Sarjeta do Terror #21 – Terror nas grandes editoras, parte final

Na última parte sobre o Terror nas grandes editoras, conheça um pouco da história do selo Vertigo.

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Embora DC e Marvel sejam muito mais lembradas por seus super-heróis do que por seus personagens mais voltados para o terror, não dá para negar que o gênero influenciou muitas das histórias contadas por ambas as editoras (inclusive entre os super-heróis). Mas as revisões do Comics Code permitiram que estas editoras pudessem alçar vôos mais altos com histórias especificamente voltadas para o terror, e até histórias mais adultas. Com isso, os leitores puderam apreciar obras como O Cavaleiro das Trevas, a Piada Mortal, Asilo Arkham – Uma séria casa num sério mundo, A Última Caçada de Kraven, Sandman, Monstro do Pântano, entre outros.

Nem todas essas histórias se encaixariam no gênero “terror”, é claro, mas o importante aqui é ter em mente que certos elementos (especialmente o terror psicológico) que dão uma tônica mais madura às histórias só foram possíveis a partir dos anos 80 e da flexibilização do Comics Code. Essas mudanças também abriram caminho para a criação de um selo “à parte” da DC que acabaria fazendo história. Na última parte sobre terror nas grandes editoras, uma visão (bem reusmida) da história do selo Vertigo.

O selo Vertigo

Falar sobre terror na DC Comics seria impossível sem falar do selo Vertigo. Não porque o selo seja exclusivamente voltado para o gênero (longe disso), mas porque podemos dizer que o terror foi um dos pontos de partida para o seu surgimento.

Oficialmente, a Vertigo surgiu no início dos anos 90, sob a gerência e graças à visão de Karen Berger. Mas sua história começa um pouco antes. No final dos anos 70, Berger era assistente do editor Paul Levitz e já tinha certa bagagem no terror, tendo começado a trabalhar em linhas como House of Mistery. Já nos anos 80, como editora de títulos como Mulher Maravilha e Ametista, Berger começou a trazer escritores da Inglaterra para a DC, incluindo gente como Neil Gaiman, Peter MIlligam e Grant Morrison. O motivo principal é que ela via nesses autores um visão mais renovada dos quadrinhos, na forma roteiros mais interessantes e maduros – em comparação com o mundo polarizado dos comics de super-herói.

Estes escritores começaram a trabalhar em personagens-chave que naturalmente passaram a se tornar algo diferente do que a DC tinha até então com seus super-heróis. Estampando na capa a mensagem “sugerida para leitores maduros”, 7 títulos deram o pontapé inicial para o surgimento do selo Vertigo: Homem Animal, Patrulha do Destino, Shade, Orquídea Negra, Sandman e Monstro do Pântano, todos estes sob a tutela de Karen Berger e escritos por autores britânicos.

Em 1993, durante uma reunião de editores, Berger ganhou a tarefa de colocar seus títulos mais maduros sob um selo próprio, para que fosse capaz de fazer coisas diferentes e fazer a mídia quadrinhos amadurecer mais. Entra em cena a Vertigo.

Enquanto muitos títulos do selo se situavam dentro da continuidade do Universo DC, outros que existiram em continuidade própria, separados não só do UDC, mas também de outros títulos Vertigo. Foi o caso, por exemplo, de Preacher, de Garth Ennis, que apenas compartilhava continuidade com suas séries spin-off.

O monstro e o encapotado

Monstro do Pântano, série sobre o cientista que se transforma em um hiíbrido planta-animal, criado originalmente por Len Wein, foi revitalizado pelas mãos de Alan Moore, que pavimentou o caminho para outros roteiristas quando a HQ foi colocada sob a batuta da Vertigo. Alan Moore também foi responsável pela criação de John Constantine, que passou para a Vertigo com o tílulo Hellblazer, um dos mais populares do selo.

