LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS – HISTÓRIAS DE UM PASSADO QUE AINDA VIRÁ – Parte 13 – Morto ao chegar

LSH043AA primeira versão do vilão Starfinger (batizado no Brasil de Zoroastro em sua roupagem mais contemporânea) trazia certo mistério para os quadrinhos. Afinal, tudo indicava que ele era um dos legionários disfarçado. A brincadeira aqui era adivinhar quem deles era a possível ameaça, que surgiu em Adventure Comics 335, de Agosto de 1965, criado pelo escritor Edmond Hamilton e pelo desenhista John Forte.

O novo vilão surge com seu uniforme especial e de seus dedos saem uma enorme combinação de raios capazes de derrotar todos os legionários. Na verdade, os raios por si não são o único problema, já que Zoroastro os usa de uma forma como se conhecesse muito bem as fraquezas de cada herói. Isso se torna mais evidente quando surge a suspeita de que se trata de um legionário. Consegue, por exemplo, deter Superboy com um raio de kriptonita e quase mata o herói Astron, sendo que este só e salvo graças à intervenção de Mon-El.

LSH043BAparentemente agindo como um ativista, o vilão começa a atacar as sete maravilhas do século 30. Cada uma dessas maravilhas já desperta curiosidade suficiente nesta história. Temos, por exemplo, uma cidade INTEIRA que se desloca por trilhos gigantescos pelos mares. Outra maravilha é uma cachoeira reversa, criada graças a um equipamento que drena a água do mar e a joga para cima de uma encosta com pressão o suficiente para dar a impressão de que ela está indo na direção inversa do que seria uma queda. De maravilha em maravilha, Zoroastro vai ludibriando os legionários.

Por fim, descobre-se que o vilão é na verdade… Relâmpago! Mas… como e por que ele teria se tornado um vilão? Tudo é explicado quando se revela que o médico que cuidava do herói (o mesmo que lhe criou o braço mecânico quando o natural foi amputado), com sua sede por experimentos científicos, desejava roubar um novo minério capaz de rejuvenescer qualquer ser vivo. Para distrair a Legião, o cientista hipnotiza Relâmpago e cria os raios em seu braço. Junto com o conhecimento sobre o grupo (afinal, por ser médico particular de Relâmpago, tinha certa intimidade com todos), seu plano iria bem até ser descoberto como o verdadeiro Zoroastro.

Mas, enquanto novos vilões surgiam de forma insidiosa, velhos vilões ganhavam aliados perigosos demais até para eles mesmos.

LSH045AA bela e vilanesca Glorith surgiu como uma espécie de auxiliar do vilão Mestre do Tempo, em Adventure Comics 338, de 1965, criada por Jerry Siegel e John Forte. Apesar disso, seus poderes eram tão vastos que rivalizavam com os do seu líder. Além de sua beleza (maléfica, mas ainda assim muito evidente), sua mais poderosa arma era uma ampulheta capaz de fazer quem a segurasse rejuvenescer, tornando-se jovem, depois criança, depois bebê… até se tornar uma espécie de ameba involuída. Pois é essa arma que o Mestre do Tempo pretende usar contra seus inimigos da Legião dos Super-Heróis.

Glorith arma uma emboscada para a maioria dos legionários e eles acabam sendo transformados em versões crianças. Tudo acontece em um parque de diversões onde vemos a Legião Criançada se divertir. O escritor Jerry Siegel é esperto (ou malandro) o suficiente para explicar que os uniformes se adaptaram aos corpos reduzidos devido a serem feitos de um tecido futurista que se adapta ao crescimento de quem usa (no caso, encolhimento de quem usa).

O Mestre do Tempo, julgando-se vitorioso, aparece no parque e trai Glorith. Acontece que a ampulheta não funciona contra a vilã por ela usar um par de luvas especiais que anulam seu efeito. O vilão pede para que ela tire uma das luvas e faz com que toque a ampulheta. Glorith, dessa forma, rejuvenesce até a forma de ameba.

Após o ato de traição, Mestre do Tempo tem outra utilidade para os ingênuos mini legionários ao invés de transformá-los em ameba. Prometendo doces e brinquedos para a criançada, faz com que usem seus poderes para, inocentemente, cometerem pequenos grandes crimes. Os únicos que ficam de fora, por não terem caído na armadilha, são Brainiac 5 e Superboy. Esses na verdade, ficam presos por uma barreira temporal criada pelo vilão.

