Sarjeta do Terror #48 – Criadores de terror: Steve Ditko

O Sarjeta do Terror deste mês homenageia um dos artistas mais influentes dos quadrinhos: Steve Ditko. Mais conhecido por sua passagem na Marvel, Ditko também deixou sua marca nos quadrinhos de terror.

No dia 29 de Junho, o mundo dos quadrinhos ficava sabendo que Steve Ditko havia falecido. Recluso e com valores pessoais bastante fortes, Ditko estava fora do circuito “mainstream” dos quadrinhos há muito tempo, mas sua influência nunca deixou de ser sentida. Apesar de ser mais conhecido como co-criador do Homem-Aranha e de personagens como O Questão e Doutor Estranho, Steve Ditko sempre navegou, de uma forma ou de outra, pelo terror. É por isso que a coluna de hoje homenageia este monstro das Hqs.

Steve Ditko nasceu no dia 2 de novembro de 1927, na cidade de Johnstown, Pensilvânia. Filho de dois descendentes ucranianos, um carpinteiro e uma dona de casa. Ditko era um dos quatro filhos em uma típica família de classe trabalhadora americana e seu interesse pelos quadrinhos veio desde cedo. Seu pai era fã das páginas de quadrinhos publicadas nos jornais (especialmente O Príncipe Valente, de Hal Foster), mas foi com o surgimento de Batman e Spirit que seu gosto pela mídia realmente floresceu.

Mesmo jovem, Ditko era uma espécie de herói em seu próprio mérito: no ensino médio, construía modelos de madeira de aviões alemãs para ajudar civis que vigiavam aeronaves; após a faculdade, se alistou no exército e prestou serviço na Alemanha pós-guerra, inclusive fazendo quadrinhos para um jornal do exército.

Depois de sair do exército, já nos anos 50, Ditko se mudou para Nova York para poder ter aulas com seu ídolo, Jerry Robinson (mais conhecido por seu trabalho com Batman). Isso foi possível graças à uma lei americana, que ajudava a facilitar o retorno à vida cotidiana de veteranos da Segunda Guerra. Robinson frequentemente levava pessoas da indústria para falar com os alunos; um deles foi Stan Lee, na época editor da Atlas Comics – precursora da Marvel.

O primeiro trabalho de Steve Ditko já tinha um pé no horror. Curiosamente, só foi publicado bem mais tarde, na edição número 5 da revista Fantastic Fears, da Ajax/Farrell. Isso fez com que seu primeiro trabalho publicado fosse, na verdade, seu segundo trabalho produzido – publicado na primeira edição da revista Daring Love, da Gilmor Magazines.

Os primeiros trabalhos de Ditko: a história “Stretching Things”, para Fantastic Fears #5 (1954), e “A Hole in His Head”, para Black Magic #27 (vol. 2 #3, 1953).

Não demorou muito para ele conseguir trabalho no estúdio de Joe Simon e Jack Kirby, que haviam criado o Capitão América na década anterior. Lá, Ditko começou como arte-finalista dos cenários e passou a trabalhar com outro de seus ídolos, Mort Meskin. Entre as revistas nas quais trabalhou, estavam a publicação de horror e suspense de Simon e Kirby chamada Black Magic.

Em 1953, Ditko iniciou uma longa parceria com a Charlton Comics, que durou até o fim da empresa. Seu primeiro trabalho foi a arte de uma história para a revista de horror The Thing, mas logo seu trabalho se espalharia também para as revistas This Magazine is Haunted, Tales of the Mysterious Traveler, Space War e Out of This World.

Além dos super-heróis, Ditko trabalhou também nas revistas de horror, suspense e fantasia da Chalrton Comics.

Ditko começou a trabalhar na “Marvel” ainda na época da Atlas , quando revistas como Journey Into MysteryTales of Suspense, Tales to Astonish e Strange Tales ainda eram revistas mais no formato de antologia e sem os super-heróis que conhecemos. Além dessas revistas, ele também trabalhou em Amazing Adventures e Strange Worlds.

Mas é claro que a realização mais lembrada de Ditko na Marvel envolve um certo cabeça de teia, em 1962. Conta a história que Stan Lee, após conseguir autorização do editor Martin Goodman para criar um super-herói adolescente baseado numa aranha, procurou seu parceiro habitual, Jack Kirby, para a tarefa. O resultado, no entanto, não agradou Lee, que achou o Homem Aranha do Kirby heroico demais. Então ele se voltou para Steve Ditko, que criou o visual e estilo que agradou Lee. Além do próprio Homem-Aranha, Ditko também colaborou com Stan Lee na criação de alguns vilões do personagem, como Doutor Octopus, Homem-Areia, Lagarto, Electro e Duende Verde.

Revistas da Atlas/Marvel Comics que Ditko trabalhou. Algumas delas introduziriam, mais adiante, super-heróis como Thor, Homem de Ferro, Homem Formiga e Doutor Estranho – este último criação do artista.

Após o Homem-Aranha, Ditko foi trabalhar com Lee na revista do Incrível Hulk e, quando encerrou suas atividades na revista, criou para Strange Tales o Doutor Estranho. Foi com esse personagem que o artista mostrou sua versatilidade estética e suas habilidades no design de imagens que remetiam ao surrealismo e basicamente antecipou a cultura psicodélica que viria mais adiante.

Depois de 1966, Ditko saiu da Marvel por questões internas que podem ser deixadas de lado nesse texto, e seguiu apenas na Charlton. A Charlton pagava menos, mas seus artistas tinham mais liberdade criativa. Ali, Ditko trabalhou em personagens como Besouro Azul, além de ter criado O Questão e co-criado o Capitão Átomo. Apesar do trabalho nas publicações de super-herói, Ditko seguiu nas hqs de horror, suspense e sci-fi da editora, como Ghostly Tales from the Haunted House, The Many Ghosts of Doctor Graves, Space Adventures e Ghost Manor, além de histórias de guerra, faroeste e românticas. Nessa época, Steve Ditko também trabalhou, ainda que por um curto período, para a DC Comics, onde foi o co-criador do personagem Rastejante e da dupla Rapina e Columba.

