Sarjeta do Terror #39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

Neste mês, a segunda parte da matéria sobre os quadrinhos de terror no Brasil. Nesta segunda parte, cobrimos as editoras dos anos 80 até os dias de hoje.

Os quadrinhos de terror começaram nos EUA como um subgênero do pulp, mas especificamente o “weird manace”, e só no final dos anos 40 que se tornaram um gênero à parte, consolidando-se nos anos 50. Mas o horror sempre foi amigável a outros gêneros, com destaque para ficção científica e fantasia. No Brasil, o erotismo era um aspecto recorrente das histórias, tanto de algumas hqs trazidas de fora (especialmente as hqs italianas de terror) quanto nas produções nacionais.

Neuros, da editora Grafipar

Por isso, é importante lembrar da Grafipar, clássica editora sediada em Curitiba e que fez história nos quadrinhos nacionais. Fundada em 1977 por Faruk El-Katib, a Grafipar tinha como característica hqs produzidas no Brasil destinadas ao público adulto, com temática erótica, misturada a outros gêneros, inclusive o terror. Incialmente produzidas por Claudio Seto, Liessenfeld, Kussumoto, Ataíde, Julio Shimamoto, Magno, Eros Maichrowicz, Val Ferreira e Sebastião Seabra, seu sucesso permitiu abrir as portas para uma porção de outros artistas e veteranos da época, entre eles Franco de Rosa, Flávio Colin, Walmir Amaral, Itamar, Rodval Matias, Mozart Couto, Luis Saidemberg, Paulo Hamasaki, Bonini e Watson Portela. Em 1984, a editora fechou as portas, mas não sem antes fazer história nos quadrinhos nacionais. Entre as muitas hqs publicadas pela Grafipar, destacam-se Eros (1978), Próton (1978), Neuros (1978), Perícia (1979) e Volúpia (1980). A história da Grafipar pode ser conferida no livro Grafipar – A Editora que saiu do eixo, de Gian Danton.

Frustrados com a falência da Grafipar, J. B. Guimarães e Sergio C. Guimarães fundaram a Press, que originalmente era para ser “Maciota”, mas este nome acabou sendo reservado para o selo de sexo e humor picante da editora. É na Press que Franco de Rosa finalmente assume o posto de editor-chefe. Dentre as produções de terror, destacaram-se as revistas Mundo do Terror (1985), Spektros (1985), Vampiro (1985), Medo (1985), Gritos de Terror (1986) e Horror (1986).

Gritos de Terror, da Press, e Calafrio, da D-Arte

Vale destacar também a editora D-Arte, de Rodolfo Zalla e Eugeno Colonnese, criada em 1967. Inicialmente, a D-Arte era um estúdio que prestava serviços a outras editoras. Além dos fundadores, a D-Arte tinha uma equipe de peso, formada por artistas como Luis Meri, Rubens Cordeiro, Maria Helena Fonseca, entre outros. A qualidade das histórias e embasamento histórico e visual criada dentro de prazos que outros artistas não eram capazes de cumprir garantiu a sobrevivência do estúdio até 1969. Em 1981, Zalla e Colonnese retomam a D-Arte, agora como editora, passando a se focar especialmente na produção de terror, com as as hoje clássicas revistas Calafrio (1981) e Mestres do Terror (1983).

A independente animal trouxe Ranxerox para o Brasil

Os anos 80 foram acabando, mas o fôlego das hqs de terror continou. Enquanto a Abril trazia arcos clássicos de personagens como Monstro do Pântano e Sandman, personagens do gênero de super-herói que flertavam com o terror, produções underground como Porrada!, Special e Animal também trabalhavam de vez em quando com o tema. Em 1987, a L&PM republica O Estranho Mundo de Zé do Caixão, e a Catânea compila diversas das histórias de Eugenio Colonnese no álbum Histórias de Terror de Eugênio Colonnese.