LSH045BMas, Mestre do Tempo descobriria que não basta ser vilão, tem que participar! As crianças, que pensavam estar pegando guloseimas, percebem que alguns objetos que roubaram não são exatamente doces prometidos pelo Tio Mestre do Tempo (acreditem, ele chega a chamar a si mesmo dessa forma!). O mini Transmutador, capaz de transformar a matéria, usa seu poder para que a nave do vilão se torne um enorme caramelo… inclusive (adivinhem) a máquina que criava a barreira temporal que impedia Superboy e Brainiac 5, que chegam para dar uma sova no inimigo.

Quase enlouquecido com a birra dos fedelhos, Mestre do Tempo fecha um acordo de fazê-los voltar ao normal em troca de ser deixado em paz. Brainiac 5 (sob protestos do Superboy) aceita a chantagem e seus colegas voltam ao normal.

Mas, Brainiac 5, ao contrário do que imaginavam, não ia deixar barato. Antes do acordo, percebe que o mini Astron quer o que pensa ser um brinquedo nas mãos do Tio Mestre do Tempo. Era nada menos do que um controlador portátil da barreira do tempo… que Brainiac ajusta para barrar a nave do vilão… deixando-o preso no planeta onde pousou. E, num trocadilho sem dó nem piedade, os legionários terminam essa aventura concluindo que foi fácil… como tirar o doce de uma criança.

Mas longe desse clima leve está a história que apresenta um dos membros mais obscuros da Legião dos Super-Heróis, apresentada em 1965, na revista Superboy n° 125, escrita por Otto Binder e desenhada por George Papp.

LSH046AChamar Psíquico de herói soa até meio estranho, mesmo que isso se justifique. Confesso que o pouco que conhecia do personagem era sua breve (e bota breve nisso) participação na saga Crise Nas Infinitas Terras. Até aí, mais me parecia um personagem que usava turbante e foi criado meramente para… sei lá… cumprir a cota de indianos (desculpem o estereótipo preconceituoso) dentro do mundo dos super heróis. Mal sabia eu que aquele “turbante” escondia segredos que desafiavam minha ignorância.

O herói de turbante conhecido como Psíquico surge em Smallville e mostra ser muito útil ao ajudar o Superboy. Seus poderes faziam com que fosse capaz de produzir uma espécie de campo de força poderosíssimo que ele usava das mais diversas e criativas formas. Até aí, começo a rir do estereótipo do indiano de turbante e o poder “psíquico” que remete a um misticismo transcendental.

LSH046BIntrigado, Superboy conhece um pouco mais desse heroico ajudante. Ele usava turbante para esconder a deformidade em seu crânio (e é aqui que paro de rir), já que nasceu com um cérebro enorme, o que provavelmente seja a fonte de seus poderes. A origem dessa deformidade deve-se aos seus pais, astronautas, terem ficado expostos à radiação durante uma missão.

Vindo do futuro, Psíquico teve a chance de demonstrar seu eficiente poder a Legião dos Super-Heróis. No entanto, mesmo se mostrando utilíssimo (seu campo de força conseguia deter vários legionários ao mesmo tempo)… misteriosamente ele é… rejeitado! Indignado com o resultado da seleção, o jovem herói volta ao passado e procura Superboy, a inspiração do surgimento da Legião, para que esse possa, pelo menos, conseguir uma satisfação do porque de sua rejeição. Superboy, que também está surpreso com a decisão de seus colegas, decide viajar ao futuro e conseguir a resposta.

Diante dos legionários, Superboy questiona o porquê de não terem aceitado alguém com um poder que é tão útil. É então (e aí vem o tiro de misericórdia em mim, que já me sentia culpado por ter rido no começo) que aparece o boletim médico de Psíquico. Nele, os exames mostram que a cada vez que ele usasse seu poder… perderia um ano de vida! O jovem, mesmo sabendo de seu destino, diz que deseja servir a Legião… nem que isto custe sua vida. Tocados pela coragem do herói, os legionários decidem torná-lo um membro reserva, utilizando seus poderes apenas se uma grave crise ocorresse.