Maluquices lisérgicas

Outro que despontou nesta época foi Grant Morrison. O autor revitalizou o Homem Animal e a Patrulha do Destino, criando, com estas HQs, duas das séries mais inusitadas e estranhas que os quadrinhos norteamericanos já produziram. Na primeira, o Homem Animal vira vegetariano, toma alucinógenos e encontra seu próprio criador; na segunda, a “equipe mais estranha do universo DC” faz jus ao seu nome com personagens bizarros e histórias pra lá de surreais.

50 Shades do Milligan

Shade, o homem mutável, foi um personagem criado por Steve Ditko nos anos 70. Nos anos 80, foi trazido de volta, tendo sido revitalizado nas páginas do Esquadrão Suicida, ganhando título próprio 6 meses depois de sua última aparição na revista, sob a tutela de Peter Milligan. Entre as características curiosas da revitalização feita por Milligan estão alterações em sua origem (mostradas em Esquadrão Suicida) e as várias mortes do personagem. Milligan matou o personagem diversas vezes, sempre trazendo-o em uma forma diferente, seja em etnia ou gênero biológico. Shade trouxe diversos assuntos que não eram abordados em nenhuma história de super-heróis mainstream (como transgeneridade, por exemplo).

Os sonhos de Neil Gaiman

Sandman, a revitalização do personagem da era de ouro feita por Neil Gaiman, deu muitos frutos para a Vertigo em todos os sentidos. Além do título principal, a série explodiu em diversos spin-off de personagens de seu universo, como Lúcifer e Morte, criando quase um universo próprio dentro do Universo DC. Além disso, Gaiman trouxe também Tim Hunter e a HQ Livros da Magia, que tinha a participação de diversos seres do lado místico/sobrenatural da DC. Curiosamente, Wesley Dodds, o Sandman da Era de Ouro (e membro da Sociedade da Justica) teve um retorno pela Vertigo com Sandman: Teatro do Mistério, por Matt Wagner.

Curiosidades

– Diversos títulos publicados pela DC anteriormente, pré fundação da Vertigo, foram reimpressos sob o selo (lá nos EUA), entre eles V de Vingança;
– Duas adaptações cinematográficas foram feitas baseadas em personagens da vertigo: Constantine, com Keanu Reeves, baseado em Hellblazer (considerada a primeira adaptação), e Marcas da Violência (quer dizer, 3, se você considerar também V de Vingança). Essa contagem oficial ignora, é claro, filmes de personagens feitos antes do surgimento do selo, como os dois Monstro do Pântano;
– Títulos da Vertigo também tiveram adaptações para séries de TV, como Human Target e Constantine;
– Karen Berger pode ser vista como personagem da DC na última edição de House of Mystery (323), onde ela mesmo expulsa Caim da casa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

O Guia de Leitura de Camelot 3.000

Foto 3Por Vagner Abreu – especial para o ArgCast

Naves espaciais, combate contra aliens, espadas mágicas e o retorno à vida de um rei inglês do Século V.

Dificilmente você vai encontrar todos esses ingredientes em uma única obra de ficção.

A não ser que seu autor não esteja se levando a sério ou… justamente levando a sério DEMAIS suas fantasias. Né?

Mas em Camelot 3.000, HQ escrita por Mike W. Barr e desenhada por Brian Bolland para a DC Comics a história não é bem assim.

(E que foi tema do ARGCAST 159)

Hoje iremos desvendar por que uma obra tão excêntrica e ao mesmo tempo tão envolvente pode ser considerada um dos melhores trabalhos autorais realizados para a DC.

O que é Camelot 3.000?

Publicada entre 1982 a 1985, Camelot 3.000 contas as aventuras dos lendários Rei Arthur, Merlin e os Cavaleiros da Távola Redonda e como eles renascem no futuro.

Foto 2No ano 3.000 DC para ser mais exato.

A centelha para acender essa chama se dá quando um rebelde terráqueo está fugindo de uma invasão alien e  invadir a tumba de Arthur em Glastonbury.

Misteriosamente, o rei desperta e precisa encarar um novo desafio: enfrentar a invasão desses seres que veem de um tal de Décimo Planeta.

