Sarjeta do Terror #51 – Editoras da era de ouro do horror (parte 2, final)

Os anos 50 não são considerados a “era de ouro” das hqs de terror à toa. Havia muitas editoras e muitas publicações dedicadas ao gênero, por isso foi necessário dividir a matéria em duas partes. A partir daqui, vamos conhecer, não só editoras que fizeram sucesso nos anos 50, mas também aquelas que seguiram nos anos 60 e além, mesmo com as imposições do Comics Code Authority.

 

Quality Comics (1937-1956)

Uma das mais conhecidas editoras de quadrinhos da Era de Ouro, a Quality foi fundada nos anos 30, mas só assumiu esse nome nos seus produtos a partir de 1940. Inicialmente, o material da editora era feito quase que só pelo estúdio Eisner & Iger – incluindo a reedição das histórias do Spirit.

A Quality só teve uma revista regular de terror que merece destaque, Web of Evil (1952-1954), que durou 21 edições, além de uma edição única chamada Intrigue (1955), mas merece ser mencionada por ter sido a casa de diversos artistas clássicos (muitos que fariam nome nas hqs de horror) como Jack Cole, Reed Crandall, Will Eisner, Lou Fine, Gill Fox, Paul Gustavson, Bob Powell e Wally Wood.

A editora encerrou as atividades em 1956, depois de suas vendas caírem gradualmente na competição com a ascensão da televisão. A maior parte das propriedades intelectuais da Quality acabou sendo comprada pela National (atual DC Comics).

 

Harvey Comics (1941-1994)

A editora Harvey começou suas atividades em 1941, mas só se tornou realmente popular a partir dos anos 50, quando passou a licenciar adaptações de desenhos animados como Gasparzinho, Tininha e Herman e Katnip – além da sua criação original mais famosa, Riquinho.

É claro que a Harvey também não ficou de fora da explosão das hqs de horror. Entre as publicações, podemos destacar Black Cat/ Black Cat Mystery/Black Cat Western (1946-1963) que, apesar da constante mudança de nome e publicação infrequente, durou 65 edições; Chamber of Chills (1951-1954), que continuou a partir de Chamber of Clues e durou 26 edições; Witches’ Tales (1951-1954), que durou 28 edições antes de se tornar Witches’ Western Tales; Tomb of Terror (1952-1954), que durou 16 edições até se tornar Thrills Of Tomorrow (1954-1955), que, em suas 4 edições, gradualmente se tornou uma hq de super-herói, publicando o personagem “Stuntman” de Jack kirby e Joe Simon; e Man in Black (1957-1958), que também publicava histórias de ficção científica, durou apenas 4 edições.

A partir dos anos 80, as vendas dos títulos da Harvey começaram a declinar e, em 1986, já havia sido reformulada para trabalhar apenas com alguns títulos-chave. Depois de 1989, as propriedades intelectuais da Harvey foram vendidas para empresas diversas (incluindo a Universal Studios) e, em 1994, a empresa cessou as atividades de vez.

 

Charlton Comics (1945-1986)

Provavelmente a mais conhecida das editoras dessa matéria, a Charlton começou como T.W.O. Charles Company em 1944. Passou a ser conhecida como Charlton Publications a partir de 1945, publicando revistas de letras de músicas, passatempos e, por um breve período, livros. Sua divisão de quadrinhos publicou diversos super-heróis que se tornariam populares. Mas uma das características da Charlton era sua versatilidade. Eles publicaram quadrinhos de tudo quanto era gênero: ficção científica, crime, suspense, humor, animais engraçados, infantil, super-herói, faroeste, guerra, romance e, é claro, terror.

Das editoras citadas nessa matéria e na anterior, a Charlton é a que mais teve títulos voltados para o horror, além dos mais longevos (é claro, ajuda o fato de que também foi uma das que mais durou no mercado). Entre os títulos pré-comics Code destacam-se The Thing (1952-1954), que durou 17 edições; a ficção científica esquisita Out of this World (1956-1959), com 16 edições; This Magazine is Haunted (1954-1958), título que veio da Fawcett e seguiu sua numeração original por 7 edições – a Charlton até tentou manter a qualidade da revista original, mas o Comics Code obrigou as histórias a mudarem consideravelmente o tom; Strange Suspense Stories (1955-1965), que durou 51 edições mas, no meio do caminho, se tornou temporariamente This is Suspense (1955), com 4 edições.

Diferente de outras editoras, a Charlton continuou publicando hqs de horror após o Comics Code. Essas histórias, no entanto, tinham muito pouco de “terror” por conta das limitações do código, mas algumas fizeram bastante sucesso e duraram por muitas edições. Entre as hqs desse período, destacam-se Unusual Tales (1955-1965); que durou 49 edições; Tales of the Mysterious Traveler (1956-1959), com 13 edições; Ghostly Tales (1966-1984), a mais duradoura, com 115 edições; The Many Ghosts of Doctor Graves (1967-1982), 72 edições; Ghost Manor (1968-1964), que teve duas fases, uma com 19 edições, outra com 77; e Haunted (1971-1984), com 75 edições.