Agora, me deem licença, pois acho que vou ali lavar meus olhos, que parecem ter sofrido o ataque de micro cebolas…

LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS – HISTÓRIAS DE UM PASSADO QUE AINDA VIRÁ – Parte 11 – Lobo em pele de Legionário

LSH038ASelvagem, instintivo, violento, solitário, carismático e com poderes que lembram um feroz animal. Não, não é Wolverine, que seria criado anos depois e em outra editora… Trata-se e Lobo Cinzento, personagem que deu sua contribuição como uma espécie de “bad boy” da Legião dos Super-Heróis, mesmo tendo uma alma mais de herói do que anti-herói. Sua estreia se deu em Adventure Comics n° 327, em Dezembro de 1964, em uma história escrita por Edmond Hamilton e desenhada por John Forte.

Em um circo intergaláctico, a Legião se depara com um estouro de camelefantes (mistura de camelo com elefante. Animais alienígenas esquisitos era outra sensação das histórias futuristas). Incapazes de deter as enormes criaturas, veem um veloz acrobata tomar conta da situação e dominar as feras. Pluma (ex-Garota Relâmpago) se encanta com o jovem e o convida para integrar o grupo. Arredio, Karth Arn (o nome Lobo Cinzento seria usado no futuro), diz que sua sina é andar sempre sozinho. Também não dá explicação para tanta amargura, mas se afasta até de certa forma grosseiramente.

LSH038BMais tarde, investigando um crime em outro planeta, a Legião descobre uma série de evidências que leva até Karth Arn. Mesmo com as evidências, Pluma insiste em defender sua nova paixonite e tentar provar sua inocência. A perseguição leva Karth a derrubar a nave da Legião para que esses não fossem tragados para outra dimensão. Essa atitude nobre não condizia com as acusações que ele vinha recebendo. Mesmo assim, ele continua arredio e até mesmo declara para que a moça se afaste, pois ele não era humano.

A investigação leva os heróis até o laboratório do Doutor Marr Londo, que morreu anos atrás deixando o lugar para seu filho, Brin Londo. Brin conta que Karth era um androide criado por seu pai e que saiu do controle, o que explica os atos criminosos atribuídos a ele. Apesar da história fantástica, a verdade por trás dela era ainda mais estranha.

Brainiac 5 descobre que Brin Londo é, na verdade, o androide descontrolado e que Karth é o verdadeiro Brin Londo, filho do cientista. Quando seu pai era vivo, Brin recebeu descargas de um maquinário que lhe deus poderes como superagilidade e capacidades acrobáticas. A dedicação ao filho despertou certa inveja no androide, que causou amnésia em Brin e o fez pensar que ele era o androide.

A Legião prende o verdadeiro criminoso e, para a felicidade de Pluma, Lobo Cinzento, ou melhor, o futuro Lobo Cinzento, aceita ingressar no treinamento para fazer parte do grupo de heróis.

Apesar da equipe formada por Edmond Hamilton e John Forte consolidar vários elementos da mitologia da Legião, a equipe seguinte também deixaria sua marca. O legendário e saudoso desenhista Jim Mooney faz parceria com o não menos legendário e saudoso escritor Jerry Siegel nessa fase das aventuras da Legião, que se iniciou em Janeiro de 1965, ainda na revista Adventure Comics. O primeiro ficou famoso por seu trabalho nas aventuras do Homem-Aranha e o segundo é ninguém menos do que o criador do Superman e do universo que rodeia o personagem. E a dupla aparece em uma fase do grupo em que a bruxa parecia estar meio que solta no futuro. A fase negra era tamanha que, pela primeira vez, uma história foi publicada com continuação na edição seguinte.

LSH039AUma das curiosidades dessa fase foi o encontro com uma versão do vilão Bizarro, que era uma versão distorcida do Superman/Superboy, mas divertia por mostrar sempre o inverso do que o personagem fazia. Em seu mundo, uma versão contrária da Terra, tão contrária que o planeta era quadrado, havia versões de outros personagens da editora DC Comics. E a Legião não poderia ficar de fora dessa, digamos, experiência bizarra. Dessa forma vemos uma versão a Legião Bizarra ser formada, mostrando suas versões patéticas. Brainiac 5, por exemplo, que é um gênio da Legião, na versão “bizarrializada” é burro a ponto de ser pateta.

Mas o pior sufoco que a Legião enfrentou estava na escolha dos novos heróis. O que antes parecia engraçado por mostrar candidatos com poderes absurdos (apesar de vermos um rapaz capaz de atrair sujeira e outro com poder fedorento, como se fosse um gambá), mostra que também pessoas mal intencionadas e dissimuladas podem conseguir entrar para o grupo.