A grande verdade é que são seres enviados pela irmã feiticeira maligna e gostosa pra caralheo de Arthur – Moragna LeFey.

Para esse confronto, o rei contará novamente com o apoio de seus cavaleiros, Lancelot, Guinevere, Gawain, Kay, Galahad e Tristão que estão reencarnados nesse futuro distópico.

Mas, infelizmente, nem todos os Cavaleiros estão felizes com a nova vida. Principalmente Tristão que reencarna em uma mulher. Ele (ela) estaria disposto a tudo para poder voltar a ser homem… Até mesmo trair a confiança de seu Rei!

 Como as histórias arturianas nos contam que o rei já foi traído.

Mas, afinal, existiu um Rei Arthur?

Foto 4Essa é uma pergunta impossível de se responder com certeza.

Muitos estudiosos de sua história e mito, como Vortigen, Gildas e Ambrósio não conseguiram chegar a uma conclusão sobre a existência desse rei-soldado e defensor dos bretões.

Estima-se que deve ter existido uma figura heroica importante no Século V cujo nome era Arthur e que seus feitos foram tão importantes que influenciaram gerações futuras.

Isso é verdade porque dois séculos depois da suposta existência de Arthur, houve um imenso número de crianças batizadas com esse nome.

(hoje, infelizmente temos que ver uma nova geração de Neymar por aí)

Um Francês no Trono Inglês

Foto 5Porém, a recriação mais popular do mito desse rei foi feita pelo escritor inglês Thomas Malory no romance Le Morte D’ Arthur, em 1485.

Malory deu uma de John Byrne e recontou as origens e principais aventuras do Rei Arthur reunindo em sua narrativa, diversos causos contados pelo povão.

Especula-se que seja por causa dele que o Arthur passou a ser um fervoroso defensor do Cristianismo e recebeu um bom par de chifres de Lancelot.

É que esse cavaleiro era o único francês em Camelot. E Malory, era um vendido partidário da França – sim, é por isso que o romance chama-se Le Morte D’ Arthur ao invés de The Death of Arthur – ele não poderia perder a chance de sacanear o maior ícone dos ingleses.

foto 6Imagine se essa história fosse escrita por um brasileiro. Possivelmente, Lancelot/Arthur seriam argentinos.

Camelot 3.000 não é exatamente uma adaptação do romance para os quadrinhos. Mas uma continuação dos dramas dos personagens.

Barr aproveitou a deixa maloryana que encerra a obra que diz:

“Alguns dizem em muitas partes da Inglaterra que o Rei Arthur não está morto, mas descansa pela vontade de nosso Senhor Jesus em outro lugar”.

E criou o bordão dessa nova série que aparece já na primeira página de cada capítulo:

“Dizem as lenda que, quando seu povo mais precisar, ele voltará a vida para empunhar sua espada com justiça e sabedoria. Esse dia chegou…”

 

Hibridismo Narrativo

Entretanto, afirmar que Camelot 3.000 é apenas uma continuação da saga de Malory seria uma observação muito superficial. A verdade é que a obra consiste em um híbrido entre os eventos de Le Morte D’ Arthur e uma re-encenação de boa parte do romance.

 

foto 7

 

Duvida?

Você com certeza irá constatar isso na reconstrução do triangulo amoroso entre Arthur, Lancelot e Guinevere; a nova busca de Percival pelo Graal e o ataque final dos Cavaleiros da Távola Redonda ao Décimo Planeta – no romance acontece um ataque a um território romano invasor.

foto 8Esse hibridismo da obra pode referenciar a própria mídia para qual ela foi escrita.

Os quadrinhos são por definição um meio hibrido de leitura. Consiste na leitura de textos em balões e a interpretação de imagens.

Isso é tão evidente em Camelot 3.000 que se você apenas ler os balões e “sobrevoar” algumas imagens, irá perder boa parte da experiência!

Ainda sobre o hibridismo, pode-se dizer que esse quadrinho realmente bebe de 3.000 referências.

