Sarjeta do Terror #51 – Editoras da era de ouro do horror (parte 2, final)

Os anos 50 não são considerados a “era de ouro” das hqs de terror à toa. Havia muitas editoras e muitas publicações dedicadas ao gênero, por isso foi necessário dividir a matéria em duas partes. A partir daqui, vamos conhecer, não só editoras que fizeram sucesso nos anos 50, mas também aquelas que seguiram nos anos 60 e além, mesmo com as imposições do Comics Code Authority.

 

Quality Comics (1937-1956)

Uma das mais conhecidas editoras de quadrinhos da Era de Ouro, a Quality foi fundada nos anos 30, mas só assumiu esse nome nos seus produtos a partir de 1940. Inicialmente, o material da editora era feito quase que só pelo estúdio Eisner & Iger – incluindo a reedição das histórias do Spirit.

A Quality só teve uma revista regular de terror que merece destaque, Web of Evil (1952-1954), que durou 21 edições, além de uma edição única chamada Intrigue (1955), mas merece ser mencionada por ter sido a casa de diversos artistas clássicos (muitos que fariam nome nas hqs de horror) como Jack Cole, Reed Crandall, Will Eisner, Lou Fine, Gill Fox, Paul Gustavson, Bob Powell e Wally Wood.

A editora encerrou as atividades em 1956, depois de suas vendas caírem gradualmente na competição com a ascensão da televisão. A maior parte das propriedades intelectuais da Quality acabou sendo comprada pela National (atual DC Comics).

 

Harvey Comics (1941-1994)

A editora Harvey começou suas atividades em 1941, mas só se tornou realmente popular a partir dos anos 50, quando passou a licenciar adaptações de desenhos animados como Gasparzinho, Tininha e Herman e Katnip – além da sua criação original mais famosa, Riquinho.

É claro que a Harvey também não ficou de fora da explosão das hqs de horror. Entre as publicações, podemos destacar Black Cat/ Black Cat Mystery/Black Cat Western (1946-1963) que, apesar da constante mudança de nome e publicação infrequente, durou 65 edições; Chamber of Chills (1951-1954), que continuou a partir de Chamber of Clues e durou 26 edições; Witches’ Tales (1951-1954), que durou 28 edições antes de se tornar Witches’ Western Tales; Tomb of Terror (1952-1954), que durou 16 edições até se tornar Thrills Of Tomorrow (1954-1955), que, em suas 4 edições, gradualmente se tornou uma hq de super-herói, publicando o personagem “Stuntman” de Jack kirby e Joe Simon; e Man in Black (1957-1958), que também publicava histórias de ficção científica, durou apenas 4 edições.

A partir dos anos 80, as vendas dos títulos da Harvey começaram a declinar e, em 1986, já havia sido reformulada para trabalhar apenas com alguns títulos-chave. Depois de 1989, as propriedades intelectuais da Harvey foram vendidas para empresas diversas (incluindo a Universal Studios) e, em 1994, a empresa cessou as atividades de vez.

 

Charlton Comics (1945-1986)

Provavelmente a mais conhecida das editoras dessa matéria, a Charlton começou como T.W.O. Charles Company em 1944. Passou a ser conhecida como Charlton Publications a partir de 1945, publicando revistas de letras de músicas, passatempos e, por um breve período, livros. Sua divisão de quadrinhos publicou diversos super-heróis que se tornariam populares. Mas uma das características da Charlton era sua versatilidade. Eles publicaram quadrinhos de tudo quanto era gênero: ficção científica, crime, suspense, humor, animais engraçados, infantil, super-herói, faroeste, guerra, romance e, é claro, terror.

Das editoras citadas nessa matéria e na anterior, a Charlton é a que mais teve títulos voltados para o horror, além dos mais longevos (é claro, ajuda o fato de que também foi uma das que mais durou no mercado). Entre os títulos pré-comics Code destacam-se The Thing (1952-1954), que durou 17 edições; a ficção científica esquisita Out of this World (1956-1959), com 16 edições; This Magazine is Haunted (1954-1958), título que veio da Fawcett e seguiu sua numeração original por 7 edições – a Charlton até tentou manter a qualidade da revista original, mas o Comics Code obrigou as histórias a mudarem consideravelmente o tom; Strange Suspense Stories (1955-1965), que durou 51 edições mas, no meio do caminho, se tornou temporariamente This is Suspense (1955), com 4 edições.

Diferente de outras editoras, a Charlton continuou publicando hqs de horror após o Comics Code. Essas histórias, no entanto, tinham muito pouco de “terror” por conta das limitações do código, mas algumas fizeram bastante sucesso e duraram por muitas edições. Entre as hqs desse período, destacam-se Unusual Tales (1955-1965); que durou 49 edições; Tales of the Mysterious Traveler (1956-1959), com 13 edições; Ghostly Tales (1966-1984), a mais duradoura, com 115 edições; The Many Ghosts of Doctor Graves (1967-1982), 72 edições; Ghost Manor (1968-1964), que teve duas fases, uma com 19 edições, outra com 77; e Haunted (1971-1984), com 75 edições.

Apesar de ter sido mais afortunada que outras, a Charlton também acabou sendo vítima das mudanças do mercado e das quedas nas vendas. Encerrou as atividades em 1986, vendendo suas propriedades intelectuais para – uma chance de adivinhar – a DC Comics.

 

St. John Publications (1947-1958)

Empresa com vida curta, mas que deixou sua marca nas histórias em quadrinhos norteamericanas por ter sido a pioneira em uma porção de coisas. Lançou a primeira história em quadrinhos em 3-D Three Dimension Comics (1953), a primeira hq “tie-in” de um filme de comédia, com Abbott and Costello Comics e contratou o primeiro artista afroamericano nos quadrinhos mainstream, Matt Baker. Além disso, foi pioneira na publicação do que chamou de “Picture Novel”, revistas em formato mais sofisticado e com orientação adulta – precursora das Graphic Novels.

A St. John contou com algumas hqs de terror, todas com pouca duração, como Strange Terrors (1952-1953), apenas 7 edições; Weird Horrors (1952-1953), com 9 edições; Amazing Ghost Stories (1954-1955), com apenas 3 edições; e Do you Believe in Nightmares (1957-1958), com apenas 2 edições; além da edição única House of Terror (1953), lançada em 3-D. Entre os artistas que passaram por essas publicações, destacam-se Dick Ayers, Bernard Baily e Joe Kubert.

A editora encerrou suas atividades com histórias em quadrinhos em 1958, continuando a publicar outros tipos de revista até 1967.

 

Star Publications (1949-1954)

A Star também foi uma editora que não durou muito, mas que teve alguns grandes talentos entre seus artistas, como Joe Kubert, Wally Wood e Frank Frazetta. Assim como boa parte das editoras nos anos 50, a Star também aproveitou a popularidade do gênero de terror no período para lançar seus próprios títulos (a maioria seguindo a partir de outras hqs de gêneros variados e mantendo a mesma numeração).

Os títulos de terror da Star foram Blue Bolt Weird Tales of Terror (1951-1953), que continuou a numeração da hq de aventura “Blue Bolt”, durando 9 edições e dando lugar a Ghostly Weird Stories (1953-1954), que durou apenas 5 edições; Shocking Mystery Cases (1952-1954), que se seguiu a partir de Thrilling Crime Cases e durou 11 edições; Startling Terror Tales (1952-1954), 8 edições; e The Horrors of Mystery (1953-1954), 5 edições.

Infelizmente, a Star foi uma das editoras que foi obrigada a encerrar suas atividades em consequência direta do advento do Comics Code Authority, em particular pelos títulos de algumas de suas revistas (termos como “terror” e “horror” haviam sido banidos pelo código).

 

Youthful Magazines (1949-1954)

Diferente da maioria das editoras do período, que publicavam super-heróis, um dos gêneros mais populares, a Youthful se especializou em hqs fora desse gênero, focando-se em faroeste, romance, humor, ficção científica e terror.

No gênero de horror, destaca-se Captain Science (1950-1951), uma hq de ficção cientifica e horror, que durou 7 edições, dando lugar a Fantastic (1952), que durou apenas 2 edições antes de dar lugar a Beware (1952), com 5 edições antes de se transformar em Chilling Tales (1952-1953), que finalizou a sequência com 5 edições. Apesar das renumerações constantes, a publicação seguiu sempre mantendo a numeração original. A Youthful encerrou as atividades em 1954.

 

Trojan Magazines (1950-1955)

Não há muita informação disponível sobre essa editora. Sabe-se que ela adquiriu alguns títulos da Youthful, entre elas Beware (1953-1955), que durou 15 edições na Trojan.

 

Key Publications (1951-1956)

Como era comum na época, a Key publicou quadrinhos sob diversos selos, entre eles Aragon Magazines, Gillmor Magazines, Medal Comics, Media Publications, S. P. M. Publications, Stanmor Publications e Timor Publications.

Nos anos 50, entrou na onda de hqs de terror, mas a maioria dos títulos não durou muito. Entre os artistas que passaram pela editora estavam Ross Andru e Bernard Baily. Mister Mystery (1951-1954) é provavelmente o título de terror mais duradouro da Key, com 19 edições. Outros títulos foram Weird Mysteries (1952-1954), com 12 edições; Weird Tales Of The Future (1952-1953), com 8 edições; Weird Chills (1954), com 3 edições; e Climax (1955), com apenas 2 edições.

 

Story Comics (1951-1955)

Outra editora do qual não consegui muitas informações, mas que publicou pelo menos 3 títulos de horror: Dark Mysteries (1951-1955), que durou 24 edições; Mysterious Adventures (1951-1955), que durou 25 edições; e Secret Mysteries (1955), que durou apenas 3 edições.

 

Comic Media (1952-1954)

Uma editora de vida curta, mas que também publicou hqs de horror no auge do gênero nos quadrinhos. Os títulos que merecem destaque são Horrific (1952-1954), que durou 13 edições e continuou por apenas uma edição como Terrific (1954) e Weird Terror (1952-1954), que também durou 13 edições.

O principal artista dos títulos da editora foi Don Heck, que após o fim da Comic Media seria contratado por Stan Lee para a Atlas Comics e que, mais tarde, ajudaria a criar a “Era Marvel”, junto com Lee, Kirby, Ditko e Dick Ayers. A Comic Media encerrou suas atividades apenas dois anos depois da sua fundação, vendendo seus títulos e personagens para a Charlton Comics.

 

I. W. Publishing/Super Comics (1958-1964)

Mais uma editora de vida curta, começou a publicar quadrinhos no fim dos anos 50. Era parte das Empresas I.W, cujo nome vinha do seu dono, Israel Waldman. Nos seus últimos anos de existência, publicou hqs sob o nome de Super Comics.

A editora é mais conhecida por ter publicado republicações não autorizadas de editoras falidas, especialmente da Quality. O que acontece é que Israel Waldman adquiriu uma gráfica que continha diversos materiais de produção de editoras variada. A maioria delas não existia mais, e alguns materiais nunca havia sido lançado. Waldman achou que ter comprado a empresa significava ter os direitos sobre todo esse material e saiu publicando material que, na prática, era não autorizado.

A I.W. também publicou hqs de terror, das quais pode-se destacar Eerie (1958), com apenas 3 edições; Strange Mysteries (1958-1964), com 8 edições; Eerie Tales (1963-1964), com 4 edições; Daring Adventures (1963-1964), com 8 edições; Fantastic Adventures (1963), com 7 edições; e Mystery Tales (1964), com apenas 3 edições.

A editora encerrou as atividades como “Super Comics” em 1964. Depois disso, Waldman juntou-se à Sal Brodsky para fundar a Skywald Publications.

 

Ziff Davis Publications (1927-)

Uma das mais antigas empresas citadas aqui, a Ziff Davis começou como uma editora que publicava revista dedicadas a hobbys diversos, como carros, fotografias e eletrônicos. A partir de 1938, a editora adquiriu as revistas Radio News e Amazing Stories e começou a publicar ficção. Mas foi nos anos 50 que a empresa se dedicou a publicar quadrinhos, tanto com seu próprio nome quanto com o selo Approved Comics.

As revistas, de diversos gêneros, não duraram muito, mas tiveram como diretor de arte Jerry Siegel. Entre os artistas notáveis que passaram pela Ziff Davis, podemos citar John Buscema, Bob Haney e Mort Leav.

No campo do terror, a editora publicou as edições únicas Eerie Adventures e Weird Adventures (1951); além das revistas Nightmare (1952), que durou apenas 2 edições; e Weird Thrillers (1951-1952), que durou 5 edições.

A Ziff Davis existe até hoje e atualmente também é dona de estações de televisão, além de produzir conteúdo para internet.

 

Existem ainda diversas outras publicações e editoras que publicaram material avulso ou com poucos números, como Journey into Fear (1951-1954, Superior Publishers Limited); Tales of Horror (1952-1954, Toby/Minoan); Tormented (1954, Sterling); Tense Suspense (1958-1959, Fago Magazines); Ghost Stories (1962-1963, Dell Comics / Western Publishing). Infelizmente, não dá para dar conta de todos os títulos e editoras, mas espero que estas duas matérias tenham conseguido ao menos ajudar na contextualização do mercado no período, especialmente em relação ao gênero de terror.

 

Nota: Por motivos de força maior, esta coluna vai dar uma pousa por tempo indeterminado. Mas não se preocupe: assim como a maior parte dos monstros das histórias de terror, a coluna retornará em algum momento.

 

Curiosidades:

– Os personagens da Quality comprados pela DC divididos em duas terras: uma semelhante à terra-1, com personagens como Homem Borracha, Kid Eternidade e Os Falcões Negros, e outra chamada Terra-X, radicalmente diferente, onde Hitler ganhou a Segunda Guerra e os Combatentes da Liberdade são a única linha de defesa contra os nazistas. Uma versão dessa terra foi vista no crossover de 2017 das séries da DC no CW (não por acaso chamada de “Crise na Terra-X”);
– Quando adquiriu a revista This Magazine is Haunted, da Fawcett, a Charlton tentou seguir o estilo da revista, mantendo inclusive seu anfitrião, Doctor Death. Infelizmente, os censores do Comics Code achavam o anfitrião macabro demais, então a editora teve que substituí-lo por uma versão amenizada, chamada de Doctor Haunt – que era visualmente humano, diferente da versão original, mais macabra;
– O primeiro trabalho publicado de Steve Ditko (embora tenha sido o segundo produzido por ele) foi para a Gilmor Magazines, da Key.

 

Edições anteriores:

50 – Editoras da era de ouro do horror (parte 1)

49 – The Heap, o pai dos monstros do Pântano

48 – Criadores de Terror: Steve Ditko

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #50 – Editoras da era de ouro do horror (parte 1)

Os quadrinhos de terror já passaram por muita coisa, especialmente no ocidente – e em particular nos EUA. Mas o gênero conseguiu sobreviver mesmo durante seu período mais sombrio, onde a censura reinava suprema. E, no anos 50, com a explosão das hqs de horror, não foi só editoras como Marvel, DC e EC que exploraram o gênero. Nesta edição, vamos conhecer um pouco sobre outras editoras que também fizeram parte da história dos quadrinhos de terror nos EUA.

Fiction House (1921-1955)
Mais lembrada por ser uma editora de hqs pulp, a Fiction house navegou por diversos gêneros durante sua existência, mas ficou popular pelas capas pin-ups (conhecidas nos EUA por “Good Girl Art”), especialmente nas histórias de sua personagem mais popular, Sheena, Queen of the Jungle. Mas a Fiction House também publicou hqs de horror, das quais duas se destacam Ghost Comics (1951-1954), que durou 11 edições, e Monster (1953), que durou apenas 2 edições (a primeiro intitulada “Monster”, a segunda, “The Monster”).