LSH039BUma dessas péssimas aquisições foi um jovem chamado Command Kid, capaz de gerar ilusões e que deu muito trabalho para a Legião. Apesar da dor de cabeça que deu, o jovem não era inteiramente culpado pelos seus atos. Ele havia sido possuído por uma entidade alienígena e foi exorcizado no momento em que teve contato com ouro, a única fraqueza da criatura.

Logo em seguida… mais uma péssima seleção. Dynamo Boy é mal mesmo. Não precisa de entidade nenhuma pra possuí-lo. Manipulador e causador de intrigas, faz com que os Legionários se desentendam e acabem sendo expulsos um a um. Depois de TODOS os heróis originais terem sido expulsos, só sobra o jovem vilão que se declara líder.

Dynamo Boy, praticamente dono do local, precisa convocar novos integrantes para sua nova Legião. Mas só conta com os candidatos rejeitados. É quando aparece a Legião dos Supervilões e, maldade por maldade, todos se dão muito bem. O plano então é mostrar para o mundo que são a Nova Legião dos Super-Heróis de dia para praticar crimes à noite.

Superboy lidera a resistência contra o novo grupo e, juntamente com Transmutador, consegue expulsar Dynamo Boy e levar os Vilões para um asteroide que está prestes a explodir. Temendo a própria morte, a Legião dos Supervilões se entrega e os Legionários voltam a ser um grupo mais cuidadoso com os novos integrantes que virão.

LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS – HISTÓRIAS DE UM PASSADO QUE AINDA VIRÁ – Parte 10 – Uma gosma de respeito

A Legião dos Super-Animais já era uma coisa estranha de se ver (se bem que pela ingenuidade da época…), mas um das mascotes de super-heróis era mais estranho do que todos eles juntos: Proty II. Ele é uma espécie de massa capaz de se transformar em qualquer coisa, desde uma arma até imitar uma pessoa. Uma “coisa”, enfim. Mascote do Camaleão, legionário que também é capaz de mutar para qualquer outra criatura, Proty II, apesar de sua estranha forma (ou “desforma”) tinha lá seu carisma. E isso foi colocado à prova em Adventure Comics 322, de Julho de 1964, em uma história escrita por Edmond Hamilton e desenhada por John Forte.

Os legionários se preparam para destruir de uma vez por todas a barreira temporal do Senhor do Tempo. Até mesmo a Legião dos Heróis Substitutos (agora tratados como reservas) é convocada. Para suprir a ausência dos heróis e defender sua base, Superboy busca a Legião dos Super Animais para defendê-la.

Proty II, a mascote do Camaleão muito queria ir com o seu dono, mas ele prefere que a criaturinha fique na base junto com os outros animais. Mas Proty II não é exatamente um animal. É uma “coisa”, uma massa disforme ou “uma bolha” como lembram os outros animais. Mas, ainda assim, queria se integrar aos outras mascotes. Surge assim uma versão do que seria a seleção de novos integrantes. Só que agora entre os animais. E da mesma forma que os Legionários aplicam duras provas para que novos heróis possam entrar em suas fileiras, os animais também testam Proty à exaustão.

Proty II, sempre comicamente desesperado, consegue vencer todas as provas com muita criatividade (ou com toda a criatividade que uma massa disforme que pode se transformar em tudo possa ter). E o mais interessante é que, na maioria das vezes, essas provas exigem que interaja com os legionários oficiais, provando que são tão inteligentes quanto os donos dos animais que estão exigindo provas de seu valor.

No final, a criaturinha torna-se o novo integrante da Legião do Super-Animais e, com sua humildade, acaba se tornando o mais improvavelmente carismático mascote dos quadrinhos.

Mas Proty II, já na edição seguinte, em uma história escrita por Jerry Siegel, mostraria que estava ficando abusado depois que entrou para a Legião dos Super Animais. Imaginem que essa espécie de gelatina ambulante liderou uma espécie de gincana para que fosse tomada uma decisão importantíssima dentro do grupo: a escolha do novo líder.