 

 

 

Na década de 90

A partir dos anos 90, os quadrinhos de super-herói tomam conta das bancas e passam a dividir espaço com a explosão dos mangás, mas os quadrinhos de terror não foram esquecidos – embora as produções nacionais começassem a perder espaço para o material vindo de fora. Mesmo não sendo considerados exatamente terror, merecem destaque a publicação no Brasil de Akira (1990), pela editora Globo, e Crying Freeman (1990), pela Nova Sampa editora. A Nova Sampa publicaria também, em 1996, À Meia-Noite Levarei Sua Alma, adaptação do filme de 1967 protagonizado pelo Zé do Caixão. Pouco antes, a editora havia contribuído para o gênero com Drácula – A sombra da Noite (1985), Horas de Vampiro (1986) e Mistérios das Trevas (1986).

Kiss – Psycho Circus, da Abril e HQ -A revista do quadrinho brasileiro, da Escala

A L&PM publicou, nesta época, algumas hqs de terror, como Macumba Macabra (1990), Bradbury – O Papa-defuntos (1990) e Bradbury – O Pequeno Assassino (1991), estes últimos compilando histórias de Ray Bradbury adaptadas pela E.C. nos anos 50. A Abril seguiu publicando material do gênero: lançou Deadman (1990) e Hellraiser (1991), além de ter começado a publicar os títulos da Vertigo, como Hellblazer (1995), Santo dos Assassinos (1996) e Morte – O Grande Momento da Vida (1996). A Abril publicaria também outras hqs que misturavam heróis e horror, como Spawn (1996) e Kiss – Psycho Circus (1999). A editora Record, existente desde os anos 40, entrou no terror apenas nos anos 90, quando trouxe Dylan Dog (1991) para o Brasil e editou Cripta do Terror (1991), republicando as histórias clássicas da E.C. Tanto Dylan Dog quanto Cripta tiveram vida curta, mas o primeiro ainda seria publicado de forma irregular durante as décadas subsequentes.

A revista Spektro foi relançada por Ota em 1994, sem muito sucesso. Ota seguiu no terror em 1995, na Ediouro, com a Coleção Assombração, que trazia veteranos como Flávio Colin, Julio Shimamoto e Mozart Couto, além de novos artistas. Hellboy chega ao Brasil em 1998 pela Mythos Editora. Do lado dos nacionais, HQ – Revista do Quadrinho Brasileiro foi publicada pela Escala e trazia histórias de diversos gêneros, incluindo terror. Teve vida curta, assim como a versão brasileira da Heavy Metal e sua irmã, Metal Pesado.

 

As hqs de terror do Brasil no século XXI

Com títulos de super-herói que flertavam com o horror encontrando caminho por aqui, além do selo Vertigo e suas histórias voltadas para leitores adultos, a editora Atlantis tentou trazer títulos da Chaos Comics, como Lady Death e Chastity. Infelizmente, a iniciativa não durou muito.

Morto do Pântano, reeditado pela Opera Graphica, e Fikom, da Kalaco

Uma editora que merece destaque no início do novo milênio é a Opera Graphica. Um braço da banca que logo se tornaria a hoje bastante conhecida Comix Comic Shop, a Opera Graphica começou como um selo, em 1998, fundado por Carlos Mann, dono da Comix, e Franco de Rosa. De início, o selo trabalhava principalmente para a editora Escala, até que se tornou uma editora ela mesma.

Como editora, a Opera Graphica reeditou obras clássicas do horror brasileiro com a coleção Opera Horror, que trouxe Morto do Pântano, de Eugenio Colonnesse e No Reino do Terror, de R.F Luchetti (2005). Além disso, trouxe também material estrangeiro, em especial diversos materiais da Vertigo e outras publicações de super-heróis DC. A Opera Gráphica operou até 2009, quando encerrou suas atividades. Após o fim da Opera Graphica, Franco de Rosa fundou a Kalako, em 2010, cujas contribuições para o gênero incluem Fikom – O herói do Universos dos Sonhos (2012), uma reedição das histórias do clássico personagem criado por Fernando Ikoma, e Zumbis e Outras Criaturas das Trevas (2013).

Canalha, da Brainstore e Manga of the Dead, publicada pela JBC

No fim do primeiro milênio, também surgiu a editora Brainstore, que começou publicando a Turma do Senninha e logo passou a variar sua cartela de hqs. Publicou diversos especiais da Vertigo, incluindo histórias do universo de Sandman, Monstro do Pântano, Preacher, além de publicações como Hell Eternal – Inferno em Vida (1999), Ao Cair das Sombras (2001) e A Brigada dos Encapotados (2003), entre outras. Além da Vertigo, também publicou material da DC, como especiais do Batman e a revista Dark Heroes (2002), que trazia personagens como Desafiador, Vingador Fantasma, Espectro, Solomon Grundy, entre outros, e outros materiais relacionados ao gênero, como A Estranha Turminha de Zé do Caixão (1999), a alternativa Canalha (2000) e a autoral Noite de Caça (2004). A Brainstore encerrou as atividades em 2005.

No lado oriental, a editora JBC tem publicado, até hoje, um número respeitável de mangas de horror. Criada originalmente em Tóquio como uma redistribuidora de jornais em língua portuguesa no Japão, passou a publicar seu próprio jornal em 1993 e, em 1997, lançou sua primeira publicação no Brasil, a revista Made in Japan. Entre as diversas publicações nipônicas de horror ou relacionadas, podemos destacar Samurai X (2001), Death Note (2007), Hellsing (2008), Neon Genesis Evangelion (2010), a antologia Manga of the Dead (2013), All You Need is Kill (2014), a adaptação de Gou Tanabe para histórias do H.P. Lovecraft em O cão de Caça e Outras Histórias (2015), Blade – A Lâmina do Imortal (2015) e O Homem que Foge (2017), entre outros.

Suicide Club, publicado pela New Pop, e Alena, pela Avec

Ainda dentro dos Mangas, podemos citar também a editora New Pop, que publicou, entre outras obras Dark Metrô (2008), Vampire Kisses – Laços de Sangue (2009), hqs baseadas na série Supernatural como A Origem (2009), Os Caça-Fantasmas (2009), Corpse Party: Musume (2014), Don Drácula, (2015), Helter Skelter (2015) e Suicide Club (2017). Outras editoras publicaram, esporadicamente, mangas de horror, inclusive alguns dos clássicos, como a Conrad, que publicou Uzumaki, de Junji Ito (2006), a Zarabatana, que publicou A Serpente Vermelha, de Hideshi Hino (2007), a Panini, que publicou Hideout (2010) e a editora Astral, que publicou a coletânea sobre yokais Anormal (2014).

A Avec Editora, fundada em 2014 por Artur Vecchi, segue o legado da família que, décadas antes, fundou uma das editoras mais importantes para os entusiastas do terror nacional, a Vecchi. Embora não publique apenas histórias em quadrinhos e nem apenas obras de terror, a editora já conta com publicações respeitáveis do gênero, como Beladona (2014), Carnívora (2015), Dionísio (2015), Galícia: A Casa Na Árvore (2016) e a fantástica obra sueca Alena (2017).

O Rei Amarelo em Quadrinhos, da Draco, e Fragmentos do Horror, pela Darkside Books

A editora Draco também tem sua contribuição para os quadrinhos de terror ou obras que flertam com o gênero, como a alternativa Imaginários em Quadrinhos (2013), Terra Morta (2014), Cortabundas – O Maníaco do José Walter (2014), O Rei Amarelo em Quadrinhos (2015), o Despertar do Cthulhu em Quadrinhos (2016) e Fome dos Mortos (2017). Outras editoras que também valem destacar são a HQM, que publica Os Mortos-Vivos (2006), além do primeiro volume de Necronauta, de Danilo Beyruth (2011), e a New Order, que publicou a versão nacional de The X-Files Classics, que traz as hqs baseadas na série Arquivo X publicadas pela Topps Comics nos anos 90 (2016).

A editora mais recente que tem se destacado no gênero de Terror é a Darkside Books, que lançou a antologia de horror de Junji Ito Fragmentos do Horror, Atômica – A Cidade Mais Fria, que inspirou o filme com Charlize Theron, Meu Amigo Dahmer, Wytches e recentemente anunciou o lançamento de Creepshow, primeira hq escrita por Stephen King nos anos 80 e desenhada por Berni Wrightson. Todos esses títulos são de 2017.

O independente Mórbido, Maléfico e Maldito Gibi e Unhas, publicada pela Escrita Fina

Como menções honrosas, preciso citar também obras que fazem muito pelo terror nacional, seja pela sua inovação, pela sua qualidade editorial ou artística, porque certamente servirão de influência para muitos autores no futuro ou simplesmente por botar a cara na rua e publicar por conta própria: Prontuário 666 – Os anos de cárcere de Zé do Caixão, de Adriana Brunstein e Samuel Casal (Conrad, 2008); Mundo Paralelo, que tem histórias de Mozart Couto, Eduardo Cardenas, Watson Portela, Walter Pax, João Azeitona, Gian Danton, Fabio Cobiaco, entre outros (independente, 2012); Mórbido, Maléfico e Maldito Gibi, de Eduardo Cardenas (independente); Vigor Mortis Comics volumes I e II, de José Aguiar, Paulo Biscaia, DW Ribatski e André Ducci (Quadrinhofilia, 2011; Zarabatana Books, 2014); Dora, de Bianca Pinheiro (Independente, 2014); Unhas, de Ieda Marcondes e Olavo Costa (Escrita Fina, 2014); e Somner, de Dimítria Elefthérios (Independente, 2015).

É claro que é impossível rastrear tudo que tem saído de quadrinho de terror atualmente. O que é ótimo, pois indica que o gênero não só está mais vivo do que nunca, como há variedade suficiente para todos os gostos. Por ora, peço desculpas por qualquer negligência acidental.

Os quadrinhos de terror no Brasil continuam firmes e fortes, com muita produção vinda de fora e muitos independentes mantendo viva a chama do terror tupiniquim. Se você gosta do gênero, faça um favor a si mesmo e, periodicamente, procure nos sites de livrarias o que tem de novidade. E, se você se importa com a produção nacional, fique de olho nos independentes, seja na internet, seja em eventos do gênero, pois tem muito material bom por aí, mesmo que não publicado por editora.

 

Edições anteriores:

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Mangá: Gurren Lagann

gurren_lagannO estúdio Gainax é famoso por suas obras bem animadas e cheias de loucuras como FLCL e Neon Genesis Evangelion, e com Gurren Lagann não poderia ser diferente. Este anime muito divertido foi adaptado para o mangá e chega aqui no Brasil pelas mãos da editora Nova Sampa.

Em um mundo em que a humanidade teve que se esconder nos subterrâneos da Terra, a humanidade passou a crer que a superfície não passava de uma lenda. O jovem perfurador Simon é amigo do valente Kamina, que sonha em chegar à superfície e é hostilizado pelas demais pessoas de seu vilarejo.  Tudo muda quando um enorme Ganmen ataca (robô na forma de uma cabeça com braços e pernas), sendo combatido pela esquentada Yoko. Simon leva a garota e Kamina até um enorme rosto que havia escavado, a qual descobre ser um Gunmen ativado por uma pequena chave em forma de broca que havia encontrado. Juntos eles derrotam a criatura e chegam a superfície, onde começam suas aventuras contra os homens-feras e seus Gunmens, conhecendo novas aliados, formando a “Brigada Gurren” e conquistando o poderoso robô Gurren Lagann!

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Como todo bom mangá shonen que se preze, Gurren Lagann possui personagens carismáticos, cativantes, cheio de sonhos e motivações, garotas sensuais e lutas de tirar o fôlego! Existe uma evolução dos robôs bem interessante que faz crescer ainda mais o potencial das batalhas. Entre os capítulos são apresentadas tirinhas divertidas com os personagens, satirizando momentos da história. O traço de Kotaro Mori é bonito, cheio de expressões exageradas, retículas bem aplicadas, e em alguns momentos a ação é tanta que o olho se perde em meio a tudo que esta acontecendo, mas nada que estrague a diversão. A série sai no Japão na revista Dengeki Daioh desde 2007 e possui atualmente 9 volumes, com planos de encerrar ainda este ano no volume 10.

O anime produzido pela Gainax e dirigido por Hiroyuki Imaishi foi ao ar na TV Tokyo entre 1º de abril e 30 de setembro de 2007, totalizando 27 episódios e dando origem a 2 especiais e um jogo para Nintendo DS.

Em tempos de robôs gigantes voltando com tudo com em Círculo de Fogo, nada melhor que um mangá que agrega a este fator muito humor, ação e lindas garotas! Corra pra banca mais próxima e garanta seu Gurren Lagann!

Gurren Lagann
Roteiro: Kazuki Nakashima
Arte: Kotaro Mori
Páginas: 200
Preço de capa: R$10,90
Editora Nova Sampa
(Recomendável para maiores de 16 anos.)

Old Boy: A vingança de uma década e promoção

“Can’t go back. No place to go back to

Life is lost, Flowers fall

If it’s all dreams.. Now wake me up”

– Art of Life, X-Japan

oldboy-capa2-620x917 Quem acompanha meus artigos do Dínamo já sabe que de algum tempo para cá venho AQUI, AQUI, AQUI e AQUI. Pois bem, nenhuma outra banda poderia definir melhor o tipo de obra resenhada do que X-Japan.

Admito que não sou fã de rock produzido no oriente. Conheci algumas poucas bandas de lá e a única com que me identifiquei foi o X. Isso acontece porque a sonoridade do grupo lembra demais as bandas de Metal e Hard Rock que tiveram seu auge no final dos anos 80 e o piano deles remete as baladas do Kiss na hora. Aliás, o X-Japan também se veste de modo chamativo mas sem apelar, como os outros conjuntos nipônicos fazem.

Do mesmo modo, o gênero de Mangá/Anime que mais curto são aqueles que aproveitam de sua origem oriental para contar uma história única e sem excessos como golpes mirabolantes, peitos gigantes, personagens com cara de meninas (sendo homens) ou que viram crianças (chibi) só para fazer graça.

Um mangá que se encaixa nesse tipo de HQ que gosto é o empolgante Old Boy escrito por Garon Tsuchiya, desenhado por Nobuaki Minegishi e trazido até o Brasil pela editora Nova Sampa. Os argonautas mais ligados em cinema já devem estar imaginando o filme cult coreano de 2003. Isso acontece porque a película é uma obra baseada nessa HQ, mas ambos possuem muitas diferenças (como veremos mais a frente), mas por hora vamos nos focar na versão de papel que tem uma trama mais “grudante”.

 

Um Garoto Velho

Na primeira edição de Old Boy conhecemos um protagonista até então sem nome que foi mantido em cativeiro por 10 anos. Sem saber como e por que foi parar ali o sujeito conta apenas com uma televisão que lhe serve como relógio, calendário e vínculo com o resto do mundo. Paranóico, nosso “Velho Garoto” passa a desconfiar de diversas pessoas que poderiam ser mandantes da prisão e começa a treinar pugilismo com as sombras e as paredes, passando a fazer exercícios físicos em nível de atleta. Tudo isso, tramando uma vingança.

Esse é o plot que recebemos no primeiro capítulo. A partir daí, a obra incentiva o leitor a querer refletir junto com o protagonista:

oldboy manga * Quem pagou 300 milhões de ienes para prendê-lo?

*O que ele fez para merecer esse castigo?

* Por que esse castigo ao invés de mandar matar?

*Como o herói fará para tocar a vida?

*E a mais importante: Como o personagem pretende se vingar?

Se até agora a trama já prendeu o leitor, o passo seguinte é acompanhar as artimanhas, estratégias e trambiques que o protagonista precisa desenvolver para encarar em um mundo onde se está 10 anos atrasado. E esse é o acorde de guitarra do X-Japan que mais me fascinou na obra. Diferente de simplesmente enfrentar um inimigo cada vez mais forte, os problemas do herói são verossímeis e realistas: falta de qualificação profissional, sem grana, ex-namorada que agora está casada e tem filhos e seu desapego e desconfiança às pessoas a sua volta.

 

Roteiro e arte

oldboyimfree O autor, no melhor estilo Lost, desenvolve a história em duas linhas. Uma paralela mostrando a vida do personagem – na segunda edição descobre-se que seu nome é Shinichi Gotou – após cativeiro e outra em flashbacks apresentando as lições aprendidas no cárcere.

 A arte de Nobuaki Minegishi é bastante detalhada e fotografa uma cidade sombria. Em alguns pontos, o mangá transmite a sensação de solidão. Também não há nenhum tipo de exagero em sua arte. Seu trabalho é bastante competente ao desenhar cenas de “porradaria” e de SEXO. Isso me faz lembrar um aviso importante: Se deve ter mais de 18 anos para ler Old Boy.

 

Enredo diferente do filme (sem Spoilers)

old-boy-2Para quem assistiu ao filme sul-coreano de Chan-wook Park (que chegou primeiro no Brasil, apesar do mangá ter sido publicado em 1996) a leitura dessa HQ ainda é recomendada. Alias o leitor que ver o longa antes pode querer fazer as inevitáveis comparações na trama (meu caso). Já adianto que a versão do cinema é MUITO diferente da impressa.

O caminho que o filme segue é completamente diferente da HQ, apesar de fazer referência a alguns personagens e acontecimentos do impresso. Vai de mudanças sutis como o fato do melhor amigo do protagonista do filme trabalhar numa Lan House e no original ser dono de bar; até alterações mais sérias como a personalidade de Gotou que é mais fechada e séria no gibi e passa a ser mais intelectual e por momentos até mais divertida e beirando ao exagero no filme.

Além disso, nas telas, o personagem é preso por 15 anos e essa data é importante para a amarração no final da história em que se descobre que o Old Boy comeu a… Ops… Quase um Spoiler! Por enquanto é importante saber que o fim do longa é algo que o cinema hollywoodiano jamais irá fazer (mesmo com a refilmagem) e que EU ACHO que o mangá seguirá por um caminho completamente diferente, mas da mesma forma interessante e único.

ShowImage Terminei de ler as três edições cedidas para o Dínamo (pela Nova Sampa) querendo “devorar” mais. Agora o jeito é esperar até o gibi aparecer nas bancas de Porto Alegre. Não sou leitor frequente de mangá e detesto Naruto, Inu Yasha e outras obras semelhantes, mas a aventura de Gotou me fisgou por ser única como as poucas coisas nipônicas que curto (X-Japan, Lobo Solitário, Ghost in the Shell, Akira).

 Ficha BásicaOld Boy; Editora Nova Sampa; Roteiro Garon Tsuchiya; Arte Nobuaki Minegishi; Preço de capa R$ 10,90; Recomendável para maiores; Média de 128 páginas cada edição.

 

manga-massaveioCONCURSO CULTURAL “MANGÁ MASSAVEIO”

Mostre que você curte quadrinhos e não leva desaforo pra casa. Escreva nos comentários AQUI ABAIXO a sua história mais louca ou engraçada de “porradaria”. A melhor história será escolhida pelo próprio editor dos mangás da Nova Sampa, Marcelo Del Greco, e ganhará um pacote de ação com os 3 volumes de OLD BOY e os 3 da série Ikkitousen – Anjos Guerreiros, todos publicados pela editora. Lembrando que somente leitores acima de 18 anos concorrerem ao prêmio!
O concurso estará valendo até dia 1º de setembro.

Mangá: Tarareba – Contos de Passado e Futuro

“Qualquer pessoa já pensou ao menos uma vez em voltar no tempo para refazer alguma coisa.”

Tarareba

Tarareba – Contos de Passado e Futuro, de autoria da mangaká Kyo Hatsuki, conta com cinco interessantes histórias curtas que mostram a vontade das pessoas quem voltar a algum momento do seu passado para tentar corrigir o futuro.

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O desejo de voltar no tempo é realizado por duas estranhas garotas que vivem em um templo budista. Mas, em troca, elas pedem a segunda coisa mais importante para aquelas pessoas, incluindo aqui a possibilidade de ser a sua própria vida. Será que vale a pena?

Alguns destes contos mostram que a natureza humana não muda, o egoismo e egocentrismo reina acima da necessidade de realizar uma boa ação. Mas também encontramos histórias na qual aparecem pessoas boas o suficiente para se sacrificarem por outras. Assim, o mangá mostra que, as vezes, vale a pena voltar ao tempo mesmo que perca a segunda coisa mais importante para você.

Tarareba – Contos de Passado e Futuro tem volume único publicado pela editora Nova Sampa, possuindo 176 páginas no formato 13,5 x 20,5, pelo valor de R$ 12,90.

“Para qual momento do passado que mais gostaria de voltar em troca da segunda coisa mais importante para você?”