Ditko trabalhou na Charlton de forma intermitente até o encerramento da editora, nos anos 80, e sua subsequente compra pela DC Comics.

Em 1967, Ditko criou Mr. A para a revista independente do artista Wally Wood, Witzend. Personificando suas crenças no Objetivismo, as histórias giravam em torno de um repórter que também combatia o crime com a identidade de Mr. A, um vigilante de terno, gravata e chapéu que usava luvas e uma máscara metálica. O autor seguiu publicando histórias de Mr. A de forma independente pelos mais diversos meios até o fim dos anos 70, retornando brevemente ao personagem em 2000 e 2009.

No final dos anos 60, o artista também trabalhou para a Warren Publishing. Foram ao todo 16 histórias que alguns consideram os melhores trabalhos do artista: “The Spirit Of The Thing”, “Beast Man”, “Blood Of The Werewolf”, “Second Chance”, “Where Sorcery Lives”, “City Of Doom”, “The Sands That Change” e “Collector’s Edition”, publicadas na Creepy, e “Room With A View”, “Shrieking Man”, “Black Magic”, “Deep Ruby”, “The Fly”, “Demon Sword”, “Isle Of The Beast” e “Warrior Of Death”, publicadas na Eerie.

Na primeira metade dos anos 70, Ditko trabalhou quase que exclusivamente com a Charlton, dividindo seu tempo apenas com algumas editoras pequenas e independentes. Em 1975, Ditko retornou à DC e permaneceu por um período mais longo, onde criou o personagem Shade (que apareceu no Esquadrão Suicidade do John Ostrander e mais tarde seria reformulado, sem seu envolvimento, para o selo Vertigo), co-criou a minissérie Stalker com Paul Levitz, trouxe de volta personagens que estavam no limbo como o Rastejante e Etrigan e desenhou uma minissérie do Morcego Humano, além de ter sido artista convidado em séries como Legião dos Super-heróis e Adventure Comics. Em 1979, retornou à Marvel para substituir Jack Kirby na revista do Homem Máquina. Ali também desenhou os Micronautas e Capitão Universo. Seguiu como freelancer para a editora até os anos 90.

Algumas das histórias que o artista desenhou para Creepy e Eerie, da Warren, no fim dos anos 60.

Nos anos 80, Ditko seguiu fazendo trabalho freelancer para editoras independentes. Para a Pacific Comics, trabalhou em Captain Victory and the Galactic Rangers, introduzindo o personagem Missing Man, que apareceria depois na revista Pacific Presents, e em Silver Star, onde criou o personagem The Mocker. Além disso, trabalhou nas revistas Eclipse Monthly (Eclipse Comics), Warp (First Comics) e The Fly (o selo de super-heróis de vida curta da Archie Comics).

Em 1992, Ditko trabalhou com o roteirista Will Murray em um dos seus últimos personagens originais para a Marvel: a Garota Esquilo, em Marvel Super-Heroes vol. 2 #8. Ainda nos anos 90, o autor trabalhou na one-shot The Safest Place in the World (Dark Horse) e Dark Dominion (Defiant Comics).

Em 1998, se aposentou oficialmente dos quadrinhos mainstream. Seu último trabalho para editoras grandes foi uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC, que era para ser lançada na série do Órion no início dos anos 2000, mas que só foi publicado em 2008.

Após sua aposentadoria oficial do mainstream, o trabalho do autor se tornou intermitente. Sempre rejeitando aparições públicas, acreditando que seu trabalho deveria falar por si, Steve Ditko se isolou do mundo em seu estúdio, sem nunca realmente deixar de fazer quadrinhos. Pessoas mais próximas a ele dizem que, aos 90 anos (idade de sua morte), ele seguia produzindo quadrinhos em seu estúdio, onde foi encontrado.

Steve Ditko deixa um legado insubstituível, não só pelo seu estilo inconfundível, mas também pela criatividade no design e na narrativa das páginas, além de personagens únicos criados ao longo das décadas.

 

Curiosidades:
– Ditko alegava que O Questão é uma versão aceitável ao Comics Code do seu personagem independente, Mr. A;
– Se você ainda não ouviu, confira o ArgCast! feito em homenagem ao autor;
– Em 2007, a BBC lançou o especial “em busca de Steve Ditko”, em que o jornalista Johnatan Ross, com a ajuda de Neil Gaiman, tentam encontrar o artista. O programa está disponível no youtube, mas deixo aqui a parte final, onde eles vão até o estúdio do autor (em inglês, sem legendas).

Edições anteriores:

47 – 30 Dias de Noite

46 – Irmãs dos Contos da Cripta

45 – Contos da Cripta, dentro e fora dos quadrinhos

44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #44 – Criadores de Terror: Reed Crandall

Nesta edição, conheça um pouco sobre Reed Crandall, que fez história nos quadrinhos por seu estilo mais realista, em comparação com o estilo mais cartunesco que era o paradigma de sua época.

Muitos foram os artistas que fizeram história nos quadrinhos de terror. Infelizmente, nem todos são tão conhecidos hoje em dia quanto Frank Frazetta, Steve Ditko, Esteban Maroto ,para citar alguns. Por essa razão, decidi que essa nova edição seria sobre um desses grandes artistas hoje esquecidos: Reed Crandall.

Reed Crandall nasceu na cidade de Winslow, Indiana, em 1917. Através de uma bolsa de estudos, conseguiu estudar na Cleveland School of Art, em Ohio e começou a trabalhar com ilustrações através de parcerias com colegas de estudos, pintando vitrines e desenhando mapas e material de apoio para as publicações da Newspaper Enterprise Association. Suas principais influências eram N.C. Wyeth, Howard Pyle e James Montgomery Flagg, ilustradores clássicos nos EUA conhecidos pela versatilidade e principalmente pelo realismo nos seus desenhos.

A intenção de Crandall era se tornar ilustrador de revistas em tempo integral, o que acabou não dando certo, mas o levou a ilustrar livros infantis. Se mudou para Nova York em 1939 para trabalhar numa editora de livros infantis, mas acabou fazendo apenas uma capa para a empresa, sendo logo contratado pelo estúdio Eisner e Iger, que já trabalhava com artistas respeitados como Lou Fine, Paul Gustavson, Alex Kotsky, Fred Gardineer e, é claro, Will Eisner, um dos fundadores do estúdio. Foi a partir desse período que Reed Crandall passou a trabalhar diretamente com quadrinhos.

 

Primeiros trabalhos

Seus primeiros trabalhos foram para a Quality Comics onde inicialmente atuou como artefinalista para as capas de Lou Fines na revista Military Comics. Mas logo o editor Everett M. Arnold percebeu a qualidade do trabalho de Crandall e o colocou para desenhar. A primeira hq que ilustrou foi Hit Comics #10 e, apartir daí, rapidamente passou a ser reconhecido por seu realismo e detalhismo anatômico. Na Quality Comics, desenhou principalmente super-heróis como The Ray e Doll Man.

Neste período, também trabalhou em capas para a editora Fiction House e ainda criou, junto com Jerry Iger, o personagem Firebrand para a revista Police Comics (que também publicara Plastic Man e Spirit), além de ter sido desenhista do personagem Captain Triumph. As ilustrações de Crandall chamaram atenção por apresentarem um estilo mais realista que o tradicional estilo cartunizado, mais comum na época. Sua contribuição mais lembrada neste período foi seu trabalho para a revista Military comics, onde desenhou por mais de 10 anos as histórias do grupo de aviadores Blackhawks (com um hiato quando precisou servir o exército).

Além da Quality, Reed Crandall também trabalhou para a Atlas Comics (precursora da Marvel), fazendo a arte-final para Jack Kirby em algumas histórias do Capitão América e atuando como ilustrador freelancer para diversos outros títulos.

Nos anos 50, já profissionalmente estabelecido na indústria, Crandall desenhou para a E.C Comics, especialmente para as antologias de horror e sci-fi da editora. Sua primeira história para a E.C foi “Bloody Sure”, publicada em Haunt of Fear #20, de 1953. Reed Crandall trabalhou também em Tales From the Crypt, Two-Fisted Tales, Vault of Horror, Crime SuspenStories e Weird Fantasy, entre outros, até o fim da editora em função do Comics Code Authority.

Com o fim tanto da Quality quanto da E.C., Crandall teve que buscar trabalho em outras editoras, mantendo seu trabalho ocasional na Atlas e agora também no novo selo da época, Marvel. Nos anos 60, o artista chegou a assinar um contrato com o Catholic Guild, que publicava Treasure Chest, uma hq bissemanal distribuída exclusivamente nas escolas paroquiais. Desenhou para a Treasure Chest até o início dos anos 70, principalmente histórias sci-fi protagonizadas pela “Polícia Interplanetária”.

 

Warren Publishing e além

Ainda nos anos 60, Reed Crandall ilustrou diversas antologias da Gold Key, como Believe It or Not, Boris Karloff, Tales of Mystery e The Twilight Zone. Mas foi a partir de 1964 que Crandall encontrou sua nova casa, a Warren Publishing.

Reed Crandall trabalhou para a Warren até o início dos anos 70, tendo ilustrados diversas histórias para as antologias de horror Creepy e Eerie, além da antologia de Guerra Blazing Combat.

Neste período, Crandall chegou a produzir etiquetas e capas de livros para a Canaveral Press, que possuía títulos de personagens como Tarzan e John Carter. A editora também contava com Frank Frazetta em sua linha de ilustradores, mas infelizmente encerrou as atividades antes que muitas das ilustrações de Crandall pudessem ser utilizadas.

Ainda nos anos 60, Crandall também trabalharia para títulos de espionagem da Thunder Comics, em especial para T.H.U.N.D.E.R. Agents e Dynamo, onde trabalhou junto com o ícone dos comics Wally Wood. Em 1967, passou a ilustrar as aventuras de Flash Gordon para o King Features Syndicate.

 

Últimos anos

Infelizmente, a vida pessoal do artista foi problemática em seus últimos anos. Quando sua mãe ficou terrivelmente doente, teve que voltar para seu estado natal para cuidar dela, ficando relativamente isolado do mercado, o que acabou levando-o para o alcoolismo. Crandall conseguiu se livrar do vício antes da morte de sua mãe, mas não sem ter como sequelas uma saúde debilitada e prejuízos no seu ritmo de produção. Sua última história publicada foi “This Graveyard is Not Deserted”, de Creepy #54, publicada em 1973.

Em 1974, Reed Crandall se aposenta dos quadrinhos e passa a trabalhar como vigia e zelador em um restaurante da rede Pizza Hut. No mesmo ano, o artista sofre um derrame e passa a viver em uma casa de repouso, onde permaneceu até seus últimos dias. Reed Crandall faleceu em 1982, vítima de um ataque cardíaco.

Com um estilo mais realista e anatomicamente detalhado, Reed Crandall se desviou da tradição do desenho de quadrinhos, cujo estilo mais cartunesco era o paradigma vigente, e definiu um estilo que até hoje merece ser lembrado e reverenciado.

 

Curiosidades:
– Na Quality, Reed Crandall desenhou as aventuras do herói The Ray sob o pseudônimo de E. Lectron;
– Uma das ilustrações de Crandall feita para a história “The Corpse That Came to Dinner”, publicada na revista Out of the Shadows #9, foi mencionada no livro “The Seduction of the Innocent”, considerado o ponto de partida para a perseguição aos quadrinhos que levou à adoção do Comics Code;
– Boa parte do trabalho que Reed Crandall fez para a Canaveral Press só ganhou a luz do dia graças à Russ Cochran, que utilizou ilustrações do autor para a coleção Edgar Rice Burroughs Library of Illustration Vol. 3 (1976) e Richard Lupoff, que organizou a coleção Edgar Rice Burroughs: Master of Adventure (1964);
– Reed Crandall é citado em The Amazing Adventures of Kavalier & Clay, onde o personagem fictício Joe Kavalier se refere ao artista como “o maior artista de quadrinhos da sua era”;
– Em 2009, Reed Crandall foi incluído no The Will Eisner Award Hall of Fame.

 

Edições anteriores:

43 – Skywald Publications e o clima de horror

42 – Vampirella

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #42 – Vampirella

No primeiro Sarjeta do Terror de 2018, conheça a história e trajetória de uma das personagens mais clássicas dos quadrinhos de terror: Vampirella.

Os anos 60 foram bastante… movimentados. Os movimentos negros tomaram força com Malcolm X, Martin Luther King e o partido dos Panteras Negras; a chamada segunda onda feminista tomou os EUA com Betty Friedan e Gloria Steinem (entre outras) e a revolução sexual decidia que você era livre para fara ficar pelado com quem e para quem você quisesse, independente de etnia ou gênero. Todos esses movimentos possuem ecos (e lutas) até hoje, mas é a revolução sexual que permitiu a gênese do tópico de hoje.

Para quem não conhece essa parte da história ou nunca ouviu/leu esse termo, a revolução sexual, ou libertação sexual, foi um movimento social que desafiou a cultura ocidental tradicional ao contestar a forma como a sexualidade e os relacionamentos interpessoais eram impostos. Isso incluía aceitar coisas que, na época, eram consideradas erradas, como sexo fora do casamento e o casamento tradicional (heterossexuais e monogâmicos). Isso, é claro, se ligava aos outros movimentos, especialmente ao feminista, uma vez que a dinâmica das relações entre homens e mulheres na sociedade (americana) da época excluía o poder feminino de decisão sobre seu próprio corpo e suas próprias necessidades (e em muitos casos o faz até hoje).

Desnecessário dizer que a arte estava alinhada a essa mentalidade e ajudou (como sempre faz) a disseminar as novas e revolucionárias ideias de igualdade racial, de gênero e libertação sexual. E, dentro desse contexto, diversas personagens independentes e sexualmente livres surgiram nas mais diversas mídias narrativas, como Barbarella (1962) e o tema da postagem de hoje, Vampirella.

 

Histórico

Vampirella é uma alienígena vinda de Drakulon, um planeta de dois sóis onde sangue é a água do local (ou seja, rios e oceanos são feitos de sangue). Lá, o raça de Vampirella morre lentamente por conta da secagem dos rios e oceanos. Ao se ver tendo que lutar contra um astronauta terrestre que caiu no planeta, Vampirella descobre que nas veias dele corre o mesmo líquido que é a fonte de vida de sua raça. Ela acaba então viajando para nosso planeta, onde descobre que há seres muito semelhantes a ela, chamados vampiros, que possuem uma “má reputação” por aqui. Por conta disso, ela decide trilhar o “caminho do bem”, evitando matar indiscriminadamente.

Vampirella surgiu como parte da “tríade” de horror hosts da Warren Publishing, que incluía também o Titio Creepy e o Primo Eerie. Cada horror host tinha sua própria revista, onde contavam histórias assustadoras. Diferente de seus “irmãos”, no entanto, Vampirella tinha uma característica particular: além de ser a contadora de histórias de sua revista, era também protagonista de suas próprias histórias.

Criada por Forrest J Ackerman e Trina Robbins, Vampirella apareceu pela primeira vez em 1969, na antologia que levava seu nome, mas que também contava com histórias da heroína. As primeiras histórias carregavam as marcas da ficção científica camp-erótica que era popular nos anos 60 (do qual Barbarella também fazia parte, não só nos quadrinhos, mas com um filme em 68, que se tornaria um clássico cult).

Tom Sutton foi o primeiro desenhista de Vampirella, depois seguido por José Gonzalez (o mais conhecido), mas a personagem também contou com artistas como Gonzalo Mayo, Leopold Sanchez, Esteban Maroto, José Ortiz, Escolano, Rudy Nebres, Ramon Torrents, Pablo Marcos, Jim Janes, John Lakey, Val Lakey e Louis Small, Jr.

Com a chegada de Archie Goodwin ao título (como editor e roteirista) a partir do número 7, Vampirella começou a ter histórias mais regulares e sua mitologia começou a ser estabelecida. Além de ter que se integrar a uma nova sociedade (a nossa), Vampirella acabou se aliando a dois caçadores de vampiros, Adan Van Helsing (também seu interesse romântico) e seu pai, Conrad Van Helsing, um médium cego, além de um antigo mágico chamado Mordecai Pendragon, de quem foi assistente por um tempo.

A maior parte das histórias envolvia Vampirella ajudando os Van Helsing contra os seguidores de Caos, especialistas nas artes negras da magia, além de sua sede de sangue, que ela tinha que controlar, já que havia decidido ser “boa”. Um soro foi produzido mais tarde e garantiu que ela não tivesse mais essa sede de sangue, mas com o efeito colateral de, se ela não tomasse, se transformava numa ameaça a todos ao seu redor, incluindo conhecidos. A fase de Vampirella na Warren durou até 1983, com o número 112 da revista, quando James Warren decretou falência e a Warren Publishing foi extinta.

 

A reformulação pela Harris Publications

Apesar de ter surgido como parte do espírito da época dos anos 60, Vampirella se encaixou perfeitamente no espírito dos anos 90, quando o “grim ’n gritty” emergiu de obras seminais dos anos 80 como Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Neste contexto, as “bad girls”, mulheres poderosíssimas de corpos esculturais e uniformes nada práticos com pouquíssimo tecido dominaram os quadrinhos com o apelo necessário para o público masculino (o erotismo implícito) e, com sorte, para o feminino (com boas histórias e personagens bem desenvolvidas).

Com a falência da Warren, a Harris  adquiriu os direitos sobre a personagem no início dos anos 90 e não demorou para retomá-la, já que ela se encaixava perfeitamente no nicho do qual fizeram parte personagens populares como Elektra, Mulher-Gato, Lady Death, Glory e Witchblade, entre outras.

Um dos gêneros bastante populares entre essas “bad girls” era o sobrenatural, por isso a origem de Vampirella foi alterada a fim de ignorar os elementos de ficção científica e deixá-la mais próxima das criaturas no qual ela era inspirada – os vampiros.

Na nova origem (que retconizou o histórico da personagem, mas não eliminou suas histórias pregressas), Drakulon não era um outro planeta, e sim um dos círculos do inferno. Vampirella era, na verdade uma das filhas de Lillith, primeira mulher de Adão que foi condenada ao inferno. Lá, ela acasala com demônios para enfurecer a deus, dando a luz aos vampiros. Mas, ao perceber o mal que as criaturas faziam na Terra, Lilith se arrepende e decide dar a luz a dois filhos, esperando que uma delas a redima.

No entanto seus filhos, Madek and Magdalene, acabam seguindo o caminho do mal. Vampirella foi a última tentativa de Lilith de se redimir através das filhas. Só que Vampirella não era poderosa o suficiente para enfrentar seus irmãos e acabou sendo capturada, tendo suas memórias manipuladas. Foi assim que ela passou a achar que vinha de outro planeta.

A fase de Vampirella na Harris teve diversas revisões (algo que se tornaria uma constante no histórico da personagem, não só nessa editora). Numa delas, foi Litith quem faz lavagem cerebral na filha e não teve ela para se redimir, e sim para se apossar do Coração das Trevas, que só podia ser feito por uma boa pessoa. Mais adiante, outra revisão estabeleceu que na verdade Lilith enfraquecia pela presença de tantos vampiros na Terra e teve Vampirella para se livrar de todos eles e recuperar seus poderes. Vampirella “morre” algumas vezes durante seu período na Harris.

 

Dynamite Entertainment reformula a personagem de novo (e de novo…e de novo…e de novo…)

Em 2010, a Dynamite Entertainment assume a personagem e a reformula (mais de uma vez). O primeiro volume, escrito por Eric Trautmann, matou Adam Van Helsing, par romântico e aliado de Vampirella e a colocou trabalhando contra a sua vontade para Drácula. A editora trouxe de volta diversos elementos e personagens da época da Warren, como Pendragon e também tentou atualizar seu uniforme, dando à personagens calças e uma jaqueta. Não funcionou. Esse primeiro volume termina da forma mais “covarde” possível: assumindo que esta versão de Vampirella é de um universo alternativo – fazendo com que a história da Vampirella “original” permanecesse inalterada.

O segundo volume, mais recente, tenta fazer Vampirella voltar às suas raízes. Para isso, a editora recrutou Nancy Collins (que já havia escrito Monstro do Pântano no passado), que colocou a personagem como uma agente do Vaticano. Mal essa nova versão estreou e um novo reboot chegou nas mãos da autora Kate Leth, que dá um novo uniforme à personagem e a restabelece como uma alien recém chegada à terra que acaba atuando como “scream queen” (atriz conhecida por participar de filmes de terror).

E, se você achava que havia acabado, está enganado: pouco mais de um ano depois da nova versão, uma versão ainda mais nova ainda é lançada. Nessa relançamento, Vampirella acorda mil anos no futuro e descobre que absorveu as memórias e experiências das Vampirellas de outros universos paralelos. E essa é a versão mais atual da personagem (por enquanto).

 

No Brasil

A história de publicação da Vampirella no Brasil é semelhante ao de Dylan Dog, com seus altos e baixos (mais altos do que baixos) e nunca se manteve por muito tempo. A personagem foi publicada pela primeira vez pela editora Kultus, seguida logo depois pela Noblet, mas foram poucas edições e com numeração diferente, fora de ordem, sem uma grande preocupação com a cronologia da personagem.

Foi também publicada pela Metal pesado nos anos 90, em um álbum comemorando os 25 anos da personagem, e pela Abril, num crossover com a Mulher Gato. Em 2001, a Devir publicou o especial “Vampirella vive”. Atualmente, a Mythos começou a publicar Vampirella – Grandes Clássicos, que compila as primeiras histórias da Warren da parceria entre Archie Goodwin e José Gonzalez.

Vampirella é uma das personagens clássicas dos quadrinhos de horror americanos e certamente continuará aí por muito tempo. Infelizmente, para os fãs brasileiros, não há muito material nacional com a personagem e as histórias mais atuais, só comprando importado.

É uma pena também que Vampirella tenha se afastado tanto das raízes que a criaram em primeiro lugar, pois hoje, mais do que nunca, é o momento de celebrar personagens femininas fortes nas hqs de horror em histórias cujo erotismo é parte do que torna a personagem interessante.

 

Curiosidades:
– Vampirella ainda tem duas versões “alternativas”: Vampi, uma versão manga futurista onde a personagem busca uma cura para seu vampirismo; e Lil Vampi, introduzida em uma hq one-shot pela Dynamite que é a versão criança da personagem;
– Vampirella teve uma adaptação cinematográfica em um filme direto para vídeo em 1996, onde a personagem título foi interpretada pela atriz Talisa Soto e o vilão, Vlad, foi interpretado por ninguém menos que Roger Daltrey (vocalista da banda The Who).

 

 

Edições anteriores:

41 – O Homem Coisa

40 – Os quadrinhos de terror no Brasil: Criadores e Criaturas

39 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 2

38 – Os quadrinhos de terror no Brasil: parte 1

37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #37 – Apresentadores de terror (Horror Hosts)

Nem só de Guardião da Cripta e Tio Creepy vivem o horror hosts dos quadrinhos. Conheça os anfitriões que apresentavam histórias hororizantes nas hqs

Apresentadores não são novidade na TV. De fato, este conceito é provavelmente tão antigo quanto a própria TV. Mas existiu um tipo muito particular de apresentador de TV que capturou a imaginação de milhões de norteamericanos, especialmente entre os anos 50-80: os Horror Hosts (apresentadores/anfitriões de terror, em tradução livre). Frequentemente encarnando personagens sombrios, sobrenaturais e/ou misteriosos, os horror hosts tinham como tarefa apresentar filmes de baixo orçamento e filmes de horror e sci-fi de diversos tipos. Os mais conhecidos do público em geral foram Vampira (a primeira horror host da TV), Elvira (mais sobre ela aqui) e a versão televisiva do Guardião da Cripta (Contos da Cripta)

O que muita gente talvez não saiba, no entanto, é que a ideia dos horror hosts começou anos antes nas histórias em quadrinhos, através das hqs de antologia que continham seu próprio apresentador macabro. A E.C Comics e, posteriormente, a Warren Publishing, foram duas das editoras cujos horror hosts são bastante conhecidos dos fãs de quadrinhos, mas essa tendência se espalhou por muitas outras editoras entre os anos 50 e 80, criando uma tradição nos quadrinhos de horror de antologia. Vamos conhecer os horror hosts dos quadrinhos.

 

E.C Comics

Os primeiros horror hosts surgiram no início dos anos 50 e estão entre os mais conhecidos dos leitores de quadrinhos. Quando os quadrinhos de horror emergiram como uma alternativa popular após a Segunda Guerra, a recém-formada E.C. Comics aproveitou o amor do fundador e do editor pelo gênero para investir numa tríade de hqs que se tornariam referência a partir daí: The Vault of Horror, The Haunt of Fear e Tales From the Crypt (1950).

The Crypt Keeper, The Old Witch, The Vault Keeper e Drusilla

Na teoria, cada revista tinha associada a si um horror host: The Vault of Horror tinha o Vault Keeper, Tales From the Crypt tinha o Crypt Keeper e The Haunt of Fear tinha The Old Witch. Na prática, no entanto, os três apresentadores eram vistos contando histórias nas 3 revistas, tornando difícil dissociar uma hq da outra. Além dos 3 apresentadores clássicos, The Vault of Horror teve suas 4 últimas edições apresentadas pelo Vault Keeper em conjunto com uma outra personagem, uma silenciosa mulher chamada Drusilla (visualmente muito semelhante à Vampira, horror host televisiva da época)

Mais sobre a história da E.C. Comics aqui, aqui, aqui e aqui.

 

Uncle Creepy, Cousin Eerie e Vampirella

Warren Publishing

A editora que trouxe o horror de volta nos anos 60 ao se aproveitar de uma brecha legal no Comics Code Authority (saiba mais aqui e aqui) trouxe as revistas de antologia e também a tradição dos horror hosts de volta. Não por acaso, a Warren trouxe diversos dos artistas e autores que trabalharam na extinta E.C. para produzir as antologias da editora.

Uncle Creepy era o apresentador da revista Creepy (1964), enquanto que o Cousin Eerie era sua contraparte na revista irmã Eerie (1966). Vampirella (1969), que completou a tríade da Warren, começou como horror host, mas com o tempo sua revista passou a contar apenas com histórias solo da personagem, tornando-a provavelmente o personagem mais popular criada pela Warrem.

Recentemente, tanto Creepy quanto Eerie têm tido suas histórias republicadas e Vampirella, apesar dos percalços editoriais ao longo das décadas, segue firme e forte, agora nas mãos da Dynamite Entertainment, em histórias próprias.

Mais sobre a história da Warren Publishing aqui.

 

Cain, Abel, Eva (quadro) e Elvira

DC Comics

A DC iniciou seu caminho nas hqs de horror ainda nos anos 50, com suas revistas House of Mystery (1951) e House of Secrets (1956). No entanto, estas revistas passaram a ter horror hosts apenas nos anos 60 (mais especificamente em 1968), quando o Comics Code Authority começou a ser desafiado pelas grandes editoras e a flexibilização de algumas das regras permitiria à DC trazer de volta um pouco do tom de horror às suas revistas (que haviam sido reimaginadas como histórias de super-herói). A partir daí, a relação da DC com horror hosts expandiu significativamente.

Cain e Abel eram os apresentadores/moradores de House of Mystery e House of Secrets, respectivamente, mas também apresentaram uma revista satírica de humor/horror da DC chamada Plop! (1973), junto com a personagem Eva, que também era a horror host de outra revista, Secrets of Sinister House (1972). Os 3 personagens eram, basicamente, suas contrapartes das histórias bíblicas e fizeram parte do universo DC em diversos momentos. Elvira, horror host da televisão, passou pela Casa dos Mistérios num lançamento de 12 edições chamado Elvira’s House of Mystery (1986), onde ficou de apresentadora no lugar de um desaparecido Cain. (mais sobre as passagens de Elvira pelos quadrinhos aqui).

The Mad Mod Witch e As Três Bruxas (Mildred, Mordred e Cynthia)

Eva foi, mais tarde, “transferida” para a revista Weird Mystery Tales (1972), enquanto que Secrets of Sinister House passou a ser apresentada pelo personagem Destino – mais tarde resgatado por Neil Gaiman para sua série Sandman – quando esta passou a se chamar Secrets of Haunted House (1975). A revista também era apresentada ocasionalmente por Cain, Abel e Eva, mas Destino era o único host fixo.

Alem dos anfitriões mais conhecidos, a DC Comics teve também The Mad Mod Witch, que foi a primeira apresentadora da revista Unexpected (1968). Diferente dos outros horror hosts, no entanto, The Mad Mod Witch não dominava a revista em que aparecia. The Unexpected também teve como apresentadores Abel, de House of Secrets, e The Three Witches, as bruxas Mildred, Mordred e Cynthia que, juntas, eram a personificação da vingança. Logo as 3 Bruxas passaram a apresentar também a revista The Witching Hour (1969) -mais tarde, as duas hqs  seriam fundidas em uma só publicação.

Uma revista irmã de Secrets of Sinister House, chamada Forbidden Tales of Dark Mansion (1971), passou a ser apresentada por uma personagem chamada Charity a partir da edição #7. Charity era uma cartomante que contava suas histórias para quem parasse na tal da “Mansão sombria”, mas que depois foi incorporada ao Universo DC por James Robinson, residindo em Opal City (cidade natal de Starman), onde abriu uma loja chamada Fortunes & Forbidden Tales.

Charity, Squire Shade, Destino e Morte

Outros horror hosts da DC incluíram Squire Shade, um fantasma que trajava uma roupa clássica na cor branca e monóculo, que assumiu a revista Ghosts (1971) a partir da edição 104; Morte, que apresentava a revista Weird War Tales (1971); e Lucien, o guardião da biblioteca de um castelo abandonado na Transilvânia que vivia com Rover, seu companheiro Lobisomem – apresentadores da revista Tales of Ghost Castle (1975). Morte e Lucien foram outros dois personagens aproveitados por Neil Gaiman em Sandman, embora o visual da Morte tenha sido completamente reimaginado para a série.

Mais sobre o terror na DC Comics aqui e aqui.

 

Mr. L. Dedd, Dr. M. T. Graves, Old Witch e Mr. Bones

Charlton Comics
Nem só de super-heróis como Besouro Azul e Capitão Átomo vivia a Charlton, que possuía também um bom número de publicações de terror, algumas delas com seus próprios horror hosts. Mr. L. Dedd (mais tarde renomeado I. M. Dedd) foi um homem de meia idade de chifres que se vestia como um vampiro e contava histórias de sua casa assombrada na revista Ghostly Tales (1966). Já o Dr. M. T. Graves, depois de ser introduzido em Ghostly Tales #55, passou a apresentar suas próprias histórias em The Many Ghosts of Doctor Graves (1967). Diferente da maioria dos apresentadores, Dr. Graves às vezes era participante das histórias que contava.

Outra revista irmã de Ghostly Tales era Ghost Manor, que teve dois volumes: o primeiro, de 1968, era apresentado pela “Velha Bruxa” (que não era a mesma de Haunt of Fear da E.C.); e o segundo, a partir de 1971, apresentado por Mr. Bones, um mordomo que era um esqueleto reanimado com uma máscara sinistra. Entre um volume e outro, Ghost Manor deu lugar a Ghostly Haunts (1971), que era apresentada por Winnie the Witch, uma bruxa de pele azul.

Impy, Barão Weirwulf, Professor Coffin, Arachne e R.H. Von Bludd

Completam a lista da Charlton as revistas Haunted (1971), que teve como apresentadores o fantasma diminuto Impy e mais tarde Barão Weirwulf; Midnight Tales (1972), que tinha dois apresentadores: Professor Coffin, também conhecido como The Midnight Philosopher, e sua sobrinha Arachne; e Scary Tales (1975), apresentado pela sedutora vampira de roupas justas Condessa R.H. Von Bludd. A maior parte dessas revistas era publicada bimestralmente e algumas delas duraram até o fim da Charlton, em meados dos anos 80.

 

Outras editoras

Apesar de ter uma grande tradição no terror, a Marvel Comics teve apenas um horror host digno de nota: Digger, uma assassino de pele verde (às vezes azul) que contava histórias para suas vítimas enquanto as enterrava em duas revistas, Tower of Shadows e Chamber of Darkness, de 1969. Ambas as revistas foram reformuladas em 1971, sem seu apresentador (“Tower…” se tornou Creatures on the Loose e “Chamber…” virou Monsters on the Prowl).

Mais sobre terror na Marvel Comics aqui.

Digger (marvel) e Dr. Spektor (Gold Key).

Outra editora que teve horror hosts foi a Gold Key, que além de publicar uma hq baseada em Além da Imaginação – que tinha como apresentador Rod Serling, também apresentador da série (mais sobre aqui) – também publicava Dr. Spektor Presents Spine-Tingling Tales (1975), apresentada pelo Doutor Spektro do título, um “detetive do oculto” que antes havia sido protagonista nas revistas Mystery Comics Digest (1972) e The Occult Files of Doctor Spektor (1973).

Os anos 80 viram os últimos resquícios dos apresentadores de terror. Diversos deles (especialmente na DC Comics) retornariam mais tarde como personagens, seja em suas próprias histórias ou como coadjuvantes de outros títulos. Mas a tradição de produzir antologias apresentadas por personagens sinistros acabou sendo deixada de lado, infelizmente.

Horror hosts dominaram os quadrinhos de horror americanos por um bom tempo e causaram impacto entre os fãs de inúmeras gerações. Uma tradição que, ainda que tenha se dissipado com o tempo, nunca vai deixar de fazer parte dos pesadelos e das histórias macabras dos entusiastas do gênero.

Curiosidades:
– O Guardião da Cripta (The Crypt Keeper) foi um dos apresentadores das revistas da EC que pularam das hqs para outras mídias em duas ocasiões: primeiro, na adaptação britânica de Contos da Cripta, um filme que continha 4 histórias apresentadas pelo personagem, e na famosa série de TV Contos da Cripta. Apesar do Guardião da Cripta da série ser o mais lembrado, ele nada tinha a ver com o apresentador dos quadrinhos. A versão do filme britânico é mais fiel ao visual e características da hq original;
– Apesar do título, a série Contos da Cripta não adaptava apenas histórias de sua HQ homônima. Vários episódios foram adaptados também de Vault of Horror e Haunt of Fear;
– Nos anos 90, a versão televisiva do Guardião da Cripta foi o apresentador de uma animação chamada Tales from the Cryptkeeper, uma versão infantil dos Contos da Cripta que tinha histórias originais (sem ser baseado na série ou nas hqs);

– Cain e Abel foram personagens relevantes no arco Gótico Americano do Monstro do Pântano, escrito por Alan Moore. Eva foi resgatada nas histórias do Sandman escritas por Neil Gaiman;
– Além da sua passagem por House of Mistery, Elvira também teve sua própria revista regular nos anos 90 pela editora Claypool, onde era a personagem principal ao invés de apenas a apresentadora das histórias;
– A capa da edição 54 de The Many Ghosts of Doctor Graves foi um dos primeiros trabalhos de John Byrne para a indústria.

Edições anteriores:

36 – Dylan Dog

35 – Monstro do Pântano (parte 2 de 2)

34 – Monstro do Pântano (parte 1 de 2)

33 – Criadores de Terror: Bernie Wrightson

32 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Estranho

31 – Os 70 anos de Eerie #1

30 – Plantão Sarjeta do Terror – Sombras do Recife

29 – Criadores de Terror: Rodolfo Zalla

28 – Da TV para os quadrinhos: Além da imaginação

27 – Vigor Mortis Comics – Volume 1

26 – Super-heróis com um “pé” no terror: O Espectro

25 – Warren Publishing: Contornando o Comics Code

24 – Prontuário 666, os anos de Cárcere de Zé do Caixão

23 – Da TV para os quadrinhos: Arquivo X

22 – Criadores de Terror: Eugenio Colonnese

21 – Terror nas grandes editoras, parte final

20 – Terror nas grandes editoras, parte 2

19 – Uzumaki

18 – Terror nas grandes editoras, parte 1

17 – Do cinema para os quadrinhos: Evil Dead/Army of Darkness

16 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte final

15 – Super-heróis com um “pé” no terror: Doutor Oculto

14 – Terror no mundo real: o Comics Code Authority, parte 1

13 – Da TV para os quadrinhos: Elvira, a Rainha das Trevas

12 – EC Comics , epílogo: O Discurso Contra a Censura

11 – Criadores de Terror: Salvador Sanz

10 – EC Comics, parte 3: o fim

9 – Super-heróis com um “pé” no terror: Homem Formiga

8 – Interlúdio: Shut-in (trancado por dentro)

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios

Sarjeta do Terror #8 – Interlúdio: Shut-in (Trancado por dentro)

capapost8

Creepy63Bruce Jones talvez seja um nome desconhecido para os leitores de quadrinhos atualmente. Alguns podem lembrar-se da sua fase à frente do Hulk, durante os anos 2000. Mas o que talvez muita gente não saiba é que antes de começar a trabalhar para a Marvel, Jones teve grande experiência no terror, tendo iniciado sua carreira nos anos 70 através de antologias do gênero em editoras como Warren Publishing (que publicava as revistas Creepy e Eerie) e a Skywald (de revistas como Nightmare).

Mas, mesmo trabalhando para Marvel, Jones não deixou o terror de lado. No fim dos anos 70 se aliou a April Campbell e formou a Bruce Jones Associates, onde publicaram Hqs como Alien Worlds, Silverheels, Pathways to Fantasy e Twisted Tales. E é dessa última que temos a história que dá título a esse post.

Shut- in é uma história curta de 10 páginas publicada em Twisted Tales # 7 (1982) e desenhada por ninguém menos que Tanino Liberatore (Ranxerox), que conta a história de uma jovem gatíssima que trabalha cuidando de um senhor idoso que sofreu um derrame e ficou totalmente paralisado. Quando o namorado da jovem aparece por lá, ele começa a incomodar o velho, um vez que ele está imóvel e não pode reclamar. É claro que isso não vai acabar bem, e o resultado, só lendo a história para saber.

E por falar em ler a história, abaixo você a confere completa, no seu idioma original (inglês). Faço um pequeno aviso, talvez desnecessário, mas importante, de que a história não é para crianças. Proceda com cautela e clique aqui para ler.

Curiosidades:

– Shut-in foi adaptado, em 1986, em um curta metragem brasileiro,adaptado por Mauricio Zacharias, com direção de Arthur Fontes e com Paulo Gracindo, Marcos Palmeira, Fernanda Montenegro e Luciana Vendramini no elenco. Um clássico:

Assista:

– Outros contos de Bruce Jones foram adaptados para outras mídias. Talvez o mais recente tenha sido Jennifer, publicada originalmente em Creepy #63 (1974), adaptada como parte da primeira temporada da série de antologia Masters of Horror, cuja direção ficou a cargo de ninguém menos do que Dario Argento. Vale a pena conferir o episódio completo.


 

 

 

 

 

 

 

 

Edições anteriores:

7 – EC Comics, parte 2: o auge

6 – Interlúdio: Garra Cinzenta, horror pulp nacional

5 – EC Comics, parte 1: o início

4 – Asilo Arkham: uma séria casa num sério mundo

3 – A Era de Ouro dos comics de terror

2 – Beladona

1 – As histórias em quadrinhos de terror: os primórdios