As regras consistiam em adivinhar uma espécie de senha, que iria aparecendo conforme as missões fossem cumpridas. Dando o pontapé inicial, Proty II dá a primeira dica: ele escreve seu nome ao contrário (ficando Ytorp) e se transforma em uma versão quebradiça de si mesmo. Isso remonta ao vilão Bizarro, inimigo do Superman que é uma versão deformada do herói e age sempre ao contrário, inclusive falando dessa forma também. As missões seguintes (algumas com grau de periculosidade) são cumpridas pelos legionários e eles têm que adivinhar quais as pistas que surgem nela.

No final, Satúrnia consegue matar a charada e é eleita a nova líder. A prova consistia em reunir primeira letra do nome ou sobrenome daqueles que foram escolhidos para cumprir as tarefas. Dessa forma temos:

S aturn Girl (Saturnia)
U ltra Boy (Ultra Rapaz)
P hantom Girl (Garota Fantasmas, futura Etérea)
E lement Lad (Transmutador)
R oss (Pete Ross, considerado membro honorário por saber a identidade do Superboy)
B rainiac 5 (Brainiac 5)
O lsen (Jimmy Olsen, outro membro honorário)
Y torp (Proty ao contrário)

O jogo de letra forma o nome Superboy, sendo que a data comemorava a entrada do herói no grupo e, afinal, ele era o motivo da formação do mesmo.

Pra uma massa gelatinosa, até que Proty II ocupava bem o tempo dos legionários e já tinha inteligência o suficiente para mobilizá-lo por uma história inteira!

Vale notar que entre os muitos líderes que estiveram encabeçando a Legião dos Super-Heróis (já que a liderança sempre foi rotativa) teve em Satúrnia seu grande destaque. Há quem a considere uma das mais emblemáticas líderes do grupo. Algo notável em se tratando de um grupo com um diversidade tão grande de poderes e heróis.

E a diversidade de poderes dentro da Legião dos Super-Heróis era de uma criatividade proporcional ao tamanho do grupo. Personagens esquisitos, então, surgiam aos montes, principalmente nas esperadas seleções de novos heróis para a Legião. E se você acha que os personagens que surgiam eram por demais ridículos… então, ora, crie você mesmo um personagem!! Dentro dessa proposta, os leitores puderam opinar: que novo personagem e que novo superpoder poderia ser criado dentro das aventuras da Legião? Surgiam assim, na edição 324, os Heróis de Lallor, formados por: Duplo (ou Rapaz Duplicada), capaz de imitar qualquer superpoder (obviamente o mais poderoso desse novo grupo); Evolvo, capaz de evoluir até uma forma com inteligência super avançada ou involuir até o mais selvagem descendente de sua raça; Moça Gás, capaz de tornar seu corpo gasoso; Moça Vida, capaz de dar vida a qualquer objeto inanimado; e Rapaz Zoológico, capaz de se transformar em qualquer animal.

Os Heróis de Lallor surgiram após seus pais serem expostos a radiação de explosões nucleares em seu planeta natal. Curioso notar aqui certa “resposta” da editora DC Comics a sua principal rival, a Marvel Comics, uma vez que os personagens dessa (que surgiam na década de 60) tinham suas origens ligadas à radiação. Fazendo uma comparação mais direta, os Heróis de Lallor, que nasceram com poderes devido a alterações genéticas, tinham semelhança com os X-Men da Marvel. Conceitualmente, apenas, pois os poderes eram bem diferentes destes.

Esses novos heróis, apesar de seu enorme poder, viviam apavorados devido ao regime ditatorial de seu planeta. Aproveitando-se dessa ingenuidade, o irmão do Rei das Selvas, personagem que foi rejeitado pela Legião e morreu tentando se vingar do grupo, aproveita para distorcer a verdade e jogar os Heróis de Lallor contra o grupo. Os lallorianos, com seus poderes claramente superiores aos dos Legionários (imaginem Duplo imitando o poder do Superboy!), facilmente conseguem dominá-los.

Mas acontece certo imprevisto no plano de conquista. Perseguindo Violeta, a legionária capaz de reduzir seu próprio tamanho, Duplo acaba salvando-a e se apaixona pela moça. Com esse amor, surge a desconfiança por parte dos Heróis de Lallor, que acabam descobrindo que foram enganados e a Legião, ao contrário do que foram obrigados a acreditar, é formada por heróis de ações nobres.

Desfeito o mal-entendido, os Heróis de Lallor retornam a seu planeta, dessa vez como heróis da resistência a ditadura, e com o aval da Legião dos Super-Heróis.

LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS – HISTÓRIAS DE UM PASSADO QUE AINDA VIRÁ – Parte 9 – Trabalho duro

Quem disse que super-heróis não ficam estressados? Isso é tão verdade que a Legião dos Super-Heróis foi obrigada a criar uma regra específica para evitar esses casos, mostrada em Adventure Comics n° 318, em uma história escrita por Edmond Hamilton e desenhada por John Forte, em março de 1964.

Tudo começou quando Solar e Cósmico descobrem um planeta que está prestes a ser destruído e tem a enorme responsabilidade de resgatar todos os habitantes do local, além de procurar um novo lar, adequado a suas necessidades.

Diante de tamanho desafio… Solar pira! De uma hora pra outra, desesperado em resolver a situação, torna-se um integrante irritado e mandão, exigindo o máximo de seus companheiros. Os legionários, por sua vez, tentam deter sua ansiedade, mas isso é visto por ele como sendo uma traição. Acreditando estar sozinho, Solar ameaça destruir a arca que leva os habitantes do planeta condenado e os legionários acabam em um impasse.

Sem nada poder fazer a não ser seguir ordens de seu descontrolado colega, os legionários são expulsos da nave e passam por diversos planetas inóspitos até conseguirem recuperar o rumo e alcançar a nave de Solar. Ao chegar nela, descobrem que o colega está paralisado. Cumpriu a missão até ali, mas o estresse foi o suficiente para fazer que entrasse em colapso nervoso e ficasse catatônico. Após entregarem os habitantes a seu novo lar, levam Solar para uma bateria de testes até que ele volte ao normal.

Depois da experiência, cria-se a regra que nenhum legionário poderá participar de cinco missões seguidas, o que seria a desculpa perfeita para os futuros escritores das histórias desses heróis fazerem uma espécie de rodízio entre os personagens, que já não eram poucos e não paravam de aparecer.

Na edição seguinte, surge uma enorme construção, em um planeta desabitado, que emite rajadas capazes de incapacitar toda e qualquer nave. Mais do que isso, a enorme torre tem uma espécie de defesa automática que anula todo e qualquer ataque a ela. A consequência disso, entre outras, é que planetas inteiros estão ficando sem seus suprimentos de comida, uma vez que a rota comercial passa diante dessa nova ameaça.

A Legião dos Super-Heróis tenta atacar a torre, mas, grupo a grupo, ela revida valendo-se do ponto fraco de cada integrante e até mesmo enviando armas mais poderosas que seus poderes. O último grupo a atacá-la é formada pela Legião dos Heróis Substitutos que, talvez por ser subestimada, consegue fazer com que Noturna, que tem superpoderes apenas a noite, invada o local e descubra… que ela é controlada apenas por dois velhinhos assustados. Acontece que o local foi construído para ser uma espécie de refúgio dos dois, a fim de guardar sua paz de invasores e acabou se tornando uma diversão ao deter os legionários.

Esclarecida a situação de que os velhinhos não causaram toda essa confusão por mal, a Legião de Substitutos é recebida pela população da Terra como verdadeiros heróis… tendo desta vez a Legião dos Super-Heróis como espectadores de sua vitória. Pelo visto, a forma divertida que os Substitutos agem é bem menos estressante e acaba gerando melhores resultados do que os titulares, em alguns casos. Why So(lar) Serious?

Da última vez que encontrou o delinquente kriptoniano Dev-Em, Superboy viu sua imagem manchada em Smallville pelo vilão antes que esse partisse para algum lugar do futuro. Ao visitar a Legião dos Super-Heróis, em Adventure Comics 320, Superboy reencontra seu inimigo, mas tem uma surpresa… que traz desconfiança.

Aparentemente, Dev-Em se regenerou e está trabalhando para uma força policial do futuro, que tenta desbaratar uma rede de espionagem. A ideia do cínico Dev-Em é levar alguns aparelhos da sede da Legião, a fim de enganar o criminoso Molock, líder da rede de espionagem, dizendo que ele roubou tais aparelhos para se infiltrar na gangue. Mas Superboy, desconfiado de Dev-Em, não aceita muito a ideia, achando que ele está mesmo é querendo roubar os aparelhos (como fazia em Kripton). Para evitar surpresas desagradáveis, Superboy prefere se disfarçar de Dev-Em e cumprir a missão. Afinal, com ele, os aparelhos estariam seguros.