Apesar das capas apelativas, uma das características que diferenciava a Fiction House de outras editoras da época era o destaque para protagonistas femininas fortes e eficientes que tinham o comando das situações (como mencionado por Trina Robbins). Infelizmente, a veia relativamente feminista da editora não impediu que suas hqs fossem alvo do psiquiatra Frederic Wertham no livro A Sedução do Inocente. A perseguição às hqs criminais e de horror e que figuravam mulheres atraentes, aliada à ascensão da televisão, acabou colocando a Fiction House fora do mercado em 1955.

 

Better/Nedor/Standard/Pines (1936-1959)
Fundada originalmente em 1936 por Ned Pines, a Standard Comics era uma editora guarda-chuva que contava também com a Better Publications e Nedor Publishing (por isso é conhecida coletivamente como Better/Nedor/Standard).

Merecem destaque entre as hqs de horror da Better/Nedor/Standard: Adventures into Darkness, Out of the Shadows e The Unseen (1952-1954), que tiveram entre seus artistas Alex Toth, Ross Andru e Jack Katz. As duas primeiras duraram 10 edições, enquanto a última durou 11. O grupo encerrou as atividades oficialmente em 1956, mantendo apenas dois títulos sob o nome de Pines Comics, que durou até 1959.

 

Fawcett Comics (1938-1980)
Mais conhecida por ser a editora original das aventuras do Capitão Marvel e sua família, a Fawcett Comics foi a divisão de quadrinhos da Fawcett publications, editora que existira desde 1919. Começou a publicar quadrinhos a partir de 1939 e, além dos super-heróis, também teve sua cota de quadrinhos de terror.

Entre as publicações da Fawcett, destacam-se This Magazine is Haunted (1951-1953), que durou 14 edições e sobreviveu ao fim da editora, na Charlton; Strange Suspense Stories, Beware! Terror Tales e Worlds of Fear (1952-1953), que duraram 5, 8 e 9 edições, respectivamente; além das edições únicas Worlds Beyond (1951) e Unknown World (1952).

Apesar de ter sido uma das editoras mais populares durante a era de ouro dos quadrinhos, a queda de vendas do mercado, aliada ao processo enorme que recebeu por parte da National Comics (futura DC Comics, que alegava que o Capitão Marvel era uma violação de direitos autorais por ser um plágio do Superman) acabou forçando a Fawcett a encerrar suas atividades em 1953. Alguns títulos foram vendidos para a Charlton e, nos anos 70, a DC Comics adquiriu os direitos do Capitão Marvel (atualmente Shazam), que mais tarde compraria definitivamente. Nos anos 60, a editora retornou publicando principalmente hqs do personagem Dennis, o Pimentinha, mas sem o mesmo sucesso de outrora.

 

American Comics Group/ACG (1939-1967)
Fundada por Benjamin W. Sangor e Fred Iger, a American Comics Group passou a usar o nome ACG a partir de 1943 e publicou hqs dos mais diversos gêneros, incluindo horror. A editora publicou algumas das revistas continuadas de maior duração do período, além de ser responsável pela publicação que é considerada a primeira hq regular de antologia dedicada exclusivamente ao horror, Adventures into the Unknown (1948-1967), que teve vida longa, totalizando 147 edições.

Outras hqs da ACG incluem Forbidden Worlds (1951-1967), que durou 145 edições; Skeleton Hand in Secrets of the Supernatural (1952-1953), que durou apenas 6 edições; Out of the Night (1952-1954), que durou 17 edições, sendo substituída por The Hooded Horseman; e edição única The Clutching Hand (1954).

A ACG foi uma das poucas editoras que sobreviveu às audiências do Senado de 1954 que consolidaram o Comics Code Authority, conseguindo inclusive manter a publicação de títulos como Adventures into the Unknown – embora com conteúdo bem mais diluído. A editora encerrou as atividades em 1967.

 

Ace Magazines (1940-1956)
Desde 1928, a A. A. Wyn’s Magazine Publishers publicara revistas pulp e, em 1940, seus líderes fundaram a Ace Magazines e começaram a publicar também hqs de diversos gêneros, mas especialmente super-herói e horror.

Entre as hqs de horror publicadas pela editora, destacam-se Challenge of the Unknown (1950), que durou apenas uma edição, mas deu lugar para The Beyond (1950-1955), que durou 30 edições; Hand of Fate (1951-1955), surgida após o fim da revista Men Against Crime, que durou 19 edições; Web of Mystery (1951-1955), que totalizou 29 edições; e Baffling Mysteries (1951-1956), que continuou com o fim da revista Indian Braves e, ao fim de 26 edições, transformou-se na revista Heroes of the Wild Frontier.

A Ace Magazines encerrou as atividades em 1956, vítima do Comics Code e da censura aos quadrinhos de horror da época.

 

Ajax-Farrell (1940-1958)
Farrel é o nome “guarda-chuva” de uma série de editoras, entre elas o selo Ajax, que publicava principalmente hqs de horror. A maior parte dessas hqs era produzida pelo S.M. Iger Studio, de Jerry Iger (não era parente do dono da ACG), parceiro de Will Eisner e co-fundador da Eisner & Iger, estúdio que produzira hqs sob demanda para editoras diversas entre os anos 30 e 40.

Entre as hqs da Ajax, vale destacar a antologia Haunted Thrills (1952-1954), que teve longa duração e totalizou 18 edições; Dark Shadows (1953-1954), uma antologia mista, que não publicava apenas horror, mas também aventura, crime e fantasia, e que durou apenas 3 edições; Voodoo (1952-1955), a hq de horror mais duradoura da editora, totalizando 19 edições; Strange Fantasy (1952-1954), com 14 edições; Fantastic Fears (1953-1954), uma antologia que durou 9 edições, depois se tornou Fantastic Comics (1954), que misturava também sci-fi e durou apenas 2 edições; Midnight e Strange (1957-1958), com apenas 6 edições publicadas; e Strange Journey (1957-1958), com apenas 4 edições.

A editora praticamente parou de publicar hqs de horror lá por 1955, tentando retomar o gênero em 1957, com histórias remasterizadas para se encaixar nos critérios do Comics Code, mas o resultado foram histórias incoerentes que não conseguiram conquistar vendas. A Farrell encerrou as atividades cmpletamente em 1958.

 

Avon Periodicals (1941-)
Criada em 1941 pela American News Company (a maior distribuidora de impressos dos EUA na época) para ser rival da editora Pocket Books, a Avon se dedicou a publicar histórias com apelo popular na época, ou seja, narrativas criminais sensacionalistas, histórias de fantasmas, entre outros. A partir de 1945, começou a publicar também histórias em quadrinhos de diversos gêneros, como horror, ficção científica, romance, guerra e animais engraçados.

A primeira hq de horror da editora foi uma edição única (one-shot) chamada Eerie, hoje considerada a primeira hq americana dedicada exclusivamente ao gênero de horror. Entre os artistas que participaram da hq estava um iniciante Joe Kubert. Eerie retornou em 1951, dessa vez como revista seriada, durando até 1954 e totalizando 17 números.

A Avon publicou diversas outras edições únicas, a maioria antologias que usavam o título de uma das histórias como título da hq, entre elas Attack on Planet Mars (1951), uma adaptação (não autorizada) do romance “Tarrano the Conquerer”, que tinha arte de Joe Kubert, Carmine Infantino e Wally Wood; Phantom Witch Doctor (1952), com quatro contos em hq e duas em texto; City of the Living Dead (1952); Dead Who Walk (1952); Flying Sauders (1952), com arte de Wally Wood; e Night of Mystery (1953), também com quatro contos em hq e duas em texto.

Além das edições únicas, a editora também publicou Strange Worlds (1950-1955), antologia sci-fi de suspense/horror que durou 14 edições, e Witchcraft (1952-1953), que durou apenas 6 edições. Embora exista até hoje (tendo se transformado em um selo da editora HarperCollins), a Avon só publicou quadrinhos até cerca de 1955.

 

Prize/Crestwood/Feature (1940-1968)
A história desta editora (cujo nome guarda-chuva era Crestwood, também conhecida como Feature Publications) começou com a Prize Publications, que publicava a revista pulp Prize Comics. A partir da edição de número 7 (1940) da revista, Dick Brifer estreou uma história seriada de 8 páginas chamada “New Adventures of Frankenstein”, baseada na clássica história de Mary Shelley. Essa releitura é considerada a primeira história seriada de horror no quadrinhos. A história deu origem a uma revista própria, Frankenstein (1945-1954).

Outra hq da Prize que merece destaque é Black Magic (1950-1961). Essa antologia de horror era produzida pelo estúdio de Joe Simon e Jack Kirby e tinha como característica um horror mais na linha “suspense psicológico”, sem cenas explícitas. A hq durou 50 edições, dando lugar à hq de humor Cool Cat por mais 3 edições. Outra hq de horror da Prize foi Strange World of Your Dreams (1952-1953), que durou apenas 4 edições.

A Crestwood/Prize parou de publicar quadrinhos em 1963 e seguiu publicando revistas de romance até 1968. Suas propriedades intelectuais foram compradas pela DC Comics.

 

Bem, a ideia era fazer um único post, mas a matéria ficou grande demais, então tive que dividi-la em duas. Mês que vem tem mais.

 

Curiosidades:

– Diversas históias da Ace Magazines foram usadas como exemplos de imagens violentas e agressivas demais nas audiências do Congresso americano que investigou a influência dos quadrinhos na delinquência juvenil e que levou ao Comics Code Authority, incluindo Challenge of the Unknown #6, Crime Must Pay the Penalty #3 e Web of Mystery #19. Western Adventures Comics #3 foi usado como exemplo no livro A Sedução do Inocente;
– Embora personagens com os mesmos nomes dos personagens da Ace apareceram em outros lugares (como Captain Victory, do Jack Kirby e diversos personagens da DC chamados Black Spider), os personagens da Ace propriamente ditos só foram reutilizados em 2008 pela Dynamite, durante o “Project Superpowers”, que trazia diversos personagens considerados de domínio público;
– A American News Comic (que fundou a Avon Periodicals) dominava o mercado de distribuição desde o século 19. Tanto seu abrupto encerramento causou uma grande turbulência no segmento editorial americano, forçando muitas editoras de revistas, livros e quadrinhos a fecharem;
– A capa de Challenge of the Unknown foi usada na primeira edição da brasileira Terror Negro, quando a hq deixou de ser uma revista de super-herói protagonizada pelo personagem homônimo para se tornar uma antologia de horror;
– Depois de 1957, quase todas as hqs da ACG eram escritas pelo editor Richard E. Hughes usando uma variedade de pseudônimos;
– O personagem mais conhecido publicado pela Nedor provavelmente é o Terror Negro que, apesar do nome, não é uma personagem de terror, e sim um super-herói. No entanto, no Brasil, o Terror negro emprestou seu nome para a primeira publicação regular de terror brasileira;
– Outros personagens da Better/Nedor/Standard foram usados por Alan Moore nas histórias de Tom Strong. E nomes como American Eagle, Grim Reaper e Wonder Man foram usados, mais tarde, pela Marvel, em personagens diferentes;
– The New Adventures of Frankenstein, publicada em Prize Comics (Prize/Crestwood) durou como série de terror até 1945, quando se tornou uma série de humor (ales mantiveram as histórias do personagem, mas passaram a escrever como comédia), até ser revivido em 1952, novamente como uma série de terror;
– A revista Black Magic foi um dos primeiros trabalhos de Steve Ditko nos quadrinhos.

 

Edições anteriores:

49 – The Heap, o pai dos monstros do Pântano

48 – Criadores de Terror: Steve Ditko

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #48 – Criadores de terror: Steve Ditko

O Sarjeta do Terror deste mês homenageia um dos artistas mais influentes dos quadrinhos: Steve Ditko. Mais conhecido por sua passagem na Marvel, Ditko também deixou sua marca nos quadrinhos de terror.

No dia 29 de Junho, o mundo dos quadrinhos ficava sabendo que Steve Ditko havia falecido. Recluso e com valores pessoais bastante fortes, Ditko estava fora do circuito “mainstream” dos quadrinhos há muito tempo, mas sua influência nunca deixou de ser sentida. Apesar de ser mais conhecido como co-criador do Homem-Aranha e de personagens como O Questão e Doutor Estranho, Steve Ditko sempre navegou, de uma forma ou de outra, pelo terror. É por isso que a coluna de hoje homenageia este monstro das Hqs.

Steve Ditko nasceu no dia 2 de novembro de 1927, na cidade de Johnstown, Pensilvânia. Filho de dois descendentes ucranianos, um carpinteiro e uma dona de casa. Ditko era um dos quatro filhos em uma típica família de classe trabalhadora americana e seu interesse pelos quadrinhos veio desde cedo. Seu pai era fã das páginas de quadrinhos publicadas nos jornais (especialmente O Príncipe Valente, de Hal Foster), mas foi com o surgimento de Batman e Spirit que seu gosto pela mídia realmente floresceu.

Mesmo jovem, Ditko era uma espécie de herói em seu próprio mérito: no ensino médio, construía modelos de madeira de aviões alemãs para ajudar civis que vigiavam aeronaves; após a faculdade, se alistou no exército e prestou serviço na Alemanha pós-guerra, inclusive fazendo quadrinhos para um jornal do exército.

Depois de sair do exército, já nos anos 50, Ditko se mudou para Nova York para poder ter aulas com seu ídolo, Jerry Robinson (mais conhecido por seu trabalho com Batman). Isso foi possível graças à uma lei americana, que ajudava a facilitar o retorno à vida cotidiana de veteranos da Segunda Guerra. Robinson frequentemente levava pessoas da indústria para falar com os alunos; um deles foi Stan Lee, na época editor da Atlas Comics – precursora da Marvel.

O primeiro trabalho de Steve Ditko já tinha um pé no horror. Curiosamente, só foi publicado bem mais tarde, na edição número 5 da revista Fantastic Fears, da Ajax/Farrell. Isso fez com que seu primeiro trabalho publicado fosse, na verdade, seu segundo trabalho produzido – publicado na primeira edição da revista Daring Love, da Gilmor Magazines.

Os primeiros trabalhos de Ditko: a história “Stretching Things”, para Fantastic Fears #5 (1954), e “A Hole in His Head”, para Black Magic #27 (vol. 2 #3, 1953).

Não demorou muito para ele conseguir trabalho no estúdio de Joe Simon e Jack Kirby, que haviam criado o Capitão América na década anterior. Lá, Ditko começou como arte-finalista dos cenários e passou a trabalhar com outro de seus ídolos, Mort Meskin. Entre as revistas nas quais trabalhou, estavam a publicação de horror e suspense de Simon e Kirby chamada Black Magic.

Em 1953, Ditko iniciou uma longa parceria com a Charlton Comics, que durou até o fim da empresa. Seu primeiro trabalho foi a arte de uma história para a revista de horror The Thing, mas logo seu trabalho se espalharia também para as revistas This Magazine is Haunted, Tales of the Mysterious Traveler, Space War e Out of This World.

Além dos super-heróis, Ditko trabalhou também nas revistas de horror, suspense e fantasia da Chalrton Comics.

Ditko começou a trabalhar na “Marvel” ainda na época da Atlas , quando revistas como Journey Into MysteryTales of Suspense, Tales to Astonish e Strange Tales ainda eram revistas mais no formato de antologia e sem os super-heróis que conhecemos. Além dessas revistas, ele também trabalhou em Amazing Adventures e Strange Worlds.

Mas é claro que a realização mais lembrada de Ditko na Marvel envolve um certo cabeça de teia, em 1962. Conta a história que Stan Lee, após conseguir autorização do editor Martin Goodman para criar um super-herói adolescente baseado numa aranha, procurou seu parceiro habitual, Jack Kirby, para a tarefa. O resultado, no entanto, não agradou Lee, que achou o Homem Aranha do Kirby heroico demais. Então ele se voltou para Steve Ditko, que criou o visual e estilo que agradou Lee. Além do próprio Homem-Aranha, Ditko também colaborou com Stan Lee na criação de alguns vilões do personagem, como Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro e Duende Verde.