Apesar de ter sido mais afortunada que outras, a Charlton também acabou sendo vítima das mudanças do mercado e das quedas nas vendas. Encerrou as atividades em 1986, vendendo suas propriedades intelectuais para – uma chance de adivinhar – a DC Comics.

 

St. John Publications (1947-1958)

Empresa com vida curta, mas que deixou sua marca nas histórias em quadrinhos norteamericanas por ter sido a pioneira em uma porção de coisas. Lançou a primeira história em quadrinhos em 3-D Three Dimension Comics (1953), a primeira hq “tie-in” de um filme de comédia, com Abbott and Costello Comics e contratou o primeiro artista afroamericano nos quadrinhos mainstream, Matt Baker. Além disso, foi pioneira na publicação do que chamou de “Picture Novel”, revistas em formato mais sofisticado e com orientação adulta – precursora das Graphic Novels.

A St. John contou com algumas hqs de terror, todas com pouca duração, como Strange Terrors (1952-1953), apenas 7 edições; Weird Horrors (1952-1953), com 9 edições; Amazing Ghost Stories (1954-1955), com apenas 3 edições; e Do you Believe in Nightmares (1957-1958), com apenas 2 edições; além da edição única House of Terror (1953), lançada em 3-D. Entre os artistas que passaram por essas publicações, destacam-se Dick Ayers, Bernard Baily e Joe Kubert.

A editora encerrou suas atividades com histórias em quadrinhos em 1958, continuando a publicar outros tipos de revista até 1967.

 

Star Publications (1949-1954)

A Star também foi uma editora que não durou muito, mas que teve alguns grandes talentos entre seus artistas, como Joe Kubert, Wally Wood e Frank Frazetta. Assim como boa parte das editoras nos anos 50, a Star também aproveitou a popularidade do gênero de terror no período para lançar seus próprios títulos (a maioria seguindo a partir de outras hqs de gêneros variados e mantendo a mesma numeração).

Os títulos de terror da Star foram Blue Bolt Weird Tales of Terror (1951-1953), que continuou a numeração da hq de aventura “Blue Bolt”, durando 9 edições e dando lugar a Ghostly Weird Stories (1953-1954), que durou apenas 5 edições; Shocking Mystery Cases (1952-1954), que se seguiu a partir de Thrilling Crime Cases e durou 11 edições; Startling Terror Tales (1952-1954), 8 edições; e The Horrors of Mystery (1953-1954), 5 edições.

Infelizmente, a Star foi uma das editoras que foi obrigada a encerrar suas atividades em consequência direta do advento do Comics Code Authority, em particular pelos títulos de algumas de suas revistas (termos como “terror” e “horror” haviam sido banidos pelo código).

 

Youthful Magazines (1949-1954)

Diferente da maioria das editoras do período, que publicavam super-heróis, um dos gêneros mais populares, a Youthful se especializou em hqs fora desse gênero, focando-se em faroeste, romance, humor, ficção científica e terror.

No gênero de horror, destaca-se Captain Science (1950-1951), uma hq de ficção cientifica e horror, que durou 7 edições, dando lugar a Fantastic (1952), que durou apenas 2 edições antes de dar lugar a Beware (1952), com 5 edições antes de se transformar em Chilling Tales (1952-1953), que finalizou a sequência com 5 edições. Apesar das renumerações constantes, a publicação seguiu sempre mantendo a numeração original. A Youthful encerrou as atividades em 1954.

 

Trojan Magazines (1950-1955)

Não há muita informação disponível sobre essa editora. Sabe-se que ela adquiriu alguns títulos da Youthful, entre elas Beware (1953-1955), que durou 15 edições na Trojan.

 

Key Publications (1951-1956)

Como era comum na época, a Key publicou quadrinhos sob diversos selos, entre eles Aragon Magazines, Gillmor Magazines, Medal Comics, Media Publications, S. P. M. Publications, Stanmor Publications e Timor Publications.

Nos anos 50, entrou na onda de hqs de terror, mas a maioria dos títulos não durou muito. Entre os artistas que passaram pela editora estavam Ross Andru e Bernard Baily. Mister Mystery (1951-1954) é provavelmente o título de terror mais duradouro da Key, com 19 edições. Outros títulos foram Weird Mysteries (1952-1954), com 12 edições; Weird Tales Of The Future (1952-1953), com 8 edições; Weird Chills (1954), com 3 edições; e Climax (1955), com apenas 2 edições.