Mas é possível destacar que a HQ é composta não somente de elementos da literatura, como também possui forte influência da Ficção científica, dos Comics e de Filmes sobre a Távola Redonda.

Nós vamos explorar brevemente cada um desses elementos nos tópicos abaixo.

 

As 3.000 Influências de 1 Camelot

 Referências 1.000 – A Ficção Científica

  • Star Wars: É evidente que o lançamento de O Retorno de Jedi (1983) influenciou o trabalho de Barr e Bolland. Em um primeiro momento, vemos isso no sucesso que a Space Opera fazia na época em que o quadrinho foi lançado. Mestres do Universo que o diga!

E depois, as naves e o visual de Bolland para o futuro 3.000 são semelhantes aos de Guerra nas Estrelas. O próprio Barr, antes de escrever essa obra, trabalhou em vários roteiros para as HQs de Star Wars.

  • Monstros Reptilianos: Os aliens invasores são muitas vezes semelhantes a dragões – tão comuns nas narrativas medievais sobre o Rei Arthur. Essa aparência de dragão é reforçada quando os Cavaleiros invadem a toca da alien-rainha.

Perceba como ela parece mesmo com um dragão medieval.

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  • Brave New World: Percival reencarna em um neo-humano. Prisioneiros políticos criados artificialmente com habilidades de combate e pouco sentimentos. Verdadeiras tropas de elites para controle de multidões.

Essa ideia de um Estado cuja autoridade repousa na obediência de humanos alterados no nascimento é semelhante ao encontrado no livro Admirável Mundo Novo (1932) de Aldous Huxley.

Referências 2.000 – Quadrinhos de Super-Heróis

No primeiro volume dessa HQ, na seção de cartas, Mike Barr afirma que Camelot 3.000 será uma “história completa, que chegará a um fim”. Ou seja, completamente diferente do pensamento da indústria de comics em que as aventuras dos personagens parecem nunca ter fim.

Afinal de contas, os Supers podem casar, fazer pacto com o Mefisto e voltar a ser solteiro. Que pouca coisa modifica na vida “reatconizada” do personagem, não é?

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Mesmo assim, é impossível afirmar-se que essa obra “não recebe influência dos quadrinhos de Supers”. É possível ler em Camelot 3.000 alguns elementos Super-heroicos disfarçados:

  • Aquaman: Visualmente, Artur é um hibrido entre guerreiro medieval com Super-Herói de uniforme colan. Bolland imaginou para o rei um traje que mantém as famosas cotas de malha com roupa colada ao corpo.

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Esse tipo de uniforme lembra bastante a armadura de batalha do atlante Aquaman.

  • Superman: O Rei Arthur (o líder dos Cavaleiros) e Superman (por vezes aparece como líder na Liga da Justiça) também compartilham as mesmas paletas de cores: vermelho, azul e amarelo.

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  • Paletas de Cores: Essa mesma palheta também aparece no uniforme de outro líder de super-equipe dos quadrinhos. O ciclope dos X-Men.

É possível dizer que as palhetas de cores de um personagem refletem sua personalidade. As cores de Arthur são geralmente encontradas em heróis puros de tendência lawful good. Mas que leu a história até o fim sabe que esse mundo não é tão preto e branco.

Vale também destacar as cores roxas e verdes comuns no Coringa, Duende Verde e Hulk (tá o Hulk não é vilão, mas nem sempre é herói também). Ao que parece, essas cores indicam personagens com sérios problemas psicológicos.É… A psicologia das cores.

Referências 3.000 – Filmes Arthurianos

  • Camelot (1967): Esse filme de Joshua Logar foi mencionado por Barr na seção de cartas dessa revista – versão americana – como uma forte influência para a HQ. Mas isso porque, segundo Mike Barr, é a versão da obra de Malory com a qual as pessoas estavam mais familiarizadas.

O filme também é o preferido do roteirista.