Revistas da Atlas/Marvel Comics que Ditko trabalhou. Algumas delas introduziriam, mais adiante, super-heróis como Thor, Homem de Ferro, Homem Formiga e Doutor Estranho – este último criação do artista.

Após o Homem-Aranha, Ditko foi trabalhar com Lee na revista do Incrível Hulk e, quando encerrou suas atividades na revista, criou para Strange Tales o Doutor Estranho. Foi com esse personagem que o artista mostrou sua versatilidade estética e suas habilidades no design de imagens que remetiam ao surrealismo e basicamente antecipou a cultura psicodélica que viria mais adiante.

Depois de 1966, Ditko saiu da Marvel por questões internas que podem ser deixadas de lado nesse texto, e seguiu apenas na Charlton. A Charlton pagava menos, mas seus artistas tinham mais liberdade criativa. Ali, Ditko trabalhou em personagens como Besouro Azul, além de ter criado O Questão e co-criado o Capitão Átomo. Apesar do trabalho nas publicações de super-herói, Ditko seguiu nas hqs de horror, suspense e sci-fi da editora, como Ghostly Tales from the Haunted House, The Many Ghosts of Doctor Graves, Space Adventures e Ghost Manor, além de histórias de guerra, faroeste e românticas. Nessa época, Steve Ditko também trabalhou, ainda que por um curto período, para a DC Comics, onde foi o co-criador do personagem Rastejante e da dupla Rapina e Columba.

Ditko trabalhou na Charlton de forma intermitente até o encerramento da editora, nos anos 80, e sua subsequente compra pela DC Comics.

Em 1967, Ditko criou Mr. A para a revista independente do artista Wally Wood, Witzend. Personificando suas crenças no Objetivismo, as histórias giravam em torno de um repórter que também combatia o crime com a identidade de Mr. A, um vigilante de terno, gravata e chapéu que usava luvas e uma máscara metálica. O autor seguiu publicando histórias de Mr. A de forma independente pelos mais diversos meios até o fim dos anos 70, retornando brevemente ao personagem em 2000 e 2009.

No final dos anos 60, o artista também trabalhou para a Warren Publishing. Foram ao todo 16 histórias que alguns consideram os melhores trabalhos do artista: “The Spirit Of The Thing”, “Beast Man”, “Blood Of The Werewolf”, “Second Chance”, “Where Sorcery Lives”, “City Of Doom”, “The Sands That Change” e “Collector’s Edition”, publicadas na Creepy, e “Room With A View”, “Shrieking Man”, “Black Magic”, “Deep Ruby”, “The Fly”, “Demon Sword”, “Isle Of The Beast” e “Warrior Of Death”, publicadas na Eerie.

Na primeira metade dos anos 70, Ditko trabalhou quase que exclusivamente com a Charlton, dividindo seu tempo apenas com algumas editoras pequenas e independentes. Em 1975, Ditko retornou à DC e permaneceu por um período mais longo, onde criou o personagem Shade (que apareceu no Esquadrão Suicidade do John Ostrander e mais tarde seria reformulado, sem seu envolvimento, para o selo Vertigo), co-criou a minissérie Stalker com Paul Levitz, trouxe de volta personagens que estavam no limbo como o Rastejante e Etrigan e desenhou uma minissérie do Morcego Humano, além de ter sido artista convidado em séries como Legião dos Super-heróis e Adventure Comics. Em 1979, retornou à Marvel para substituir Jack Kirby na revista do Homem Máquina. Ali também desenhou os Micronautas e Capitão Universo. Seguiu como freelancer para a editora até os anos 90.

Algumas das histórias que o artista desenhou para Creepy e Eerie, da Warren, no fim dos anos 60.

Nos anos 80, Ditko seguiu fazendo trabalho freelancer para editoras independentes. Para a Pacific Comics, trabalhou em Captain Victory and the Galactic Rangers, introduzindo o personagem Missing Man, que apareceria depois na revista Pacific Presents, e em Silver Star, onde criou o personagem The Mocker. Além disso, trabalhou nas revistas Eclipse Monthly (Eclipse Comics), Warp (First Comics) e The Fly (o selo de super-heróis de vida curta da Archie Comics).

Em 1992, Ditko trabalhou com o roteirista Will Murray em um dos seus últimos personagens originais para a Marvel: a Garota Esquilo, em Marvel Super-Heroes vol. 2 #8. Ainda nos anos 90, o autor trabalhou na one-shot The Safest Place in the World (Dark Horse) e Dark Dominion (Defiant Comics).

Em 1998, se aposentou oficialmente dos quadrinhos mainstream. Seu último trabalho para editoras grandes foi uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC, que era para ser lançada na série do Órion no início dos anos 2000, mas que só foi publicado em 2008.

Após sua aposentadoria oficial do mainstream, o trabalho do autor se tornou intermitente. Sempre rejeitando aparições públicas, acreditando que seu trabalho deveria falar por si, Steve Ditko se isolou do mundo em seu estúdio, sem nunca realmente deixar de fazer quadrinhos. Pessoas mais próximas a ele dizem que, aos 90 anos (idade de sua morte), ele seguia produzindo quadrinhos em seu estúdio, onde foi encontrado.

Steve Ditko deixa um legado insubstituível, não só pelo seu estilo inconfundível, mas também pela criatividade no design e na narrativa das páginas, além de personagens únicos criados ao longo das décadas.

 

Curiosidades:
– Ditko alegava que O Questão é uma versão aceitável ao Comics Code do seu personagem independente, Mr. A;
– Se você ainda não ouviu, confira o ArgCast! feito em homenagem ao autor;
– Em 2007, a BBC lançou o especial “em busca de Steve Ditko”, em que o jornalista Johnatan Ross, com a ajuda de Neil Gaiman, tentam encontrar o artista. O programa está disponível no youtube, mas deixo aqui a parte final, onde eles vão até o estúdio do autor (em inglês, sem legendas).

Edições anteriores:

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #47 – 30 Dias de Noite

Nesta edição de Sarjeta do Terror, conheça mais sobre 30 Dias de Noite, hq de vampiros criada por Steve Niles e seu universo expandido.

Imagine viver em um lugar onde, uma vez por ano, o sol nunca se põe durante 30 dias. Imagine que, uma vez por ano, uma cidade vive em total escuridão durante um mês inteiro. Imagine essa cidade sendo no meio do gélido Alaska. Só isso já seria motivo suficiente para ser um local triste, desolador – e apavorante. Agora adicione vampiros sanguinários e nem um pouco simpáticos para com os humanos e temos o tema do post de hoje.

30 Days of Night (30 Dias de Noite) foi uma minissérie de 2002 publicada originalmente pela IDW Publishing em 3 edições, escrita por Steve Niles e desenhada por Ben Templesmith e cuja história se passa, em sua grande maioria, na cidade de Barrow, Alaska, onde uma vez por ano o sol não nasce durante um mês. Mas o que para os habitantes dessa pequena cidadezinha é uma ocorrência natural acabará por se tornar seus maiores pesadelos quando uma horda de vampiros decide aproveitar o tempo sem a luz do sol para poderem se alimentar de toda a cidade. Caberá aos habitantes, liderados pelo xerife da cidade, Eben Olemaun e sua esposa, Stella, tentarem sobreviver até o sol nascer novamente.

Com essa premissa, Niles criou todo um mundo de personagens que se seguiram em outras minisséries, antologias e edições especiais, criando um universo compartilhado com personagens que se cruzam diversas vezes – quase como um Sin City com vampiros. As histórias navegam principalmente entre o Alaska e Los Angeles, mas diversos outros cenários foram explorados – teve até vampiro no espaço e crossover com uma famosa dupla de agentes do FBI.

 

Dark Days (2003)
Sequência direta da minissérie original e também produzida por Niles e Templesmith, Dark Days se estende por 6 edições e acompanha Stella Olemaun após sobreviver ao ataque em Barrow. Após publicar um livro contando o ataque, ela tenta espalhar a informação dando palestras. Mesmo após se livrar do ataque de um vampiro em uma das suas palestras, ninguém acredita em suas histórias – e até sua editora coloca os livros dela como ficção. Mesmo assim, A comunidade vampírica de Los Angeles coloca Stella no seu radar. A história ainda mostra a personagem se aliando a um vampiro na esperança de poder trazer seu marido, Eben, de volta. Stella é bem sucedida, mas o Eben que retorna talvez não seja exatamente o marido que ela conhecia. Dias Sombrios também introduz Norris, um vampiro agente do FBI.

 

30 Dias de Noite Annual (2004)
Edição única, este anual é uma antologia com 4 histórias curtas escritas por Steve Niles e ilustrada por diferentes artistas. As histórias são:

“The Book Club”, desenhada por Ben Templesmith, que acompanha um clube do livro que discute a obra de Stella Olemaun;
“The Hand That Feeds”, desenhada por Szymon Kudranski, que mostra o vampiro Dane buscando um transplante de mão de um excêntrico doutor;
“Agent Norris: MIA”, desenhada por Brandon Hovet, que mostra a transformação do agente Norris de um “comedor de insetos” em um completo vampiro; e
“The Trapper”, desenhado por Josh Medors, que introduz John Ikos, um residente de Barrow que se tornou um caçador de vampiros.

 

Return to Barrow (2004)
Apesar de ser também uma sequência do original, assim como Dias Sombrios, Retorno a Barrow é protagonizada por Brian Kitka, irmão de uma das vítimas do ataque original. Kitka, agora xerife na cidade depois que se mudou para lá com o filho para investigar a morte do irmão, é cético quanto às alegações de um ataque vampírico, mas terá que defender a cidade com a ajuda de John Ikos. A minissérie tem 6 edições e conta com o retorno de diversos personagens da história original, incluindo Eben e Stella (cuja situação deixada em aberto em Dias Sombrios será revelada apenas mais adiante).

 

 Bloodsuckers Tales (2004)
Esta é a primeira hq de 30 Dias de Noite que conta com outros roteiristas além de Steve Niles. Consiste em 8 edições que contam duas histórias diferentes:
“Dead Billy Dead”, por Steve Niles (roteiro) e Kody Chamberlain (arte), é sobre um jovem chamado Billy, que é transformado em vampiro e depois sequestrado junto com sua namorada por um cientista obcecado por vampiros; e
“Juarez or Lex Nova and the Case of the 400 Dead Mexican Girls”, por Matt Fraction (roteiro) e Ben Templesmith (arte), é sobre o desaparecimento de centenas de garotas em Juarez, México, ao mesmo tempo em que uma família circense chega à cidade, acreditando que as mortes são causadas por um vampiro.

 

Um novo anual (2005)
Esta edição única é uma história longa de 48 páginas intitulada “The Journal of John Ikos” e conta a história de John Ikos deixando Barrow e indo para Los Angeles na busca pelo agente Norris. Lá, ele encontra Billy (da minissérie anterior) e Dane, e acaba cruzando o caminho de uma gangue de vampiros. Foi escrita por Steve Niles e desenhada por Nat Jones.

 

Dead Space (2006)
Escrita por Steve Niles e Dan Wickline e desenhado por Mahathir “Milx” Buang, esta minissérie em 3 edições explora uma missão da NASA feita com o intuito de restaurar a confiança da população após uma trágica missão anterior. Dentro da nave, no entanto, está um convidado inesperado com sede de sangue, literalmente.

 

Spreading the Disease (2006)
Esta nova série, em 5 edições, acompanha o agente Michael Henson, da história anterior, que foi exilado no Alabama por tentar convencer as pessoas de que a ameaça vampírica vista em Dead Space é séria. Lá, é contatado por uma pessoa misteriosa que sugere que a pergunta “porque alguém iria querer colocar um vampiro no espaço” ainda precisa ser respondida. Assim, Henson decide investigar e acaba descobrindo uma situação muito mais perigosa. A minissérie é escrita por Dan Wickline e desenhada por Alex Sanchez.

 

Eben and Stella (2007)
Esta minissérie em 4 edições finalmente explica o que aconteceu entre Dias Sombrios e Retorno à Barrow, onde Stella trouxe Eben de volta, mas transformado em vampiro e prestes a atacá-la. Ficamos sabendo que Eben transformou Stella em vampiro e o que aconteceu antes do que foi visto em Retorno à Barrow. Foi escrita por Steve Niles e Kelly Sue DeConnick e desenhada por Justin Randall.

 

Red Snow (2007)
Publicada originalmente em 3 edições, esta minissérie volta no tempo e mostra vampiros durante a Segunda Guerra. Mesmo com o fracasso da Operação Silver Fox de Hitler, a Guerra continua na Rússia e um diplomata britânico ajuda os russos a garantir que suprimentos cruciais cheguem até o país. Mas existe algo mais sombrio lá fora, e não são os nazistas. Esta história foi escrita e desenhada por Ben Templesmith.

 

Beyond Barrow (2007)
Depois de anos de ataques e diversos anos sem nenhum, os cidadãos de Barrow se unem contra ataques aleatórios em sua cidade. Infelizmente, o mesmo não se aplica fora de Barrow ou o resto do misterioso círculo ártico. Publicada originalmente em 3 edições, foi escrita por Steve Niles e desenhada pelo veterano Bill Sienkiewicz.

 

30 Days ‘Til Death (2008)
Os eventos de Barrow se espalharam pelo mundo, gerando um esquadrão da morte de anciãos que quer “emagrecer o rebanho” dos vampiros mais jovens e problemáticos da América. Em meio a isso, Rufus tenta se manter escondido conseguindo um cachorro, uma namorada, fingindo que gosta de seus vizinhos e fazendo de tudo para esconder sua insaciável sede de sangue. Esta minissérie em 4 edições foi escrita e desenhada por David Lapham.

 

Night, again (2011)
Escrita por Joe R. Lansdale e desenhada por Sam Kieth, esta minissérie em 4 edições acompanha um grupo de sobreviventes de um ataque secundário no Alaska que encontra uma instalação de mudança climática durante os últimos dias do longo período de luz do dia. Lá, os cientistas tentam descobrir a natureza de um estranho objeto encontrado no gelo, ao mesmo tempo em que lidam com os sobreviventes e o inevitável confronto com vampiros. Até agora, Night, again foi a última história original da série.

 

No Brasil
Por aqui, a editora Devir publicou diversos encadernados contendo uma ou mais histórias da série. Além do 30 Dias de Noite original, foram lançados também Dias Sombrios (Dark Days), Contos de Terror (que compila as histórias The Journal of John Ikos, Dead Space e Picking Up the Pieces – conto originalmente publicado na antologia IDW’s Tales of Terror), Retorno à Barrow (Return to Barrow), Eben e Stella e Neve Rubra (Red Snow).

 

Outros dias de noite

Arquivo X/30 Dias de Noite
Em 2010, Wildstorm e IDW publicaram um crossover entre 30 Dias de Noite e os personagens da série Arquivo X. Nessa minissérie em 6 edições escrita por Steve Niles e Adam Jones e desenhada por Tom Mandrake, Mulder e Scully vão até o Alaska investigar uma série de assassinatos que podem estar ligados a vampiros.

 

Filmes
Em 2007 foi lançada uma adaptação cinematográfica da minissérie original. Produzida por Sam Raimi e dirigido por David Slade, é protagonizado por Josh Harnett e Melissa George, que interpretam, respectivamente, Eben e Stella. A história segue relativamente fiel às hqs, mas se passa basicamente em Barrow, sem mostrar elementos como os caçadores de vampiros e sem explicar muito sobre as criaturas.

Em 2010 foi lançada uma adaptação de Dias Sombrios. Com orçamento menor e direto para vídeo, o filme foi dirigido por Bem Ketai, que escreveu o filme junto com Steve Niles, criador da série de quadrinhos. Apesar se seguir como uma espécie de continuação do filme anterior, não trouxe de volta os mesmos atores para os papéis de Eben e Stella nem segue totalmente os quadrinhos.

Webseries
O serviço de vídeo por demanda FearNet lançou uma espécie de prequel do primeiro filme intitulado 30 Days of Night: Blood Trails. A história, em 7 episódios, se passa dois dias antes dos eventos do primeiro filme e mostra um jovem viciado que trabalha para uma caçadora de vampiros. A história é baseada num suplot da hq original que foi deixado de fora no filme.

Além de Blood Trails, também foi lançada 30 Days of Night: Dust to Dust, minissérie em 6 episódios que serve como sequência do primeiro filme. A história se passa um mês após os eventos do filme e acompanha uma enfermeira que é mordida por um vampiro e começa a lentamente se transformar em um.

Livros
Com o lançamento do filme, a IDW se uniu à Pocket Books para lançar livros com histórias originais dentro desse universo. Até agora, foram publicados, além da novelização do filme, 30 Days of Night: Rumors of the Undead, 30 Days of Night: Immortal Remains , 30 Days of Night: Eternal Damnation e 30 Days of Night: Light of Day, de Steve Niles e Jeff Mariotte; e 30 Days of Night: Fear the Dark by Tim Lebbon.

 

Curiosidades:
– Barrow, Alaska, realmente existe, mas não é verdade que ela passa 30 dias do ano sem o sol nascer ou se por. Quer dizer, o fenômeno realmente acontece, mas não na cidade de Barrow;
– Adam Jones, que escreveu o crossover com Arquivo X junto com Steve Niles, é também guitarrista da banda americana Tool.

 

Edições anteriores:

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #46 – Irmãs dos Contos da Cripta

Nesta edição de Sarjeta do Terror, conheça um pouco sobre The Vault of Horror e The Haunt of Fear, as revistas “irmãs” de Contos da Cripta que completavam a tríade de terror da E.C. Comics nos anos 50.

Apesar do nome “Tales from The Crypt” ter se tornado mais popular entre o público geral (especialmente porque foi usado tanto para uma adaptação cinematográfica inglesa nos anos 70 quanto pela clássica série), as revistas de horror da E.C. Comics eram uma tríade formada também pelas revistas The Vault of Horror e The Haunt of Fear. Ambas tinham também seus apresentadores de horror, embora, na prática, todos eles transitariam entre revistas, não sendo exclusivos de sua própria publicação. Além disso, assim como “Tales…”, “The Vault…” e “The Haunt…” também surgiram de outras revistas, com um histórico complexo de numeração que confunde qualquer colecionador.

Por questões de permissões de envio pelos correios, “resetar” uma revista, ou seja, recomeçar sua numeração, geraria custos extras. Por isso, para economizar dinheiro, Al Feldstein, quando criou as três revistas, simplesmente alterou os nomes, mantendo a numeração da revista original e renumerando algumas delas apenas mais tarde – o que acaba causando certa confusão hoje em dia e causando certo desespero nos colecionadores com TOC.

 

The Vault of Horror

Assim como Tales From The Crypt, que herdou a numeração da revista Crime Patrol, The Vault of Horror foi antes a revista criminal War Against Crime (1948). Em seus últimos números Feldstein e William Gaines começaram a experimentar com o gênero de terror e decidiram por transformar a revista. The Vault of Horror começou com a edição de número 12 (1950), embora houvesse a intenção de resetar a revista mais adiante (o que acabou não acontecendo). O brainstorm para as histórias era o mesmo de “Tales…”: Feldstein e Gaines liam uma porção de histórias de terror e criavam plots “trampolins”, que eram o ponto de partida para suas histórias. Assim, os contos tinham inspiração em autores como H.P. Lovecraft, Oscar Wilde, Carl Theodor Dreyer e Ray Bradbury, entre outros.

Embora não fosse muito fácil distinguir as revistas umas das outras, havia certa identidade em cada uma delas. Enquanto Tales from the Crypt tinha Wally Wood como artista principal (especialmente nas capas), The Vault of Horror tinha Johnny Craig que, além das capas, era responsável pela história principal de praticamente todas as edições lançadas. Além de Craig, Feldstein e Gaines, as histórias também contavam com os roteiristas Carl Wessler e Jack Oleck, com desenhos de artistas como Reed Crandall, George Evans, Jack Kamen, Wally Wood, Graham Ingels, Harvey Kurtzman, Jack Davis, Sid Check, Al Williamson, Joe Orlando, Bernard Krigstein, Harry Harrison and Howard Larsen.

Cada revista de terror da E.C. possuía seu apresentador de horror, embora eles aparecessem frequentemente na revista um do outro demonstrando certa rivalidade criada para efeito cômico. Em The Vault of Horror, o apresentador principal era The Vault Keeper (o “Guardião do Jazigo”, em tradução livre). The Vault Keeper apareceu pela primeira vez em War Against Crime #10 e, quando a revista foi renomeada, seguiu sendo seu apresentador. O personagem não era muito diferente, ao menos visualmente, do Guardião da Cripta. Era um inquisidor ancestral que usava manto e capuz e contava suas histórias de dentro de uma masmorra vazia. Apesar de ter tido um início mais sombrio, logo o personagem adquiriu tons mais humorísticos, onde entregava comentários irreverentes e cheios de trocadilhos para aliviar o tom sério das histórias que introduzia.

Embora tenha sido criado originalmente por Feldstein, foi Johnny Craig o artista que ficou mais associado com o personagem, tendo desenhado todas as histórias principais (com exceção de duas) e também as aparições do apresentador de horror nas outras revistas.

Nas últimas 4 edições, o Guardião do Jazigo foi acompanhado de outra apresentadora de horror: Drusilla. Introduzida pelo Guardião do Jazigo na edição 37 de “Vault…”, Drusilla eram, na verdade uma bela mulher de cabelos negros, bastante semelhante à Vampira (considerada a primeira apresentadora de terror da televisão). Embora tenha aparecido ao lado do Guardião até a extinção da revista, Drusilla era mais uma personagem “decorativa”, uma vez que não tinha falas.

The The Vault of Horror teve o mesmo fim que suas revistas irmãs, por conta da perseguição aos quadrinhos criminais e de horror nos anos 50, seguido do advento do Comics Code Authority, A revista se encerrou no número 40, totalizando 29 edições.

 

The Haunt of Fear

A história de The Haunt of Fear começa com uma revista de humor da E.C. chamada Fat and Slat (1948). A revista durou apenas 4 edições mas, seguindo a estratégia de economizar dinheiro nos envios pelos correios (citadas anteriormente), a revista foi renomeada como Gunfighter (1948) e passou a contar com histórias de faroeste. Gunfighter durou mais do que Fat and Slat (9 edições) e se encerrou com o número 14. A partir do número 15 a revista foi mais uma vez renomeada, agora como The Haunt of Fear (1950), que completou a tríade de revistas de horror da E.C.

Assim como com Tales from the Crypt e The Vault of Horror, as histórias de The Haunt of Fear partiam dos plots “trampolins” de Feldstein e Gaines, inspirados pela shistórias de horror que liam. Assim, a revista contou com plots inspirados em autores como Bram Stocker, Edgar Alan Poe e Mark Twain, além de Ray Bradbury e H.P. Lovecraft. Os primeiros números de “Haunt…” foram 15, 16 e 17. Mas por exigência dos correios, a edição 18 teve que ser despachada como número 4. Ou seja, os três primeiros números de The Haunt of Fear são os números 15, 16 e 17, seguido das edições de número 4, 5, 6 e assim por diante.

Para dar a identidade e atmosfera do título, foi escolhido o artista Graham Ingels, que começou desenhando algumas histórias e, a partir do número 4, se tornou o desenhista principal da apresentadora de horror do título. A partir do número 11, se tornou o capista oficial da revista.

Além de Ingels, participaram de “Haunt…” diversos outros autores e desenhistas das outras revistas, entre eles Al Feldstein, Johnny Craig, Wally Wood, Harvey Kurtzman, Jack Davis, George Roussos, Harry Harrison, Joe Orlando, Sid Check, George Evans, Reed Crandall, Jack Kamen e Bernard Krigstein.

A apresentadora de terror de The Haunt of Fear era conhecida como “The Old Witch” (A Velha Bruxa). A personagem apareceu apenas na segunda edição de “Haunt…” (a primeira não teve nenhum apresentador), introduzindo a si mesma numa história desenhada por Jack Kamen. Não só a Velha Bruxa era, visualmente, a mais distinguível dos três “GhoulLunatics” (como era chamado o trio), mas também era a que mais aparecia em revistas. Além de estar presente em praticamente todas as edições de Tales from the Crypt, The Vault of Horror e The Haunt of Fear, a personagem também aparecia na história final de quase todas as edições da revista Crime Suspenstories (1950). The Haunt of Fear se encerrou, junto com suas irmãs, em decorrência do Comics Code Authority, totalizando 28 edições.

 

Em outras mídias

Quando adaptadas para outras mídias, as histórias de Tales from The Crypt, The Vault of Horror e The Haunt of Fear raramente eram distinguíveis umas das outras. A série de TV Contos da Cripta, da HBO, adaptou histórias vindas das três revistas. O mesmo aconteceu com o filme inglês “Tales From the Crypt”, produzido pela Amicus.

A Amicus também lançou uma sequência de seu filme antologia, intitulado “The Vault of Horror”. Curiosamente, nenhuma das histórias presentes foi adaptada da revista que inspirou o título do filme, e sim de Tales from the Crypt – com exceção de uma história, adaptada da revista Shock SuspenStories (1952).

O Guardião do Jazigo e a Velha Bruxa também acompanharam o Guardião da Cripta no desenho animado Tales from the Cryptkeeper, de 1993.

 

Curiosidades:

– Johnny Craig, artista de The Vault of Horror, também escrevia as histórias que desenhava, o que era bastante raro na E.C. A partir da edição 35, Craig se tornaria editor da revista;

– A revista de guerra Two-Fisted Tales “herdou” a antiga numeração de The Haunt of Fear, começando na edição 18, nunca tendo sido renumerada;

– Por conta da confusão de numeração com “Haunt…”, a revista acabou tendo duas edições com os números 15, 16 e 17;

– Uma das histórias da edição 17 que foi adaptada para o filme da Amicus, “Horror We? How’s Bayou?”, é considerada por muitos a história melhor ilustrada entre as de horror da E.C. O visual do maníaco homicida da história foi inspirado pelo filme mudo Dr. Jeckyll and Mr. Hyde (1920);

– A história mais controversa da E.C. foi “Foul Play”, de The Haunt of Fear #19 (1953). Escrita por Al Feldstein e desenhada por Jack Davis, mostrava um desonesto jogador de baseball sendo desmembrado e suas partes sendo usadas por seus assassinos para jogar baseball. Essa história foi um dos muitos exemplos usados por Fredric Wertham no seu livro “A Sedução do Inocente”;

– Os apresentadores das revistas de horror da E.C. apareciam frequentemente nas revistas um do outro, cada qual com seu respectivo “banner” de identificação. O Guardião da Cripta trazia histórias sob o banner “The Crypt of Terror”, enquanto que o Guardião do Jazigo tinha por banner “The Vault of Horror” e a Velha Bruxa “The Witch’s Cauldron”;

– O personagem da Velha Bruxa foi inspirada por “Old Nancy”, a bruxa de Salem que era apresentadora da série de rádio “The Witch’s Tale”, de Alonzo Deen Cole. A série foi ao ar entre 1931 e 1938.

 

Edições anteriores:

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

Neste Sarjeta do Terror, conheça mais da história de Contos da Cripta, a clássica antologia da E.C. Comics que rendeu diversas adaptações para outras mídias.


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os atos heroicos dos super-heróis deixaram de ser tão relevantes, fazendo com que a maior parte das HQs do gênero caíssem no esquecimento (o que causou o cancelamento de diversas séries, que só seriam retomadas uma década depois, com o advento da chamada Era de Prata dos Quadrinhos). No seu lugar, um espírito de cinismo e tensão (já caracterizando a Guerra Fria) se abateu sobre o povo americano, fazendo com que outro tipo de HQ se popularizasse, tornando-se um gênero à parte: as hqs de horror. É nesse contexto que surge a revista Tales from the Crypt (Contos da Cripta) que, junto com The Haunt of Fear e The Vault of Horror, formava a tríade de publicações bimestrais da EC Comics voltada para o terror.

As origens da revista Contos da Cripta (e de seu apavorante anfitrião, o Guardião da Cripta) remonta às hqs policiais publicadas pela EC Comics no fim dos anos 40, onde William Gaines (o grande nome da EC) e seu editor Al Feldstein começaram a experimentar o terror (gênero do qual gostavam muito) aos poucos nas histórias. Tais experimentações levaram à história “Return from the Grave”, na revista Crime Patrol, que era uma história de terror já nos moldes do que se veria mais adiante – e também apresentava pela primeira vez o Guardião da Cripta. Uma edição depois, Crime Patrol já contava com mais histórias de terror do que policiais, seu título foi alterado de Crime Patrol para “Tales from the Crypt of Horror”, mantendo seu formato original por mais 4 edições, até se tornar a revista de terror conhecida.

Apesar de ser oficialmente o anfitrião da revista, apresentando as histórias, o Guardião da Cripta também foi personagem em algumas delas, em aparições que revelavam alguns detalhes de sua biografia, como em Tales from the Crypt #33, cuja a história “The Lower Berth conta as circunstâncias do nascimento do personagem. Mas suas histórias também foram publicadas em The Vault of Horror #34, cuja história “While the Cat’s Away” nos leva a conhecer mais sobre a casa do Guardião da Cripta, e The Haunt of Fear #17, onde a história “Horror beneath the Streets” nos conta como ele e os outros anfitriões das revistas conseguiram seus “contratos” de publicação com a E.C.

O processo para criação das histórias era simples, mas eficiente: William Gaines lia um grande número de histórias de terror e as usava como modelo para contos das revistas. Entre as histórias que foram influência para os Contos da Cripta estavam “O intruso”, de H.P. Lovecraft (base para as histórias “Reflection of Death” e “Mirror, MIrror on the Wall”); Vampyr, de Carl Theodor Dreyer (base para a história “Shadow of Death”); O Caso do Sr. Valdemar, de Edgar Allan Poe (base para a história “The Living Death”); entre outros.

Contos da Cripta contou com diversos artistas, entre eles Al Feldstein, Johnny Craig, Wally Wood e Jack Davis, que faziam tanto capas quanto arte interna, além de George Evans, Jack Kamen, Graham Ingels, Harvey Kurtzman, Al Williamson, Joe Orlando, Reed Crandall, Bernard Krigstein, Will Elder, Fred Peters e Howard Larsen.

Tales From The Crypt, The Vault of Horror e The Haunt of Fear foram 3 revistas de muito sucesso durante os anos 50, mas que infelizmente não passaram das 30 edições (tendo sido publicadas até a edição 27, 29 e 28, respectivamente), tudo por conta da “caça às bruxas” liderada por Fredric Wertham, que levou à criação do Subcomitê do Senado Americano sobre Delinquência Juvenil, cujo principal alvo foram as histórias policiais e de terror da EC Comics – o que infelizmente acarretou no fechamento da editora com a instituição do Comics Code Authority, um “código de conduta” do que podia e não podia se fazer nos comics (mas que era apenas um outro sinônimo para “censura”) e que simplesmente invalidava todas as histórias da EC, já que esta se focava em títulos com temas adultos.

Assim, a EC Comics, e consequentemente a revista Contos da Cripta chegaram ao fim, lamentavelmente. Mas esta não seria a última vez que veríamos o Guardião da Cripta e suas histórias macabras.

 

Na TV

Em 1989, o canal a cabo HBO resgatou do limbo a série em quadrinhos, adaptando-a para uma série do canal, num formato de antologia semelhante à séries como Além da Imaginação e Contos da Escuridão, onde cada episódio era uma história independente com começo, meio e fim. Todas, é claro, introduzidas pelo Guardião da Cripta, marca registrada da antologia em todas as suas adaptações.

Muito dos episódios eram baseados ou adaptados de 5 títulos que a EC publicava nos anos 50 (Tales from the Crypt, The Vault of Horror, The Haunt of Fear, Crime SuspenStories e Shock SuspenStories). Com o tempo, a série passou a seguir seu próprio caminho com histórias originais. Contos da Cripta – a série durou até 1996 e teve 7 temporadas.

Além da série para o público adulto, Contos da Cripta também encontrou um nicho na TV para o público infantil quando, aproveitando-se do sucesso da série live action, a kaBOOM! Entertainment, junto com a divisão de TV da Warner Bros, produziu uma série animada chamada “Tales from the Cryptkeeper” (ou Contos do Guardião da Cripta). O desenho durou 3 temporadas, de 1993 a 1997.

Quando a série live action se encerrou, uma espécie de spin-off foi produzida para tomar o seu lugar. Com o título de “Perversions of Science”, a produção focava a ficção científica ao invés do terror, tendo como anfitriã Chrome, uma robô estilizada em formas femininas no lugar do Guardião da Cripta. Diferente de seu análogo de terror, Perversions of Science teve vida curta, durando apenas 10 episódios.

Em 2016 foi anunciada uma nova versão da série pelas mãos de M. Night Shyamalan (de O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Fragmentado), que seria veiculada no bloco de horror do canal TNT. Infelizmente, em 2017, foi anunciado que a série seria engavetada por conta de problemas com licenciamento.

 

No cinema

Bem antes da série de TV, mais precisamente em 1972, a produtora britânica Amicus trouxe uma adaptação cinematográfica baseada na série de quadrinhos da EC Comics. Na história, 5 estranhos que estão em um tour por catacumbas antigas acaba se separando do grupo e indo parar em um cômodo onde reside o apavorante Guardião da Cripta, que detalha como cada um deles vai morrer. Apesar de ser uma única história, o filme contém outros 5 contos baseados (direta ou indiretamente) nas revistas clássicas da EC.

Com o sucesso da série de TV e seu subsequente encerramento, seguiu-se a tentativa de levar os Contos da Cripta para os cinemas americanos. A primeira delas, em 1995, foi o relativamente bem-sucedido (já que superou seus custos de produção) Demon Knight (Os Demônios da Noite no Brasil – reparem que traduziram “Knight” – cavaleiro – como “Night” – “Noite”).

Na história, um ser demoníaco persegue Brayker, um homem misterioso que tem nas mãos um antigo amuleto capaz de impedir que forças maléficas destruam a humanidade. Em sua fuga desesperada, Brayker se esconde em um hotel vagabundo de beira de estrada. O ser maligno chega até lá e, para enfrentar Brayker e os hóspedes do lugar, conjura um horripilante bando de mortos-vivos sedentos de sangue.

Após o sucesso de Os Demônios da Noite, uma nova produção cinematográfica derivada da série foi lançada em 1996: Bordello of Blood (Bordel de Sangue, no Brasil). Diferente da película anterior, Bordel de Sangue leva a narrativa mais para o lado do humor (mesmo não esquecendo o terror, que é a base dos Contos da Cripta).

Em Bordel de Sangue, vemos a assessora de um reverendo que luta pela moralidade contratando um detetive para encontrar seu irmão desaparecido. As investigações o levam a um bordel repleto de vampiras lindas, sedutoras e sedentas de sangue.

Além de Os Demônios da Noite e Bordel de Sangue, também foi lançado, em 2002, Ritual, que conta a história da Dra. Alice Dogson, que tem sua licença revogada e é demitida após a morte de um paciente. Depois de temer palavras de um paciente sobre cultos vodus, viaja para a Jamaica, onde percebe que ela e seu paciente Wesley Clayrbone são alvo de um culto vodu. O filme é o menos conhecido dos 3 e, até agora, o último da cinessérie cinematográfica.

Contos da Cripta é indispensável para qualquer entusiasta do gênero de terror, seja nos quadrinhos, na TV ou no cinema. Um clássico cult que nunca vai ser esquecido.

 

Curiosidades:

– Não era apenas Contos da Cripta que tinha seu anfitrião macabro: The Vault of Horror contava com o Guardião do Jazigo (The Vault Keeper) e The Haunt of Fear contava com a Velha Bruxa (The Old Witch). Essa divisão não era rígida e esses anfitriões frequentemente apareciam nas outras revistas também;
– Para vocês terem uma ideia do sucesso que as histórias de terror faziam na época, a EC lançou, em 1954, a Three Dimensional Tales from The Crypt of Horror, uma antologia trimestral que reciclava histórias já publicadas na revista principal, com a diferença de serem impressas em 3D anaglifico (aqueles que você precisa de um óculos de papel com lentes de papel celofane azul e vermelho – e isso nos ANOS 50, para você que pensa que 3D é uma moda recente). Cada edição vinha com um óculos 3D. A publicação vendia muito e é considerada um clássico, embora não tenha durado muito por uma série de fatores (não só a questão do Comics Code mencionada na matéria, mas principalmente fatores técnicos, como o custo da impressão, entre outros);
– Após publicar uma adaptação não autorizada de Ray Bradbury, o autor contatou a E.C e chegou a um acordo para publicar adaptações autorizadas de seus contos, que incluem “There Was and Old Woman”, publicada na edição 34 de Contos da Cripta; e “The Handler’, publicada na edição 36;
– Em 2007, uma editora independente chamada Papercutz decidiu ressuscitar o título mostrando novas histórias. A primeira edição contou com capa de Kyle Baker e trazia os 3 anfitriões mais famosos da EC (O Guardião da Cripta, o Guardião do Jazido e a Velha Bruxa). Foram publicadas 13 edições até 2010;
– O Guardião da Cripta visto na série de TV difere visualmente do seu correlato nos quadrinhos. Enquanto o Guardião das HQs da EC Comics era um ser humano, o anfitrião da produção televisiva era um morto vivo decrépito. O filme britânico, no entanto, se manteve fiel ao visual original das hqs;
– Diversos atores e celebridades conhecidas atuaram na série, seja como protagonistas ou apenas ocmo participações especiais, entre eles Dan Aykroyd, Hank Azaria, Steve Buscemi, Daniel Craig, Tim Curry, Timothy Dalton, Roger Daltrey, Benicio del Toro, Kirk Douglas e seu filho Eric Douglas, Brad Dourif, Whoopi Goldberg, Bobcat Goldthwait, Teri Hatcher, Marg Helgenberger, Mariel Hemingway, Lance Henriksen, Bob Hoskins, Margot Kidder, John Lithgow, Andrew McCarthy, Dylan McDermott, Malcolm McDowell, Costas Mandylor, Ewan McGregor, Meat Loaf, Demi Moore, Donald O’Connor, Joe Pantoliano, Bill Paxton, Bruce Payne, Joe Pesci, Brad Pitt, Iggy Pop, Christopher Reeve, Natasha Richardson, Mimi Rogers, Tim Roth, Martin Sheen, Brooke Shields, Slash, John Stamos, Jeffrey Tambor, Lea Thompson, David Warner, Steven Weber, Adam West e Treat Williams, apenas para citar alguns;
– Entre diretores famosos da série estão Michael J. Fox, Tom Hanks, Kyle MacLachlan e Arnold Schwarzenegger, além de diretores renomados como Robert Zemeckis (Forest Gump), Richard Donner (Superman o Filme), John Frankenheimer (A Ilha do Dr. Moreau, de 1996), William Friedkin (O Exorcista), Walter Hill (do clássico musical Crossroads), Tom Holland (A Hora do Espanto), Tobe Hooper (Poltergeist), Mary Lambert (Cemitério Maldito), Peter Medak (A Troca) e Russell Mulcahy (Resident Evil 3: A Extinção);
– A abertura da uma das temporadas da série animada Tales from the Cryptkeeper contava com a aparição do Guardião do Jazigo e da Velha Bruxa, anfitriões das antologias da EC The Vault of Horror e The Haunt of Fear, respectivamente;
– All Through the House, Blind Alleys, e Wish You Were Here, 3 dos 5 contos dentro de Contos da Cripta – O Filme foram mais tarde adaptados de alguma forma em episódios da série de TV americana;
– Os rascunhos originais da cinessérie de Contos da Cripta contavam com uma trilogia, que se iniciaria com Os Demônios da Noite e seguiriam com Dead Easy (um filme de zumbis) e Body Count, uma história original. O artefato do primeiro filme apareceria nas duas sequências, o que não aconteceu com todos os filmes que de fato foram lançados;
– Embora não seja uma sequência direta de Os Demônios da Noite, Bordel de Sangue traz uma aparição do artefato que é a base do filme anterior;
– Ritual é uma releitura do filme I Walked with a Zombie (1943), considerado a primeira produção cinematográfica sobre zumbis;
– Ritual nunca foi lançado nos EUA, tendo sido distribuído apenas internacionalmente;
Os Espíritos, filme dirigido por Peter Jackson, era para ser um filme dentro da cinessérie de Contos da Cripta, mas foi lançado como algo independente quando Robert Zemeckis leu o roteiro e achou que ele merecia ser “autônomo”.

Edições anteriores:

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #43 – Skywald Publications e o clima de horror

No Sarjeta do Terror deste mês, conheça um pouco sobre a Skywald Publications, principal “rival” da Warren, e seu assim chamado “horror mood”.

O Comics Code Authority, surgido nos anos 50, foi uma marca que fez muito estrago nos quadrinhos, em particular nos quadrinhos de crime e horror. Algumas editoras sobreviveram contornando os critérios do código e lançando quadrinhos no formato magazine (como a Warren Publishing) e, nos anos 70, houve uma pequena vitória para as editoras com certa flexibilização do código que, embora ainda restrito, começava a permitir ao menos algumas coisas. Assim, Marvel e DC puderam retomar títulos e histórias de horror (embora de uma forma bem limitada em termos do tipo de história que poderiam contar) e outras editoras puderam tentar a sorte no gênero. Foi o caso da Skywald Publications.

Apesar de ter sido fundada nos anos 70, a história da Skywald remete aos anos 50, mais especificamente à I.W Publications. Criada por Israel Waldman, a editora lançava revistas com republicações de histórias antigas de editoras falidas como a Quality Comics (de forma não autorizada). A I.W. durou de 1958 a 1964, publicando personagens conhecidos na época como The Avenger (1958), Nemo in Adventureland (1964), Doll Man (1963), Plastic Man (1963) e até The Spirit (1963). O gênero de horror não ficou de fora, com revistas como Strange Worlds (1958), Strange Mysteries (1958), Mystery Tales (1958), Eerie (1958) e Eerie Tales (1963), entre outros. Todos os títulos tiveram vida curta (a maioria não passava da terceira edição).

Após o fim da I.W., Waldman se juntou a Sal Brodsky, editor de longa data da Marvel Comics que havia saído da editora, e fundou a Skywald. Brodsky trouxe Al Hewetson, que havia sido assistente do Stan Lee por um curto período e era também roteirista freelancer na Warren, para escrever na editora. Hewetson, ou “Archaic Al“, como era conhecido, logo se tornou o próprio editor da empresa, uma vez que a saída de Brodsky da Marvel acabou sendo temporária e ele logo retornou à casa das ideias.

Hewetson gerenciava o editorial da sua própria casa, no Canadá, apesar da Skywald ter base em Manhattan. O processo era incomum: Archaic Al escrevia suas histórias e editava as histórias de outros de casa, enviava por correio para os artistas que desenhavam e mandavam para Nova Iorque. De tempos em tempos, o editor visitava NY, onde conferia o material, produzia e finalizava as edições e o calhamaço resultante era enviado por correio para as gráficas, que enviava as provas para a editora. Depois de tudo conferido e aprovado, as revistas eram mandadas para serem impressas no Canadá e então transportadas para Connecticut e, a partir daí, para diversos outros centros de distribuição – inclusive de volta para o Canadá. Lembrando que esta era uma era pré-internet, ou seja, tudo o que tinha que ser enviado para lá e para cá era físico, não virtual (roteiros, artes, revista editada, etc). Imagina o trabalhão.

Talvez um pouco diferente do que Brodsky imaginava, Al Hewetson tinha em mente uma direção mais “literária” e menos “cópia da Warren”. Assim, desenvolveu o que ele chamou de “horror mood” (algo como “clima de horror”, em tradução livre), que era sua tentativa de criar histórias que evocassem autores como Edgar Alan Poe, H.P. Lovecraft e Franz Kafka. Como a própria expressão sugere, Archaic Al não estava em busca de temas ou formatos narrativos específicos, e sim de um tipo de “sensação” ou “clima” que permeasse as revistas. Com isso em mente, nasceu Nightmare (1970), Psycho (1971) e Scream (1973), provavelmente as mais conhecidas da editora. As 3 eram publicadas no formato magazine, de forma semelhante à Warren, o que tornava, aos olhos do público, o material mais “sofisticados” que os “comic books” (bastante depreciados após o Comics Code).

 

Revistas em formato magazine

Nightmare tinha como carro chefe uma sequência de Frankenstein escrita por Tom Sutton, além de uma tira de Al Hewetson desenhada por Maelo Cintron chamada Human Gargoyles. Psycho publicava The Heap e adaptações da literatura vitoriana, especialmente de Edgar Alan Poe, enquanto que Scream tinha material semelhante às duas, com destaque para The saga of The Victims, uma história nonsense exploitation que trazia duas protagonistas femininas tendo que lidar com criaturas bizarras. Entre os artistas e autores que passaram por essas revistas estavam T. Casey Brennan, Gerry Conway, Steve Englehart, Gardner Fox, Doug Moench, Dave Sim, Len Wein, Marv Wolfman, Rich Buckler, Gene Day Vince Colletta, Bill Everett, Bruce Jones, Pablo Marcos, Syd Shores, Chic Stone e o já citado Tom Sutton, entre outros.

Além da tríade de horror da Skywald, houve também revistas de outros gêneros, como Hell-Rider (1971), criada por Gary Friedrich e Ross Andru, que contava a história de um vigilante que andava em uma moto equipada com um lança-chamas – que usava nos criminosos. Qualquer semelhança com o Motoqueiro Fantasma não é mera coincidência (veja Curiosidades). Outra revista que chegou a ser publicada foi The Crime Machine (1975), que apenas republicava histórias criminais dos anos 50. Ambas as revistas duraram apenas duas edições. A Skywald esteve prestes a publicar uma antologia sci-fi chamada Science Fiction Odissey, mas a revista acabou não saindo porque a editora havia estourado seu orçamento – e a maioria das pessoas na editora não acreditava que uma revista de ficção científica teria boas vendas.

Outras revistas de horror haviam sido planejadas pela editora. Tomb of Horror era para ser uma antologia onde os próprios autores e artistas seriam os horror hosts de suas histórias (de forma semelhante ao que seria feito pela Marvel por um curto período de tempo em Tower of Shadows e Chamber of Darkness). Outra revista planejada era Tales of Horror by Edgar Allan Poe, que republicaria as adaptações do autor vistas previamente em Nightmare e Scream. Infelizmente, esses planos acabaram indo por água abaixo com o fim da editora. Algumas histórias já preparadas, no entanto, puderam ser publicadas nas últimas edições de NIghtmare, Psycho e Scream.

 

Comic Books

A Skywald também publicou revistas em quadrinhos propriamente ditas, ou seja, histórias no formato “comic book”, numa linha editada por Brodsky. Entre as revistas estavam as séries de Western Blazing Six-Guns, The Bravados, Butch Cassidy, The Sundance Kid e Wild Western Action (1971), o título de romance Tender Love Stories (1971), Jungle Adventures (1971) e, no campo do horror, a série The Heap (1971), uma versão diferente do personagem criado nos anos 40 pela HIllman Publications. Entre os autores e desenhistas estavam Dick Ayers, Mike Friedrich, Jack Katz, John Severin, e John Tartaglione, além de outros já citados que participavam das revistas formato magazine.

 

O fim da Skywald – culpa da Marvel?

Apesar do aparente sucesso de vendas, a Skywald teve vida curta, apenas 5 anos. Em uma entrevista realizada em 2003, Archaic Al atribuiu a falência da Skywald principalmente aos distribuidores da Marvel. Segundo o editor, o advento das revistas da Marvel no formato Magazine restringiu o acesso da Skywald às bancas, uma vez que o distribuidor da Marvel era muito mais poderoso e fazia uso de táticas de guerrilha para impedir a distribuição de revistas alheias. Isso acarretou na escassez de títulos da editora nas bancas e a dificuldade cada vez maior dos leitores de encontrarem suas hqs Skywald favoritas, o que levou ao declínio das vendas e, consequentemente, ao fim da editora.

A Skywald Publications foi uma editora com muito potencial. Muito mais do que uma “cópia” da Warren, Skywald era a competição saudável que diversificava o gênero e garantia uma abrangência de histórias muito maior. Não durou muito, mas ficou na história dos quadrinhos de terror.

 

Curiosidades:
– A história da I.W. é curta, mas interessante: Israel Waldman adquiriu uma gráfica que continha diversos materiais de produção de editoras variadas cuja maioria não existia mais, além de algum material nunca lançado. Waldman achou que ter comprado a empresa significava ter os direitos sobre todo esse material e saiu publicando material que, na prática, era não autorizado;
– A última metade do período de existência da I.W. Publications foi sob o nome de Super Comics, pelo qual a editora também é conhecida;
– “Skywald” é a junção dos nomes dos fundadores, Sal Brodsky (Sky) e Israel Waldman (Wald);
– Entre as histórias publicadas em Nightmare, estão os primeiros trabalhos de Michael Kaluta e John Byrne;
– Gary Friedrich, criador de Hell-Rider, também foi, um ano mais tarde, um dos criadores, junto com Roy Thomas e Mike Ploog, do Motoqueiro Fantasma, da Marvel Comics.

 

Edições anteriores:

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

A história dos quadrinhos de terror nacionais se consolidou especialmente com histórias curtas e hqs de antologia, aos moldes dos comics da E.C. no anos 50 e da Warren nos anos 60. Mas, em meio a essa dinâmica focada mais nas histórias, algumas criaturas se sobressaíram e se tornaram personagens clássicos que povoaram o imaginário dos leitores nas mais diversas épocas – até os dias de hoje.

Como não é surpresa nenhuma, as hqs de terror produzidas no Brasil se utilizaram muito de personagens vindos da literatura ou do cinema de horror, como Drácula, Lobisomem, Frankenstein, Múmia, entre outros, uma vez que estes personagens, de forma geral, eram de domínio público e já traziam uma popularidade vinda de outras mídias. Mas também houve personagens originais e genuinamente brasileiros, ainda que muitos inspirados no que veio antes. Vamos conhecer alguns dos mais importantes neste post.

 

O pioneiro: A Garra Cinzenta

Como um dos primeiros personagens de quadrinhos criados no Brasil e considerado o responsável por introduzir elementos como horror, o pulp policial e o sci-fi das histórias de super-herói ao país (antes mesmo que os super-heróis tomassem conta dos comics), Garra Cinzenta é frequentemente citado na coluna e tem um post só para ele. Criado por Francisco Armond (roteiro) e Renato Silva (Arte), Garra Cinzenta é um gênio criminoso que, utilizando uma máscara de caveira, aterroriza uma cidade cujo nome é ignorado. Sua marca registrada são cartas com a imagem de uma garra que deixa para suas vítimas, além de utilizar-se de equipamentos científicos avançados e contar com a ajuda do robô Flag e da Dama de Negro. Seu principal nêmesis era o Inspetor Higgins, que encabeçava as investigações na busca pelo vilão.

A Garra Cinzenta foi publicada na Gazetinha, suplemento do Jornal Gazeta de São Paulo, entre 1937 e 1939, uma página por dia, desafiando a rotulação de gênero por misturar elementos de diversos tipos de história. Além disso, a arte de Renato Silva tinha uma narrativa gráfica invejável para a época, com um dinamismo difícil de ver até nas hqs norteamericanas.

De Francisco Armond, que assinava um roteiro da Garra Cinzenta, nada se sabe, uma vez que ele não existia de verdade – era um pseudônimo. Por conta disso, até hoje não se sabe quem exatamente escreveu a história. Por muito tempo, boatos apontava para Helena Ferraz de Abreu, que dirigia a Gazeta de São Paulo, mas seu filho não acredita que este seja o caso.

Renato Silva, nascido em 1904, era filho de um jornalista e estudou Belas Artes. Começou a carreira em 1925, colaborando com cartoons para as revistas Vida Doméstica, Vida Nova, A Maçã e Shimmy. Em 1930, começou a trabalhar no jornal A Noite ilustrando contos, romances e folhetins para várias das revistas publicadas pelo grupo editorial. Foi em 1937, após ilustrar uma tira de jornal baseada nos romances policiais Pulp do Detetive Nick Carter para o Suplemento Juvenil de Adolfo Aizen, que o artista foi contratado pela Gazeta de São Paulo para ilustrar a Garra Cinzenta, pelo qual ficou mais conhecido. Renato Silva também atuou como professor de desenho e ilustrados de livros didáticos. Faleceu em 1981.

 

A musa e o monstro de Eugenio Colonnese

Eugenio Colonnese foi um dos tesouros das hqs nacionais. Não se restringiu apenas às hqs de terror, tendo produzido também quadrinhos de guerra e de super-herói. Mas foi através desse gênero que ele ficou mais conhecido. Colonnese criou alguns super-heróis nacionais, como Mylar, X-man, Pele de Cobra e O Gênio, mas os personagens pelos quais ele normalmente é lembrado foram dois associados ao horror: Mirza e O Morto do Pântano.

Mirza, a mulher Vampiro, foi criada em 1967 pelo (na época apenas estúdio) D-Arte  para a editora Jotaesse, com o intuito de pegar carona no sucesso das revistas do Drácula, da editora Taika. Surgiu na revista “O Vampiro”, mas sua popularidade logo lhe rendeu uma revista própria. A primeira história da Mirza tinha roteiros de Luis Merí Quevedo e arte do Colonnese. Mirza tinha, além dos elementos típico das histórias de horror da época, bastante erotismo, ousado para a época até, o que a diferenciava de outras histórias do período.

Mirza, a Mulher Vampiro era, na verdade, Mirela Zamanova, a sétima filha de um nobre polonês de uma linhagem amaldiçoada. Após quase ser estuprada pelo namorado da irmã, a maldição a transformou em uma vampira. Com uma nova vida, adotou o nome de Mirza e passou a vagar pelas grandes metrópoles do mundo, frequentemente se encontrando com seres sobrenaturais. De vez em quando, se passa por modelo profissional e é sempre auxiliado por seu criado, o corcunda Brooks. Uma das características que diferenciava Mirza dos outros vampiros clássicos era a possibilidade de caminhar durante o dia sem sofrer consequências.

Luis Merí Quevedo (Assinava tanto como Luis Merí quanto Luis Quevedo) foi um quadrinista argentino que trabalhou no Brasil e era bastante conhecido nos anos 60 por seu trabalho para a D’Arte e Taika.

Morto do Pântano foi criado no mesmo ano de Mirza, como contraponto a esta; enquanto a vampira era linda, sensual e navegava por paisagens urbanas, o Morto do Pântano era feio, grotesco e relegado às matas e ao pântano. Em termos de narrativa, as histórias do Morto do Pântano eram um pouco diferentes das de Mirza e meio que mesclavam o formato de antologia, o uso de apresentadores de horror com um personagem recorrente. Na história, o Morto era um ser repugnante que vivia em um misterioso e sinistro pântano, tendo como diversão vingar a humanidade, punindo os vilões que invadem seus domínios. Suas vítimas eram assassinos, ladrões, traficantes e outros malfeitores que o Morto assassina de forma característica: cortando suas cabeças com seu machado e abrindo-as.

Eugenio Colonnese nasceu em 1929, de mãe brasileira e pai italiano e começou sua carreira nas histórias em quadrinhos na Argentina, ilustrando a quadrinização do clássico O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Um pouco mais sobre o autor aqui.

 

Edmundo Rodrigues e a Bruxa

Nascido em 1935, Edmundo Rodrigues começou a carreira cedo, desenhando para a revista O Tico-Tico com apenas 14 anos e sua carreira ainda seria longa. Conhecido pelos desenhos de Jerônimo, o Herói do Sertão e Falcão Negro, entre outros, Edmundo Rodrigues chegou a editar as revistas da Marvel da editora Bloch em 1965 e criou diversos personagens, como Araken, Carrasco, Chico e Chica, Fantar, João Charuto, Máscara de Prata e Terror-Girl. Mas o seu personagem mais conhecido no terror é Irina, a Bruxa, definitivamente uma das personagens mais originais do gênero.

Criada em 1967 pela editora Taika, Irina era uma mulher loira que foi condenada à morte por seu passado de crimes e bruxarias. Mas, antes que seu corpo fosse consumido pelas chamas, jurou vingança contra todos. Foi retratada em tela por um pintor durante sua morte e, assim, consegue cumprir sua promessa e retornar, reencarnando sempre em mulheres jovens e bonitas para seguir com sua vingança. A única coisa que pode deter a Bruxa é o “Triângulo de Prata”.

 

Herdeiras de monstros

Considerando que Drácula sempre foi um personagem bastante popular, não é de se surpreender que o tipo de criatura mais comum nas hqs de terror brasileiras fossem os vampiros. Menos surpreendente ainda que alguns personagens reclamassem serem herdeiros do próprio Drácula.

Naiara, a filha do Drácula é provavelmente a mais conhecida das filhas do vampiro criada no Brasil. Começou a ser publicada pela Taika em 1968, criada por René Barreto Figueiredo. Os roteiros ficaram à cargo de Helena Fonseca, que já escrevia as histórias do Drácula para a editora. Apesar das duas primeiras histórias terem sido desenhadas por Juarez Odilon, foi Nico Rosso quem estabeleceu a personagem visualmente. Como era comum em personagens femininas na época, erotismo era parte integrante de suas histórias.

Na história, a loira, filha do conde Drácula, apesar de ser também uma vampira, se declarava uma inimiga mortal do pai. Raramente mordia, preferindo furar pescoços com facas ou estiletes para beber o sangue em taças de outro. Sádica, cruel e sem nenhum remorso, Naiara também costumava hipnotizar suas vítimas fazendo-as olhar fixamente para seus olhos amarelados. Em algumas histórias, fazia parte também seu animal de estimação, um leão vampiro, animal de circo que passou a lhe acompanhar.

A exemplo do que fez com Irina, a Bruxa, a editora Bloch publicou novas histórias de Naiara, em cores, desta vez produzidas por Carlos Araújo e Zenival, como parte da revista Capitão Mistério Apresenta.

Helena Fonseca, responsável pelos roteiros de Naiara, era uma das roteiristas mais ativas entre os anos 60 e 80, especialmente nas editoras Outubro e Taika. Uma das pioneiras nos quadrinhos brasileiros, escreveu uma porção de títulos dos mais diversos gêneros, como Capitão 7, Targo, Drácula, Juvêncio, Justiceiro do Sertão e, é claro, Naiara. Também trabalhou na revista Abril, escrevendo personagens da Disney como a Margarida. Em 1995, ganhou o Prêmio Ângelo Agostini na categoria “Mestre”.

Nico Rosso, outro mestre das hqs nacionais, nasceu em 1910 em Turim, na Itália, e se mudou para o Brasil em consequência da Segunda Guerra. Aqui, trabalhou com diversos gêneros, entre eles histórico, infantojuvenil, humor e guerra, mas foi produzindo hqs de terror que Rosso ficou mais conhecido. Deixou as atividades artísticas para trás em 1976, por questões de saúde, e faleceu em 1981.

Nos anos 80, uma nova filha do Drácula foi criada pela editora D-Arte: Nádia. Assim como sua antecessora, era loira e filha do personagem de Bram Stocker. Suas histórias foram publicadas na revista Mestres do Terror, e foi criada por Antônio Rodrigues com desenhos de Rubens Cordeiro.

Rubens Cordeiro começou a desenhar ainda criança, copiando os quadrinhos que seu pai trazia com trabalhos de Alex Raymond e Frank Robbins. Começou desenhando no Diário da Noite, mas seu nome ficou marcado nos anos 60, quando passou a trabalhar em hqs de terror e super-heróis. Nos anos 70, foi para a Abril, mas retornou ao terror nos anos 80, na editora D-Arte.

Apesar de não ser filha direta de Drácula, Michèlle também carregava seu legado. Criada inicialmente para tiras de jornais por Emir Ribeiro, em 1977, foi levada para os quadrinhos nos anos 80. Na história, Michèlle é uma jovem francesa prestes a casar, que é mordida pelo Conde Drácula. Sem saber, porém, ela tinha dupla personalidade, e a doença a acompanhou mesmo após sua pós-vida. Por isso, Às vezes ela é má e sanguinária, às vezes doce e bondosa. Caçada pelo ex-noivo, consegue se esconder no porão de um navio e acaba no Brasil, mais especificamente no Maranhão.

Emir Ribeiro é mais conhecido por ser criador da personagem Velta, mas escreveu tanto para os quadrinhos brasileiros quanto para o mercado norteamericano em editoras como a Malibu, Maximum Press e Marvel.

Mas não era só Drácula que tinha filha(s). O próprio demônio tinha a sua herdeira na forma de Angélica, a Filha de Satã. Criada por Basílio de Almeida em 1981 para a revista Spektro, da Vecchi, Angélica é a filha de uma mortal e do próprio Satã, que seduziu sua mãe e matou o marido dela. Angélica possui poderes por conta de sua herança, mas sua mãe, um espírito evoluído, a transformou num ser de poderes divino-infernais.

Angélica retornou em 2001 em A Última Missão, hq de Watson Portela em homenagem a Eugenio Colonnese, onde ela reúne diversos personagens criados por Colonnese para enfrentar seu próprio pai.

Watson Portela, também conhecido como “Barroso”, foi um dos primeiros brasileiros a se destacar no cenário da década de 80, em meio à hegemonia do gênero de super-heróis e das hqs americanas. É mais conhecido pelo álbum “Paralelas” e “O Último Voo Livre”. Se aposentou dos quadrinhos nos anos 90.

 

O Estranho mundo de Zé do Caixão – e sua filha

Fã confesso de histórias em quadrinhos, José Mojica Marins sempre deu um jeito de colocar seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, em histórias desta mídia.

Para quem não sabe, Zé do Caixão é um agente funerário amoral e niilista que se considera superior aos outros. Como não acredita em vida após a morte, busca a eternidade através do sangue, ou seja, da continuidade da sua linhagem. Para isso, busca a esposa perfeita, o que faz com testes sádicos e experiências macabras.

O personagem surgiu no cinema em 1963, mas em 1969 já estava nos quadrinhos, em O Estranho Mundo de Zé do Caixão, adaptação do filme homônimo e com a mesma estrutura de antologia, ao invés de ter o personagem como protagonista. Teve também adaptações de seus outros filmes, À Meia Noite Levarei a sua Alma e À Meia Noite Encarnarei no teu Cadáver, além de Prontuário 666 – Os anos de Cárcere de Zé do Caixão, que faz a ponte entre À Meia Noite Encarnarei no Teu Cadáver e Encarnação do Demônio, último filme da trilogia do coveiro.

Apesar de ser conhecido principalmente como diretor de cinema de terror, José Mojica Marins teve trabalhos anteriores que variavam entre faroestes, dramas, filmes de aventura, dentre outros, incluindo pornochanchada, comédia-sexo softcore populares. Mojica desenvolveu um estilo próprio de filmar que, inicialmente desprezado pela crítica nacional, passou a ser reverenciado após seus filmes começarem a ser considerados cult no circuito internacional. Mojica é considerado como um dos inspiradores do movimento marginal no Brasil.

Apesar das histórias de Zé do Caixão evitarem o sobrenatural, o mesmo não pode ser dito de sua filha, Liz Vamp. Criada por Liz Marins, filha de José Mojica Marins na vida real, Liz Vamp destoa do caminho do pai ao levar suas histórias para o lado dos monstros paranormais.

A personagem, criada em 2001, é uma vampira mutante (uma evolução da espécie), filha de uma vampira inglesa com Zé do Caixão. Apesar da relação consanguínea entre Liz Vamp e Zé do Caixão, os dois personagens possuem sagas completamente distintas, condizentes com as inspirações e gostos pessoais dos criadores. Liz Vamp é um híbrido humano/vampiro e possui vários poderes, os quais vão sendo descobertos ao longo de suas histórias. Na melhor tradição familiar, Liz Marins também é a própria intérprete de seu personagem.

Em 2004, a Impacto Quadrinhos publicou uma hq da Liz Vamp contando sua origem, roteirizada por Klebs Júnior, desenhada por Carlos Rafael e colorizada por Vinícius Andrade.

Klebs de Moura Junior é ilustrador e quadrinista formado em Comunicação Visual. Publicou quadrinhos nos Estados Unidos pelas editoras Marvel, DC, Malibu, Dark Horse e Valiant, além de lançar seus próprios personagens nas revistas brasileiras, Metal Pesado, Pau Nrasil e Brazilian Heavy Metal.

 

As criações oníricas de Fernando Ikoma

Um dos autores mais criativos dos quadrinhos nacionais foi, sem dúvida, Fernando Ikoma. Buscando sempre criar histórias diferentes e que fugiam do lugar comum, criou para a editora Edrel dois personagens que se destacavam do que havia sido feito até então: Fikom e Satã, a Alma Penada.

Fikom, criado em 1968, era um personagem mais voltado para o gênero super-herói, mas que também flertava com sci-fi, fantasia e horror. A história acompanha Mukifa, um jovem feio e desengonçado que encontra um medalhão que lhe dava a habilidade de criar um avatar chamado Fikom, bonito, forte e poderoso, capaz de navegar entre o sonho e a realidade, vivendo diversas aventuras. Fikom foi publicado em sua revista própria, bem como na revista Estórias Adultas (onde também produzia Sibele, a Espiã de Vênus). Em 2012, a editora Kalako lançou um volume republicando 5 histórias do personagem.

Satã, A Alma Penada, diretamente uma história de terror, acompanhava uma mulher má que, após sua morte, é julgada por Juízes do além e obrigada a ficar rondando o mundo dos vivos até cumprir cem missões que lhe foram impostas. Combatendo feitiçaria, doenças psíquicas, dramas internos de pessoas desajustadas e até mesmo atuando como contrapeso às injustiças às quais algumas pessoas eram vítimas, Satã era um tipo de Espectro (personagem da DC Comics). Também possuía um criado, o corcunda Bôo, outra criatura má que teve como castigo sua língua cortada.

Fernando Ikoma começou a fazer histórias em quadrinhos em 1968, trabalhando para a editora Edrel. Em sua carreira nos quadrinhos, ainda escreveria para a EBAL (O Judoka), para a Abril e para a Grafipar. No entanto, a maior parte da sua carreira é dedicada às artes plásticas, onde se mantém até hoje. Em 2011, retornou aos quadrinhos produzindo webcomics.

 

Esses personagens estão longe de esgotar a variedade criada ao longo das décadas nos quadrinhos brasileiros, mas servem como uma amostra das criaturas que se tornaram clássicas dentro do gênero por aqui. Ainda poderíamos falar sobre personagens mais recentes, mas por questões de espaço, decidi por me ater aos personagens mais tradicionais. Com isso, encerro a série de textos sobre os quadrinhos de terror no Brasil, mas essa não será a última vez que a coluna trata de personagens e autores tupiniquins, fiquem tranquilos.

Curiosidades:
– Além de ilustrar contos, folhetins e quadrinhos, Renato Silva também lançou o Manual Prático de Tipografia, considerada a primeira publicação do gênero no país;
– Morto do Pântano começou de fato como um apresentador de terror, como uma forma de substituir a genérica “caveirinha coberta por um manto”, que era usada à exaustão nas histórias do gênero da época;
– Nos anos 80, a editora Bloch republicou Irina em cores, alterando um pouco das cores da personagem, como aparecera originalmente nas suas capas;
– Em 1999, uma peça de teatro baseada na personagem foi lançada, com a atriz e diretora Agata Desmond (esposa de Edmundo Rodrigues) no papel de Irina);
– Nádia foi criada devido a um erro. Colonnese desenhou uma capa onde Mirza aparecia com os seios à mostra, mas Rodolfo Zalla ficou preocupado com a censura da época (auge da repressão militar) e retocou a arte, o que causou atrito entre os dois. Assim, Zalla pediu a Antônio Rodrigues que criasse outra vampira – e foi aí que surgiu Nádia;
– o livro “A Técnica Universal de Histórias em Quadrinhos”, produzido por Ikoma e outros, foi a primeira publicação brasileira a falar sobre quadrinhos japoneses;
– Apesar de ser descendente de japoneses, Fernando Ikoma nunca havia tido contato com mangas até conhecer o trabalho de Claudio Seto e Minami Keizi na Edrel;
– O nome “Fikom” vem da junção do nome e do sobrenome de Fernando Ikoma;
– em 2008, Ikoma, Ypê Nakashima, Minami Keizi e os irmãos Paulo e Roberto Fukue ganharam o Troféu HQMIX na categoria “Grande Mestre” – a primeira vez em que o troféu premiava 5 artistas ao mesmo tempo;
– Liz Marins é a idealizadora do Dia dos Vampiros, criado como uma forma para incentivar a doação de sangue, além de defender a diversidade artística. A data existe desde 2002 e é comemorada no dia 13 de agosto.

 

Edições anteriores:

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

Neste mês, a primeira parte da matéria que explora um pouco da trajetória dos quadrinhos de terror no Brasil. Confira as origens e as editoras mais relevantes para o gênero no país.

Nem só de super-heróis vivem os quadrinhos, nem os internacionais, nem os nacionais. E se as hqs de super-herói sempre tiveram lugar nos corações dos brasileiros, outro gênero que se equipara em termos de “paixão nacional” é certamente o terror. Assim como os supers, o terror esteve embutido nos quadrinhos nacionais desde muito cedo – e não é a toa, uma vez que tanto o horror quanto os super-heróis derivam principalmente das hqs pulps, que chegaram aqui no Brasil ainda nas primeiras décadas do século XX.

Para rastrear a história do terror nos quadrinhos brasileiros, precisamos voltar no tempo, até uma época em que os quadrinhos “dramáticos”, ou seja, aqueles que não eram destinados exclusivamente ao humor, estavam começando. No Brasil, esta época é os anos 30, quando os jornais contavam com encadernados internos chamados suplementos, destinados à publicação de quadrinhos. Normalmente, estes suplementos continham histórias não muito diferente do que havia nos EUA na época. Inicialmente, a quase totalidade das histórias publicadas eram comics, hqs norteamericanas vendidas pelos “Syndicates”, que era quem detinha os direitos de personagens como Fantasma, Buck Rogers, Flash Gordon, Tarzan, entre outros.

Os pioneiros

1934 serve como um marco nas hqs seriadas brasileiras por conta da publicação de “Os exploradores da Atlânitida ou As Aventuras de Roberto Sorocaba”, de Monteiro Filho. A estrutura narrativa era emprestada dos seriais de cinema, onde cada página terminava com um gancho para a próxima história, que seria publicada na próxima edição do jornal. A partir daí, diversos outras hqs semelhantes se seguiram, como João Tymbira (1938), de Francisco Acquarone, e O Audaz (1939), de Messias de Mello.

A primeira hq de terror publicada no Brasil foi Doutor Oculto, personagem da DC Comics, numa edição de 1937 do suplemento Mirim. Mas o primeiro personagem tupiniquim que pode ser considerado o precursor das histórias de terror nacionais foi A Garra Cinzenta (1937). Publicado diariamente na Gazetinha – um suplemento do jornal Gazeta de São Paulo – Garra Cinzenta misturava elementos de histórias policiais, noir e de terror, com nível de violência bastante elevado para a época. Além disso, trazia também alguns aspectos de sci-fi e do que futuramente seria conhecido como o gênero de super-herói. Garra Cinzenta foi publicado de forma seriada durante pouco mais de 100 capítulos (cada capítulo era uma página da história).

Garra Cinzenta, como todos os personagens nacionais da época, não possuía uma “identidade nacional” desenvolvida, sendo basicamente uma versão das histórias pulp dos comics, incluindo nomes em inglês e locações que mais lembravam as metrópoles americanas do que as brasileiras. Mas foi a primeira criação nacional que trouxe elementos tantos das hqs policiais, quanto das hqs de super-herói, ficção científica e de terror, inaugurando a produção nacional do gênero.

Garra Cinzenta ficou basicamente sozinho por um bom tempo dentro desse nicho, tendo como companheiros, além das publicações americanas, apenas publicações nacionais mais voltadas para o humor, aventura e/ou ficção científica. Foi só em 1949 que surgiu a primeira revista em quadrinhos dedicada ao terror, chamada O Terror Negro, da editora La Selva (fundada na metade da década de 1940).

Curiosamente, de início ela não era uma revista de terror, e sim protagonizada por um super-herói: Black Terror, que era o Terror Negro do título. O personagem, no entanto, foi um fracasso de vendas e, para não encerrar a publicação, a La Selva decidiu manter a revista com o mesmo nome, mas agora publicando hqs de terror norteamericanas. A La Selva ainda publicaria as revistas Contos de Terror (1954), Sobrenatural (1954), Frankenstein (1959), Pavor e Terror (1960), Almanaque de Terror (1960) e Histórias de Terror (1961), além de edições especiais diversas.

A editor e gráfica Novo Mundo, que imprimia as hqs da La Selva, pegou gosto pelas revistas de Terror e lançou suas próprias publicações, das quais vale destacar Gato Preto (1955), Noites de Terror, (1959), Mundo de Sombras (1962) e Sombra do Pavor (196?). A La Selva, para evitar que a Novo Mundo parasse de imprimir suas revistas, comprou a editora, mantendo os títulos que vendiam bem, como Noites de Terror.

 

As editoras

A Bloch, editora fundada em 1952, se aventurou pelos super-heróis da Marvel nos anos 70 e também foi uma das editoras que mais lançou títulos de terror. Dentro do seu selo “Capitão Mistério”, voltado para o gênero, a Bloch publicou Aventuras Fantásticas, Histórias Macabras, Frankenstein, Clássicos de Pavor, A Múmia Viva, Lobisomem, Sexta-Feira 13 e A Tumba do Drácula (1976), além de Cine-Mistério (1977), Conde Drácula (1979), Kriminal (1980), Satanik (1980), Drácula (1982) e Histórias Reais de Drácula (1987). Já a editora Abril, fundada em 1950, é mais conhecida hoje por seu período publicando super-heróis da Marvel e da DC no Brasil. Mas isso incluiu também Terror de Drácula (1979), revista que trazia a versão Marvel do Vampiro, vista originalmente em Tomb of Dracula.

Enquanto a maior parte do catálogo das outras editoras consistia de hqs antigas vindas dos EUA, a RGE de Roberto Marinho trabalhou com o material que estava sendo produzido pela Warren Publishing. Desse conteúdo surgiu a revista Kripta (1976), possivelmente a mais conhecida revista em quadrinhos de terror brasileira, que em grande parte trazia o material publicado originalmente na revista Creepy. Além destas, a RGE publicou, entre outros especiais e almanaques, Shock (1977), Fetiche, Dr. Corvus, Pânico e Seleções de Terror (1979), além de Vampirella (1980), que havia sido publicada anteriormente pela editora Noblet, em 1977.

O advento do Comics Code Authority nos EUA e o subsequente banimento dos comics de terror nas terras do Tio Sam criaram um pequeno problema para os editores brasileiros, que publicavam maciçamente o materiais de editoras como a E.C. Comics. Com a escassez de material americano, mas uma demanda constante do público brasileiro, José Sidekerskis, Victor Chiodi, Heli Otávio de Lacerda, Cláudio de Souza, Arthur de Oliveira e Miguel Penteado criaram, em 1959, a Editora Continental (que em 1961 passaria a se chamar Outubro) e iniciaram um verdadeiro movimento, publicando apenas hqs produzidas no Brasil por autores brasileiros (ou residentes no Brasil).

A Continental/Outubro publicou histórias nacionais de todos os tipos, de faroeste a ficção científica, passando por humor e, é claro, terror, pelo qual ficou conhecida. Entre os títulos de terror mais conhecidos, estavam Seleções de Terror (1959), Histórias Macabras (1961) e Histórias do Além (1965). Foi na Outubro que se destacaram autores que seriam considerados monstros das hqs nacionais, como Flávio Colin, Júlio Shimamoto, Aylton Thomaz, Inácio Justo, Getúlio Delphim, Gedeone Malagola, Sérgio Lima, Juarez Odilon, Nico Rosso, Lyrio Aragão, Luís Saidenberg, Gutemberg Monteiro, todos capitaneados por Jayme Cortez, considerado o responsável por esta primeira onda de hqs nacionais.

Em meados dos anos 60, Miguel Penteado deixa a editora Outubro e funda a GEP, junto com Luiz Vicente Neto. De início apenas prestando serviços para terceiros, tornou-se uma editora pouco tempo depois e publicou revistas de terror como Lobisomem (1966), Estórias Negras (1966), Estórias Diabólicas (1966) e O Esquife (1968), além de almanaques e especiais. Entre os artistas que trabalharam na GEP estavam Gedeone Malagola (Raio Negro) e Edmundo Rodrigues (Irina, A Bruxa), além de Rodolfo Zalla.

Outro “filho” da Outubro foi a editora Taika, surgida em 1966. Mas, diferente da GEP, criada por Penteado após sair da editora, a Taika era a própria Outubro, que teve que mudar de nome. Como Taika, a editora publicou Seleções de Terror (1966), Naiara – A filha do Drácula (1967), Almanaque do Drácula (1968), Histórias Satânicas (1971), Clássicos de Terror (1976), Zarapelho (1976), Contos de Terror (197?) e Fantásticas Aventuras (1973), entre outros.

Mas nem só de Outubro viveu o terror nacional nos anos 60 e 70. Inspirados pelas publicações nipônicas que importavam para os descendentes de imigrantes japoneses no Brasil, Jinki Yamamoto e Minami Keizi fundaram a Edrel, em 1966. As publicações da Edrel eram variadas, mas incluíram títulos de terror como Revista de Terror (1969), Monstros da Noite (1970) e Terror Especial (1973), além de almanaques diversos. Além disso, a Edrel publicou também o personagem Fikom (republicado recentemente pela editora Kalako) e Satã, a Alma Penada, criados por Fernando Ikoma.

Fundada por um dissidente da Edrel, a Roval publicou alguns álbuns e almanaques de terror, como O Monstro de Frankenstein (197?) e Medo (197?). A EBAL, de Adolfo Aizen, chegou a publicar hqs de terror da DC Comics entre os anos 70 e 80, como Histórias de Assombração (1977), Eu…Vampiro (1981) e Histórias da Casa Mal-assombrada (1982).

A Ideia Editorial foi uma editora que durou pouco, mas deve ser lembrada por ter procurado além mar por outras hqs de terror. Assim, tem como mérito a publicação de diversas clássicas hqs eróticas de terror italianas como Zora e Vampi. Entre as revistas lançadas pela editora estão Histórias de Boris Karloff (1976), Histórias Inacreditáveis (197?), Frígida (1980), Conde Dinho (1980), Playcolt (1980), Zora (1980) e Vampi (1980).

A editora Vecchi, fundada em 1913 e provavelmente uma das primeiras editoras a publicar quadrinhos no Brasil, também se aventurou pelo terror, especialmente nos anos 70 e 80, fazendo história. A publicação mais conhecida foi, sem dúvida, a revista Spektro, lembrada até hoje pelos entusiastas do gênero. Inicialmente, Spektro publicava as hqs de As Histórias Sobrenaturais do Doutor Spektro, da americana Gold Key. Mas como havia pouco conteúdo desse personagem e a recepção foi boa, a revista passou a publicar histórias de outras editoras americanas, como Dr. Morte e Dr. Mistério, da Fawcett, republicações de histórias da La Selva e mais adiante, conteúdo da Charlton Comics (que nem sempre eram de terror e pendiam também para a ficção científica). Isso sem contar no forte conteúdo nacional, que incluía criaturas folclóricas brasileiras como boiúna, mapinguari, papa figo e temas tipicamente brasileiros, como macumba. Além da Spektro, a Vecchi publicou também Sobrenatural (1979), Histórias do Além (1980), Pesadelo (1980), Almanaque das assombrações (1981) e Almanaque de Terror (1982), entre outros especiais.

Muito ainda se poderia falar sobre esse assunto, que é inesgotável, então peço desculpas de antemão por quaisquer omissões da minha parte. Na próxima matéria, vamos conhecer um pouco do que foi feito de terror no Brasil a partir dos anos 80.

 

Curiosidades:
– No início do século 20, antes do advento da televisão, os espectadores tinham que assistir suas séries favoritas no cinema. Eram os “serials”, normalmente histórias de aventura cujos episódios eram disponibilizados no cinema, sempre encerrando com um cliffhanger para o próximo (A série Batman, dos anos 60, usou essa técnica em seus episódios, como homenagem a esta “era de ouro” das histórias seriadas);
– Doutor Oculto foi criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, os mesmos criadores do Superman. No entanto, os autores não assinavam seus verdadeiros nomes, e sim como Leger e Reuths;
– Foi na Editora Continental que surgiu Bidu, a primeira revista de Maurício de Sousa, além do primeiro super-herói brasileiro, o Capitão 7;
– A editora Outubro teve que mudar de nome porque a Abril colocou a empresa na justiça, alegando que tinha registrado todos os meses do ano para nomes de editoras. A Abril ganhou a ação e a Outubro teve que mudar de nome novamente (uma vez que havia começado como Continental), tornando-se Taika.

 

Edições anteriores:

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

Nem só de Guardião da Cripta e Tio Creepy vivem o horror hosts dos quadrinhos. Conheça os anfitriões que apresentavam histórias hororizantes nas hqs

Apresentadores não são novidade na TV. De fato, este conceito é provavelmente tão antigo quanto a própria TV. Mas existiu um tipo muito particular de apresentador de TV que capturou a imaginação de milhões de norteamericanos, especialmente entre os anos 50-80: os Horror Hosts (apresentadores/anfitriões de terror, em tradução livre). Frequentemente encarnando personagens sombrios, sobrenaturais e/ou misteriosos, os horror hosts tinham como tarefa apresentar filmes de baixo orçamento e filmes de horror e sci-fi de diversos tipos. Os mais conhecidos do público em geral foram Vampira (a primeira horror host da TV), Elvira (mais sobre ela aqui) e a versão televisiva do Guardião da Cripta (Contos da Cripta)

O que muita gente talvez não saiba, no entanto, é que a ideia dos horror hosts começou anos antes nas histórias em quadrinhos, através das hqs de antologia que continham seu próprio apresentador macabro. A E.C Comics e, posteriormente, a Warren Publishing, foram duas das editoras cujos horror hosts são bastante conhecidos dos fãs de quadrinhos, mas essa tendência se espalhou por muitas outras editoras entre os anos 50 e 80, criando uma tradição nos quadrinhos de horror de antologia. Vamos conhecer os horror hosts dos quadrinhos.

 

E.C Comics

Os primeiros horror hosts surgiram no início dos anos 50 e estão entre os mais conhecidos dos leitores de quadrinhos. Quando os quadrinhos de horror emergiram como uma alternativa popular após a Segunda Guerra, a recém-formada E.C. Comics aproveitou o amor do fundador e do editor pelo gênero para investir numa tríade de hqs que se tornariam referência a partir daí: The Vault of Horror, The Haunt of Fear e Tales From the Crypt (1950).

The Crypt Keeper, The Old Witch, The Vault Keeper e Drusilla

Na teoria, cada revista tinha associada a si um horror host: The Vault of Horror tinha o Vault Keeper, Tales From the Crypt tinha o Crypt Keeper e The Haunt of Fear tinha The Old Witch. Na prática, no entanto, os três apresentadores eram vistos contando histórias nas 3 revistas, tornando difícil dissociar uma hq da outra. Além dos 3 apresentadores clássicos, The Vault of Horror teve suas 4 últimas edições apresentadas pelo Vault Keeper em conjunto com uma outra personagem, uma silenciosa mulher chamada Drusilla (visualmente muito semelhante à Vampira, horror host televisiva da época)

Mais sobre a história da E.C. Comics aqui, aqui, aqui e aqui.

 

Uncle Creepy, Cousin Eerie e Vampirella

Warren Publishing

A editora que trouxe o horror de volta nos anos 60 ao se aproveitar de uma brecha legal no Comics Code Authority (saiba mais aqui e aqui) trouxe as revistas de antologia e também a tradição dos horror hosts de volta. Não por acaso, a Warren trouxe diversos dos artistas e autores que trabalharam na extinta E.C. para produzir as antologias da editora.

Uncle Creepy era o apresentador da revista Creepy (1964), enquanto que o Cousin Eerie era sua contraparte na revista irmã Eerie (1966). Vampirella (1969), que completou a tríade da Warren, começou como horror host, mas com o tempo sua revista passou a contar apenas com histórias solo da personagem, tornando-a provavelmente o personagem mais popular criada pela Warrem.

Recentemente, tanto Creepy quanto Eerie têm tido suas histórias republicadas e Vampirella, apesar dos percalços editoriais ao longo das décadas, segue firme e forte, agora nas mãos da Dynamite Entertainment, em histórias próprias.

Mais sobre a história da Warren Publishing aqui.

 

Cain, Abel, Eva (quadro) e Elvira

DC Comics

A DC iniciou seu caminho nas hqs de horror ainda nos anos 50, com suas revistas House of Mystery (1951) e House of Secrets (1956). No entanto, estas revistas passaram a ter horror hosts apenas nos anos 60 (mais especificamente em 1968), quando o Comics Code Authority começou a ser desafiado pelas grandes editoras e a flexibilização de algumas das regras permitiria à DC trazer de volta um pouco do tom de horror às suas revistas (que haviam sido reimaginadas como histórias de super-herói). A partir daí, a relação da DC com horror hosts expandiu significativamente.

Cain e Abel eram os apresentadores/moradores de House of Mystery e House of Secrets, respectivamente, mas também apresentaram uma revista satírica de humor/horror da DC chamada Plop! (1973), junto com a personagem Eva, que também era a horror host de outra revista, Secrets of Sinister House (1972). Os 3 personagens eram, basicamente, suas contrapartes das histórias bíblicas e fizeram parte do universo DC em diversos momentos. Elvira, horror host da televisão, passou pela Casa dos Mistérios num lançamento de 12 edições chamado Elvira’s House of Mystery (1986), onde ficou de apresentadora no lugar de um desaparecido Cain. (mais sobre as passagens de Elvira pelos quadrinhos aqui).

The Mad Mod Witch e As Três Bruxas (Mildred, Mordred e Cynthia)

Eva foi, mais tarde, “transferida” para a revista Weird Mystery Tales (1972), enquanto que Secrets of Sinister House passou a ser apresentada pelo personagem Destino – mais tarde resgatado por Neil Gaiman para sua série Sandman – quando esta passou a se chamar Secrets of Haunted House (1975). A revista também era apresentada ocasionalmente por Cain, Abel e Eva, mas Destino era o único host fixo.

Alem dos anfitriões mais conhecidos, a DC Comics teve também The Mad Mod Witch, que foi a primeira apresentadora da revista Unexpected (1968). Diferente dos outros horror hosts, no entanto, The Mad Mod Witch não dominava a revista em que aparecia. The Unexpected também teve como apresentadores Abel, de House of Secrets, e The Three Witches, as bruxas Mildred, Mordred e Cynthia que, juntas, eram a personificação da vingança. Logo as 3 Bruxas passaram a apresentar também a revista The Witching Hour (1969) -mais tarde, as duas hqs  seriam fundidas em uma só publicação.

Uma revista irmã de Secrets of Sinister House, chamada Forbidden Tales of Dark Mansion (1971), passou a ser apresentada por uma personagem chamada Charity a partir da edição #7. Charity era uma cartomante que contava suas histórias para quem parasse na tal da “Mansão sombria”, mas que depois foi incorporada ao Universo DC por James Robinson, residindo em Opal City (cidade natal de Starman), onde abriu uma loja chamada Fortunes & Forbidden Tales.

Charity, Squire Shade, Destino e Morte

Outros horror hosts da DC incluíram Squire Shade, um fantasma que trajava uma roupa clássica na cor branca e monóculo, que assumiu a revista Ghosts (1971) a partir da edição 104; Morte, que apresentava a revista Weird War Tales (1971); e Lucien, o guardião da biblioteca de um castelo abandonado na Transilvânia que vivia com Rover, seu companheiro Lobisomem – apresentadores da revista Tales of Ghost Castle (1975). Morte e Lucien foram outros dois personagens aproveitados por Neil Gaiman em Sandman, embora o visual da Morte tenha sido completamente reimaginado para a série.

Mais sobre o terror na DC Comics aqui e aqui.

 

Mr. L. Dedd, Dr. M. T. Graves, Old Witch e Mr. Bones

Charlton Comics
Nem só de super-heróis como Besouro Azul e Capitão Átomo vivia a Charlton, que possuía também um bom número de publicações de terror, algumas delas com seus próprios horror hosts. Mr. L. Dedd (mais tarde renomeado I. M. Dedd) foi um homem de meia idade de chifres que se vestia como um vampiro e contava histórias de sua casa assombrada na revista Ghostly Tales (1966). Já o Dr. M. T. Graves, depois de ser introduzido em Ghostly Tales #55, passou a apresentar suas próprias histórias em The Many Ghosts of Doctor Graves (1967). Diferente da maioria dos apresentadores, Dr. Graves às vezes era participante das histórias que contava.

Outra revista irmã de Ghostly Tales era Ghost Manor, que teve dois volumes: o primeiro, de 1968, era apresentado pela “Velha Bruxa” (que não era a mesma de Haunt of Fear da E.C.); e o segundo, a partir de 1971, apresentado por Mr. Bones, um mordomo que era um esqueleto reanimado com uma máscara sinistra. Entre um volume e outro, Ghost Manor deu lugar a Ghostly Haunts (1971), que era apresentada por Winnie the Witch, uma bruxa de pele azul.

Impy, Barão Weirwulf, Professor Coffin, Arachne e R.H. Von Bludd

Completam a lista da Charlton as revistas Haunted (1971), que teve como apresentadores o fantasma diminuto Impy e mais tarde Barão Weirwulf; Midnight Tales (1972), que tinha dois apresentadores: Professor Coffin, também conhecido como The Midnight Philosopher, e sua sobrinha Arachne; e Scary Tales (1975), apresentado pela sedutora vampira de roupas justas Condessa R.H. Von Bludd. A maior parte dessas revistas era publicada bimestralmente e algumas delas duraram até o fim da Charlton, em meados dos anos 80.

 

Outras editoras

Apesar de ter uma grande tradição no terror, a Marvel Comics teve apenas um horror host digno de nota: Digger, uma assassino de pele verde (às vezes azul) que contava histórias para suas vítimas enquanto as enterrava em duas revistas, Tower of Shadows e Chamber of Darkness, de 1969. Ambas as revistas foram reformuladas em 1971, sem seu apresentador (“Tower…” se tornou Creatures on the Loose e “Chamber…” virou Monsters on the Prowl).

Mais sobre terror na Marvel Comics aqui.

Digger (marvel) e Dr. Spektor (Gold Key).

Outra editora que teve horror hosts foi a Gold Key, que além de publicar uma hq baseada em Além da Imaginação – que tinha como apresentador Rod Serling, também apresentador da série (mais sobre aqui) – também publicava Dr. Spektor Presents Spine-Tingling Tales (1975), apresentada pelo Doutor Spektro do título, um “detetive do oculto” que antes havia sido protagonista nas revistas Mystery Comics Digest (1972) e The Occult Files of Doctor Spektor (1973).

Os anos 80 viram os últimos resquícios dos apresentadores de terror. Diversos deles (especialmente na DC Comics) retornariam mais tarde como personagens, seja em suas próprias histórias ou como coadjuvantes de outros títulos. Mas a tradição de produzir antologias apresentadas por personagens sinistros acabou sendo deixada de lado, infelizmente.

Horror hosts dominaram os quadrinhos de horror americanos por um bom tempo e causaram impacto entre os fãs de inúmeras gerações. Uma tradição que, ainda que tenha se dissipado com o tempo, nunca vai deixar de fazer parte dos pesadelos e das histórias macabras dos entusiastas do gênero.

Curiosidades:
– O Guardião da Cripta (The Crypt Keeper) foi um dos apresentadores das revistas da EC que pularam das hqs para outras mídias em duas ocasiões: primeiro, na adaptação britânica de Contos da Cripta, um filme que continha 4 histórias apresentadas pelo personagem, e na famosa série de TV Contos da Cripta. Apesar do Guardião da Cripta da série ser o mais lembrado, ele nada tinha a ver com o apresentador dos quadrinhos. A versão do filme britânico é mais fiel ao visual e características da hq original;
– Apesar do título, a série Contos da Cripta não adaptava apenas histórias de sua HQ homônima. Vários episódios foram adaptados também de Vault of Horror e Haunt of Fear;
– Nos anos 90, a versão televisiva do Guardião da Cripta foi o apresentador de uma animação chamada Tales from the Cryptkeeper, uma versão infantil dos Contos da Cripta que tinha histórias originais (sem ser baseado na série ou nas hqs);

– Cain e Abel foram personagens relevantes no arco Gótico Americano do Monstro do Pântano, escrito por Alan Moore. Eva foi resgatada nas histórias do Sandman escritas por Neil Gaiman;
– Além da sua passagem por House of Mistery, Elvira também teve sua própria revista regular nos anos 90 pela editora Claypool, onde era a personagem principal ao invés de apenas a apresentadora das histórias;
– A capa da edição 54 de The Many Ghosts of Doctor Graves foi um dos primeiros trabalhos de John Byrne para a indústria.

Edições anteriores:

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios