ArgCast 212 – A Volta (?) dos Formatinhos

Daniel HDR, Ivomar Hell Kleber, Mario Barroso e o apoiador Rod Castro comentam sobre o recente anuncio da DC COMICS da linha COMPACT COMICS, onde a editora vai relançar em formato de bolso seus maiores clássicos.

E isso nos leva a questão – será que teremos de volta os FORMATINHOS de comics?

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ArgCast #212 – A Volta (?) dos Formatinhos ArgCast

ArgCast 210 – X-Men vs Novos Titãs: O Crossover

Neste episódio que teve o assunto escolhido pelos nossos MEMBROS APOIADORES do Canal, vamos celebrar o aniversario de 41 anos (seu lançamento original foi em Janeiro de 1982) do celebre crossover X-MEN vs NOVOS TITÃS.

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ArgCast #210 – X-MEN vs NOVOS TITÃS: o crossover ArgCast

ArgCast #195 – George Pérez

Neste episódio 195 do ArgCast, Daniel HDR, Ivo Kleber, Rogério DeSouza, Andy Nakamura e Matheus Vale conversam sobre a recente notícia da aposentadoria de GEORGE PÉREZ da Indústria dos Comics.

O co-criador dos NOVOS TITÃS, EXTERMINADOR, CRISE NAS INFINITAS TERRAS, entre tantos outros personagens e sagas inesquecíveis anunciou recentemente sua aposentadoria do mundo dos quadrinhos, depois de 45 anos trabalhando para Marvel, DC, com projetos autorais, formando uma legião de fãs e seguidores de sua arte.

Seu inicio nos fanzines, sua entrada na Marvel, seu amadurecimento como artista em meio a projetos e personagens que amou desde criança, sua entrada na DC Comics, criando lá os New Teen Titans (juntamente com Marv Wolfman) e realizando uma revolução no Universo DC com a histórica Crisis On Infinite Earths, a recriação da Mulher Maravilha nos anos 1980, seus projetos autorais,  o projeto dos sonhos LIGA DA JUSTIÇA vs VINGADORES, a sua polêmica saída da DC Comics, tudo isso e muito mais, em uma grande homenagem a um dos maiores artistas dos Comics.
Escute o episódio acompanhando as 70 IMAGENS comentadas. Garantimos que vai valer a pena. Cada Minuto!

E ainda:
– Como ter a maior coleção de camisas floridas e estampadas do mundo das HQs;
– Como fazer um sidekick que todo mundo tira sarro virar o galã dos comics;
– É possível reluzir mais que os efeitos de luz em personagens metálicos?
– Você se acha ´sr phodão´ no desenho? Ja tentou desenhar mais de 100 personagens em uma capa dupla?
– Quem seria o herdeiro natural do legado artístico de Pérez?
– Você seria capaz de desenhar tão bem estando de tapa-olho? Não? pois esse cara consegue!

Episódios citados:
ArgCast 107 (OS NOVOS TITÃS)
ArgCast 110 (OS ROBINS)
ArgCast 117 (Os PRIMEIROS CROSSOVERS MARVEL x DC)

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ArgCast #195 – George Pérez ArgCast

Sarjeta do Terror #49 – The Heap, o pai dos monstros do Pântano

Leitores de quadrinhos de super-heróis já estão acostumados com personagens de editoras diferentes que são parecidos demais uns com os outros (Arqueiro Verde e Gavião Arqueiro, Namor e Aquaman, sem contar personagens mitológicos como Hércules e de domínio público como Drácula e Frankensten – apenas para citar alguns), com fãs constantemente brincando com essa semelhança. Dois exemplos clássicos são O Homem-Coisa (Marvel Comics) e Monstro do Pântano (DC Comics).

Lançados com apenas dois meses de diferença e com criadores que chegaram a dividir quartos, é fácil pensar que um seja “cópia” do outro. Mas a verdade é que ambas as editoras aproveitaram-se da flexibilização do Comics Code Authority para voltar a fazer quadrinhos com monstros e ambos acabaram provavelmente inspirados por outra criação, bem anterior (e que também teria um retorno mais ou menos no mesmo período): The Heap.

Para conhecer mais sobre o personagem, precisamos voltar até os anos 40, quando a editora Hillman Periodicals publicava uma revista chamada Air Fighter Comics, protagonizada por diversos heróis aviadores como Airboy e Skywolf. Em uma história chamada “Wanted by the Nazis”, escrita por Harry Stein e desenhada por Mort Leav, Skywolf se depara com a criatura, que ela captura seu arqui-inimigo, Coronel Von Tundra. A história apareceu na edição #3 de Air Fighter Comics.

O original – a versão Hillman

O Barão Eric von Emmelmann era um piloto alemão que em 1918 foi abatido no pântano de Wausau, próximo da cidade de Rodz, na Polônia. Seu corpo lentamente se fundiu ao pântano, junto com sua vontade de sobreviver e retornar ao mundo dos vivos. 20 anos depois, com a vegetação do pântano substituindo seu corpo, o barão reemergiu, agora outra criatura, um enorme humanoide metade planta, confusa e com mente mais animal que humana que era forçado a drenar sangue de animais para conseguir oxigênio.

Nas suas primeiras aparições, o monstro era branco e mais lembrava um Yeti (Homem das Neves). Conforme o tempo foi passando, seu visual foi mudando, mas sua principal característica era uma tromba de galho (que lembra muito a tromba do visual do Homem-Coisa, da Marvel). Inicialmente, a criatura buscava apenas aves, cães e gado para saciar sua “fome” e apenas atacava homens que considerasse malignos, o que lhe deu fama ao longo da Europa e Ásia. Em sua primeira aparição, The Heap era um dos antagonistas, mas logo começou a aparecer esporadicamente na revista em histórias próprias. Nelas, a criatura perambulava pelo mundo, incompreendido pela humanidade. Entre os artistas que desenharam o personagem estavam Jack Abel, Paul Reinman, e Ernie Schroeder.

Nos anos 50, quando s quadrinhos de terror se tornaram febre nos EUA, The Heap foi o “carro chefe” da Hillman no quesito monstros, até o encerramento da editora, em meados dos anos 50.

A versão Skywald

Nos anos 70, quando o Comics Code sofreu revisões que permitiram acomodar alguns tipos de monstros nas histórias em quadrinhos, começaram a surgir outras criaturas do pântano. Além dos já bem conhecidos da Marvel e da DC, a Skywald Publications (que buscava seguir a tradição da Warren e do horror vitoriano clássico) trouxe uma versão desse personagem, sugerida por Gerry Conway, um dos criadores do Homem-Coisa e fã confesso do Heap dos anos 40-50.

Nessa versão (que era apenas inspirada pelo original), The Heap era Jim Roberts, que acidentalmente colidiu sua aeronave usada na agricultura em um tanque de gás dos nervos líquido de um lixão tóxico militar e acabou sendo transformado em um monstro cinza/verde (dependendo da colorização interna ou da capa) bem diferente da versão dos anos 40.

O Heap da Skywald era uma espécie de “Cara de Barro” (vilão do Batman) em termos de composição. Era como uma lama radioativa gigante e indestrutível, pois balas atravessavam seu corpo sem que ele sofresse qualquer dano. Apesar dessas características, essa versão do personagem mantinha sua inteligência humana e suas histórias exibiam a angústia do monstro conforme ele vagava pelo mundo tentando encontrar uma cura – ou conseguir se matar.

O personagem teve sua primeira aparição em Psycho #2 (1971) e passou a aparecer periodicamente na revista. Também apareceu na revista Nightmare e em uma edição one-shot própria, no qual dividiu espaço com outras histórias.

As versões Eclipse e Image

Em 1986, alguns personagens da Hillman periodicals foram comprados pela Eclipse Comics, incluindo Airboy e The Heap, com seu visual clássico minimamente remodelado. A Eclipse lançou então uma revista mensal de Airboy onde o monstro era personagem coadjuvante. Além disso, ele também apareceu na revista The New Wave. A revista Airboy era escrita por Chuck Dixon e foi desenhada por artistas como Paul Gulacy, Ron Randall, Graham Nolan, Adam Kubert, e Andy Kubert. Durou até 1989, totalizando 50 edições.

A Eclipse Comics foi à falência nos anos 90 e suas propriedades intelectuais foram adquiridas pela Image Comics, inclusive The Heap, que foi revisitado por Todd Mcfarlane na revista Spawn. Nessa nova versão, The Freak (vilão do personagem) ordena seus homens que matem Spawn, um deles guarda parte do seu Necroplasma. Quando freak o mata, o necroplasma é deixado num beco e é encontrado por Eddie Beckett, que decide ficar com aquilo. Quando um ladrão o mata, o necroplasma toma controle do seu corpo e se funde ao lixo próximo criando The Heap.

Visualmente, a versão da Image é bastante diferente das versões anteriores e mais alinhada com as idiossincrasias típicas da editora nos anos 90 – garras, dentes e olhos grandes, unhas pontudas, etc. The Heap apareceu em três edições de Spawn: #68, #73 e #74.

Outros “monstros do pântano”

The Heap foi bastante influente nas criaturas pantanosas que se seguiram, mas não foi o primeiro do tipo. Um dos mais conhecidos vem do conto It!, de Theodore Sturgeon. Publicado originalmente na revista “Unknown”, em 1940, foi adaptado para os quadrinhos pela Marvel Comics em 1972 na primeira edição da revista “Supernatural Thrillers”.

A Marvel, aliás, usou e abusou de monstros do gênero pantanosos (que lá nos EUA são chamados de “muck monsters”). Além do Homem-Coisa e da adaptação de It, The Incredible Hulk #121 (1969), escrito por Roy Thomas, figura o monstro verde enfrentando uma criatura chamada “The Glob”, um óbvio pastiche do Heap original. E, em Sub-Mariner #72 (1974), Namor enfrenta “The slime-Thing”. Vale citar também uma história publicadas em “Marvel’s – What the —?” #6 (1990), que mostra “Man Thang” enfrentando “Swamp Thang”, numa hilária metanarrativa sobre que personagem é o mais “original”.

A DC Comics também não ficou de fora da “febre” dos muck monsters. Além do mais famoso da editora, apresentado pela primeira vez em House of Secrets #92 (1971), também teve um “swamp-god” (deus do pântano) em House of Mystery #217 (1973), numa história desenhada por Alfredo Alcala (que, mais de uma década depois, seria um dos desenhistas do Monstro do Pântano). Antes de todos esses personagens, no entanto, a DC criou outro que também pode ser considerado um dos “muck monsters” mais famosos dos quadrinhos: Solomon Grundy. Criado por Alfred Bester e Paul Reinman, o personagem surgiu em All-American Comics #61 (1944) como vilão do Lanterna Verde da Era de Ouro (Alan Scott) e se tornou um dos vilões mais conhecidos fora dos quadrinhos (muito provavelmente por suas aparições como membro da Legião do Mal no desenho dos Superamigos e suas aparições nas animações Liga da Justiça e Liga da Justiça – sem Limites). Solomon Grundy era um rico mercados do século 19 chamado Cyrus Gold, que é assassinado e jogado num pântano perto de Gotham City. 50 anos depois, seu corpo, composto parcialmente da matéria pantanosa que o envolvia, é reanimado com sem memória de sua vida anterior. Uma das únicas coisas que ele lembra é que ele nasceu numa segunda, então ele adota o nome do personagem de uma cantiga de roda – que também nasceu numa segunda.

A Eclipse Comics, além de trazer de volta o personagem original da Hillman, também fez uma paródia do Monstro do Pântano da DC Comics (numa espécie de “fechamento de ciclo”, por assim dizer?). A criatura se chamava “Sump Thing” (a Coisa da Fossa, em tradução livre) e apareceu na segunda edição da revista The Mighty Mites.

Apesar de não ser o primeiro, The Heap certamente influenciou todas as criaturas estilo “muck monster” que se seguiram depois nos quadrinhos e merece ser lembrado como parte das histórias dos quadrinhos de terror.

Curiosidades:
– The Heap chegou a ter um “parceiro mirim”. Em uma de suas histórias, foi enviado para os EUA para causar destruição e acabou cruzando o caminho de um jovem chamado Rickie Wood, que tinha um avião alemão de controle remoto. A relação entre os dois, no entanto, era um pouco diferente: Rickie sabia que o monstro nunca o machucaria, mas não concordava com suas atitudes (tanto que tentou destruí-lo diversas vezes). Levou um tempo para o garoto descobrir que sua ligação com o monstro era devido ao seu avião de controle remoto alemão, resquício da vida anterior da criatura;
– The Heap original chegou a ser publicado no Brasil em 1953 com o nome de “O Monstro”, na revista “Mundo Juvenil”, que também publicava as histórias de Airboy;
– A versão da Image foi publicada no Brasil pela Abril jovem com o nome de “Entulho” nas revistas do Spawn (números 73. 74 e 75).

Edições anteriores:

48 – Criadores de Terror: Steve Ditko

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #48 – Criadores de terror: Steve Ditko

O Sarjeta do Terror deste mês homenageia um dos artistas mais influentes dos quadrinhos: Steve Ditko. Mais conhecido por sua passagem na Marvel, Ditko também deixou sua marca nos quadrinhos de terror.

No dia 29 de Junho, o mundo dos quadrinhos ficava sabendo que Steve Ditko havia falecido. Recluso e com valores pessoais bastante fortes, Ditko estava fora do circuito “mainstream” dos quadrinhos há muito tempo, mas sua influência nunca deixou de ser sentida. Apesar de ser mais conhecido como co-criador do Homem-Aranha e de personagens como O Questão e Doutor Estranho, Steve Ditko sempre navegou, de uma forma ou de outra, pelo terror. É por isso que a coluna de hoje homenageia este monstro das Hqs.

Steve Ditko nasceu no dia 2 de novembro de 1927, na cidade de Johnstown, Pensilvânia. Filho de dois descendentes ucranianos, um carpinteiro e uma dona de casa. Ditko era um dos quatro filhos em uma típica família de classe trabalhadora americana e seu interesse pelos quadrinhos veio desde cedo. Seu pai era fã das páginas de quadrinhos publicadas nos jornais (especialmente O Príncipe Valente, de Hal Foster), mas foi com o surgimento de Batman e Spirit que seu gosto pela mídia realmente floresceu.

Mesmo jovem, Ditko era uma espécie de herói em seu próprio mérito: no ensino médio, construía modelos de madeira de aviões alemãs para ajudar civis que vigiavam aeronaves; após a faculdade, se alistou no exército e prestou serviço na Alemanha pós-guerra, inclusive fazendo quadrinhos para um jornal do exército.

Depois de sair do exército, já nos anos 50, Ditko se mudou para Nova York para poder ter aulas com seu ídolo, Jerry Robinson (mais conhecido por seu trabalho com Batman). Isso foi possível graças à uma lei americana, que ajudava a facilitar o retorno à vida cotidiana de veteranos da Segunda Guerra. Robinson frequentemente levava pessoas da indústria para falar com os alunos; um deles foi Stan Lee, na época editor da Atlas Comics – precursora da Marvel.

O primeiro trabalho de Steve Ditko já tinha um pé no horror. Curiosamente, só foi publicado bem mais tarde, na edição número 5 da revista Fantastic Fears, da Ajax/Farrell. Isso fez com que seu primeiro trabalho publicado fosse, na verdade, seu segundo trabalho produzido – publicado na primeira edição da revista Daring Love, da Gilmor Magazines.

Os primeiros trabalhos de Ditko: a história “Stretching Things”, para Fantastic Fears #5 (1954), e “A Hole in His Head”, para Black Magic #27 (vol. 2 #3, 1953).

Não demorou muito para ele conseguir trabalho no estúdio de Joe Simon e Jack Kirby, que haviam criado o Capitão América na década anterior. Lá, Ditko começou como arte-finalista dos cenários e passou a trabalhar com outro de seus ídolos, Mort Meskin. Entre as revistas nas quais trabalhou, estavam a publicação de horror e suspense de Simon e Kirby chamada Black Magic.

Em 1953, Ditko iniciou uma longa parceria com a Charlton Comics, que durou até o fim da empresa. Seu primeiro trabalho foi a arte de uma história para a revista de horror The Thing, mas logo seu trabalho se espalharia também para as revistas This Magazine is Haunted, Tales of the Mysterious Traveler, Space War e Out of This World.

Além dos super-heróis, Ditko trabalhou também nas revistas de horror, suspense e fantasia da Chalrton Comics.

Ditko começou a trabalhar na “Marvel” ainda na época da Atlas , quando revistas como Journey Into MysteryTales of Suspense, Tales to Astonish e Strange Tales ainda eram revistas mais no formato de antologia e sem os super-heróis que conhecemos. Além dessas revistas, ele também trabalhou em Amazing Adventures e Strange Worlds.

Mas é claro que a realização mais lembrada de Ditko na Marvel envolve um certo cabeça de teia, em 1962. Conta a história que Stan Lee, após conseguir autorização do editor Martin Goodman para criar um super-herói adolescente baseado numa aranha, procurou seu parceiro habitual, Jack Kirby, para a tarefa. O resultado, no entanto, não agradou Lee, que achou o Homem Aranha do Kirby heroico demais. Então ele se voltou para Steve Ditko, que criou o visual e estilo que agradou Lee. Além do próprio Homem-Aranha, Ditko também colaborou com Stan Lee na criação de alguns vilões do personagem, como Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro e Duende Verde.

Revistas da Atlas/Marvel Comics que Ditko trabalhou. Algumas delas introduziriam, mais adiante, super-heróis como Thor, Homem de Ferro, Homem Formiga e Doutor Estranho – este último criação do artista.

Após o Homem-Aranha, Ditko foi trabalhar com Lee na revista do Incrível Hulk e, quando encerrou suas atividades na revista, criou para Strange Tales o Doutor Estranho. Foi com esse personagem que o artista mostrou sua versatilidade estética e suas habilidades no design de imagens que remetiam ao surrealismo e basicamente antecipou a cultura psicodélica que viria mais adiante.

Depois de 1966, Ditko saiu da Marvel por questões internas que podem ser deixadas de lado nesse texto, e seguiu apenas na Charlton. A Charlton pagava menos, mas seus artistas tinham mais liberdade criativa. Ali, Ditko trabalhou em personagens como Besouro Azul, além de ter criado O Questão e co-criado o Capitão Átomo. Apesar do trabalho nas publicações de super-herói, Ditko seguiu nas hqs de horror, suspense e sci-fi da editora, como Ghostly Tales from the Haunted House, The Many Ghosts of Doctor Graves, Space Adventures e Ghost Manor, além de histórias de guerra, faroeste e românticas. Nessa época, Steve Ditko também trabalhou, ainda que por um curto período, para a DC Comics, onde foi o co-criador do personagem Rastejante e da dupla Rapina e Columba.

Ditko trabalhou na Charlton de forma intermitente até o encerramento da editora, nos anos 80, e sua subsequente compra pela DC Comics.

Em 1967, Ditko criou Mr. A para a revista independente do artista Wally Wood, Witzend. Personificando suas crenças no Objetivismo, as histórias giravam em torno de um repórter que também combatia o crime com a identidade de Mr. A, um vigilante de terno, gravata e chapéu que usava luvas e uma máscara metálica. O autor seguiu publicando histórias de Mr. A de forma independente pelos mais diversos meios até o fim dos anos 70, retornando brevemente ao personagem em 2000 e 2009.

No final dos anos 60, o artista também trabalhou para a Warren Publishing. Foram ao todo 16 histórias que alguns consideram os melhores trabalhos do artista: “The Spirit Of The Thing”, “Beast Man”, “Blood Of The Werewolf”, “Second Chance”, “Where Sorcery Lives”, “City Of Doom”, “The Sands That Change” e “Collector’s Edition”, publicadas na Creepy, e “Room With A View”, “Shrieking Man”, “Black Magic”, “Deep Ruby”, “The Fly”, “Demon Sword”, “Isle Of The Beast” e “Warrior Of Death”, publicadas na Eerie.

Na primeira metade dos anos 70, Ditko trabalhou quase que exclusivamente com a Charlton, dividindo seu tempo apenas com algumas editoras pequenas e independentes. Em 1975, Ditko retornou à DC e permaneceu por um período mais longo, onde criou o personagem Shade (que apareceu no Esquadrão Suicidade do John Ostrander e mais tarde seria reformulado, sem seu envolvimento, para o selo Vertigo), co-criou a minissérie Stalker com Paul Levitz, trouxe de volta personagens que estavam no limbo como o Rastejante e Etrigan e desenhou uma minissérie do Morcego Humano, além de ter sido artista convidado em séries como Legião dos Super-heróis e Adventure Comics. Em 1979, retornou à Marvel para substituir Jack Kirby na revista do Homem Máquina. Ali também desenhou os Micronautas e Capitão Universo. Seguiu como freelancer para a editora até os anos 90.

Algumas das histórias que o artista desenhou para Creepy e Eerie, da Warren, no fim dos anos 60.

Nos anos 80, Ditko seguiu fazendo trabalho freelancer para editoras independentes. Para a Pacific Comics, trabalhou em Captain Victory and the Galactic Rangers, introduzindo o personagem Missing Man, que apareceria depois na revista Pacific Presents, e em Silver Star, onde criou o personagem The Mocker. Além disso, trabalhou nas revistas Eclipse Monthly (Eclipse Comics), Warp (First Comics) e The Fly (o selo de super-heróis de vida curta da Archie Comics).

Em 1992, Ditko trabalhou com o roteirista Will Murray em um dos seus últimos personagens originais para a Marvel: a Garota Esquilo, em Marvel Super-Heroes vol. 2 #8. Ainda nos anos 90, o autor trabalhou na one-shot The Safest Place in the World (Dark Horse) e Dark Dominion (Defiant Comics).

Em 1998, se aposentou oficialmente dos quadrinhos mainstream. Seu último trabalho para editoras grandes foi uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC, que era para ser lançada na série do Órion no início dos anos 2000, mas que só foi publicado em 2008.

Após sua aposentadoria oficial do mainstream, o trabalho do autor se tornou intermitente. Sempre rejeitando aparições públicas, acreditando que seu trabalho deveria falar por si, Steve Ditko se isolou do mundo em seu estúdio, sem nunca realmente deixar de fazer quadrinhos. Pessoas mais próximas a ele dizem que, aos 90 anos (idade de sua morte), ele seguia produzindo quadrinhos em seu estúdio, onde foi encontrado.

Steve Ditko deixa um legado insubstituível, não só pelo seu estilo inconfundível, mas também pela criatividade no design e na narrativa das páginas, além de personagens únicos criados ao longo das décadas.

 

Curiosidades:
– Ditko alegava que O Questão é uma versão aceitável ao Comics Code do seu personagem independente, Mr. A;
– Se você ainda não ouviu, confira o ArgCast! feito em homenagem ao autor;
– Em 2007, a BBC lançou o especial “em busca de Steve Ditko”, em que o jornalista Johnatan Ross, com a ajuda de Neil Gaiman, tentam encontrar o artista. O programa está disponível no youtube, mas deixo aqui a parte final, onde eles vão até o estúdio do autor (em inglês, sem legendas).

Edições anteriores:

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Filme: Deadpool 2 [Review]

Ryan Reynolds conseguiu convencer a Fox a fazer um filme solo do mercenário mais surtado dos quadrinhos, rendendo um filme inesperadamente divertido. Deadpool 2 aumenta a escala das piadas e referências a cultura pop, mas precisa lidar com a expectativa gerada após o sucesso do antecessor.

Enquanto lida com as consequências de popularidade de seu trabalho como mercenário, o insano Deadpool (Ryan Reynolds) faz um trabalho com os X-Men, conhecendo o jovem Russell (Jullian Dennison) um mutante com poder de fogo altamente destrutível. Ao se afeiçoar com o garoto, ele acaba no meio do caminho de Cable (Josh Brolin), um viajante do futuro que pretende matar Russell e impedir que o mesmo se torne um poderoso vilão. No elenco Morena Baccarin, Zazie Beets, Brianna Hildebrand, Terry CrewsT.J. Miller e Leslie Uggams.

Com a entrada de David Leitch no projeto, diretor do primeiro John Wick, era sabido que as cenas de ação ficariam primorosas, até porque aqui ele está livre para fazer coisas insanas que só um cenário como este pode permitir, mas infelizmente o trabalho de CG ficou estranho e tosco em alguns pontos, sem falar no ritmo. Como tentaram emplacar um arco dramático e introspectivo ao protagonista, o filme começa explorando um tema, depois muda pra outro, aí quer voltar pro um e fica bagunçado demais.

Muito bom ver como Reynolds está cada vez mais confortável no papel do herói, usando ele até para fazer piadas com sua própria carreira de ator. Desta vez ele não quebra tanto a quarta parede como no filme passado, e quando o faz acaba mais parecendo uma narração ou comentário solto. As piadas são atuais, não se limitando ao universo cinematográfico da Marvel mas também a DC, e até mesmo o criador do personagem Rob Liefeld não ficou de fora. O problema do excesso é que algumas são repetitivas, descartáveis ou apenas bobas, mas as boas valem muito a pena.

A cena pós-créditos do primeiro longa confirmava a presença de Cable, personagem ícone dos anos 90 nos quadrinhos, mas como ele tem uma origem truncada e bagunçada, simplificaram e resumiram ao extremo seu background, tornando-o basicamente um viajante do tempo vingativo. O visual que deram a Josh Brolin ficou excelente, ele sabe encarnar o cara durão e implacável, porém toda vez que ele abria a boca me lembrava do Thanos. Jullian Dennison convence como mutante revoltado, os outros atores também mandam bem, mas sem sombra de dúvidas o destaque vai para Domino. Cheia de carisma, atitude e um super-poder explorado de maneira criativa, ela se integra totalmente ao universo zoeira de Deadpool, com o único problema de ter um espaço pequeno, deixando gostinho de quero mais.

Tenho certeza que Deadpool 2 vai fazer bastante sucesso, ter uma boa bilheteria e render boas risadas do público. As melhores piadas e surpresas não foram reveladas nos trailers, mas mesmo assim ele me soa como uma excelente piada que vai cansar se vista muitas vezes (o que não acontece com o primeiro filme, graças ao estilo mais despretensioso). Assim como neste filme, os próximos terão que investir nos personagens periféricos ao mercenário, ou a fórmula vai acabar ficando repetitiva. Agora é ficar de olho pra ver o que vai acontecer com o personagem se a Disney realmente comprar a Fox.

#peideiesai

(Obs.: Algumas das melhores piadas do filme estão nas cenas pós-créditos, mas elas acontecem ainda nos “pré-créditos”, não precisa ficar até o fim das letras.)

Sarjeta do Terror # 41 – O Homem Coisa

Originalidade é, definitivamente, uma palavra complicada de se usar no ramo artístico, especialmente nos quadrinhos, uma vez que basicamente tudo o que era original foi criado nos anos 40 e reinventado nos anos 60. Sobra muito pouco para se criar de (boas) novidades, e nem estamos nos referindo à escassez de criatividade, mas sim de qualquer época posterior aos anos 60. O que nos traz ao Homem-Coisa.

Ted Sallis é um bioquímico, que foi contratado pelo governo para desenvolver um soro que tornasse humanos resistentes à doenças, garantindo proteção à soldados em caso de guerra biológica. A fórmula foi desenvolvida, mas tinha um terrível efeito colateral: transformara as cobaias em monstros. Outro cientista foi enviado para aperfeiçoar a fórmula, a fim de criar uma nova versão do soro do supersoldado (que criara, décadas antes, o Capitão América); Mas antes de conseguir completar seus experimentos, a base fora atacada por uma unidade terrorista que queria roubar a fórmula. Sallis injetou a fórmula em si mesmo para que não caísse em mãos erradas, mas acabou sendo morto pelos terroristas e jogado no pântano. Algum tempo depois, uma criatura de olhos vermelhos, formada por lodo e plantas surge no local onde Ted Sallis havia sido despejado, uma simbiose do corpo e da alma do cientista com o próprio pântano, produzida pela fórmula do soro do supersoldado não finalizada. Esse monstro passou a ser conhecido como o Homem-Coisa, e tornou-se um empata com inteligência primária e sem aparentes traços de humanidade, capaz de queimar pessoas com o seu toque quando elas sentem medo.

Homem-Coisa (The Man-Thing) foi criado por Stan Lee, Roy Thomas, Gerry Conway (história e roteiros) e Gray Morrow (arte) e publicado pela primeira vez na revista Savage Tales #1 (1971), um ano e meio antes do Monstro do Pântano. Depois da estreia, o personagem passou a ser regular na revista Adventures into Fear – a partir do número 10 (1972), inicialmente por Conway e Morrow (com arte-final de Howard Chaikin), mas logo seriam sucedidos por Steve Gerber (que se tornou o roteirista mais associado ao personagem) e Rich Buckler.

A partir da edição 19, Homem-Coisa pulou para título próprio, que durou 22 edições (1974-1975) e foi desenhada por Val Mayerik, Mike Ploog, John Buscema, and Jim Mooney. Além dela, foi criada uma revista irmã quadrimestral chamada “Giant-Size Man-Thing” (sim, isso mesmo) que, além do personagem, também figurava reimpressões de histórias de horror e fantasia dos anos 50-60 e histórias solo de Howard, o Pato (o mesmo personagem que faz ponta nos dois filmes dos Guardiões da Galáxia).

Com o fim da revista, no número 22, Homem-Coisa passou a ter aparições esporádicas em outras publicações, geralmente escritas por Steve Gerber, além de histórias curtas na revista Marvel Comic Presents (1988-1989). O personagem apareceu também algumas vezes na antologia regular “Monsters Unleashed”, a partir de 1973 (não confundir com a recente saga da Marvel de mesmo nome, que homenageou essa revista). Entre 1979 e 1981, um segundo volume da revista do Homem-Coisa foi publicado, com Michael Fleisher escrevendo os primeiros números, mas logo sendo substituído por Chris Claremont (roteiro), Don Perlin (desenhos) e Bob Wiacek (arte-final). J.M Dematteis foi outro roteirista que escreveu histórias do personagem em revistas diversas.

Nos anos 2000, Homem-Coisa apareceu em diversas histórias one-shots e séries limitadas e, em 2008, teve sua origem recontada para o selo Marvel Max (uma espécie de versão Marvel da Vertigo). Nos anos mais recentes, Homem-Coisa apareceu na revista do Justiceiro durante o arco “Franken-Castle”, em megassagas como Secret Wars e em uma mini-série própria escrita por R.L. Stine em 2017.

 

Em outras mídias

Com a criação da Marvel Studios e a possibilidade da Marvel levar ela própria seus personagens para as telas (e fazê-los fiéis às Hqs), seguiu-se uma série de superproduções que, em 2018, culminam nos dois filmes de Guerra Infinita. Todos os filmes lançados pela Marvel Studios podem ser considerados “blockbusters”, por conta do orçamento investido acima de 100 milhões de dólares. Mas, em 2005 a Marvel decidiu produzir, junto com a Lionsgate e a Artisan, seu primeiro filme de baixo orçamento baseado em um personagem da casa, e assim foi lançada a produção The Man-Thing:

A história, apenas muito superficialmente baseada nas hqs, muda bastante os elementos da história original, colocando Ted Sallis como um xamã nativo-americano e o monstro como uma criatura capaz de manipular a vegetação, mudando o cenário dos Pântanos de Everglades para Lousiana (por acaso – ou não – o lar do Monstro do Pântano nos quadrinhos) e envolvendo uma empresa que quer drenar o pântano para retirar petróleo dali, entre outras coisas que colocam o filme com um foco de consciência ambiental. Para os fãs do gênero e dos comics, vale como curiosidade.

Além do filme, nos últimos anos, o personagem tem aparecido em diversas produções animadas da Marvel, como Super-hero Squad, onde ele se une ao Homem de Ferro e O Lobisomem para enfrentar Drácula; em Ultimate Spider-man, onde fez parte do Comando Selvagem; em Hulk and the Agents of S.M.A.S.H, no episódio “Hulking Commandos”; e no desenho dos Guardiões da Galáxia. Além disso, também foi mencionado em um episódio da série Marvel’s Agents of SHIELD (o que, tecnicamente, coloca o personagem no Universo Cinematográfico da Marvel).

Originalidade é, definitivamente, uma palavra complicada. Mas ser original não é, necessariamente, ser inédito, e uma obra pode ser apreciada, não pelo seu ineditismo, mas por como consegue utilizar elementos já abordados de formas interessantes e criativas. E o Homem-Coisa é um exemplo de personagem que, apesar das relações com outras criaturas do pântano, segue sendo uma criatura distinta das suas contrapartes e que merece seu lugar no rol dos monstros sobrenaturais da Marvel Comics.

Curiosidades:
– Savage Tales foi uma revista da Marvel feita à moda da Warren publishing, num formato (magazine) que permitia “escapar” do escopo do Comics Code Authority. Além do Homem Coisa, a primeira edição também contou com histórias de Conan e de Ka-zaar;
– Diversos artistas ilustraram as fantásticas capas pintadas de Savage Tales, entre eles John Buscema, John Romita, Neal Adams e Boris Vallejo;
– Outros Homens-Coisa já apareceram no Universo Marvel: um residente da Terra Selvagem, cujo sangue foi usado para ressuscitar Shanna; os residentes da floresta de Homens-Coisa no Battleworld (mundo criado após o fim do universo Marvel tradicional na saga Secret Wars); e uma She-Man-Thing, que apareceu na revista Deadpool’s Secret Secret Wars;
– Coincidentemente, Gerry Conway e Len Wein (criador do Monstro do Pântano) dividiam um quarto juntos pouco tempo antes. Apesar dos pesares, ninguém na Marvel ou na DC (incluindo os autores) acha que se trata de fato de um plágio. Até porque os dois personagens lembram muito The Heap, criado em 1942, e o personagem do conto “It”, de Theodore Sturgeon, publicada em 1940 (e adaptada para quadrinhos em 1972 na revista “Supernatural Thrillers”, da própria Marvel). Independente da originalidade dos personagens, e diferente do Monstro do Pântano (que alcançou grande status e popularidade, especialmente por conta da passagem de Alan Moore pelo título nos anos 80), o Homem-Coisa nunca foi de fato tão popular, apesar de ser uma referência “cult” no universo Marvel;
– O filme do Homem-Coisa era para ser lançado diretamente para vídeo, pois a Marvel não acreditava no sucesso comercial do filme (aparentemente eles estavam certos). Mesmo assim, o filme foi lançado nos cinemas apenas na época do Halloween, para logo depois ser incluído em vídeo;
– Vários personagens do filme são nomeados em homenagem à autores e desenhistas do personagem, como Steve Gerber, Mike Ploog e Val Mayerik.

 

Edições anteriores:

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

Nem só de Guardião da Cripta e Tio Creepy vivem o horror hosts dos quadrinhos. Conheça os anfitriões que apresentavam histórias hororizantes nas hqs

Apresentadores não são novidade na TV. De fato, este conceito é provavelmente tão antigo quanto a própria TV. Mas existiu um tipo muito particular de apresentador de TV que capturou a imaginação de milhões de norteamericanos, especialmente entre os anos 50-80: os Horror Hosts (apresentadores/anfitriões de terror, em tradução livre). Frequentemente encarnando personagens sombrios, sobrenaturais e/ou misteriosos, os horror hosts tinham como tarefa apresentar filmes de baixo orçamento e filmes de horror e sci-fi de diversos tipos. Os mais conhecidos do público em geral foram Vampira (a primeira horror host da TV), Elvira (mais sobre ela aqui) e a versão televisiva do Guardião da Cripta (Contos da Cripta)

O que muita gente talvez não saiba, no entanto, é que a ideia dos horror hosts começou anos antes nas histórias em quadrinhos, através das hqs de antologia que continham seu próprio apresentador macabro. A E.C Comics e, posteriormente, a Warren Publishing, foram duas das editoras cujos horror hosts são bastante conhecidos dos fãs de quadrinhos, mas essa tendência se espalhou por muitas outras editoras entre os anos 50 e 80, criando uma tradição nos quadrinhos de horror de antologia. Vamos conhecer os horror hosts dos quadrinhos.

 

E.C Comics

Os primeiros horror hosts surgiram no início dos anos 50 e estão entre os mais conhecidos dos leitores de quadrinhos. Quando os quadrinhos de horror emergiram como uma alternativa popular após a Segunda Guerra, a recém-formada E.C. Comics aproveitou o amor do fundador e do editor pelo gênero para investir numa tríade de hqs que se tornariam referência a partir daí: The Vault of Horror, The Haunt of Fear e Tales From the Crypt (1950).

The Crypt Keeper, The Old Witch, The Vault Keeper e Drusilla

Na teoria, cada revista tinha associada a si um horror host: The Vault of Horror tinha o Vault Keeper, Tales From the Crypt tinha o Crypt Keeper e The Haunt of Fear tinha The Old Witch. Na prática, no entanto, os três apresentadores eram vistos contando histórias nas 3 revistas, tornando difícil dissociar uma hq da outra. Além dos 3 apresentadores clássicos, The Vault of Horror teve suas 4 últimas edições apresentadas pelo Vault Keeper em conjunto com uma outra personagem, uma silenciosa mulher chamada Drusilla (visualmente muito semelhante à Vampira, horror host televisiva da época)

Mais sobre a história da E.C. Comics aqui, aqui, aqui e aqui.