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Outra referência ao filme, acontece na HQ. Na passagem em que Lancelot – um soldado cristão – reza para que Guinevere sobreviva a morte.

  • Excalibur (1981): Embora, Excalibur não passe na “Regra dos 15 Anos” (armaduras de lata enormes e historicamente errôneas e atuações exageradas DEMAIS DEMAIS DEMAIS), esse filme de John Boorman influenciou bastante o visual de Camelot 3.000

A face do Arthur é igual ao rosto do ator desse longa: barba curta e espessa e cabelos castanhos divididos ao meio, cortados pelo meio da testa e à altura dos ombros.

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Lancelot também recebe influência: principalmente por sua armadura completa e branca, sem nenhuma imperfeição. Realmente muito semelhante a que o cavaleiro veste na HQ.

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Morgana: A feiticeira e irmã-maligna do rei também teve seu visual influenciado por Excalibur. Principalmente em seus trajes ousados e uuuuh… Gostosa!

Ela é completamente diferente da Morgana do filme As Brumas de Avalon que é bondosa, nem um pouco gostosa e não sabe valer-se de sua sensualidade.

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Ainda sobre os filmes vale como recomendação, o longa de 1953 Os Cavaleiros da Távola Redonda. Pode ver sem medo. É bem possível que você encontre muita coisa aqui que lembre a HQ de Barr e Bolland.

 Considerações Finais

Camelot 3.000 como as melhores obras nerds trabalha muito bem a reunião de elementos de peças consagradas para compor uma obra única. Cuja experiência de leitura é inesquecível.

Discutindo conceitos como reencarnação e sexualismo ao mesmo tempo em que joga a corte arturiana em um universo sci-fi, Camelot não poderia ter sido concebida em uma época melhor do que os anos 1980.

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O público de quadrinhos norteamericano recebia a cada mês, obras cada vez mais maduras sobre super-heróis.E o Comic Code Authority já não estava mais caçando os quadrinhos e queimando nas fogueiras da inquisição.

Eu arrisco dizer que Camelot abriu terreno para  Sandman discutir filosofia e brincar com mitologia, para fazer referências a fundamentos do cristianismo misturados a conceitos de religiões orientais como a possibilidade de reencarnação e a lei karmica de causa e efeito.

Uma leitura, como disse do Daniel HDR no ARGCAST 159, recomendada para os amantes dos quadrinhos e estudantes que desejam entender ao máximo o que só a nona arte pode oferecer.

ArgCast #131 – WE3

E nesse episódio do ARGCAST, Fabiano “Prof Nerd Silveira”, Daniel HDR, Ana Recalde, Rogério DeSouza e Vagner Abreu, juntamente com Guilherme Sorg (Baile dos Enxutos) comentam um dos quadrinhos da Vertigo mais queridos pelos fãs deste mítico selo da DC Comics. Conheça WE3, a mistura perfeita da “Incrível Jornada”+ “Robocop” + “Bethoven 5”… A HQ que tinha tudo para ser uma droga, mas que é um experimentos de narrativa gráfica mais legais feitos pela dupla GRANT MORRISON e FRANK QUITELY (que ganhou o Eisner Awards de melhor desenhista por este magnifico trabalho).

Links relacionados:
Concurso Cultural WALT SIMONSON;
Você acha o seu gato fofo? Sabia que ele planeja te matar?
Ratos com furadeiras: evite;
Desvia que vem bala!
Quadrinhos em 3 dimensões. Só um gato foda pode pular entre eles!
WE 3 livre!
Daniel HDR e seu amigo Frank Quitely: “Tomara que tenham pego o gato”!
Canal do Daniel HDR no YouTube;

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ArgCast #131 – WE3 ArgCast

É um Pássaro: Refletindo com o Homem de Aço

“Your own personal Jesus / Someone to hear your prayers

Someone who cares / Your own personal Jesus

Someone to hear your prayers / Someone who’s there”

– Personal Jesus, Depeche Mode

NewPOP_PassaroO que você faria se em uma situação hipotética o editor da DC Comics chega-se até dizendo:

“Olá fulaninho! Decidimos te dar a oportunidade de fazer algo grande. Você terá que escrever uma história de um personagem importante da casa. Você topa?”

Antes mesmo que você comece a enunciar a palavra monossilábica com a finalidade de descobrir QUAL é esse personagem importante da casa. Mais rápido que uma bala o misterioso herói é revelado: SUPERMAN!

 Bem, passado o tempo de euforia em que você pula por todos os cômodos de seu apartamento, chuta o cachorro e manda SMS para a mãe, a avó e a professora do primário. Você coloca a cabeça para funcionar na busca de fazer justiça ao maior Super Herói de todos. Afinal, você bem sabe o quanto o Superman foi prejudicado pelos roteiristas que, através só fizeram estragar o Azulão criando histórias cada vez mais absurdas e indignas de toda a mitologia criada para o personagem desde Siegel e Shuster

Pois, você é o maior fã de Superman da face da Terra e de Kripton e é claro que fará citações às inúmeras Eras de vivência do herói bem como a todos os incríveis poderes que ele possui. Lógico que vai deixar de fora coisas absurdas como o beijo que apaga memórias, a sua fase com mullets e o uniforme azul e branco.

E para encerrar, com certeza você irá tratá-lo com todo o respeito que merece e fará todas as referências “NIETZSCHERÍANAS” (cunhei essa palavra agora) sobre o Homem Supremo. Com tanto material, menções e analogias seu trabalho só ficará abaixo do de mestres como Alan Moore e Grant Morrison (bem, não para a sua mãe, sua avó e a professora do primário).

 

É um pássaro…

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Conforme os relatos do fã de Superman descritos acima, escrever sobre o maior ícone dos quadrinhos parece ser uma tarefa fácil para qualquer leitor de gibi. Porém, Isso não foi uma verdade para o escritor e roteirista Steven T. Seagle durante os acontecimentos semi-biográficos narrados na belíssima “É um Pássaro…”,  graphic novel publicada pelo selo Vertigo de quadrinhos adultos e trazida ao Brasil pela NewPop editora.

Steven é um daqueles pseudo-intelectuais que já leu cerca de 34.567 livros e meio e que não dá a devida atenção para personagens que considera rasos (deve ser leitor do Báetman). Porém, Steven (sim, a HQ se baseia em um relato real) é um puta escritor e tem uma carreira promissora pela frente e, por isso, seu editor lhe concede a MAIOR oportunidade que um roteirista poderia querer.

No entanto, ao invés de ficar feliz, o nosso protagonista nega qualquer importância que o personagem possa ter. Além disso, a vida pessoal dele está indo de mal a pior. Sua mãe está preocupada com o sumiço de seu pai, o namoro cada vez mais tenso e uma doença comum a sua família retorna para assombrá-lo. E o pior de tudo é que os infortúnios que acometeram a vida do esnobe escritor, de algum modo, estiveram ligados ao Superman.

Então, amigo leitor, ao ver as condições de Steven, você seria capaz de julgá-lo por não querer escrever uma HQ do Homem de Aço?

“Claro que você seria! Ora, onde já se viu negar um trabalho desses!”

 

Escrevendo sobre mitologia

Its_a_Bird_-_GN_p084“É um Pássaro…” é uma excelente obra sobre metalinguagem. Nela vemos o conflito de uma pessoa frágil e imperfeita ao vislumbrar o ser humano que estaria mais próximo à perfeição.

A cada página você se pergunta que tipo de história esse cara reclamão irá escrever sobre o Superman. Ao mesmo tempo, o escritor é bem-sucedido em explorar tanto toda a mitologia que nasceu junto com o Homem de Aço – Criptonita, Lois Lane, Luthor – quanto as singularidades da psicologia do herói – o disfarce entre os mortais, o fato de ser estrangeiro, a invulnerabilidade, a perfeição, etc. A obra ou o personagem é digna(o) de receber um TCC.

A própria associação com o Ser Iluminado comum as várias culturas antigas (Krishna, Buda, Apolo, Thor, Hórus) é reapresentado aqui. Fazendo as ligações entre Ka-el e Cristo.

A arte de Teddy Kristiansen (Sandman: Casa dos Mistérios) é bem simples lembrando um desenho de criança muitas vezes. O desenho não é tão detalhado, mas você vence a barreira nas primeiras páginas e se deixa envolver pela narrativa. O personagem que é Steven T. Seagel amadurece ao logo da história mas passa por uma jornada pessoal para isso: Ele rejeita o Super, renega a proximidade com familiares, se torna desleixado,  briga de soco com amigos e se desentende com a namorada. Nesse momento ele chega ao Abismo. Próximo a perder o emprego e o pai e a saúde física e mental.

Tudo isso para refletir sobre a vida e a importância de um ícone pessoal, alguém em quem se pode se espelhar e desejar ser melhor. Nas palavras do autor:“O Superman existe para isso. Nos lembrar que temos obstáculos, mas enquanto continuarmos pulando continuaremos na corrida. Sempre há um ‘há seguir’. Sempre!”

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Graphic novel excelente que reforça a importância seguir um exemplo. A mensagem deixada pelo escritor é que um exemplo é capaz de impulsionar a vida de uma “pessoa comum”. E que não são as suas crenças que fazem de você alguém melhor. São seus comportamentos que o fazem.

Eita! Sei que o papo está “esquizotérico”, mas é isso que o maior herói do mundo e protetor de um povo que o rejeita nos inspira: Compreensão sem tamanho.

E foi isso que Steven e Eu (como fã de gibi) aprendemos com o ícone supremo dos quadrinhos.

 

Ficha Básica: É um Pássaro… (It’s a Bird…); Escrito por Steven T. Seagle; Arte de Teddy Kristiansen; História Completa; Recomendado para maiores; Formato: 17x26cm; 136 páginas coloridas em papel couche brilhoso; Capa cartonada.

Por Vagner Abreu

 

Leões de Bagdá

Brian K. Vaughan é um dos grandes escritores de Quadrinhos dos dias atuais. Dono de um estilo “literário” único e autoral, Vaughan se consolidou no mercado como um dos maiores roteiristas da atualidade, tendo alcançado as televisões, escrevendo roteiros até mesmo para Lost.

Publicada em 2006 pela Vertigo, e lançada no Brasil apenas em 2008, Leões de Bagdá traz roteiros de Vaughan e arte de Niko Henrichon.
A Graphic Novel traça uma alegoria sobre a possível “libertação” do povo iraquiano do governo de Saddam Hussein pelos americanos, tudo isso do ponto de vista de leões que fugiram do Zoológico de Bagdá, após bombardeios das tropas norte-americanas. O fato realmente ocorreu, o que dá um gostinho ainda mais interessante na história, mas vamos a ela em si.

Após o bombardeio, quatro leões escapam de suas jaulas, e sob o ponto de vista deles, temos contatos com diferentes perspectivas, como a do filhote de leão, que se sente entusiasmado pelo novo mundo que está conhecendo, a do chefe da alcatéia que procura se adaptar a nova situação, da leoa mais velha que reluta em encarar a nova vida, pois ja havia sofrido muito enquanto era livre e finalmente da leoa jovem, que durante toda sua vida sempre quis fugir do Zoológico e retornar a vida selvagem.

No desenvolvimento da história, somos apresentados a fundo as personalidades de cada personagem, e presenciamos os embates da leoa mais velha, Safa, com Noor, a jovem leoa, e são nesses embates onde temos o cerne da questão. O que é a liberdade?

A obra não tem nada de sutil, vê se de longe a clara influência do EUA e seu conceito de “libertação” do mundo, claro, tudo isso sob o olhar de animais que anseiam por sua liberdade, mas que a conseguem de maneira inesperada. Existe sim uma antropomorfização, e ela está muito bem trabalhada, todos os leões demonstram aspectos humanos, a metáfora é evidente, porém, não é forçada. Cada um deles tem sua personalidade bem definida, cheia de nuances e problemas. É impossível não se identificar com as personagens.

Vaughan é um cara que tem me surpreendido sempre que o leio, e agradeço imensamente por isso. A história é muito bem construída, sua narrativa é prazerosa de se ler. O roteirista fez todo um trabalho de campo comportamental sobre os leões, a situação política do Iraque e a invasão norte-americana. Na obra vemos todos os sentimentos conflituosos sobre essa polêmica guerra.

Falar de Vaughan é chover no molhado, mas não se pode esquecer da arte da HQ. Nicho Enrichon, esse nome merece atenção, nunca tinha visto seu trabalhoa antes e o cara é fantástico, dono de um “traço” espetacular, consegue somar isso a um excelente trabalho de cores. As expressões dos animais são intensas e verdadeiras. Muitas vezes não é necessário nem ao menos ler suas falas para se compreender seus sentimentos, suas preocupações. Interessante notar também que as expressões não distoam da anatomia dos corpos, que é desenhada com bastante verossimilhança.

Enfim, um grande roteiro, uma bela arte e um tema sobre o qual vale a pena refletir.

Loki (Loki)
Roteiro: Brain K. Vaughan
Arte: Nico Henrichon
Editora: DC Comics (EUA), Panini Comics (Brasil)

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Por Flávio Vieira, do website VORTEX CULTURAL, para a série LEITURA RECOMENDADA

Sandman irá para a TV

O personagem Sandman,, que apresentou ao mundo dos quadrinhos a obra de Neil Gaiman, vai ganhar as telas da tevê em forma de série. Como detentora dos direitos do personagem, a Warner Bros, neste caso a Warner TV, vai explorar a saga de Morpheus , e especula-se Eric Kripke, o criador de Supernatural, como diretor geral do projeto. Sabe-se que Gaiman já foi abordado para a adaptação do personagem nos primeiros roteiros.

Se você não conhece Sandman, a série inaugurou o selo Vertigo, no qual histórias fora da continuidade do universo DC com teor mais adulto ganharam espaço. Confira aqui a republicação da PANINI deste clássico moderno dos quadrinhos.

ZDM – Terra de Ninguém

A retomada dos quadrinhos da Vertigo no Brasil, agora pela Panini, começou muito bem. ZDM – Terra de Ninguém – que vinha sendo publicada pela Pixel Magazine como DMZ – é um álbum que contém os cinco primeiros números da série.

A retomada dos quadrinhos da Vertigo no Brasil, agora pela Panini, começou muito bem. ZDM – Terra de Ninguém – que vinha sendo publicada pela Pixel Magazine como DMZ – é um álbum que contém os cinco primeiros números da série.  EM ZDM, a segunda guerra civil americana foi desencadeada, as milícias espalhadas pelo país o dividiram em dois: os EUA e os Estados Livres da América. E entre eles, onde fica Manhattan, Nova York, uma área conhecida como Zona Desmilitarizada, extremamente sangrenta e violenta, uma verdadeira terra de ninguém. Aí surge Matty Roth, um assistente de jornalista que se perde no meio da batalha na ZDM e que, usando equipamento que não foi destruído, resolve  contar a história do que acontece nessa região.

Escrito por Brian Wood e desenhado por Riccardo Burchielli, a obra não é um relato sobre a guerra, mas sobre as pessoas, as relações humanas, sobre os esquecidos, aqueles deixados para trás e como fazem para sobreviver frente ao descaso dos poderes maiores. Como essas pessoas conseguem, com criatividade, superar as adversidades em uma região completamente devastada em uma nação dividida. Uma excelente opção para quem quer fugir dos comics e dos mangás tradicionais.

Ficha Técnica

Título: ZDM – Terra de Ninguém – Volume 1 (DMZ)

Formato americano – 132 páginas – Papel Couché – capa dura – distribuição em livrarias