 

Story Comics (1951-1955)

Outra editora do qual não consegui muitas informações, mas que publicou pelo menos 3 títulos de horror: Dark Mysteries (1951-1955), que durou 24 edições; Mysterious Adventures (1951-1955), que durou 25 edições; e Secret Mysteries (1955), que durou apenas 3 edições.

 

Comic Media (1952-1954)

Uma editora de vida curta, mas que também publicou hqs de horror no auge do gênero nos quadrinhos. Os títulos que merecem destaque são Horrific (1952-1954), que durou 13 edições e continuou por apenas uma edição como Terrific (1954) e Weird Terror (1952-1954), que também durou 13 edições.

O principal artista dos títulos da editora foi Don Heck, que após o fim da Comic Media seria contratado por Stan Lee para a Atlas Comics e que, mais tarde, ajudaria a criar a “Era Marvel”, junto com Lee, Kirby, Ditko e Dick Ayers. A Comic Media encerrou suas atividades apenas dois anos depois da sua fundação, vendendo seus títulos e personagens para a Charlton Comics.

 

I. W. Publishing/Super Comics (1958-1964)

Mais uma editora de vida curta, começou a publicar quadrinhos no fim dos anos 50. Era parte das Empresas I.W, cujo nome vinha do seu dono, Israel Waldman. Nos seus últimos anos de existência, publicou hqs sob o nome de Super Comics.

A editora é mais conhecida por ter publicado republicações não autorizadas de editoras falidas, especialmente da Quality. O que acontece é que Israel Waldman adquiriu uma gráfica que continha diversos materiais de produção de editoras variada. A maioria delas não existia mais, e alguns materiais nunca havia sido lançado. Waldman achou que ter comprado a empresa significava ter os direitos sobre todo esse material e saiu publicando material que, na prática, era não autorizado.

A I.W. também publicou hqs de terror, das quais pode-se destacar Eerie (1958), com apenas 3 edições; Strange Mysteries (1958-1964), com 8 edições; Eerie Tales (1963-1964), com 4 edições; Daring Adventures (1963-1964), com 8 edições; Fantastic Adventures (1963), com 7 edições; e Mystery Tales (1964), com apenas 3 edições.

A editora encerrou as atividades como “Super Comics” em 1964. Depois disso, Waldman juntou-se à Sal Brodsky para fundar a Skywald Publications.

 

Ziff Davis Publications (1927-)

Uma das mais antigas empresas citadas aqui, a Ziff Davis começou como uma editora que publicava revista dedicadas a hobbys diversos, como carros, fotografias e eletrônicos. A partir de 1938, a editora adquiriu as revistas Radio News e Amazing Stories e começou a publicar ficção. Mas foi nos anos 50 que a empresa se dedicou a publicar quadrinhos, tanto com seu próprio nome quanto com o selo Approved Comics.

As revistas, de diversos gêneros, não duraram muito, mas tiveram como diretor de arte Jerry Siegel. Entre os artistas notáveis que passaram pela Ziff Davis, podemos citar John Buscema, Bob Haney e Mort Leav.

No campo do terror, a editora publicou as edições únicas Eerie Adventures e Weird Adventures (1951); além das revistas Nightmare (1952), que durou apenas 2 edições; e Weird Thrillers (1951-1952), que durou 5 edições.

A Ziff Davis existe até hoje e atualmente também é dona de estações de televisão, além de produzir conteúdo para internet.

 

Existem ainda diversas outras publicações e editoras que publicaram material avulso ou com poucos números, como Journey into Fear (1951-1954, Superior Publishers Limited); Tales of Horror (1952-1954, Toby/Minoan); Tormented (1954, Sterling); Tense Suspense (1958-1959, Fago Magazines); Ghost Stories (1962-1963, Dell Comics / Western Publishing). Infelizmente, não dá para dar conta de todos os títulos e editoras, mas espero que estas duas matérias tenham conseguido ao menos ajudar na contextualização do mercado no período, especialmente em relação ao gênero de terror.

 

Nota: Por motivos de força maior, esta coluna vai dar uma pousa por tempo indeterminado. Mas não se preocupe: assim como a maior parte dos monstros das histórias de terror, a coluna retornará em algum momento.

 

Curiosidades:

– Os personagens da Quality comprados pela DC divididos em duas terras: uma semelhante à terra-1, com personagens como Homem Borracha, Kid Eternidade e Os Falcões Negros, e outra chamada Terra-X, radicalmente diferente, onde Hitler ganhou a Segunda Guerra e os Combatentes da Liberdade são a única linha de defesa contra os nazistas. Uma versão dessa terra foi vista no crossover de 2017 das séries da DC no CW (não por acaso chamada de “Crise na Terra-X”);
– Quando adquiriu a revista This Magazine is Haunted, da Fawcett, a Charlton tentou seguir o estilo da revista, mantendo inclusive seu anfitrião, Doctor Death. Infelizmente, os censores do Comics Code achavam o anfitrião macabro demais, então a editora teve que substituí-lo por uma versão amenizada, chamada de Doctor Haunt – que era visualmente humano, diferente da versão original, mais macabra;
– O primeiro trabalho publicado de Steve Ditko (embora tenha sido o segundo produzido por ele) foi para a Gilmor Magazines, da Key.