Disfarçado de Dev-Em, Superboy consegue se infiltrar na rede de Molock e começa a demonstrar os aparelhos que “roubou”. A última surpresa é um pedaço de kriptonita dourada, capaz de retirar permanentemente os poderes de um kriptoniano como Superboy. Para surpresa de todos, isso não acontece e o herói desmantela a rede criminosa.

A explicação de como Superboy escapou da radiação dourada é que Proty II, a mascote do Camaleão que é capaz de se tornar qualquer coisa, entrou na caixa destinada ao minério e se disfarçou a fim de salvar o herói. E, o mais impressionante, essa jogada teve o dedo de… Dev-Em, provando que ele realmente está mudado.

A Legião o convida para fazer parte do grupo, mas Dev-Em sente prazer em seu trabalho na força policial e recusa o convite. Ao que tudo indica o futuro lhe fez bem. O suficiente para não querer pegar no pesado da Legião. Afinal, até ser um policial do futuro é menos estressante.

LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS – HISTÓRIAS DE UM PASSADO QUE AINDA VIRÁ – Parte 8 – Pede pra sair!

Finalmente, depois de novamente salvar a Terra anonimamente, a Legião dos Heróis Substitutos recebem o reconhecimento da Legião dos Super-Heróis, que lhes dá uma chance de ouro. A proposta é que, após uma série de testes monitorada pelos legionários oficiais, um dos substitutos seja aceito no grupo. Essa prova aconteceu em Dezembro de 1963 em uma história escrita por Edmond Hamilton e desenhada por John Forte (equipe criativa das aventuras do grupo na época), na edição 315 da revista Adventure Comics.

Todos os testes são escolhidos em ambientes onde as situações são adversas aos estranhos poderes dos Substitutos. Cada um deles é acompanhado por um legionário que, com seu poder, resolveria a situação. Ou seja, teriam que provar ser tão dignos ou melhores do que os legionários, resolvendo situações que seriam facilmente solucionadas pelos heróis oficiais.

Polar tem que descongelar cientistas que foram petrificados no frio do espaço. Para isso, usa seu poder de congelamento (sim, algo muito estranho na situação) para levá-los para dentro de um vulcão. O poder congelante protege a todos do calor. O teste, bem sucedido, é acompanhado por Solar.

Noturna, com sua superforça que só funciona na escuridão, tem que enfrentar um ditadora que tem superforça devido à luz do Sol. Apesar da óbvia surra inicial, consegue organizar o povo oprimido para que criem uma fogueira alimentada por rochas negras, que gera uma enorme fumaça que cobre a claridade, deixando a ditadora mais fraca e, consequentemente, aumentando a sua. O teste é acompanhado por Superboy.

O Garoto Clorofila, com seu poder de acelerar o crescimento de plantas, tem que rachar uma montanha ao meio. Encontrando vegetação rasteira no topo dela, ele tem uma ideia. Planta um tipo de árvores no topo e acelera o crescimento das mesmas até que a montanha se parta. O teste é acompanhado por Relâmpago.

Ígneo, capaz de cuspir fogo, tem que ajudar o povo de um planeta, onde chove eternamente, a acender pelo menos uma tocha. Seu poder inflamável não é páreo para a torrencial chuva que cai o tempo todo. Mas, já desanimado, senta-se ao lado de um rio e percebe manchas negras saindo da água. É então que, utilizando o cinturão de voo da Legião e saltando ao lado do rio, faz pequenos buracos por onde começa a jorrar petróleo. Com seu poder acende pequenas tochas do líquido que brota da terra. O teste é acompanhado por Saltador.

Por último, Pétreo, capaz de ficar imóvel e duro feito uma pedra, tem que deter um enorme réptil de destruir uma aldeia. Ele fica imóvel, distraindo o bicho por alguns momentos. Mas esse logo o esquece e parte para atacar os habitantes da aldeia. Satúrnia, legionária capaz de controlar mentes e que acompanhava o teste, consegue deter a criatura controlando-a mentalmente, apesar do desespero de Pétreo diante do perigo.

No final, o grande vencedor é… Pétreo????? O único que, aparentemente falhou. Acontece que Satúrnia pôde ler a mente do inocente herói substituto, e sentir o desespero e preocupação com os habitantes da aldeia diante do perigo. Com isso, ele venceu a prova para entrar para a Legião que, afinal, prezava mais o caráter do que os atos heroicos. Mas Pétreo é tão “certinho” que recusa a vaga para continuar ao lado de seus companheiros substitutos.

A quase admissão de um novo membro se tornaria ainda mais importante uma vez que o fator “expulsão” seria adotado pela primeira vez em Janeiro de 1964. Procurando localizar criminosos alienígenas, os legionários descobrem que um de seus integrantes, o Ultra Rapaz, tem um passado criminoso mal resolvido. E a Legião dos Super-Heróis não perdoa! Decidem expulsar seu colega, mesmo ele tendo deixado (e escondido) sua carreira criminosa no passado e tendo provado seu valor várias vezes. Mais que isso, decidem que ele deve ser entregue as autoridades e o perseguem implacavelmente. De todos os integrantes, apenas a Garota Fantasma (futura Etérea) acredita em sua inocência (denotando até mesmo um interesse romântico pelo herói).

Com os seus agora ex-colegas em seu encalço, Ultra Rapaz e a Garota Fantasma (que tenta ajudá-lo a fugir) acabam sendo capturados pelos alienígenas criminosos que, enfim, eram a origem do problema. Surpreendentemente, o herói se alia aos criminosos e promete levá-los até a sede da Legião, entregando as armas secretas do grupo. Chegando lá, dispara uma arma congelante contra o grupo de invasores e os prende.

Após a captura dos alienígenas, Ultra Rapaz explica que tudo não passou de um arriscado plano para prender os vilões. Usando sua supervelocidade (lembrando que o herói tem praticamente os mesmos poderes que o Superboy, porém só pode usar um de cada vez), consegue alterar os registros da polícia colocando-o como um suspeito criminoso. Com isso, sabia que seria expulso do grupo e seria considerado fora da lei, o que atrairia os alienígenas para que pudessem incorporá-lo ao grupo e descobrir os segredos dos legionários.

Um arriscado e corajoso plano que destacou um pouco mais esse personagem.

E uma das mais belas futuras integrantes da Legião dos Super-Heróis surgiria no mês seguinte. Bela a ponto de causar uma pequena guerra dos sexos dentro do grupo.

Nura Nal foi uma candidata a vaga na Legião, com um poder tão peculiar que, aparentemente, seria rejeitada. Ele consistia em… sonhar. Quando a bela heroína dormia, tinha sonhos com o futuro e, assim, era possível evitar tragédias que ainda não aconteceram. No entanto, eu disse SERIA rejeitada. Isso graças a seu outro, digamos, poder: sua beleza. De fato, de tão bela, nenhum integrante masculino da Legião foi capaz de rejeitá-la. Já as meninas… Mesmo assim, como a maioria do grupo (e dos votos) vinham da ala masculina, Sonhadora foi aceita como nova Legionária.

Nas primeiras missões, demonstrando que seu poder tinha lá sua utilidade, Sonhadora começa a agir estranhamente. Seu primeiro passo (e interesse) é entender e praticamente decorar a constituição da Legião. Com isso, coincidentemente, as missões que participam levam os outros integrantes a situações onde acabam por quebrar as regras dessa constituição. Como integrante oficial, a heroína, que sabe as regras na ponta da língua, vai eliminando seus colegas por suspensão e até mesmo expulsão do grupo. Isso sem citar casos mais extremos, como o da Moça Relâmpago, que acaba perdendo seus poderes elétricos em uma missão com a nova colega.

Esse modo aparentemente vilanesco de agir é investigado por Astron (apaixonado pela nova colega), que acaba descobrindo o segredo de Sonhadora. Como ela era capaz de prever o futuro, em um desses sonhos previu a morte de sete legionários. A eliminação desses, portanto, era uma forma de tentar alterar esse futuro, uma vez que no dia da tragédia eles não estariam fazendo parte da equipe. Com essa atitude agora entendida como nobre, a desconfiança para com Sonhadora (além da dor de cotovelo das garotas) muda para a aceitação e consideração de uma nova amizade.

Mas… e a Moça Relâmpago? Como ficaram seus poderes já que eles foram perdidos em missão? Na verdade, eles mudaram. Seu poder agora é o de tornar qualquer objeto (até mesmo um edifício) superleve, sendo capaz de levantá-lo. Futuramente, esta personagem seria conhecida como Pluma, nome mais adequado a essa nova capacidade. Afinal de contas, a Legião já tinha o seu integrante com poderes elétricos, que inclusive era o irmão de Pluma, conhecido como Relâmpago.