até o fundo de tudo isso antes que seja tarde demais.

Uzumaki tem uma estrutura muito interessante. Apesar de ter uma protagonista e personagens recorrentes, a história começa quase que num estilo de antologia, onde cada capítulo tenta funcionar quase como uma história isolada, embora passada na mesma cidade. Com o tempo, estas histórias vão tendo cada vez mais ligação entre si conforme os acontecimentos vão crescendo o bastante para inevitavelmente atingir a cidade inteira (tanto as pessoas quando a arquitetura), levando a população para o caos total e deixando-os isolados do resto do mundo.

Uzumaki começou a ser publicado originalmente em 1988 e, em 2000, teve uma adaptação cinematográfica dirigida por Higunchinsky. O filme, no entanto, não teve uma boa aceitação do público. No Brasil, o manga chegou a ser publicado em 3 volumes pela editora Conrad, mas creio que hoje este material se encontra fora de catálogo pela editora, o que é uma pena. É bem possível que esta versão em português ainda possa ser encontrada em sebos por aí.

Curiosidades:
– Junji Ito queria inicialmente fazer uma história sobre mudanças que ocorrem em pessoas que compartilham suas vidas vivendo em longas casas tradicionais japonesas conhecidas como “row houses”. Nestas construções, são diversas casas que compartilham suas paredes externas. Sua ideia era se basear em suas próprias experiências de infância, onde passou vivendo numa casa deste tipo;
– O filme possui um final diferente do manga. Isso se deve ao fato de que, quando foi filmado, ainda não havia um final para a obra original;
– Em 2003, Uzumaki foi indicado ao Eisner na categoria Best U.S. Edition of Foreign Material;
– Um “capítulo perdido”, chamado “Galaxies”, que não apareceu no lançamento original da série, foi incluída apenas posteriomente nas edições “Omnibus”, e chegou ao ocidente ao ter sido incluído no terceiro volume da edição norteamericana;
– Juni Ito inclui H.P. Lovecraft entre as inspirações para a criação de Uzumaki;
– Dois vídeo games foram produzidos baseados no manga. Uzumaki: Denshi Kaiki Hen, que reconta os eventos do filme (com direito a participação especial da atriz Erika Hatsune, que interpretou Kirie no filme); e Uzumaki: Noroi Simulation, que é uma espécie de jogo de simulação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

Neste Sarjeta do Terror, conheça um pouco da relação da DC Comics com as HQs de terror, e alguns dos títulos e personagens relevantes para sua história.

capapost18

Em diferentes níveis e com diferentes abordagens, as grandes editoras americanas (DC e Marvel Comics) sempre tiveram alguma relação direta ou indireta com o terror e, embora não tenham sido atingidas pelo Comics Code Authority de forma tão cruel quanto a EC, também tiveram seus obstáculos para seguir adiante com seus títulos do gênero sem ter que encerrá-los – muita vezes transformando completamente a propostas desses títulos. Como DC e Marvel possuem linhas de tempo e histórico diferentes, cada uma foi afetada também de forma diferente pelo Comics Code, embora sempre tenham mantido histórias que possuíam ao menos alguns elementos associados ao terror.

Nesta nova série de matérias de cunho histórico, irei analisar, de uma forma resumida, é claro (então me perdoem por algumas simplificações históricas mais grosseiras feitas para efeitos de síntese), a relação dessas editoras com o terror e a evolução de seus títulos no decorrer do tempo. A primeira delas ser a DC Comics.

O Terror na DC Comics

A empresa hoje conhecida como DC Comics surgiu em meados dos anos 40, fruto da fusão entre 3 editoras: a National Allied Periodicals, a Detective Comics Inc e a All-American Publications. Todas elas publicavam títulos que variavam entre o pulp, histórias de guerra, humor/animais antropomorfizados e a nova sensação daquele momento, os super-heróis (iniciada pela primeira com seu título Action Comics e seu personagem, o Superman).

Naquela época, o gênero de terror nos quadrinhos não era bem delimitado, restringindo-se normalmente ao subgênero pulp do “Weird Menace” (mais detalhes na matéria sobre as origens das Hqs de terror americanas); tampouco o gênero de super-heróis era tão bem definido como o é hoje, sendo as primeiras tentativas de criar super-heróis muito próximas dos pulp, ou seja, personagens com superpoderes e uniformes, mas cujas histórias lembravam muito a dos seus “pais”. Afinal, era um gênero que ainda estava em fase embrionária.

Por essa razão, não é surpresa que, entre os primeiros super-heróis, se encontravam personagens que tinham um “pé” no terror, uma vez que este subgênero era comum nas Hqs pulps. Personagens como Doutor Oculto e Sargon, o Feiticeiro (inicialmente uma espécie de Mandrake), ficavam neste “elo perdido” entre o pulp e o super-herói, sem se definir como um ou outro; outros, como Espectro, Lanterna Verde e Senhor Destino traziam o sobrenatural e o místico para as histórias de super-herói, enquanto que personagens como Superman e Flash enfrentavam, além de criminosos comuns, tipos diretamente inspirados no Weird Menace, como cientistas loucos e sádicos misteriosos.

As casas de horror da DC

O grande foco da DC – na época ainda Nacional Periodicals – era, é claro, os super-heróis, que alcançavam grande popularidade e foi o gênero pelo qual as empresas que se fundiram para formar a editora se tornaram conhecidas. Foi só nos anos 50, quando as HQs de terror propriamente ditas já estavam consolidadas no mercado como um gênero próprio, que a DC começou a investir no gênero diretamente.

O principal representante desta safra foi The House of Mistery (A Casa dos Mistérios), uma Hq de antologia sobrenatural lançada em 1951. O formato não era muito diferente de outras antologias de sci-fi que a editora já publicava, como Mistery in Space e Strange Adventures; a diferença aqui é que HoM era abertamente uma Hq com temática voltada para o terror. Como toda antologia, as histórias eram variadas e não tinham nenhuma ligação obrigatória entre si.

Seguindo o sucesso de House of Mistery, a DC lançou, em 1956, um título-irmão chamado The House of Secrets (A Casa dos Segredos). Apesar de ter um formato semelhante de antologia, HoS se diferenciou por também produzir histórias com personagens relativamente fixos, entre eles um feiticeiro chamado Mark Merlin (não confundir com Malcolm Merlin, personagem das histórias do Arqueiro Verde), Eclipso (que depois se tornou vilão da Liga da Justiça) e Príncipe Ra-Man.

No fim dos anos 50, a crescente paranoia em torno das histórias em quadrinhos criminais e de terror levou à criação do Comic Code Authority e acabou causando, entre outras coisas, a extinção de editoras como a EC Comics, que os tinha como carros-chefe. A DC, ao invés de encerrar seus títulos, acabou reformulando-os para que se encaixassem nas exigências do código. House of Mistery se tornou praticamente uma antologia de mistério com a participação de super-heróis (tendo como principal atração o Caçador de Marte), enquanto que House of Secrets, após um hiato de 3 anos, retornou nos anos 60 mantendo sua identidade de antologia de mistério, mas dentro dos limites do código.

O retorno do Terror

No início dos anos 70, houve uma revisão no Comics Code que garantiu algumas mudanças e permitiu o uso de alguns monstros em particular e de alguns tipos de histórias que eram proibidas (como, por exemplo, uso de drogas), desde que em circunstâncias bem particulares.

Com isso, foi possível às grandes editoras começarem a ensaiar seu retorno às histórias de Terror. A DC chamou Joe Orlando (Veterano de Comics de Terror como Creepy, da Warren Publishing) para editar a Casa dos Mistérios, que retornou às suas raízes, causando inclusive uma mudança na qualidade das histórias individuais, que começaram a receber prêmios e reconhecimento da indústria. A Casa dos Segredos também foi beneficiada pela revisão do código, e foi responsável pelo surgimento de um dos personagens de terror mais populares da DC (se não O mais popular), o Monstro do Pântano. Ambos os títulos foram revitalizados posteriormente, já dentro do selo Vertigo da DC (mais detalhes sobre estas duas HQ, suas histórias e seus anfitriões em matérias futuras).

O Monstro do Pântano

Criado em 1971 por Len Wein e Bernie Wrightson, O Monstro do Pântano foi um personagem fundamental na história das Hqs mais voltadas para o público adulto da DC Comics. Foi uma das poucas revistas à sua época que possuíram edições que saíram sem o selo do Comics Code, e o sucesso da fase escrita por Alan Moore foi provavelmente um dos catalisadores para a gênese do que depois seria conhecido como o selo Vertigo da editora. Monstro do Pântano surgiu originalmente numa história de House of Secrets com uma história passada no início do século 20 e, devido à sua popularidade, acabou ganhando revista própria onde o personagem foi atualizado para os dias atuais (na época, os anos 70). Na história, Alec Holland (no conto de House of Secrets, Alex Olsen) é um cientista que tem seu laboratório sabotado e,ao invés de ser morto, sua mente se funde ao pântano de Louisiana, transformando-o em uma criatura meio homem, meio planta.

O Demônio

Outro personagem que se tornaria icônico no universo DC foi Etrigan, o Demônio. Criação do rei Jack Kirby, Etrigan surgiu em 1972 em revista própria como filho do demônio Belial, convocado por seu meio-irmão Merlin, que o vincula a um cavaleiro que servia ao rei Arthur, Jason Blood, na tentativa de extrair segredos da criatura. Esse vínculo torna Blood um imortal e faz com que esta maldição perpasse o tempo, chegando ao presente do universo DC. The Demon surgiu após o cancelamento das revistas vinculadas à saga do Quarto Mundo, a partir da pressão da DC, que queria continuar contabilizando com o sucesso de personagens voltados para o terror.

Eu… Vampiro!

Um personagem que posteriormente se tornou recorrente de House of Mistery e acabou ganhando título próprio por conta de sua popularidade foi I…Vampire! (Eu…Vampiro!). Criado nos anos 80, I…Vampire! acompanhava a história do Lord Andrew Bennett, que depois de ter se transformado num vampiro, mantém-se “bom” e transforma sua própria amante numa vampira, apenas para vê-la sendo corrompida pelo poder e formar uma equipe de vampiros para tomar o mundo. Bennett precisa, então, combater sua ex-amada a todo custo e impedir o fim do mundo pelas mãos dos vampiros. I…Vampire! teve um revival na fase “Novos 52” da DC.

O Mestre dos Sonhos

Na DC Comics, Sandman foi o nome de diversos personagens diferentes com histórias que variavam do pulp ao super-herói. Mas provavelmente o mais popular de todos eles foi a revitalização que Neil Gaiman propôs, criando um personagem totalmente novo que era o sonho encarnado – e cujas histórias reconheciam a existência, de uma forma ou de outra, de todos estes personagens que um dia se chamaram “Sandman” (mais sobre o personagem em matérias futuras).

Com a flexibilização do Comics Code nos anos 70, e uma nova revisão no fim dos anos 80, a DC Comics seguiu avançando em tentativas de criar títulos interessantes, não só de terror, mas de gêneros diversos mais voltados para “leitores maduros”. A essa caravana seguiram-se personagens como Monstro do Pântano, Sandman, Homem-Animal, entre outros, que acabaram se tornando os precursores do selo que passaria, nos anos 90, a ser conhecido como Vertigo.

Curiosidades:
– All-American Publications, uma das empresas que mais tarde se tornaria a DC Comics, foi criada por Max Gaines (pai de Willian Gaines e fundador da EC Comics);
– Curiosamente, o nome “DC” começou como apenas um “apelido” popularmente conhecido e utilizado pela National (que estampava um selo onde se lia “Superman-DC”). A editora só tornou este nome oficial em 1977;
– Cain e Abel, personagens icônicos da DC durante décadas (anfitriões da Casa dos Mistérios e da Casa dos Segredos, respectivamente) foram criados durante a versão reformulada das revistas, pós-Comics Code, mas acabaram se tornando fortemente associados aos seus respectivos títulos;
– A Casa dos Mistérios também introduziu o personagem Disque H para Herói;
Mark Evanier relata que Kirby não tinha nenhum interesse em fazer histórias de terror, mas criou Etrigan pela pressão da DC, que queria que ele criasse um personagem dentro desse gênero;
– Ainda sobre Etrigan, Kirby se inspirou em uma história do Príncipe Valente para criar o personagem. Na história em questão, o príncipe de disfarçava de demônio. Kirby deu, inclusive, o mesmo rosto a Etrigan que tinha a máscara do Príncipe Valente naquela história;
– Andrew Bennett, de Eu…Vampiro!, por ser um vampiro “bom”, bebia apenas sangue de outros animais ou sangue humano engarrafado – o que trazia um interessante subtexto de alcoolismo. Bennett também tentou suicídio diversas vezes para tentar acabar com sua maldição;
– Uma história de House of Mistery de horror/humor acabou dando origem a Plop!, uma revista de curta duração publicada pela DC. A revista tinha 3 anfitriões baseados na Bíblia (Cain, Abel e Eva), dois dos quais também eram também anfitriões de House of Mysery e House of Secrets;
– Em 1986, Elvira, a Rainha das Trevas, se tornou anfitriã convidada da Casa dos Mistérios numa fase curta chamada “Elvira’s House of Mystery”, onde a personagem apresenta contos de terror enquanto é incubida pela própria casa de encontrar o desaparecido anfitrião original, Cain.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

capapost17

Dia 31 de Outubro estreia nos EUA, pelo canal Starz, Ash vs Evil Dead. Baseada cinessérie criada por Sam Raimi, a série serve como sequência para os filmes clássicos da Franquia e mais uma vez traz Bruce campbel no papel que o tornou conhecido. Para homenagear a estreia da série, vou falar um pouco sobre as versões em quadrinhos de Ash Williams.

Antes, uma pequena síntese: ora chamado de “Evil Dead”, ora de “Army of Darkness”, ambos se referem ao mesmo universo criado por Sam Raimi para os filmes Evil Dead, Evil Dead 2 e Army of Darkness, que acompanham a história de Ash Willams, que se vê às voltas com o Necronomicon Ex-Mortis, um antigo texto sumério capaz de liberar forças do mal. A cinessérie alcançou status de “cult” e acabou sendo adaptada para outras mídias, incluindo os quadrinhos. Nas HQs, Ash viajou pelo tempo e pelo espaço, e enfrentou desde monstros clássicos até grandes figuras do cinema e da TV como Freddy Krueger, Jason e… Xena???

Army of Darkness (Dark Horse, 1992)

A passagem de Ash Williams para os quadrinhos começou nos anos 90 pela editora Dark Horse, com a adaptação de Army of Darkness – o terceiro filme da série numa minissérie em 3 edições, a partir do roteiro original de Sam e Ivan Raimi, com desenhos de John Bolton. Por conta disso, a HQ conta com o final original que não saiu na versão final do filme.

Army of Darkness: Ashes 2 Ashes (Dynamite, 2004)

A partir dos anos 2000, a editora Dynamite adquiriu os direitos sobre a marca e relançou a adaptação de Army of Darkness, além de inaugurar uma nova minissérie, em 4 edições, que continuava as aventuras do personagem. Em Ashes 2 Ashes, seguimos direto de onde parou o terceiro filme, com o Feiticeiro chegando ao tempo de Ash e dizendo a ele que não está ainda na sua época correta, chegando momentos antes dele deixar a floresta no primeiro Evil Dead. Mais uma vez ele tem que encarar o mal na floresta, encontra seu eu presente e, junto com o feiticeiro, manda o para o passado onde os eventos do terceiro filme acontecem, na tentativa de destruir o livro que começou tudo isso.A minissérie foi escrita por Andy Hartnell, com arte de Nick Bradshaw.

Army of Darkness: Shop Till You Drop Dead (Devil’s Due/Dynamite, 2005)

Publicado pela Devil’s Due Publishing e Dynamite, esta nova minissérie, também em quatro partes, deu sequência a Ashes 2 Ashes e acompanha Ash, de volta do Egito, acreditando que o Necronomicon Ex-Mortis foi destruído para sempre. Mas o livro maligno deu um jeito de retornar e acabou nas mãos do irritante chefe de Ash, que terá de se unir aos seus colegas de trabalho para mais uma vez lutar contra o mal. Foi roteirizado por James Kuhoric e desenhado por Nick Bradshaw e Sanford Greene

Army of Darkness – Volume 1 (Dynamite, 2005)

Finalmente, a Dynamite decide dar uma série regular para Ash, que segue diretamente a partir de onde Shopt Till Yout Drop Dead terminou. Foram produzidos quatro arcos para esta série que valem a menção em separado: Ash vs Reanimator, onde o personagem encontra Herbert West, personagem do clássico conto de H.P. Lovecraft; Old School, onde Ash retorna para a cabana onde tudo começou; Ash vs Dracula, onde Ash tem que impedir o Vampiro de usar o Necronomicon; e The Death of Ash, que encerra esta primeira leva da série regular, e termina com o personagem indo parar no universo dos Zumbis Marvel

Army of Darkness vs Marvel Zombies (Marvel Comics, Dynamite, 2007)

Aproveitando-se do sucesso da série sobre um universo onde os super-heróis da Marvel se transformaram em Zumbis, a Marvel se aliou a Dynamite para produzir este crossover inusitado. Aqui, Ash acaba indo parar no Universo de Marvel Zombies, antes da infecção, trazida do espaçopelo Sentinela, acontecer, e acaba tendo que se unir à resistência contra os super-heróis devoradores de cérebros. A minissérie foi escrita por John Layman,com desenhos de Fabiano Neves, Fernando Blanco e Sean Phillips.

Darkman vs. Army of Darkness (Dynamite, 2006)

Em uma bela homenagem ao criador de Evil Dead, este crossover traz Ash encontrando-se com Deadman, outra cinessérie clássica criada por Sam Raimi. Na história, o antigo amor de Deadman libera as forças do mal acidentalmente através do Necronomicon e Deadman acaba contando invariavelmente com a ajuda de Ash para ajudar a resolver o problema. A história foi escrita por Roger Stern e Kurt Busiek, com arte de James Fry.

Army of Darkness – Volume 2 e 3 (Dynamite, 2007)

Nesta segunda série, que durou até 2009, Ash segue enfrentando criaturas malignas, viajando por diversos períodos de tempo e realidades alternativas. Houve também uma terceira série, que durou 13 edições.

Ash vs Freddy e Jason 1 e 2 (Dynamite, Wildstorm, 2008; 2009)

Não demoraria muito para Ash encontrar dois clássicos personagens de cinesséries de terror: Freddy Krueger (A hora do Pesadelo) e Jason Voorhees (Sexta-feira 13), e isso aconteceu em duas ocasiões. A primeira, Freddy vs. Jason vs. As,é baseado num roteiro feito para uma possível sequência do filme Freddy vs Jason; a segunda, chamada de The Nightmare Warriors segue diretamente de onde a anterior terminou e traz cameos de diversos personagens das franquias A hora do Pesadelo e Sexta-feira 13.

Army of Darkness e… Xena? Duas vezes? (Dynamite, 2008)

Com a versão quadrinística de Evil Dead estabelecida como um universo onde tudo pode acontecer, a editora trouxe talvez o encontro mais inusitado até então: Ash encontrando Xena, a Princesa Guerreira. O encontro aconteceu em duas minisséries: Army of Darkness / Xena: Why Not?, onde o personagem viaja ao mundo de Xena para destruir uma miniversão dele mesmo que ode destruir aquele mundo; seguido de Xena / Army of Darkness: What, Again?.

Ash Williams e o universo criado na cinessérie Evil Dead/Army of Darkness encontrou terreno fértil nos quadrinhos e daí resultou uma porção de histórias malucas, inusitadas e com o humor característico da série original, além de nos confundir com frequência por conta das maluquices envolvendo viagens temporais. Além das minisséries citadas, Army of Darkness ainda teve crossovers com diversos outros personagens, como Danger Girl, Vampirella e Hack/Slash, salvou o presidente Obama em uma minissérie específica e teve também diversos especiais e one-shots diversos.

Para quem é fã deste universo criado por Sam Raimi, e está ansioso para a estreia da série, recomendo que procurem pelo menos algumas das Hqs comentadas. Não creio que alguma delas tenha vindo ao Brasil, mas se você não for avesso à compra de edições digitais ou estiver disposto a esperar o dólar baixar de preço, ao menos para os fãs mais hardcore, são leituras mais do que recomendadas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #16 – Terror no mundo real: O Comics Code Authority, final

Na última parte da matéria sobre o Comics Code Authority, entenda como o código obrigou as editoras a se adaptarem, e como uma nova configuração de distribuição abriu caminho para o mercado americano como conhecemos hoje.

capapost16

Surge o Comics Code Authority

Já em 1948, a indústria de quadrinhos havia se movimentado para dar algum tipo de resposta prática frente às preocupações da população com relação aos quadrinhos e seu impacto nas crianças. Naquela época foi criado a Association of Comics Magazine Publishers (ACMP), formada por Phil Keenan, da Hillman Periodicals, Leverett Gleason, da Lev Gleason Publications, William Gaines, da EC Comics, Harold Moore (publisher da Famous Funnies) e Rae Herman, da Orbit Publications, entre outros. A tentativa de se autorregular durou até 1954, quando, após o fracasso (para o lado dos quadrinhos) das audiências sobre comics do subcomitê sobre delinquência juvenil, a ACMP foi substituída pela CMAA (Comics Magazine Association of America), que passaria a ser chefiada pelo especialista em delinquência juvenil Charles F. Murphy.

A CMAA se tornou uma espécie de organização que deliberava sobre um novo “código de ética e padrões” para a indústria de quadrinhos americana, que passou a ser chamado de Comics Code Authority. Esse código era baseado num rascunho que a ACMP havia produzido anteriormente, e que por sua vez era ligeiramente baseado no Hollywood Production Code, de 1930 (mais detalhes em curiosidades). As Hqs precisariam ser enviadas ao CMAA para aprovação e as revistas aprovadas estampariam um selo, que era a garantia que haviam sido submetidas e aprovadas pelo código. Este bania representações explícitas de violência e gore em quadrinhos criminais e de terror, definia que os mocinhos tinham que sempre ganhar no final, proibia a glamourização e humanização dos vilões, insinuações sexuais, além de diversas outras proibições estranhas, como banir as palavras “horror”, “terror” e “weird” dos títulos das Hqs e riscar do mapa a aparição de mortos vivos, tortura, vampiros e vampirismo, entidades diversas, canibalismo e lobisomens. Estas últimas restrições pareciam mirar exclusivamente na EC Comics, que não teve outra opção a não ser cancelar seus títulos e tentar mudar o foco de suas publicações (o que acabou não sendo bem sucedido e a editora deixou de existir).

Diferente da EC Comics, a DC, que publicava em sua maior parte super-heróis, se ajustou mais facilmente ao código. Transformou a Mulher Maravilha numa personagem “mais comportada” e fez Dick Grayson, o Robin, ir para faculdade e se afastar do Batman. E, assim, com histórias muito mais pueris, a editora conseguiu seguir adiante sem perder seus personagens mais populares e sem a ameaça de encerrar as atividades de vez, com aconteceu com a editora de Bill Gaines.

O programa “Confidential File”, num episódio de 1955, usa os quadrinhos como tópico. O vídeo é um ótimo exemplo da mentalidade da época a respeito do tema. (em inglês)

Homem Aranha e a revisão nos anos 70

No começo dos anos 70, a Marvel Comics tentou pedir permissão para a CMAA a fim de publicar uma história do Homem Aranha que envolvia uso de drogas. O pedido foi negado, mas a ação não passou batida, pois acabou levando os membros da comissão a pensarem numa revisão do código. Foram feitos alguns rascunhos e, em 1971, os editores concordaram com uma nova versão, que não só permitia mostrar o uso de drogas e narcóticos nas histórias (desde que mostrados como um hábito vicioso), mas também passou a permitir monstros como vampiros, criaturas e lobisomens, desde que representadas na “clássica tradição de [personagens como] Frankenstein, Drácula e outros trabalhos de alto calibre literários escritos por Edgar Allan Poe, Saki, Conan Doyle e outros respeitáveis autores cujos trabalhos são lidos em escolas ao redor do mundo”.

A nova versão do código começava, aos poucos, a flexibilizar as regras, o que abriu caminho para novos tipos de histórias e permitiu o retorno das Hqs de terror, ainda que de forma limitada, às grandes editoras (falaremos disso em matérias futuras).

Contornando o código através do advento das Comic Shops

A essa altura do campeonato, apenas 4 editoras permaneciam ativas na CMAA entre os anos 70 e 80 – Archie, Marvel, Harvey e DC. Mas uma grande mudança na distribuição de quadrinhos tornou possível aos editores vender comics sem o selo de aprovação do código: a negociação direta com Comic shops.

Antigamente, as revistas em quadrinhos eram distribuídas de forma semelhante ao que acontece aqui, em bancas de jornais. Assim, os distribuidores entregavam quadrinhos junto com outras revistas, e serviam como um braço do Comics Code, pois concordavam em entregar apenas quadrinhos com o selo. Mas no mercado direto de distribuição, que criou distribuidores especializados, essa relação ficou mais estreita e, para fortalecer esse mercado, tanto vendedores quando distribuidores diretos passaram a também receber Hqs sem o selo do Comics Code, abrindo a porta para editoras contornarem o código e sua censura. Livre das restrições do Comics Code, novos editores começaram a experimentar com novos materiais – incluindo material para o público adulto – a fim de expandir sua audiência. Começavam a surgir as editoras independentes.

Uma nova revisão: 1989

Com o mercado efervescendo de publicações independentes que não davam a mínima para o Comics Code, a CMAA decidiu por uma nova revisão no código. Embora as grandes editoras não tivessem um consenso sobre o assunto (Algumas, como Marvel e Archie, eram favoráveis a manter o código antigo), uma grande pressão por parte da DC Comics, que argumentava que o código era um constrangimento para autores e artistas, levou a CMAA a rascunhar um documento chamado Principles of the Comics Code Authority, que continham declarações gerais sobre violência e linguagem, além de outras áreas de preocupação. Outro documento, exclusivo e restrito aos editores, listava regras específicas para cada área de conteúdo.

1989 também marca um ano importante para a diversidade nos quadrinhos: o banimento de referências à homossexualidade foi eliminado para permitir representações não estereotipadas de personagens LGBT.

O Comics Code definha

Desde a revisão do código nos anos 70 e a nova configuração logística do mercado de quadrinhos americano, o Comics Code foi perdendo cada vez mais sua relevância. Hqs como Lanterna Verde/Arqueiro verde, Homem Aranha, Batman, Monstro do Pântano, entre outros, começaram a trabalhar com temas mais complexos e explorar cada vez mais áreas de cinza, deixando as editoras mais corajosas para alçar novos vôos. Muitas dessas HQs, como Monstro do Pântano, tiveram edições que saíram sem o selo do Comics Code. Isso acarretou o surgimento de clássicos como A piada Mortal, Asilo Arkham, o Cavaleiro das Trevas, Watchmen, Sandman, Deadman e outras obras fechadas que buscavam um público adulto e mais sofisticado.

Em 2001, a Marvel parou de submeter suas Hqs ao código, criando seu próprio sistema de regras. E, em 2011, 10 anos depois da concorrente, a DC anunciou que não procuraria mais a CMAA para aprovar suas revistas. Atualmente, pouquíssimas revistas ainda são submetidas ao Comics Code, entre elas Hqs para crianças pequenas e um ou outro título de super-herói. Por fim, a Archie Comics foi a pá de cal para enterrar de vez a credibilidade do código, encerrando uma supremacia de quase 60 anos sobre os quadrinhos norteamericanos.

Hoje, cada editora de quadrinhos possui regulamentação própria para seus títulos, e a indústria atualmente consegue barrar críticas defasadas invocando a primeira emenda (Liberdade de Expressão), que é assistida pelo Comic Book Legal Defense Fund, que visa proteger estes direitos através de representação legal, consultoria, assistência e educação.

Curiosidades
– O Motion Picture Production Code, também conhecido como The Hays Code, foi uma série de linhas morais aplicadas aos filmes americanos lançados pelos grandes estúdios entre 1930 e 1968 e que tinha objetivo semelhante ao Comics Code. Com o tempo, o código se tornou datado e, a partir de 1968, foi substituído pelo sistema de avaliação MPAA (Motion Picture Association of America), que é quem aplica a classificação etária dos filmes nos EUA até hoje.

– Apesar da revisão em 1971 ter permitido a representação de criaturas e monstros, os zumbis ficaram de fora, uma vez que a referência do conselho era a literatura gótica vitoriana. Como zumbis não tinham essa bagagem literária, permaneceram como tabu pelo código por mais tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Papo Dinâmico Com Pericles Junior, Desenhista de Carnívora

Entrevista com o autor da graphic novel CARNÍVORA, lançada pela AVEC editora com apoio do financiamento coletivo.

Carnívora entrevista Pericles Junior
Em Entrevista exclusiva para o Dínamo Studios

Olá Argonautas,

Se você acompanha as notícias sobre publicações indie de quadrinhos no Brasil, já deve ter lido em algum lugar da blogosfera o nome Pericles Junior, não é mesmo?

Ele é o desenhista e roteirista da graphic novel CARNÍVORA, lançada pela AVEC Editora nesse mês (saiba mais informações AQUI) com apoio do site de financiamento coletivo Catarse.

Carnívora entrevista Pericles Junior
Conheça mais sobre a arte de Pericles Junior

Pericles tem mais de 13 anos de experiência no mercado de quadrinhos, tendo publicado para a Legendary Comics, a Warner, a Devil’s Due Publish e marcas como Volkswagen Brazil e Nike entre muitas outras. Ele também já trabalhou como diretor de arte, ilustrador e mora na Cidade Maravilhosa, cujo cenário e situação social inspiraram diversos trechos de CARNÍVORA.

E é justamente para falar dessa HQ que convidei a Pericles para uma breve entrevista feita com exclusividade para o Dínamo Studios. Então, aproveite bem esse bate-papo, descubra mais sobre esse universo de terror e ação criado pelo desenhista brazuka e não deixe de aproveitar uma surpresa da AVEC que falamos no final do post.

Divirta-se!

 

Influências de CARNÍVORA

Carnívora entrevista Pericles Junior
Quadrinho recebe influência de Walking Dead, Tropa de Elite e dos Slasher movies

Vagnerd Abreu: Eu digo isso na resenha que escrevi sobre Carnívora aqui no Dínamo e torno a repetir: Carnívora parece beber de muitas influencias pop.

 Entre as quais cito “The Walking Dead”, “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”. Estou correto? Mas acredito que você pode agora começar quebrando as pernas desse entrevistador e dizer muitas outras influências, né? Comente um pouco sobre elas e como elas te ajudaram nesse trabalho?

Pericles Junior: Foi bem por aí mesmo. Na parte da ação e drama, é inegável as influencias que citou e fui muito influenciado principalmente pela linha slasher filmes [nota do editor: filmes de terror como “Sexta-Feira 13”, “Helloween”, ].

É um universo que curto muito, então tudo isso fica cravado em você de alguma forma e sempre vem à tona quando começa desenvolver algum roteiro.

 

Vagnerd: Vamos imaginar agora que Jose Padilha se interessou por CARNÍVORA e resolveu fazer uma série da “Netflix”, só que sem a participação do Wagner Moura.

Você entra como produtor executivo e pode escolher qualquer ator para  viver o papel do Carlos, do Parede, da Jessy e demais personagens.

 Que atores escolheria? (não vale o Wagner Moura). Em quais outros momentos da produção você iria desejar interferir (trilha sonora, edição, ambientação, figurino, etc)?

NEW YORK - APRIL 28: Writer/director/producer Jose Padilha of the film "Elite Squad" poses for a portrait at the Amex Insider's Center during the 2008 Tribeca Film Festival on April 28, 2008 in New York City. (Photo by Scott Gries/Getty Images for Tribeca Film Festival)
Será que Jose Padrilha encararia essa adaptação?

Pericles: Hahaha.. Caraca. Pior que sou fanzão do Padilha (jura?) e acredito que aprovaria 85% de qualquer ideia que ele apresentasse.

Mas tem uns pontos que curtira à beça colocar o bedelho: trilha sonora e direção de arte. Sou apaixonado por isso, agora atores… Vejamos:

Drika: Rhaisa Batista ou Michelle Batista
Carlos: Juliano Cazarré
Jessy: Fernanda de Freitas
Parede: Babu Santana
Sônia: Juliana Alves

Vagnerd: Você desenha cenas de ações incríveis. Julgo a dizer que Carnívora é uma graphic novel de ação, com terror como plano de fundo. Na sua opinião, você acredita que um desenhista com conhecimentos cinematográficos como a sua experiência em storyboard pode se destacar como ilustrador? Por quê?

Pericles: Sempre. Nos quadrinhos você precisa pensar na melhor forma de apresentar a história para o leitor. Então, um bom posicionamento de “câmera” e toda a dinâmica que envolve a história, tanto desenho quanto texto, ajudam a jogar o leitor para dentro da revista.

Carnívora entrevista Pericles Junior
Mais uma splash page de tirar o fôlego!

 

Terror, Ação e Discussão Social

Vagnerd: Quando estava planejando o conceito de CARNÍVORA, você já imaginou transmitir uma mensagem social junto? Na sua opinião como artista, qual a importância da crítica social em uma história em quadrinhos?

Carnívora entrevista Pericles JuniorPericles: Pensei sim, mas confesso que ela ganhou força quando a HQ estava sendo produzida.

Acredito que autores e criativos podem ser porta-vozes não só de novas ideias, mas de alerta, de denúncia, um “opa, tem alguma coisa errada com o mundo”. Os quadrinhos, além de ser uma mídia de entretenimento, são também uma forma de semear mudanças (positivas, de preferencia).

 

Vagnerd: Como um artista, você acredita que Carnívora possui um subtexto? Uma crítica, metáfora ou alegoria.

Pericles: Carnívora é repleta de metáforas. A incursão da polícia no morro, o descaso. Como as consequências dos nossos atos refletidos na vida de outra pessoa. A HQ é uma alegoria da vida real.

 

Angustiante Espera Pelo Financiamento Coletivo

Vagnerd: Como foi o processo de financiamento coletivo, contato com a AVEC Editora e espera para ver se o público aceitaria seu projeto. Conte sobre o frio na barriga. Deixe nossos leitores saberem um pouco dos bastidores de CARNÍVORA.

Pericles: Nossa, foi angustiante.

Faltava 2 semanas para o final do prazo e tínhamos apenas 17% da meta. Já tinha até desistido. Joguei a toalha.

Mas graças a uma amiga, que deu a ideia de fazer tipo uma campanha. Campanha dos 10 reais (se X pessoas apoiassem com 10 reais conseguiríamos virar). Eu reanimei e meti as caras de novo. Foi correria. Todos os dias eu colocava um termômetro sinalizando o quanto conseguíamos.

Foi bem conta gotas e a força da família e amigos foi fundamental. Graças a Deus conseguimos, não só bater a meta como ultrapassá-la. O contato com a AVEC veio antes. Eles já haviam manifestado o interesse em publicar, mas tinhas algumas questões gráficas que eu gostaria que fossem diferentes. Era o primeiro trabalho autoral impresso, então que fosse algo que marcasse não só a mim, mas, de certa forma, o público.

Carnívora entrevista Pericles Junior
Poster de Divulgação de Carnívora no Catarse

Vagnerd: Após anos trabalhando no mercado digital e impresso, como você aprimorou seu traço até ver CARNÍVORA publicada e financiada por leitores brasileiros. E o que você aprendeu com sua criação?

 Pericles: Foi saber se de fato minhas ideias malucas são boas e que existem pessoas interessadas nelas. Depois do trabalho feito, você enxerga ele de forma diferente.

Sempre acha que poderia ficar melhor. E a vantagem de um trabalho autoral é a experimentação. Sim, meu traço mudou e ainda via mudar bastante depois de Carnívora.

 

Processo Criativo e Dicas Para Jovens Desenhistas

Vagnerd: Como funciona o seu processo criativo para uma HQ que você escreve e desenha? Você primeiro pensa na arte e depois “bola” história? Ou a história vem primeiro, depois a arte se adapta a ela?

Carnívora entrevista Pericles Junior
Optimus Prime de Pericles Junior

 Pericles: Primeiro penso na história. O que quero contar com ela? Em seguida começo a desenhar os personagens. Desenvolver o visual, concepts. Costumo desenhá-los a exaustão ao mesmo tempo contando a história deles. Eu só consigo desenvolver uma história se eu conhecer bem os personagens. Precisamos “conviver” por um tempo.

Há casos de eu construir uma história inteira sobre o personagem, que daria até uma outra HQ, só para conhece-lo melhor. Dessa forma a história flui mais fácil.

 

Vagnerd: Deixe as suas “dicas matadoras” para os leitores que quiserem seguir os passos de quadrinhista/roteirista. E também dicas para os artistas que desejam empreender um projeto com financiamento coletivo.

Carnívora entrevista Pericles Junior
Super-moça por Pericles

Pericles: Persistência. Cara, não tem outra forma para se trabalhar com quadrinho. Tudo é trabalhoso.

Escrever, desenhar, procurar formas de publicação. Então você precisa ter certeza se o quadrinho vai ser a sua paixão/sonho ou se vai ser uma meta a ser conquistada.

Entender em que área da sua vida o quadrinho vai entrar ajuda muito a definir a sua postura. Se ele vai ser o seu “ganha pão”, o seu segundo ofício ou algo para as horas vagas porque você gosta muito disso.

No mais, leia bastante, assista bastante filmes, analise-os. Reproduza cenas que achou bacana. E prática. Muita prática!

 

_______________________________

Considerações Finais: Duas Dicas Especiais Para Você

Muito bem pessoal, esse foi o bate-papo que tive com Pericles Junior, espero que tenham curtido e que possam se interessar mais pelo trabalho desse batalhador.

Ah, lembram-se daquela surpresa oferecida pela AVEC que falei ali no começo? Pois então, a editora está dando 10% de desconto para leitores do Dínamo Studios.

Y ESCAPE

Quando for fazer uma compra na AVEC Store, você ganha esse prêmio ao rescrever “dinamo” no espaço para CUPOM DE DESCONTO, ao finalizar sua compra. Clique AQUI e aproveite, não deixe de conhecer CARNÍVORA também. Aposto que você ficou louco de curiosidade após ler essa entrevista.

Outra coisa: eu estou muito muito chateado com os leitores do Dínamo. Criei esse site, o Vida de Escritor, para divulgar conteúdo sobre a arte de escrever e estou recebendo pouquíssimos acessos de leitores daqui… Vamos lá argonautas, vamos invadir o VDE, clique AQUI se quiser conhecer meu mais novo projeto.

Abraços.