 

Edições anteriores:

50 – Editoras da era de ouro do horror (parte 1)

49 – The Heap, o pai dos monstros do Pântano

48 – Criadores de Terror: Steve Ditko

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #48 – Criadores de terror: Steve Ditko

O Sarjeta do Terror deste mês homenageia um dos artistas mais influentes dos quadrinhos: Steve Ditko. Mais conhecido por sua passagem na Marvel, Ditko também deixou sua marca nos quadrinhos de terror.

No dia 29 de Junho, o mundo dos quadrinhos ficava sabendo que Steve Ditko havia falecido. Recluso e com valores pessoais bastante fortes, Ditko estava fora do circuito “mainstream” dos quadrinhos há muito tempo, mas sua influência nunca deixou de ser sentida. Apesar de ser mais conhecido como co-criador do Homem-Aranha e de personagens como O Questão e Doutor Estranho, Steve Ditko sempre navegou, de uma forma ou de outra, pelo terror. É por isso que a coluna de hoje homenageia este monstro das Hqs.

Steve Ditko nasceu no dia 2 de novembro de 1927, na cidade de Johnstown, Pensilvânia. Filho de dois descendentes ucranianos, um carpinteiro e uma dona de casa. Ditko era um dos quatro filhos em uma típica família de classe trabalhadora americana e seu interesse pelos quadrinhos veio desde cedo. Seu pai era fã das páginas de quadrinhos publicadas nos jornais (especialmente O Príncipe Valente, de Hal Foster), mas foi com o surgimento de Batman e Spirit que seu gosto pela mídia realmente floresceu.

Mesmo jovem, Ditko era uma espécie de herói em seu próprio mérito: no ensino médio, construía modelos de madeira de aviões alemãs para ajudar civis que vigiavam aeronaves; após a faculdade, se alistou no exército e prestou serviço na Alemanha pós-guerra, inclusive fazendo quadrinhos para um jornal do exército.

Depois de sair do exército, já nos anos 50, Ditko se mudou para Nova York para poder ter aulas com seu ídolo, Jerry Robinson (mais conhecido por seu trabalho com Batman). Isso foi possível graças à uma lei americana, que ajudava a facilitar o retorno à vida cotidiana de veteranos da Segunda Guerra. Robinson frequentemente levava pessoas da indústria para falar com os alunos; um deles foi Stan Lee, na época editor da Atlas Comics – precursora da Marvel.

O primeiro trabalho de Steve Ditko já tinha um pé no horror. Curiosamente, só foi publicado bem mais tarde, na edição número 5 da revista Fantastic Fears, da Ajax/Farrell. Isso fez com que seu primeiro trabalho publicado fosse, na verdade, seu segundo trabalho produzido – publicado na primeira edição da revista Daring Love, da Gilmor Magazines.

Os primeiros trabalhos de Ditko: a história “Stretching Things”, para Fantastic Fears #5 (1954), e “A Hole in His Head”, para Black Magic #27 (vol. 2 #3, 1953).

Não demorou muito para ele conseguir trabalho no estúdio de Joe Simon e Jack Kirby, que haviam criado o Capitão América na década anterior. Lá, Ditko começou como arte-finalista dos cenários e passou a trabalhar com outro de seus ídolos, Mort Meskin. Entre as revistas nas quais trabalhou, estavam a publicação de horror e suspense de Simon e Kirby chamada Black Magic.

Em 1953, Ditko iniciou uma longa parceria com a Charlton Comics, que durou até o fim da empresa. Seu primeiro trabalho foi a arte de uma história para a revista de horror The Thing, mas logo seu trabalho se espalharia também para as revistas This Magazine is Haunted, Tales of the Mysterious Traveler, Space War e Out of This World.

Além dos super-heróis, Ditko trabalhou também nas revistas de horror, suspense e fantasia da Chalrton Comics.

Ditko começou a trabalhar na “Marvel” ainda na época da Atlas , quando revistas como Journey Into MysteryTales of Suspense, Tales to Astonish e Strange Tales ainda eram revistas mais no formato de antologia e sem os super-heróis que conhecemos. Além dessas revistas, ele também trabalhou em Amazing Adventures e Strange Worlds.

Mas é claro que a realização mais lembrada de Ditko na Marvel envolve um certo cabeça de teia, em 1962. Conta a história que Stan Lee, após conseguir autorização do editor Martin Goodman para criar um super-herói adolescente baseado numa aranha, procurou seu parceiro habitual, Jack Kirby, para a tarefa. O resultado, no entanto, não agradou Lee, que achou o Homem Aranha do Kirby heroico demais. Então ele se voltou para Steve Ditko, que criou o visual e estilo que agradou Lee. Além do próprio Homem-Aranha, Ditko também colaborou com Stan Lee na criação de alguns vilões do personagem, como Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro e Duende Verde.

Revistas da Atlas/Marvel Comics que Ditko trabalhou. Algumas delas introduziriam, mais adiante, super-heróis como Thor, Homem de Ferro, Homem Formiga e Doutor Estranho – este último criação do artista.

Após o Homem-Aranha, Ditko foi trabalhar com Lee na revista do Incrível Hulk e, quando encerrou suas atividades na revista, criou para Strange Tales o Doutor Estranho. Foi com esse personagem que o artista mostrou sua versatilidade estética e suas habilidades no design de imagens que remetiam ao surrealismo e basicamente antecipou a cultura psicodélica que viria mais adiante.

Depois de 1966, Ditko saiu da Marvel por questões internas que podem ser deixadas de lado nesse texto, e seguiu apenas na Charlton. A Charlton pagava menos, mas seus artistas tinham mais liberdade criativa. Ali, Ditko trabalhou em personagens como Besouro Azul, além de ter criado O Questão e co-criado o Capitão Átomo. Apesar do trabalho nas publicações de super-herói, Ditko seguiu nas hqs de horror, suspense e sci-fi da editora, como Ghostly Tales from the Haunted House, The Many Ghosts of Doctor Graves, Space Adventures e Ghost Manor, além de histórias de guerra, faroeste e românticas. Nessa época, Steve Ditko também trabalhou, ainda que por um curto período, para a DC Comics, onde foi o co-criador do personagem Rastejante e da dupla Rapina e Columba.

Ditko trabalhou na Charlton de forma intermitente até o encerramento da editora, nos anos 80, e sua subsequente compra pela DC Comics.

Em 1967, Ditko criou Mr. A para a revista independente do artista Wally Wood, Witzend. Personificando suas crenças no Objetivismo, as histórias giravam em torno de um repórter que também combatia o crime com a identidade de Mr. A, um vigilante de terno, gravata e chapéu que usava luvas e uma máscara metálica. O autor seguiu publicando histórias de Mr. A de forma independente pelos mais diversos meios até o fim dos anos 70, retornando brevemente ao personagem em 2000 e 2009.

No final dos anos 60, o artista também trabalhou para a Warren Publishing. Foram ao todo 16 histórias que alguns consideram os melhores trabalhos do artista: “The Spirit Of The Thing”, “Beast Man”, “Blood Of The Werewolf”, “Second Chance”, “Where Sorcery Lives”, “City Of Doom”, “The Sands That Change” e “Collector’s Edition”, publicadas na Creepy, e “Room With A View”, “Shrieking Man”, “Black Magic”, “Deep Ruby”, “The Fly”, “Demon Sword”, “Isle Of The Beast” e “Warrior Of Death”, publicadas na Eerie.

Na primeira metade dos anos 70, Ditko trabalhou quase que exclusivamente com a Charlton, dividindo seu tempo apenas com algumas editoras pequenas e independentes. Em 1975, Ditko retornou à DC e permaneceu por um período mais longo, onde criou o personagem Shade (que apareceu no Esquadrão Suicidade do John Ostrander e mais tarde seria reformulado, sem seu envolvimento, para o selo Vertigo), co-criou a minissérie Stalker com Paul Levitz, trouxe de volta personagens que estavam no limbo como o Rastejante e Etrigan e desenhou uma minissérie do Morcego Humano, além de ter sido artista convidado em séries como Legião dos Super-heróis e Adventure Comics. Em 1979, retornou à Marvel para substituir Jack Kirby na revista do Homem Máquina. Ali também desenhou os Micronautas e Capitão Universo. Seguiu como freelancer para a editora até os anos 90.

Algumas das histórias que o artista desenhou para Creepy e Eerie, da Warren, no fim dos anos 60.

Nos anos 80, Ditko seguiu fazendo trabalho freelancer para editoras independentes. Para a Pacific Comics, trabalhou em Captain Victory and the Galactic Rangers, introduzindo o personagem Missing Man, que apareceria depois na revista Pacific Presents, e em Silver Star, onde criou o personagem The Mocker. Além disso, trabalhou nas revistas Eclipse Monthly (Eclipse Comics), Warp (First Comics) e The Fly (o selo de super-heróis de vida curta da Archie Comics).