 

Uncle Creepy, Cousin Eerie e Vampirella

Warren Publishing

A editora que trouxe o horror de volta nos anos 60 ao se aproveitar de uma brecha legal no Comics Code Authority (saiba mais aqui e aqui) trouxe as revistas de antologia e também a tradição dos horror hosts de volta. Não por acaso, a Warren trouxe diversos dos artistas e autores que trabalharam na extinta E.C. para produzir as antologias da editora.

Uncle Creepy era o apresentador da revista Creepy (1964), enquanto que o Cousin Eerie era sua contraparte na revista irmã Eerie (1966). Vampirella (1969), que completou a tríade da Warren, começou como horror host, mas com o tempo sua revista passou a contar apenas com histórias solo da personagem, tornando-a provavelmente o personagem mais popular criada pela Warrem.

Recentemente, tanto Creepy quanto Eerie têm tido suas histórias republicadas e Vampirella, apesar dos percalços editoriais ao longo das décadas, segue firme e forte, agora nas mãos da Dynamite Entertainment, em histórias próprias.

Mais sobre a história da Warren Publishing aqui.

 

Cain, Abel, Eva (quadro) e Elvira

DC Comics

A DC iniciou seu caminho nas hqs de horror ainda nos anos 50, com suas revistas House of Mystery (1951) e House of Secrets (1956). No entanto, estas revistas passaram a ter horror hosts apenas nos anos 60 (mais especificamente em 1968), quando o Comics Code Authority começou a ser desafiado pelas grandes editoras e a flexibilização de algumas das regras permitiria à DC trazer de volta um pouco do tom de horror às suas revistas (que haviam sido reimaginadas como histórias de super-herói). A partir daí, a relação da DC com horror hosts expandiu significativamente.

Cain e Abel eram os apresentadores/moradores de House of Mystery e House of Secrets, respectivamente, mas também apresentaram uma revista satírica de humor/horror da DC chamada Plop! (1973), junto com a personagem Eva, que também era a horror host de outra revista, Secrets of Sinister House (1972). Os 3 personagens eram, basicamente, suas contrapartes das histórias bíblicas e fizeram parte do universo DC em diversos momentos. Elvira, horror host da televisão, passou pela Casa dos Mistérios num lançamento de 12 edições chamado Elvira’s House of Mystery (1986), onde ficou de apresentadora no lugar de um desaparecido Cain. (mais sobre as passagens de Elvira pelos quadrinhos aqui).

The Mad Mod Witch e As Três Bruxas (Mildred, Mordred e Cynthia)

Eva foi, mais tarde, “transferida” para a revista Weird Mystery Tales (1972), enquanto que Secrets of Sinister House passou a ser apresentada pelo personagem Destino – mais tarde resgatado por Neil Gaiman para sua série Sandman – quando esta passou a se chamar Secrets of Haunted House (1975). A revista também era apresentada ocasionalmente por Cain, Abel e Eva, mas Destino era o único host fixo.

Alem dos anfitriões mais conhecidos, a DC Comics teve também The Mad Mod Witch, que foi a primeira apresentadora da revista Unexpected (1968). Diferente dos outros horror hosts, no entanto, The Mad Mod Witch não dominava a revista em que aparecia. The Unexpected também teve como apresentadores Abel, de House of Secrets, e The Three Witches, as bruxas Mildred, Mordred e Cynthia que, juntas, eram a personificação da vingança. Logo as 3 Bruxas passaram a apresentar também a revista The Witching Hour (1969) -mais tarde, as duas hqs  seriam fundidas em uma só publicação.

Uma revista irmã de Secrets of Sinister House, chamada Forbidden Tales of Dark Mansion (1971), passou a ser apresentada por uma personagem chamada Charity a partir da edição #7. Charity era uma cartomante que contava suas histórias para quem parasse na tal da “Mansão sombria”, mas que depois foi incorporada ao Universo DC por James Robinson, residindo em Opal City (cidade natal de Starman), onde abriu uma loja chamada Fortunes & Forbidden Tales.

Charity, Squire Shade, Destino e Morte

Outros horror hosts da DC incluíram Squire Shade, um fantasma que trajava uma roupa clássica na cor branca e monóculo, que assumiu a revista Ghosts (1971) a partir da edição 104; Morte, que apresentava a revista Weird War Tales (1971); e Lucien, o guardião da biblioteca de um castelo abandonado na Transilvânia que vivia com Rover, seu companheiro Lobisomem – apresentadores da revista Tales of Ghost Castle (1975). Morte e Lucien foram outros dois personagens aproveitados por Neil Gaiman em Sandman, embora o visual da Morte tenha sido completamente reimaginado para a série.

Mais sobre o terror na DC Comics aqui e aqui.

 

Mr. L. Dedd, Dr. M. T. Graves, Old Witch e Mr. Bones

Charlton Comics
Nem só de super-heróis como Besouro Azul e Capitão Átomo vivia a Charlton, que possuía também um bom número de publicações de terror, algumas delas com seus próprios horror hosts. Mr. L. Dedd (mais tarde renomeado I. M. Dedd) foi um homem de meia idade de chifres que se vestia como um vampiro e contava histórias de sua casa assombrada na revista Ghostly Tales (1966). Já o Dr. M. T. Graves, depois de ser introduzido em Ghostly Tales #55, passou a apresentar suas próprias histórias em The Many Ghosts of Doctor Graves (1967). Diferente da maioria dos apresentadores, Dr. Graves às vezes era participante das histórias que contava.

Outra revista irmã de Ghostly Tales era Ghost Manor, que teve dois volumes: o primeiro, de 1968, era apresentado pela “Velha Bruxa” (que não era a mesma de Haunt of Fear da E.C.); e o segundo, a partir de 1971, apresentado por Mr. Bones, um mordomo que era um esqueleto reanimado com uma máscara sinistra. Entre um volume e outro, Ghost Manor deu lugar a Ghostly Haunts (1971), que era apresentada por Winnie the Witch, uma bruxa de pele azul.

Impy, Barão Weirwulf, Professor Coffin, Arachne e R.H. Von Bludd

Completam a lista da Charlton as revistas Haunted (1971), que teve como apresentadores o fantasma diminuto Impy e mais tarde Barão Weirwulf; Midnight Tales (1972), que tinha dois apresentadores: Professor Coffin, também conhecido como The Midnight Philosopher, e sua sobrinha Arachne; e Scary Tales (1975), apresentado pela sedutora vampira de roupas justas Condessa R.H. Von Bludd. A maior parte dessas revistas era publicada bimestralmente e algumas delas duraram até o fim da Charlton, em meados dos anos 80.

 

Outras editoras

Apesar de ter uma grande tradição no terror, a Marvel Comics teve apenas um horror host digno de nota: Digger, uma assassino de pele verde (às vezes azul) que contava histórias para suas vítimas enquanto as enterrava em duas revistas, Tower of Shadows e Chamber of Darkness, de 1969. Ambas as revistas foram reformuladas em 1971, sem seu apresentador (“Tower…” se tornou Creatures on the Loose e “Chamber…” virou Monsters on the Prowl).

Mais sobre terror na Marvel Comics aqui.

Digger (marvel) e Dr. Spektor (Gold Key).

Outra editora que teve horror hosts foi a Gold Key, que além de publicar uma hq baseada em Além da Imaginação – que tinha como apresentador Rod Serling, também apresentador da série (mais sobre aqui) – também publicava Dr. Spektor Presents Spine-Tingling Tales (1975), apresentada pelo Doutor Spektro do título, um “detetive do oculto” que antes havia sido protagonista nas revistas Mystery Comics Digest (1972) e The Occult Files of Doctor Spektor (1973).

Os anos 80 viram os últimos resquícios dos apresentadores de terror. Diversos deles (especialmente na DC Comics) retornariam mais tarde como personagens, seja em suas próprias histórias ou como coadjuvantes de outros títulos. Mas a tradição de produzir antologias apresentadas por personagens sinistros acabou sendo deixada de lado, infelizmente.

Horror hosts dominaram os quadrinhos de horror americanos por um bom tempo e causaram impacto entre os fãs de inúmeras gerações. Uma tradição que, ainda que tenha se dissipado com o tempo, nunca vai deixar de fazer parte dos pesadelos e das histórias macabras dos entusiastas do gênero.

Curiosidades:
– O Guardião da Cripta (The Crypt Keeper) foi um dos apresentadores das revistas da EC que pularam das hqs para outras mídias em duas ocasiões: primeiro, na adaptação britânica de Contos da Cripta, um filme que continha 4 histórias apresentadas pelo personagem, e na famosa série de TV Contos da Cripta. Apesar do Guardião da Cripta da série ser o mais lembrado, ele nada tinha a ver com o apresentador dos quadrinhos. A versão do filme britânico é mais fiel ao visual e características da hq original;
– Apesar do título, a série Contos da Cripta não adaptava apenas histórias de sua HQ homônima. Vários episódios foram adaptados também de Vault of Horror e Haunt of Fear;
– Nos anos 90, a versão televisiva do Guardião da Cripta foi o apresentador de uma animação chamada Tales from the Cryptkeeper, uma versão infantil dos Contos da Cripta que tinha histórias originais (sem ser baseado na série ou nas hqs);

– Cain e Abel foram personagens relevantes no arco Gótico Americano do Monstro do Pântano, escrito por Alan Moore. Eva foi resgatada nas histórias do Sandman escritas por Neil Gaiman;
– Além da sua passagem por House of Mistery, Elvira também teve sua própria revista regular nos anos 90 pela editora Claypool, onde era a personagem principal ao invés de apenas a apresentadora das histórias;
– A capa da edição 54 de The Many Ghosts of Doctor Graves foi um dos primeiros trabalhos de John Byrne para a indústria.

Edições anteriores:

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #32 – Super-heróis com um “pé” no Terror: Doutor Estranho

A Marvel Comics é uma editora que, mais do que um “pé” no terror, tem o corpo inteiro, tendo sido fundado basicamente sobre uma editora de terror, como já mencionei em um texto anterior. Mas é claro que uns personagens estão mais para lá do que os outros e podemos considerar Doutor Estranho um deles. Como o mais recente personagem da Marvel a ter um filme solo, nada melhor do que conhecermos um pouco da sua trajetória nos quadrinhos.

Apesar das raízes no terror, a Marvel Comics teve como referência para seus primeiros personagens a ficção científica. Mesmo super-heróis como Thor era abordado (mesmo que não explicitamente) mais como uma espécie superavançada do que uma divindade propriamente dita. Doutor Estranho foi o primeiro personagem a explorar explicitamente o sobrenatural. Por “sobrenatural” entenda conceitos que possuem explicação vaga ou nenhuma explicação da lógica interna do seu funcionamento e onde o mistério do conceito desempenha papel maior do que sua explicação.

Doutor Estranho foi criado em 1963 para a revista Strange Tales por Stan Lee e Steve Ditko. Ditko, que não era nem um pouco estranho ao terror (um ano depois estaria ilustrando as páginas de Creepy para a Warren Publishing) e foi ele quem levou a ideia do personagem para Lee e, na edição 110 da revista, o personagem estreou.

A origem do Doutor Estranho se manteve relativamente inalterada ao longo dos anos: Stephen Strange, um cirurgião brilhante, porém arrogante, pensava mais no quanto poderia ganhar de fama e dinheiro com suas habilidades do que ajudar as pessoas. Até o dia em que um acidente destrói o instrumento sem o qual ele não poderia mais realizar cirurgias (suas mãos). Depois de gastar todo o seu dinheiro tentando recuperar suas mãos, sem sucesso, em um último recurso acabou indo parar nas montanhas do Himalaia, onde encontra o Ancião, um mestre oriental muito antigo, que o inicia nas artes místicas, dando novo rumo à sua vida. Logo na primeira história já somos apresentados ao ancião e, em sua origem, poucas edições adiante, somos apresentados também ao Barão Mordo, que se tornaria um de seus inimigos mais mortais.

1963 – 1969

As primeiras aventuras do Doutor Estranho fugiam completamente do que se poderia esperar de histórias sobrenaturais, ao menos visualmente. Ao invés de colocar Doutor Estranho contra criminosos comuns ou supervilões, Lee e Ditko colocavam o personagem desbravando outras dimensões, encarando monstros bizarros e encontrando criaturas que representavam os mais abstratos conceitos (como Pesadelo ou Eternidade, personagens que existem até hoje no Universo Marvel). Os painéis eram coloridos e psicodélicos e os desenhos eram bastante inovadores para a época, incorporando – e até antecipando – o contexto que os anos 60 viveria nos EUA.

A “era de ouro” do personagem com a revista Strange Tales encerrou-se na edição 168, quando o título, que não mais figuraria outros personagens, passou a se chamar adequadamente “Doutor Estranho”. Neste período, além de Ditko, Bill Everett (criador do Namor), Marie Severin e Dan Adkins também desenharam esta fase. A primeira versão da revista do Doutor Estranho durou 15 edições, seguindo a numeração original da Strange Tales, passando a ser escrita por Roy Thomas e desenhada por Gene Colan e – mais para o fim – o arte-finalista Tom Palmer.

1971 – 1987

Após o encerramento de sua revista, Doutor Estranho apareceu na revista quadrimestral Marvel Feature, onde ajuda a fundar os Defensores. Após isso, vai parar em Marvel Premiere (revista já mencionada em outros artigos, que protagonizavam personagens como laboratório da editora para ver a possibilidade de criar novos títulos), ficando na revista por 12 edições, até ter novamente lançada uma revista solo. Foi nesta passagem pela Marvel Premiere, escrita por Steve Englehart e desenhada por Frank Brunner, que surgiu o personagem Shuma-Gorath. É nesta fase também que Doutor Estranho, Após ser obrigado a “desligar” o cérebro do Ancião (consequentemente provocando sua morte), se torna o novo Mago Supremo.

Depois da edição 14 de Marvel Premiere, um novo título do personagem passou a ser publicado. Doctor Strange: Master of Mystic Arts (também conhecido como Doctor Strange vol. 2) durou 81 edições, também escritas por Englehart. Nesta fase, o personagem teve crossover com A Tumba de Drácula e terminou com o Sanctum Santorum gravemente destruído durante uma batalha, fazendo com que a maior parte dos artefatos de Estranho tenham expirado ou sido destruídos, deixando o personagem muito mais fraco. A essa fase, seguiu-se uma curta passagem pela revista Strange Tales novamente (o segundo volume da revista), onde dividia espaço com Manto e Adaga. Estas histórias, que duraram 19 edições, mostram Estranho tentando recuperar seu poder e ressuscitar os Defensores, que haviam sido mortos na última edição do seu título próprio.

Foi durante este período que o filme para TV do Doutor Estranho (Dr. Strange, 1978) foi lançado. A produção da CBS servia como piloto para uma futura série do personagem, junto com outras séries da Marvel que a emissora já tinha, Homem Aranha e Hulk. Mas a série do Doutor Estranho nunca viu a luz do dia. Quase 10 anos depois, uma das Graphic Novels mais clássicas com o personagem seria publicada: Shamballa (1987).

1988 – 1995

Logo Doutor Estranho retornou para um título próprio, Doctor Strange: Sorcerer Supreme, que durou 90 edições, inicialmente produzido por Peter B. Gillis (roteiro), Richard Case e Randy Emberlin (arte). Apesar do título da revista, Doutor Estranho acabou perdendo o “cargo” de mago Supremo quando se recusou a lutar numa guerra por Vishanti. Assim, Estranho encontrou novas fontes de poder na forma de Magia do Caos, formaria os “Defensores Secretos” com um grupo rotativo de personagens e reuniria os Defensores originais, recuperando seu status de Mago Supremo na edição 80 da revista. Triunfo e Tormento, clássica Graphic Novel com Estranho e Doutor Destino, foi publicada neste período (1989)

1999 – hoje

Depois do fim da sua terceira revista solo, suas aventuras retornaram em diversas minisséries, como Doctor Strange: The Flight of Bones, Witches, Strange (que atualizou a origem do personagem) e Doctor Strange: The Oath.

Durante a década de 2000, mesmo sem revista própria, Doutor Estranho continuou tendo importância no Universo Marvel, aparecendo nos mais diversos títulos e tornando-se parte do grupo secreto Iluminatti. Em Guerra Civil, o personagem se colocou fora do conflito, mas, após estes eventos, decidiu ser mais pró-ativo e passou a fazer parte da equipe de Vingadores liderada por Luke Cage. Durante este período, diversos eventos fizeram-no começar a duvidar de suas habilidades, até que decide renunciar ao cargo, que passa a ser do personagem Irmão Vodu (agora Doutor Vodu).

Mais recentemente, Doutor Estranho acabou recuperando seu status de Mago Supremo após a morte do Doutor Vodu e atualmente figura em sua quarta revista solo, intitulada apenas Doctor Strange, por Jason Aaron e Chris Bachalo.

Doutor Estranho se tornou, ao longo de mais de 50 anos, um dos personagens mais importantes do Universo Marvel e, em 2016, fez sua primeira transição para a tela grande. O filme, que pega inspiração em diversas fases do personagem, é baseado principalmente nas primeiras histórias desenhadas por Steve Ditko e na minissérie “O Juramento” (The Oath). Abrindo caminho para o sobrenatural, Doutor Estranho promete ser, assim como é nos quadrinhos, um dos personagens mais importantes do Universo Cinematográfico da Marvel no futuro próximo.

Curiosidades:
– O nome “Dr. Estranho” surgiu por conta da revista que o publicou originalmente (Strange Tales). “Doutor” ficou no lugar de “Senhor” (Mr.) porque a editora já tinha o Senhor Fantástico;
– Para escrever os argumentos de Doutor Estranho, Stan Lee se baseou nas histórias de Chandu the Magician, um programa de rádio dos anos 30 sobre o americano Frank Chandler, que aprendeu as artes místicas com habilidades como projeção astral e, sob alcunha de Chandu, combatia o crime;
– Como era até relativamente comum em quadrinhos mais antigos, Doutor Estranho só teve sua origem detalhada algumas edições depois da sua estreia;
– No início, Doutor Estranho era chamado de “Master of Black Magic” (Mestre da Magia Negra) e não “Mestre das Artes Místicas”;
– Pesadelo foi o vilão da edição de estreia de Doutor Estranho;
– Segundo o historiador de quadrinhos Bradford W. Wright, as hqs do Doutor Estranho anteciparam a contracultura americana dos anos 60, que se tornaria fascinada por psicodelia e misticismo oriental;
– Durante a fase de Engleharrt e Brunner na Marvel Premiere, foi publicada uma história onde Doutor Estranho e o Mago Sise-Neg viajam pelo tempo coletando artefatos místicos. A batalha entre os dois acaba sendo responsável por incidentes do passado remoto como Sodoma e Gomorra. Os dois chegam até a origem do universo, onde Sise-Neg, agora um deus, acaba se tornando responsável pela criação do universo como conhecemos. Ao ler esta história, Stan Lee solicitou aos autores que publicassem uma retratação dizendo que o vilão era “um” deus e não “o” deus, para não ofender religiosos. Mas, ao invés disso, os autores fizeram uma carta de mentira, citando um pastor fictício que teria adorado a história, e enviaram para a Marvel. A editora acabou publicando a carta e deixando a retratação de lado;
– Uma revista com Doutor Estranho e o Homem de Gelo (em histórias solo) chegou a ser anunciada oficialmente, mas nunca ganhou a luz do dia;
– Strange Tales também figurava personagens como o Tocha Humana (a versão Johnny Storm em aventuras solo) e Nick Fury.

 

Edições anteriores:

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Filme: Logan [Review]

Da pra contar nos dedos de uma mão os filmes que correspondem a uma alta expectativa criada, e Wolverine já falhou nisso duas vezes, mas com esta terceira ele finalmente emplacou. Logan é o filme definitivo do nosso querido carcaju, e mais uma prova de que filmes de super-heróis não precisam seguir a mesma fórmula.

Num futuro não muito distante, Logan (Hugh Jackman) ganha a vida como motorista de limusine, e junto a Caliban (Stephen Merchant) ele cuida de um hoje debilitado Professor Xavier (Patrick Stewart). Devido a acontecimentos do passado, o antigo mentor dos X-Men foi considerado uma arma de destruição em massa pelo governo. Há muito não nascem novos mutantes, e os antigos parecem ter morrido. As coisas se complicam ainda mais quando surgem Gabriela (Elizabeth Rodriguez) e a pequena Laura (Dafne Keen), que perseguidas pelos “Carniceiros” liderados por Donald Pierce (Boyd Holbrook) recorrem ao velho Logan em busca de proteção. No elenco Richard E. Grant, Eriq La Salle e Kathryn Munson.

Sem sombra de dúvidas, Wolverine é o mutante mais famoso da Marvel, tanto que protagonizou ou é ao menos mencionado em todos os filmes dos X-Men já feitos. Mesmo ficando tão popular, a representação do personagem ainda estava longe de ser aquela coisa selvagem e brutal que os fãs queriam ver na telona. Tiveram que produzir dois filmes solos para recém no terceiro acertarem o tom do personagem, muito provavelmente graças a visão mais aberta da Fox nos últimos tempos. Por não estarem presos a fórmulas que buscam uma classificação indicativa baixa, puderam abrir mão de uma fatia do público para fazer algo mais ousado e forte, o que também rendeu um filme do Deadpool assertivo com as espectativas dos fãs. O diretor James Mangold, que também dirigiu Wolverine: Imortal (ao qual já comentei AQUI), traz uma trama densa, situada em um futuro próximo crível, mas que remete a velhos westerns onde um homem veterano de batalhas busca paz e redenção.

O filme marca a despedida de Hugh Jackman e Patrick Stewart de seus papéis, e ambos estão muito bem numa representação mais madura e humana de seus personagens. Jackman consegue passar todo o peso e carga que Logan tem sobre as costas, mostrando que o verdadeiro vilão do filme é a velhice e as condições adversas em que o personagem se encontra. Os antagonistas muitas vezes nem chegam a representar uma grande ameaça, e com certeza não resistiriam a um Carcaju no auge da forma e com liberdade pra sangrar gargantas. Destaco a atuação da pequena Dafne como X-23, equilibrando um lado infantil e altamente letal ao mesmo tempo. Nota-se um cuidado para que além de uma pequena máquina de matar ela também seja uma criança, com comportamentos e atitudes condizentes com sua idade e que só a tornam mais carismática.

Este filme foi feito sob medida para os fãs do Carcaju, mostrando que eles ouviram as reivindicações durante estes anos todos da franquia mutante nos cinemas. Espero que a Fox continue a explorar este diferencial, mostrando que filmes de super-heróis podem equilibrar uma trama madura e densa com elementos pops. Vá ao cinema agora e celebre em grande estilo a despedida de Hugh Jackman do personagem!

(Obs. Avisando de antemão que não tem cena pós-créditos.)