Em 1992, Ditko trabalhou com o roteirista Will Murray em um dos seus últimos personagens originais para a Marvel: a Garota Esquilo, em Marvel Super-Heroes vol. 2 #8. Ainda nos anos 90, o autor trabalhou na one-shot The Safest Place in the World (Dark Horse) e Dark Dominion (Defiant Comics).

Em 1998, se aposentou oficialmente dos quadrinhos mainstream. Seu último trabalho para editoras grandes foi uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC, que era para ser lançada na série do Órion no início dos anos 2000, mas que só foi publicado em 2008.

Após sua aposentadoria oficial do mainstream, o trabalho do autor se tornou intermitente. Sempre rejeitando aparições públicas, acreditando que seu trabalho deveria falar por si, Steve Ditko se isolou do mundo em seu estúdio, sem nunca realmente deixar de fazer quadrinhos. Pessoas mais próximas a ele dizem que, aos 90 anos (idade de sua morte), ele seguia produzindo quadrinhos em seu estúdio, onde foi encontrado.

Steve Ditko deixa um legado insubstituível, não só pelo seu estilo inconfundível, mas também pela criatividade no design e na narrativa das páginas, além de personagens únicos criados ao longo das décadas.

 

Curiosidades:
– Ditko alegava que O Questão é uma versão aceitável ao Comics Code do seu personagem independente, Mr. A;
– Se você ainda não ouviu, confira o ArgCast! feito em homenagem ao autor;
– Em 2007, a BBC lançou o especial “em busca de Steve Ditko”, em que o jornalista Johnatan Ross, com a ajuda de Neil Gaiman, tentam encontrar o artista. O programa está disponível no youtube, mas deixo aqui a parte final, onde eles vão até o estúdio do autor (em inglês, sem legendas).

Edições anteriores:

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

Nem só de Guardião da Cripta e Tio Creepy vivem o horror hosts dos quadrinhos. Conheça os anfitriões que apresentavam histórias hororizantes nas hqs

Apresentadores não são novidade na TV. De fato, este conceito é provavelmente tão antigo quanto a própria TV. Mas existiu um tipo muito particular de apresentador de TV que capturou a imaginação de milhões de norteamericanos, especialmente entre os anos 50-80: os Horror Hosts (apresentadores/anfitriões de terror, em tradução livre). Frequentemente encarnando personagens sombrios, sobrenaturais e/ou misteriosos, os horror hosts tinham como tarefa apresentar filmes de baixo orçamento e filmes de horror e sci-fi de diversos tipos. Os mais conhecidos do público em geral foram Vampira (a primeira horror host da TV), Elvira (mais sobre ela aqui) e a versão televisiva do Guardião da Cripta (Contos da Cripta)

O que muita gente talvez não saiba, no entanto, é que a ideia dos horror hosts começou anos antes nas histórias em quadrinhos, através das hqs de antologia que continham seu próprio apresentador macabro. A E.C Comics e, posteriormente, a Warren Publishing, foram duas das editoras cujos horror hosts são bastante conhecidos dos fãs de quadrinhos, mas essa tendência se espalhou por muitas outras editoras entre os anos 50 e 80, criando uma tradição nos quadrinhos de horror de antologia. Vamos conhecer os horror hosts dos quadrinhos.

 

E.C Comics

Os primeiros horror hosts surgiram no início dos anos 50 e estão entre os mais conhecidos dos leitores de quadrinhos. Quando os quadrinhos de horror emergiram como uma alternativa popular após a Segunda Guerra, a recém-formada E.C. Comics aproveitou o amor do fundador e do editor pelo gênero para investir numa tríade de hqs que se tornariam referência a partir daí: The Vault of Horror, The Haunt of Fear e Tales From the Crypt (1950).

The Crypt Keeper, The Old Witch, The Vault Keeper e Drusilla

Na teoria, cada revista tinha associada a si um horror host: The Vault of Horror tinha o Vault Keeper, Tales From the Crypt tinha o Crypt Keeper e The Haunt of Fear tinha The Old Witch. Na prática, no entanto, os três apresentadores eram vistos contando histórias nas 3 revistas, tornando difícil dissociar uma hq da outra. Além dos 3 apresentadores clássicos, The Vault of Horror teve suas 4 últimas edições apresentadas pelo Vault Keeper em conjunto com uma outra personagem, uma silenciosa mulher chamada Drusilla (visualmente muito semelhante à Vampira, horror host televisiva da época)

Mais sobre a história da E.C. Comics aqui, aqui, aqui e aqui.

 

Uncle Creepy, Cousin Eerie e Vampirella

Warren Publishing

A editora que trouxe o horror de volta nos anos 60 ao se aproveitar de uma brecha legal no Comics Code Authority (saiba mais aqui e aqui) trouxe as revistas de antologia e também a tradição dos horror hosts de volta. Não por acaso, a Warren trouxe diversos dos artistas e autores que trabalharam na extinta E.C. para produzir as antologias da editora.

Uncle Creepy era o apresentador da revista Creepy (1964), enquanto que o Cousin Eerie era sua contraparte na revista irmã Eerie (1966). Vampirella (1969), que completou a tríade da Warren, começou como horror host, mas com o tempo sua revista passou a contar apenas com histórias solo da personagem, tornando-a provavelmente o personagem mais popular criada pela Warrem.

Recentemente, tanto Creepy quanto Eerie têm tido suas histórias republicadas e Vampirella, apesar dos percalços editoriais ao longo das décadas, segue firme e forte, agora nas mãos da Dynamite Entertainment, em histórias próprias.

Mais sobre a história da Warren Publishing aqui.

 

Cain, Abel, Eva (quadro) e Elvira

DC Comics

A DC iniciou seu caminho nas hqs de horror ainda nos anos 50, com suas revistas House of Mystery (1951) e House of Secrets (1956). No entanto, estas revistas passaram a ter horror hosts apenas nos anos 60 (mais especificamente em 1968), quando o Comics Code Authority começou a ser desafiado pelas grandes editoras e a flexibilização de algumas das regras permitiria à DC trazer de volta um pouco do tom de horror às suas revistas (que haviam sido reimaginadas como histórias de super-herói). A partir daí, a relação da DC com horror hosts expandiu significativamente.

Cain e Abel eram os apresentadores/moradores de House of Mystery e House of Secrets, respectivamente, mas também apresentaram uma revista satírica de humor/horror da DC chamada Plop! (1973), junto com a personagem Eva, que também era a horror host de outra revista, Secrets of Sinister House (1972). Os 3 personagens eram, basicamente, suas contrapartes das histórias bíblicas e fizeram parte do universo DC em diversos momentos. Elvira, horror host da televisão, passou pela Casa dos Mistérios num lançamento de 12 edições chamado Elvira’s House of Mystery (1986), onde ficou de apresentadora no lugar de um desaparecido Cain. (mais sobre as passagens de Elvira pelos quadrinhos aqui).

The Mad Mod Witch e As Três Bruxas (Mildred, Mordred e Cynthia)

Eva foi, mais tarde, “transferida” para a revista Weird Mystery Tales (1972), enquanto que Secrets of Sinister House passou a ser apresentada pelo personagem Destino – mais tarde resgatado por Neil Gaiman para sua série Sandman – quando esta passou a se chamar Secrets of Haunted House (1975). A revista também era apresentada ocasionalmente por Cain, Abel e Eva, mas Destino era o único host fixo.

Alem dos anfitriões mais conhecidos, a DC Comics teve também The Mad Mod Witch, que foi a primeira apresentadora da revista Unexpected (1968). Diferente dos outros horror hosts, no entanto, The Mad Mod Witch não dominava a revista em que aparecia. The Unexpected também teve como apresentadores Abel, de House of Secrets, e The Three Witches, as bruxas Mildred, Mordred e Cynthia que, juntas, eram a personificação da vingança. Logo as 3 Bruxas passaram a apresentar também a revista The Witching Hour (1969) -mais tarde, as duas hqs  seriam fundidas em uma só publicação.

Uma revista irmã de Secrets of Sinister House, chamada Forbidden Tales of Dark Mansion (1971), passou a ser apresentada por uma personagem chamada Charity a partir da edição #7. Charity era uma cartomante que contava suas histórias para quem parasse na tal da “Mansão sombria”, mas que depois foi incorporada ao Universo DC por James Robinson, residindo em Opal City (cidade natal de Starman), onde abriu uma loja chamada Fortunes & Forbidden Tales.

Charity, Squire Shade, Destino e Morte

Outros horror hosts da DC incluíram Squire Shade, um fantasma que trajava uma roupa clássica na cor branca e monóculo, que assumiu a revista Ghosts (1971) a partir da edição 104; Morte, que apresentava a revista Weird War Tales (1971); e Lucien, o guardião da biblioteca de um castelo abandonado na Transilvânia que vivia com Rover, seu companheiro Lobisomem – apresentadores da revista Tales of Ghost Castle (1975). Morte e Lucien foram outros dois personagens aproveitados por Neil Gaiman em Sandman, embora o visual da Morte tenha sido completamente reimaginado para a série.

Mais sobre o terror na DC Comics aqui e aqui.

 

Mr. L. Dedd, Dr. M. T. Graves, Old Witch e Mr. Bones

Charlton Comics
Nem só de super-heróis como Besouro Azul e Capitão Átomo vivia a Charlton, que possuía também um bom número de publicações de terror, algumas delas com seus próprios horror hosts. Mr. L. Dedd (mais tarde renomeado I. M. Dedd) foi um homem de meia idade de chifres que se vestia como um vampiro e contava histórias de sua casa assombrada na revista Ghostly Tales (1966). Já o Dr. M. T. Graves, depois de ser introduzido em Ghostly Tales #55, passou a apresentar suas próprias histórias em The Many Ghosts of Doctor Graves (1967). Diferente da maioria dos apresentadores, Dr. Graves às vezes era participante das histórias que contava.

Outra revista irmã de Ghostly Tales era Ghost Manor, que teve dois volumes: o primeiro, de 1968, era apresentado pela “Velha Bruxa” (que não era a mesma de Haunt of Fear da E.C.); e o segundo, a partir de 1971, apresentado por Mr. Bones, um mordomo que era um esqueleto reanimado com uma máscara sinistra. Entre um volume e outro, Ghost Manor deu lugar a Ghostly Haunts (1971), que era apresentada por Winnie the Witch, uma bruxa de pele azul.

Impy, Barão Weirwulf, Professor Coffin, Arachne e R.H. Von Bludd

Completam a lista da Charlton as revistas Haunted (1971), que teve como apresentadores o fantasma diminuto Impy e mais tarde Barão Weirwulf; Midnight Tales (1972), que tinha dois apresentadores: Professor Coffin, também conhecido como The Midnight Philosopher, e sua sobrinha Arachne; e Scary Tales (1975), apresentado pela sedutora vampira de roupas justas Condessa R.H. Von Bludd. A maior parte dessas revistas era publicada bimestralmente e algumas delas duraram até o fim da Charlton, em meados dos anos 80.

 

Outras editoras

Apesar de ter uma grande tradição no terror, a Marvel Comics teve apenas um horror host digno de nota: Digger, uma assassino de pele verde (às vezes azul) que contava histórias para suas vítimas enquanto as enterrava em duas revistas, Tower of Shadows e Chamber of Darkness, de 1969. Ambas as revistas foram reformuladas em 1971, sem seu apresentador (“Tower…” se tornou Creatures on the Loose e “Chamber…” virou Monsters on the Prowl).

Mais sobre terror na Marvel Comics aqui.

Digger (marvel) e Dr. Spektor (Gold Key).

Outra editora que teve horror hosts foi a Gold Key, que além de publicar uma hq baseada em Além da Imaginação – que tinha como apresentador Rod Serling, também apresentador da série (mais sobre aqui) – também publicava Dr. Spektor Presents Spine-Tingling Tales (1975), apresentada pelo Doutor Spektro do título, um “detetive do oculto” que antes havia sido protagonista nas revistas Mystery Comics Digest (1972) e The Occult Files of Doctor Spektor (1973).

Os anos 80 viram os últimos resquícios dos apresentadores de terror. Diversos deles (especialmente na DC Comics) retornariam mais tarde como personagens, seja em suas próprias histórias ou como coadjuvantes de outros títulos. Mas a tradição de produzir antologias apresentadas por personagens sinistros acabou sendo deixada de lado, infelizmente.

Horror hosts dominaram os quadrinhos de horror americanos por um bom tempo e causaram impacto entre os fãs de inúmeras gerações. Uma tradição que, ainda que tenha se dissipado com o tempo, nunca vai deixar de fazer parte dos pesadelos e das histórias macabras dos entusiastas do gênero.

Curiosidades:
– O Guardião da Cripta (The Crypt Keeper) foi um dos apresentadores das revistas da EC que pularam das hqs para outras mídias em duas ocasiões: primeiro, na adaptação britânica de Contos da Cripta, um filme que continha 4 histórias apresentadas pelo personagem, e na famosa série de TV Contos da Cripta. Apesar do Guardião da Cripta da série ser o mais lembrado, ele nada tinha a ver com o apresentador dos quadrinhos. A versão do filme britânico é mais fiel ao visual e características da hq original;
– Apesar do título, a série Contos da Cripta não adaptava apenas histórias de sua HQ homônima. Vários episódios foram adaptados também de Vault of Horror e Haunt of Fear;
– Nos anos 90, a versão televisiva do Guardião da Cripta foi o apresentador de uma animação chamada Tales from the Cryptkeeper, uma versão infantil dos Contos da Cripta que tinha histórias originais (sem ser baseado na série ou nas hqs);

– Cain e Abel foram personagens relevantes no arco Gótico Americano do Monstro do Pântano, escrito por Alan Moore. Eva foi resgatada nas histórias do Sandman escritas por Neil Gaiman;
– Além da sua passagem por House of Mistery, Elvira também teve sua própria revista regular nos anos 90 pela editora Claypool, onde era a personagem principal ao invés de apenas a apresentadora das histórias;
– A capa da edição 54 de The Many Ghosts of Doctor Graves foi um dos primeiros trabalhos de John Byrne para a indústria.

Edições anteriores:

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios